- Taichoooou! – Matsumoto cantarolava pelas ruas – Fico tão feliz porque viemos ao Mundo Real!!

- Idiota! Pensa que viemos só para diversão?! Não se esqueça que ainda continuo um capitão e recebo ordens! Isso vale para você também! – resmungou

- Sério?! Pensei que tínhamos tirado umas férias... Ahh! Só porque eu trouxe um montão de dinheiro para comprar uns cosméticos!! – começou a chorar, deixando a paciência do pequeno capitão chegar ao seu limite

- MATSUMOTO!!!!!! – berrou, espantando todos os pássaros da região

Era uma tarde fria na cidade de Karakura. Inverno. Um frio escaldante, mas que muitos apreciam pelo ar fresco que sempre pairava. Hitsugaya Toushirou, atual capitão do décimo esquadrão, andava com um casaco aconchegante e um cachecol que Hinamori lhe dera antes de sair. Sua tenente, Matsumoto Rangiku, encontrava-se com um lindo casaco que cobria até seus joelhos com um tom castanho e usava um gorro com a mesma cor.

- T-Taichou, não precisava ficar tão bravoo! Eu só, só, só... Confundi! Apenas isso! – riu envergonhada

- Eu não acredito, Matsumoto. Eu te conheço há muito tempo, sei quando mente, sei quando se engana...

- Ai, ai, gomennasai, oto-san! – brincou

- Como é?! – elevou uma sobrancelha

- N-n-nada!! Desculpe-me! – mexeu as mãos desesperada – Mas, sabe, taichou! Eu também sei tudinho, tudinho sobre você!

- O que quer dizer com isso? – curioso, encarou-a

- Poor exemplo... Sei que viemos para cá com o objetivo de realizar uma ordem do General, porééém, também sei que você mesmo gosta de vir para cá! – sorriu

- Ainda não compreendi. – resmungou

- Oras, oras! A resposta está na nossa frente!! – apontou para frente, onde Hitsugaya voltou seu olhar

- Toushiroou!! – Kurosaki Ichigo chama pelo pequeno capitão enquanto andava com sua irmã mais nova, Karin – O que estão fazendo aqui?!

Ichigo começa a correr junto de sua irmã até os dois comandantes do décimo esquadrão.

- É essa a sua resposta? – Hitsugaya encarou Matsumoto, que sorriu e foi até os irmãos – Oe! Matsumoto!!

- Ichigo!! Karin!! – Matsumoto grita e abre um enorme sorriso diante dos Kurosaki – Há quanto tempo, né? E que friioo!!

- Pois é! Mas estamos surpresos por estarem aqui! Outra missão? – riu Ichigo

- Parece que trabalham bastante, né... Mesmo tendo uma criança como capitão! – Karin sorriu com suas mãos atrás da cabeça, servindo de apoio

- Eu ouvi isso!! – gritou Hitsugaya de longe

- Mas é estranho! Toda vez que tem uma missão aqui, em Karakura, são vocês! Nunca vi o Byakuya, o Renji, ou o Kempachi...

- Nossa, isso mostra o quanto nos ama, né, Ichigo?! – Matsumoto franziu o cenho

- N-não foi nesse sentido! M-mudando de assunto, vocês já terminaram seu trabalho?

- Nem começamos... Na verdade, só viemos inspecionar. Acho uma bobagem, pois, já que você está aqui, junto da Kuchiki, não tem nenhum trabalho pra gente! Haha! –gabava-se animada

- Oe, oe, isso faz parecer que vocês nos usam... – uma gota aparece na cabeça de Ichigo

- Então, que tal vocês almoçarem com a gente? – ofereceu Karin, elevando a voz para chamar a atenção – Eu e Ichi-nii estávamos indo ao mercado comprar os ingredientes para o karê!

- K-K-K-K-Karê?! – os olhos de Matsumoto brilhavam – Claro que aceitamos!! Adooro karê!!

