Dondarion foi arrancado de forma tão abrupta de seu sono, que enquanto era tirado á força de sua cama e de seu quarto, arrastado e empurrado para longe de sua base, ele imaginou estar sonhando. E somente no meio do caminho, muito depois de ser colocado para dentro de um aerodeslizador, e esse ter levantado vôo, foi que Dondarion percebeu o que estava acontecendo. Mas foi apenas quando um pacificador apareceu, com cordas e lenços nas mãos, e usaram estes contra Dondarion, foi que ele realmente acordou, e descobriu que não era um sonho, muito longe disso, descobrira que a situação era séria. Muito séria.

- Eu não sei! – berrou Katniss, e em sua cabeça, já parecia ser a milésima vez – Não sei!

- Mentira Everdeen, mentira – retrucou Noel, encostado de forma tranquila a parede, com apenas um dos pés apoiadas nela, fitando a silhueta de Katniss Everdeen – Dizem que os tordos repetem tudo que cantamos, essa foi à música que Dondarion cantou para você? – perguntou Noel, fitando-a suavemente, como se apreciasse vê-la daquela forma.

- Eu já disse – Katniss falou, casada daquilo tudo – Eu não sei... Não sei se era Peeta, não sei como aquele comunicador foi parar de mim, não sei...

- Você entrou em contato com Panem para dizer sua locação?

- O que? – perguntou Katniss incrédula, tentando em vão ignorar as dores causadas pelos hematomas por todo seu corpo – Não!

Noel soltou um pesado suspiro.

- Mas uma vez Lorcan.

O ajudante olhou de soslaio para o chefe, e a contra gosto, voltou a puxar a alavanca a sua frente para baixo. O barulho do gerador foi imediato, e em segundo esse mesmo barulho foi abafado pelos ensurdecedores gritos de Katniss. Katniss apenas se mantinha em pé, devido as correntes, que pendiam cada uma de seus braços ao teto, suas pernas já não tinham forças, seu corpo já se encontrava inútil, e nesse momento Katniss esquecera até do que era respirar, a única coisa que conseguia fazer era sentir seu coração disparar descontroladamente, sentir cada terminação sua arder, como se estivesse em chamas, como se sua pele estivesse sendo arrancada lenta e dolorosamente.

- Aumente a potência Lorcan – ordenou Noel. Aos ouvidos de Katniss, a voz de Noel soava abafada, como se ela estivesse com os ouvidos imersos na água, forçando a ouvi-lo, mas não conseguia. Apenas seus gritos chegavam aos seus ouvidos, e algo que ela pensou ser impossível, aconteceu: a dor aumentou.

- Ela... Ela vai... Ela pode sofrer um ataque cardíaco senhor – gaguejou Lorcan.

- Não, ela não vai. Ela aguenta mais um pouquinho.

Katniss sentiu seus próprios gritos perfurarem seus ouvidos, tão agudos e cortantes que quando tudo se calou, imaginou ter furado os próprios tímpanos. Sua mente vagueou por alguns segundos. Então Katniss abriu os olhos.

- Eu disse que ela aguentava – murmura Noel, andando até si. