Real or not real? escrita por letter


Capítulo 2
Capítulo 1 - Repertório




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     Costumava ser Peeta quem constantemente perdia o sono e passava boa parte da noite acordado apreciando o conturbado sono de Katniss, mas essa noite eles reverteram os papeis. Katniss estava sentada no parapeito da janela, abraçando os próprios joelhos, sentindo a brisa quente da madrugada de fim de verão passar por sua janela e a envolvê-la, enquanto apreciava Peeta mergulhado em seu sono. Ela se perguntava se quando estava dormindo, transmitia a mesma solenidade que ele, por isso ele gostava de olhá-la. Mas duvidava, imagina que se remexia tanto na cama, imersa em seus pesadelos, que acabava o acordando, o oposto de Peeta que dormia de forma tão tranquila, que chegava a ser reconfortante apreciar sua respiração ritmada, seus suspiros constantes, suas suaves feições.

     Peeta murmurou qualquer coisa inteligível e abriu os olhos.

     Piscou algumas vezes até colocar Katniss em seu foco.

     Ele a fitou com os olhos duros por um momento, mas aos poucos conforme a consciência voltava, eles se suavizaram, e Peeta sorriu.

     - Oi – disse ele com a voz entorpecida.

     - Oi – respondeu Katniss.

     - Tudo bem? – indagou ele bocejando.

     - Bem, e você? –

     - Cansado – admitiu ele bocejando novamente. Peeta se levantou e encostou-se à cabeceira da cama, passou as mãos pelos cabelos fora do lugar e coçou a cabeça – Você ao menos dormiu, ou cochilou? – perguntou ele. Katniss negou com a cabeça – Isso tudo é nervosismo por irmos a Capital?

     - Não nervosismo... Quer dizer, um pouco é. Não tá nervoso?

     - Ansioso na verdade.

     - Pelo que? – perguntou Katniss incrédula – Ter de voltar a Capital onde passou por aquilo tudo te deixa ansioso?

     - Não é a mesma Capital, Katniss, quero ver o que a Presidente Paylor fez com a nova Capital. Um ano mudou quase tudo aqui no 12, ela teve tempo de mudar muita coisa lá. Estou ansioso de verdade. 

     Katniss se levantou e revirou os olhos. Peeta sempre via tudo por todos os ângulos, e os ângulos pelo qual ele via tais coisas eram realmente melhor. Katniss sentou-se na cama, ao lado de Peeta.

     - Eu que deveria estar agindo assim – contestou ela.

     - Também acho – admitiu ele rindo e plantando um beijo em seus lábios – Você devia estar me consolando, e prometendo que vai tudo ficar bem lá – disse ele com pesar – Ainda da tempo de fazer isso?

     - Infelizmente não – respondeu Katniss com o mesmo pesar – Está para amanhecer.

     - Então... No trem enquanto estivermos indo? – perguntou ele sorrindo.

     - É uma possibilidade – respondeu ela, tentando fazer o que doutor Aurelius havia a pedido. Tentando esconder de Peeta o quanto temia essa viagem. Sorriu e deu outro beijo em Peeta, antes de se dirigir para o banheiro pra se higienizar.

     Katniss levou mais tempo do que o de costume para se arrumar. Demorou-se o quanto pode na banheira, e quando saiu, a ponta de seus dedos estavam levemente enrugadas. Não sabia qual roupa vestir, e depois de experimentar todas as peças de seu closet, inclusiva as que nunca usura, optou por um conjunto básico e cotidiano. Jeans surrados, camiseta simples, a jaqueta de couro de seu pai por cima, e os coturnos que eram seus parceiros de caça.

     Julgou ter demorado tempo de mais, pois quando saiu do quarto suas narinas foram invadidas pelo tradicional cheiro de pão quente saindo do forno.

     Era um hábito, e fazia parte da terapia de Peeta. Doutor Aurelius viu que Peeta realmente melhorou depois de começar novamente a cozinha e pintar. Recomendou que todos os dias, ao levantar, preparasse uma leva de pães, ajudava-o a relaxar, e proporcionava a ele e Katniss um bom café da manhã.

     - Tenho de ir à padaria, passar instruções ao Leroy antes de irmos, ele vai ficar tomando conta enquanto estivermos fora – assim como todo distrito 12 foi reconstruído, Peeta também reconstruiu a padaria de seus pais, e agora dirigia seu próprio negócio.

     - Tenho de ter certeza que Haymitch vai acordar – comentou Katniss se servido de pães amanteigados.