- Oe, ainda temos trabalho! Não podemos parar assim do nad...!!

- Não seja chato, Toushirou! É bom comer karê com mais gente, principalmente nesse frio!! Vamos, por favor!! – Karin interrompeu o pequeno que, por alguma razão, estava um pouco calado.

Hitsugaya suspirou fundo e acabou aceitando no final. Karin agradeceu com seus olhos brilhando de animação, deixando o capitão um pouco vermelho.

Estava diferente.

De alguma forma, parecia que Hitsugaya estava fazendo de tudo para tentar não conversar ou até mesmo olhar para o rosto de Karin. A garota estranhou, lógico. O laço que haviam criado em apenas um dia, foi mais que suficiente para se aceitarem como amigos...

... Ou até mais.

Mas Karin também não era boba. Sabia que o pequeno tinha uma paixão platônica e que nunca seria capaz de chegar aos pés dela. Afinal, era uma amiga de infância. Karin nunca perguntou como foi a vida de Hitsugaya, mas também nunca comentou sobre a sua.

Era uma amizade fechada, mas livre... Difícil de entender, mas, de alguma forma, se davam bem até demais.

Ichigo logo percebeu, mas nem quis tocar no assunto. Conhecia bem Toushirou e com certeza iria causar uma briga com ele se falasse algo que ligasse Karin a ele.

- “Crianças são tão complicadas...” –  era o que Ichigo pensava

                                                               ///

Chegando em casa, Yuzu se espantou com as visitas, mas ficou contente. Afinal, gostou de Toushirou desde a primeira vez que o viu, mas encarou Matsumoto se ela tivesse algum tipo de “relação” com seu “Onii-chan”.

Mas, afinal, Yuzu sabia que o mais velho tinha uma pequena paixão pela hóspede da casa: Kuchiki Rukia, então não ligava mais para isso.

Isshin não pôde comparecer no almoço por algum motivo misterioso, como sempre. Então, foi um almoço normal. Porém com um clima bem pesado. Hitsugaya e Karin praticamente não falavam nada.

Rukia, Yuzu e Matsumoto até tentavam quebrar o gelo, mas iam em vão. Ichigo sequer ligou, parecendo rude e levando vários chutes de Rukia para ajudar a quebrar o clima pesado que por ali pairasse.

Depois do almoço, as garotas fizeram a limpeza da louça enquanto Toushirou bebia uma xícara de chá e Ichigo olhava diretamente para o relógio com dores em sua perna.

- Já... – sussurrou Matsumoto – CHEGA!!!!!

Chamou a atenção de todos que a olharam surpresos. Matsumoto segurou na mão de Rukia e de Yuzu, que continuavam paralisadas.

- Vamos ás compras!! E, Ichigo, você vem conosco para levar as sacolas!! – soltou a mão de Rukia e apontou para Ichigo

- QUÊ?! Nem pensar! Não quero fazer o papel de burro!!

- Você já faz metade mesmo... – sussurrou Rukia e rindo depois

- Como é que é, baixinha?!

- Mas eu concordo com a Matsumoto-san! – exclamou Yuzu sorrindo – Vamos, vamos!! Karin-chan, você poderia cuidar da casa? Afinal, você não gosta muito de sair, né?

- Sem problemas.

- Obrigada! Vamos, Onii-chan, Rukia-chan e Matsumoto-san!

- Até mais, taichou! Eu nem preciso falar para você cuidar da Karin, afinal, você iria fazer isso mesmo falando não...

- Oe!! – levantou do sofá irritado, mas foi interrompido pelo barulho da porta

Um silêncio dominou a sala. Tanto Hitsugaya quanto Karin não estavam muito acomodados com aquela situação.

- “Maldita Matsumoto... Fez isso de propósito...” – pensou Hitsugaya, voltando a se sentar

- Toushirou... – Karin o chamou, mas o pequeno nem se manifestou

- O que foi?

- Está tudo bem com você? Quer dizer... Hum... A-a Soul Society está legal? Ainda gosta de lá? – parecia nervosa. Hitsugaya ouvia um barulho de porcelana batendo em porcelana, virou um pouco a cabeça para o lado e ficou de perfil para Karin, que estava “tentando” colocar chá na xícara, mas tremia

- Está normal, como sempre. – respondeu indiferente.

- Entendo... – parou de tremer e suspirou fundo

Hitsugaya, sendo o mais cauteloso possível, levantou-se e se aproximou de Karin. A garota não tinha percebido então continuou a conversa.

- E-e a Hinamori-san...? Continua conversando com ela? – toda vez que repetia esse nome, seja falando ou pensando, seu coração doía. Sentia-se triste e perdida.

- É, digamos que sim. – Karin levou um susto quando percebeu que Toushirou estava ao seu lado e, acidentalmente, derrubou o bule e sua xícara

- Oe!! – Hitsugaya se assustou

- Ah, desculpe-me!! – a garota abaixou-se no chão e tentou recolher os cacos que havia derrubado

- Idiota, vai se cortar desse jeito!! – Hitsugaya segurou em seu pulso, levantando a garota que permanecia um pouco trêmula – “Está tremendo...”

O garoto suspirou fundo. Levou o braço livre ao ombro direito, enquanto o outro segurava em seu pulso esquerdo. Caminhou junto até o sofá, sentando Karin.

- Eu limpo a bagunça, fique aí. – falou com um tom de ordem – Nem pense em se mover, ouviu bem?!

Karin engoliu a seco. Levou bronca por ter derrubado um bule...? Será que Hitsugaya queria mais chá? Será que havia gostado do bule?

- “Não, não... O Toushirou não é assim, mas... Por que ficou tão zangado...?”

A garota tentou mirar o grisalho e o mesmo recolhia delicadamente cada caco de vidro, tomando o máximo de cuidado para não se cortar. Karin riu um pouco.

- Você... – o garoto começou uma pequena conversa, observando um pequeno caco com um desenho de uma pétala de sakura – Não se machucou, né?

- N-não. Estou bem! – abriu um pequeno sorriso e ficou com um olhar sereno – Obrigada por se preocupar.

- N-não estou preocupado! – se levantou com certa brutalidade – Só estou com saco cheio de o Kurosaki toda hora pegar no meu pé, só isso!

- Hai, hai, entendido! – sorriu

- Por isso... – sua expressão havia mudado – Nem pense em ficar machucada ou doente.

- Hai... – sentiu seu rosto esquentar um pouco e virou-se de costas para o garoto. Seu coração não parava de bater, e ainda por cima estava acelerado. – Err... Continuando...

- Te incomoda tanto assim? – interrompeu-a

- Hum?

- Não se faça de boba. O fato de eu ser amigo de Hinamori. Te incomoda tanto? – jogando os cacos em uma caixa de papelão vazia, andou e sentou-se ao lado de Karin

- O-o que?! Isso não é nem um pouco da minha conta, se quer saber! – corou – Só estou... Curiosa. Afinal, não é normal um garoto da sua idade estar namorando por aí!

- “Namorando”?! Quem falou uma besteira dessas?! Até parece que estou namorando a Hinamori!

- Sei, sei! Todos falam isso!! Vocês, homens, são todos iguais! Estou cansada disso!

- Karin, você está com ciúmes da Hinamori? – o garoto a encarava com um pequeno sorriso no canto da boca

- E se estiver?! Tem algum problema?! – seus olhos começaram a lacrimejar

- Oe, oe, chorar não é a sua cara, Kurosaki. – brincou um pouco – Muito menos ficar gritando por aí.

- Quem está chorando?! Eu não estou! Só... Só...!! Que raiva! – pegou um travesseiro e colocou em seu rosto

- Vai se esconder agora? Como você mudou desde a última vez que vim aqui.

