Incompreensão escrita por GabrielMachado


Capítulo 5
Vazamento da Angústia


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem mesmo pela demora! Aconteceu um problema com uma amiga que estava responsável por esse capítulo e perdi um pouco a vontade de escrever o texto. Mas voltarei a escrever com a mesma frequência de antes. Novamente peço desculpas pelo acontecido. Ah, a propósito, esse episódio está um pouco mais... dramático. Espero que gostem.



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Cebola P.O.V

E aqui estou eu. Deitado na minha cama desde ontem à tarde. Agora são exatamente 11:30 da manhã, e a noite de ontem foi, bem, estressante. Não consegui dormir direito, meu pensamento só se centralizava na Mônica. Desde o dia em que terminei com ela, sei lá... Eu me sinto muito idiota. Eu só me lembrava dos nossos beijos, nossos abraços, nossos telefonemas durante a noite, os filmes que assistíamos juntos... E como isso tudo foi pro lixo só por causa de uma besteira de derrotá-la. Sei lá, eu acho que as surras que ela me deu causou um trauma. Eu não me sinto bem quando ela me vence em alguma ocasião. Inexplicavelmente, sinto uma raiva dentro de mim, uma inveja por ela sempre ganhar de mim. Mas depois, quando a gente está junto, isso tudo muda. Nos momentos em que estamos juntos eu desejo a Mônica, eu quero o corpo dela junto com o meu. Eu quero amar ela. Mas quando ela me derrota em alguma coisa, eu... sinto um aperto no meu coração, que não consigo entender. Simplesmente sinto.

Nos nossos beijos, eu sentia o calor do corpo dela aquecendo o meu. Quando os lábios dela se encontravam com os meus, eu sentia o meu cabelo se arrepiar. Era simplesmente maravilhoso ficar junto dela, ser o namorado dela... Mas eu joguei fora tudo isso.

Eu tenho tido algumas recaídas. Algumas vezes, começo a discar o número do celular dela, mas paro no meio. Eu tenho medo dela nunca mais voltar pra mim. E quer saber? Mesmo eu desejando a Mônica, eu não acho que eu mereço ela. Ela é forte, sabe o que quer, mas tem seu lado doce também. Eu sinto a dor que ela sente quando eu a magôo. Deve ser por isso que nunca “venci” ela, em todas as oportunidades que tive. Talvez ela nunca mais me queira de volta. Talvez ela me ache um fraco, que não sabe enfrentar um desafio. Ou talvez ela me ache um canalha, que só quer ver ela sofrer e por isso jogo ela fora quando finalmente a consigo. E não aparento querer ela de novo. Eu não quero ver a Mônica sofrer por minha causa.

Há alguns minutos abri a gaveta do criado-mudo que há do lado da minha cama, e vi um papel que aparentava estar seco de uma chuva: estava amassado, mas quando eu o peguei... Eu o reconheci.

Era uma carta que havia mandado para a Mônica na 8ª série. Na verdade ela estava dividida em duas partes porque eu não havia terminado de escrever a carta, simplesmente a rasguei e guardei no meu criado-mudo. Incrivelmente lá estavam as duas partes da carta, Eu os juntei manualmente e comecei a ler (apesar da carta estar amassada, a letra era forte e legível).

“Mônica... Você se lembra do tempo em que te chamava de gorducha, dentuça e baixinha? Se lembra do tempo em que colava cartazes com desenhos te ofendendo? E se lembra de todas as coelhadas que eu tomei por isso?

Pois é. Com certeza você se lembra. Nos conhecemos à tanto tempo, e você nunca percebeu que tudo que eu fazia, era pra chamar sua atenção. E sabe por que eu queria chamar tanto a sua atenção?

Eu... Gosto de você. Gosto muito de você, Mônica Sousa. Todos os dias eu me pego pensando em você, pensando no seu lindo sorriso, nos seus lindos dentes, no seu corpo, nos seus olhos... Eu gosto muito de você. E eu queria saber---