     Fazia parte do tratamento de ambos conversarem sobre os sonhos que tiveram a noite. A maioria dos de Katniss era pesadelos envolvendo seus familiares e qualquer coisa dos Jogos Vorazes, a maioria dos de Peeta eram lembranças, algumas verdadeiras, outras falsas, de forma que ao contar Katniss tinham de dizer quais eram. Mas ela não havia dormido, e segundo Peeta, ele não sonhara.

     Dissera que não, e Katniss não tentou contestar. Katniss se lamentava por nunca saber quando Peeta tinha pesadelos, ele nunca demonstrava. Como essa noite, tivera um pesadelo com Katniss, mas não sua Katniss, a Katniss criada por presidente Snow. Em seu pesadelo, tentava proteger os sobrinhos de um bestante. Katniss era o bestante, ele tinha de destruir o bestante de alguma forma, antes que esse o destruísse, ou destruísse seus sobrinhos, mas antes de fazer qualquer coisa, acordou. A primeira coisa que viu quando abriu os olhos foi Katniss, e levou um bom par de segundos até decidir por conta própria que não era real o que sonhara.

     - Nos encontramos na plataforma? – perguntou Peeta se levantando.

     - Ainda não acredito que daqui à uma hora estaremos á caminho da Capital – murmurou Katniss ainda sentada em sua cadeira, enquanto Peeta beijava sua testa.

     - Não vai ser a mesma coisa – assegurou Peeta – Quer que eu a ajude com Haymitch? Leroy pode esperar.

     - Não se preocupe, eu realmente estava com saudades de acordá-lo – respondeu Katniss imaginando se seria precisa jogar baldes de água em sua cabeça como nos velhos tempos.

     - Certo, não morra de saudades – pediu Peeta já fora do plano de visão de Katniss.

     - Vou tentar – respondeu ela ouvindo a porta da frente de se fechar.

     Katniss pegou os pães que sobrara e os embrulhara para Haymitch.

     Se arrastou com pesar para fora da casa, já calculando quanto tempo levaria até voltar para lá.

     Haymitch era seu vizinho na Aldeia dos Vitoriosos, de modo que poucos passos a colocaram de frente a sua porta. Por força do hábito, Katniss ainda chamava o conjunto de doze casas no alto da colina de Aldeia dos Vitoriosos, mas com os Jogos Vorazes banidos, esse termo já não existia mais. Das doze casas, três costumavam ser as ocupadas. A sua, a de Haymitch, e a de Peeta, que hoje servia como deposito para suprimentos da padaria e o segundo andar como o ateliê de Peeta, onde ele produzia suas obras e lá as deixava.

     Agora, todas as outras estavam ocupadas. Com Paylor no poder, um novo tipo de governo chamado república foi instaurado, Katniss ainda tinha dificuldades de entender a tal república, mas até a onde sabia, cada Distrito tinha sua independência e eram dirigidos por um grupo de pessoas escolhidos pelos habitantes do distrito. Katniss costumava chama esse grupo de pessoas de os: “Caras do Poder”, pois era deles o controle dos Distritos, de forma moderada. E os Caras do Poder eram os novos vizinhos de Katniss.

     Não bateu na porta, mesmo se batesse, Haymitch não ouviria, deveria estar ocupado de mais dormindo. A casa estava parcialmente arrumada, Peeta obrigara Haymitch a pagar a neta de Greacy Sae para arrumar a casa de Haymitch ao menos uma vez na semana, e cozinhar todos os dias.

     Katniss encontrou Haymitch dormindo de barriga para cima no sofá de couro preto que havia de frente a lareira na sala de estar. A fiel esposa de Haymitch estava ao seu lado, sua preciosa faca, que mesmo depois de tudo, Haymitch não a abandonara. Velhos hábitos nunca morrer, pensou Katniss, uma vez que ela mesma ainda usava a roupa que constantemente usava para caçar. Katniss ainda caçava, alguns dias no mês, mas agora ensinava crianças de todas as idades, durante a semana em horários específicos, a arte de usar o arco e flecha na escola do Distrito.

     No começo, pensara que não iria se sentir bem. Só de imaginar em ver as antigas colegas de classe de Prim sua garganta se fechava, mas Peeta insistiu tanto, que por fim ela foi. Hoje, não trocaria suas aulas com os alunos da escola por nada. Se sentia bem estando perto das crianças, e o buraco que Prim deixara em seu coração se cicatrizava aos poucos com a convivência com a garotada que a distraia boa parte do dia.

     - Acorda! – berrou Katniss ao ouvido de Haymitch.

     Ele murmurou qualquer coisa, balançou os braços e se virou.

     - Anda Haymitch, não quero te molhar.

     Uma vez que não estava bêbado, não deveria ser difícil acordá-lo. Haymitch agora fazia parte dos Caras do Poder, e assumindo a responsabilidade, se comprometeu em se manter sóbrio nos dias de semana.

     - Haymitch, levanta logo.

     - Fala baixo – murmurou ele ainda de olhos fechados.

     - Você tem exatamente uma hora para levantar, tomar banho, se arrumar e comer, para irmos para plataforma, então coopera e levanta.

     - Argh – resmungou ele – Baixou o espírito da Effie Trinket em você, foi? – perguntou ele no tom carrancudo de sempre abrindo os olhos e se levantando – Que olheiras lindas queridinha, pelo visto a animação para ir a Capital é tamanha que nem pregou os olhos a noite.

     - Não começa – pediu Katniss – Vai, tenho que te arrastar para o banheiro?

     - Não, tenho quase certeza que sei o caminho – Haymitch se levantou e esticou os braços, sendo possivel ouvir o estalos de seus ossos, enquanto se espreguiçava – Sofá nada confortável esse aqui – murmurou ele se arrastando até as escadas.

     Em sua mente Katniss já o via tropeçar, e por via das dúvidas, o seguiu por trás.

     - O que vamos fazer quando chegarmos? – perguntou ela se referindo à capital.

     - Ah... Effie mandou toda uma programação. Ela queria vir, para ajudar, mas a santa Paylor disse que não era necessário – Haymitch virou no corredor, e seguiu para a porta onde ele terminava. O quarto estava como Katniss vira da ultima vez, uma total zona, era o único lugar onde Haymitch não deixa a faxina chegar. Garrafas amontoadas em várias pilhas, papéis espalhados por todos os cantos, e roupas jogadas de todas as maneiras e formas por qualquer lado – A capital não é como era... De forma que todo o luxo e extravagância foi cortado. Faremos paradas nos distritos e pegaremos novos passageiros.

     - Não vejo problemas nisso – disse Katniss enquanto Haymitch entrava no banheiro.

     - Ao chegar lá – continuou ele falando por detrás da porta do banheiro e ligando o chuveiro – Terá um jantar formal, para todos se conhecer e afins. Depois, um baile formal, para descontrair. Depois, três manhãs de reuniões formais, para vermos todas as clausulas da Constituição e algum membro do conselho de Paylor nos explicar – Katniss se sentou na beirada do que ela julgou ser a cama de Haymitch e ficou mexendo em uma pilha de papeis amassados e manchados enquanto ele continuava a falar – Teremos dois dias para decidirmos formalmente em que vamos concordar ou discordar. Mas três dias de reuniões formais dizendo nossas opiniões. Um dia de folga enquanto a Constituição for escrita com as clausulas oficiais e formais. No outro dia iremos todos aparecer para toda Penem, assinando a Constituição e respondendo perguntas do público. No mesmo dia haverá um jantar seguido de um baile para uma despedida formal. E na manha seguinte estaremos embarcando de volta para casa.

     - Quanta formalidade – murmurou Katniss para si mesma revirando os papeis sem qualquer motivo aparente. Mas tudo se tornou mais interessante quando ela viu seu nome em um dos papeis.

     Além de seu nome, havia sua foto, e todos seus dados.

     O que chamou a sua atenção foi uma nota anexada na parte de baixo da folha. Estava assinado por Paylor. E Katniss ficou realmente surpresa com o que leu.

     - É, vai ser um saco – disse Haymitch saindo do banheiro, já vestido e com uma toalha na mão que ele jogou para o lado sem qualquer preocupação – Não é nada bonito xeretar nas coisas dos outros – avisou ele vendo Katniss absorta em um papel qualquer.

     - Eu não quero ir, e descubro que Paylor não quer que eu vá por que... De onde ela tirou que eu sou mentalmente perturbada? – perguntou Katniss virando para Haymitch – Você tinha visto isso? – Katniss levantou o papel no alto, para ter certeza de que Haymitch lesse as notas, onde Paylor queria ter certeza de que Katniss não representaria um perigo para Capital por ser... Mentalmente Perturbada.


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Notas finais do capítulo

Bom, eu me esforcei ao máximo para deixar esse capitulo digno de THG, mas ele foi mais para introduzir mesmo, mostrar como estavam as coisas no geral. Bom, esperto que tenham gostado dele *-* reviews? besos :*