- Desculpe por estar em fase de crescimento, uma coisa que você já parou! – retrucou deixando o capitão com certa raiva, mas que logo passou

- Eu... Gosto desse mundo. – sua voz ficou fraca – Aqui é tão diferente da Soul Society, da pobreza que eu tive, dos sofrimentos que tive... Tudo muda. E, além disso, tem certas “coisas” que me deixam feliz, se assim posso chama-las.

- Por que não? Se elas te deixam felizes, são coisas felizes! – o travesseiro continuava em seu rosto, e Hitsugaya não entendi direito o que Karin pronunciava

- Tá, eu admito. Na verdade, sou eu quem solicita a preferência para vir até aqui, no Mundo Real. – o garoto sentiu suas bochechas corarem um pouco – Eu gosto daqui porque sei que, toda vez que venho aqui, consigo te encontrar... Sempre acabo esbarrando em você. – praticamente sussurrou a última frase

- Como? – a garota retira o travesseiro e encara Toushirou um pouco confusa

- Se não ouviu, dane-se!! – levantou-se e se espreguiçou – Tem algo para fazer? Estou entediado.

- Ei, ei, agora vai repetir o que disse! Não vai me deixar curiosa de jeito NENHUM! – segurou em seu braço e sua mão estava congelando – Nossa, até mesmo o capitão “gelado” sente frio! Quer uma luva?

- Não preciso, agradeço. – bufou

- Né, né, diiiz!! – começou a gritar que nem uma criança

- Se eu disser, vai parar de me encher o saco e pôr um ponto final?!

- Siim! – sorriu vitoriosa

Hitsugaya encarou Karin por um segundo e aproximou seu rosto calmamente com o dela. Karin assustou-se e ficou paralisada, nada mais passava em sua cabeça.

Encostou seus lábios no dela e ambos sentiram um choque com aquele toque. Mas não queria parar exatamente. Estava confortável, uma sensação gostosa que nunca havia sentido antes.

Depois de um tempo, pela falta de ar, tiveram que se separar. Karin estava um pouco surpresa e bastante vermelha. Hitsugaya tentou disfarçar um pouco, mas estava um pouco constrangido por ter feito aquilo, foi algo novo para ele também. Seu rosto estava um pouco menos vermelho que o de Karin, mas estava com extrema vergonha. Algo incomum para o capitão do décimo esquadrão.

- T-T-Toushirou...

- Desculpe. – Karin encarou Hitsugaya e assustou-se pelo mesmo estar vermelho – Eu... Não deveria ter feito isso. Mas, na verdade, não tenho coragem para dizer algo relacionado a isso.

Karin riu um pouco.

- D-do que está rindo?!

Karin encostou seus lábios durante alguns segundos nos de Toushirou e se levantou.

- Ponto final! – exclamou e saiu do cômodo

- ...

                                                                              ///

- Obrigada pela hospedaria!! – Matsumoto, já longe, acenava livremente e berrava

- Venham nos ver mais vezes!! – Yuzu e Karin gritavam sorrindo

Hitsugaya cruzou seu olhar com Karin e ambos coram um pouco.

- Estaremos sempre aqui, ouviu, Toushirou!! – gritou Karin sorrindo radiante

Hitsugaya virou-se de costas e levantou o braço, como se estivesse acenando. Matsumoto o acompanhou saltitando e dando um último “tchau” para a família Kurosaki.

- Viu, viu, taichou!! – depois de andarem alguns metros, Matsumoto começou uma pequena conversa com seu capitão

- O que foi agora?

- Eu te disse!! Eu te conheço muuuito bem! Pensa que não percebi o meu pequeno taichou corando?

- Matsumoto... – uma veia salta de sua testa

- A resposta está bem na sua frente e você não percebe! Tsc, tsc. Desapontei, taichou! – abriu um bico e cruzou os braços

- Carregue suas sacolas sozinha! – soltou as enormes sacolas e andou mais rápido

- T-Taichou, eu estava brincando!! Não me faça carregar tudo!! Taichoou!! – choramingou, correndo atrás de seu capitão