Eu parei aí. Eu ia pedir pra Mônica namorar comigo. E talvez você pense que a carta foi quente demais. Mas eu queria ser totalmente natural com ela. A Mônica me conhece como ninguém, e sabe quando estou mentindo. Eu me lembro que naquele dia, quando estava escrevendo esse trecho, levantei a cabeça (estava na sala de aula) e vi a Mônica dando um beijo na bochecha do Do Contra. Eu nunca soube o por que, mas aquilo me irritou muito. Eu sou muito orgulhoso. Não olhei para o rosto da Mônica pelo resto daquele dia, e quando acabou a aula ela me ofereceu uma carona porque estava chovendo. Eu não respondi, apenas saí correndo. No dia seguinte, olhei a carta em cima da mesa do meu quarto, já seca. Eu a rasguei e a enfiei no fundo da gaveta do meu criado-mudo. Naquela gaveta existem tantas coisas: lápis, canetas, agendas, que os pedaços simplesmente se perderam na bagunça. E o tempo passou, eu esqueci esse episódio e também a carta. E hoje, lendo ela, percebi o quanto era infantil. Acabei com a minha declaração de amor por uma coisa totalmente ridícula. Quer dizer, talvez o Do Contra tenha feito algum favor para a Mônica, e por isso ela o beijou. E foi na bochecha. Amigos se beijam na bochecha.

Eu coloquei a carta novamente na gaveta, e a fechei. Abri a segunda gaveta e vi a minha antiga tesoura de unha. Ela estava totalmente afiada – nem eu sabia como ela havia ficado daquela forma – e intacta. Também, pudera. Fazia anos que eu não a usava.

Eu tive pensamentos vagos naquele instante. Pensei que a única maneira de extravasar a ira e a dor que sentia era me cortar com aquela pequena tesoura. Achei totalmente estranho, pois nunca havia feito aquilo na minha vida e até aquele momento, achava aquele ato totalmente ridículo. Simplesmente deixei a ideia e fechei a gaveta. Infelizmente eu NÃO ESQUECI aquela ideia.

Para arejar a cabeça, levantei e fui até a cozinha. Meus pais haviam saído e eu estava sozinho. Abri a geladeira e peguei uma jarra com água. No instante em que a coloquei na mesa, lembrei de todas as vezes que perdi para a Mônica. Lembrei de todas as coelhadas que havia tomado. Lembrei da vez que escutei Mônica dizer que já havia pedido para namorar o Do Contra. E me lembrei do beijo na bochecha.

Coloquei a jarra novamente na geladeira rapidamente, e corri para o meu quarto. Abri a segunda gaveta do criado-mudo de olhos fechados, com um pouco de medo do que iria fazer. Abri os olhos e peguei a tesoura, e notei mais detalhadamente como ela estava afiada. Eu não tinha certeza se ia me cortar. Aquilo era ridículo, afinal, eu iria me machucar por uma razão tão infantil? Mas quando mais eu pensava que aquilo era ridículo, mais eu lembrava das vezes que magoei a Mônica. Fechei meus olhos e levantei meu braço, e apontei a tesoura para o meu braço. Suei frio e fiquei quieto por cerca de dez segundos. Depois, num movimento meio involuntário, enfiei a ponta da tesoura na minha pele. Eu dei um grito e arranquei a ponta de minha pele. Sentia o sangue quente escorrendo pela minha pele clara, mas não conseguia olhar. Alguns segundos depois escutei o som do sangue pingando no chão, e finalmente tive coragem de olhar em meu braço. O sangue jorrava, mas incrivelmente eu sentia todo o rancor, todo o ódio, toda a aflição e toda a mágoa saindo junto com aquele líquido vermelho. A tesoura estava molhada de sangue e como estava em minhas mãos, meus dedos também ficaram vermelhos. Eu não conseguia controlar. Será que estou ficando louco? Sinto a dor e tudo de negativo que sinto sair do meu corpo junto com o sangue, mesmo sentindo o ardor. Continuei o ato. Coloquei a ponta da tesoura no buraco que ela havia feito em minha pele e desci para o meio do meu braço. Eu não agüentei. Naquele momento o ardor chegou em seu pico. Joguei a tesoura longe e fui correndo até o banheiro lavar meu braço.

Algum tempo depois fiz os devidos curativos e limpei o chão, meus dedos e a tesoura do sangue do meu braço. Depois abaixei as mangas de minha longa blusa para esconder os ferimentos, liguei a TV do meu quarto e deitei na minha cama, pensando em esquecer aquilo que tinha feito.



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Notas finais do capítulo

Esse capítulo, como viram, foi especial do Cebola. Apesar da mutilação que coloquei na história e o tempo que demorei para postar esse capítulo, será que eu ainda mereço reviews? ♥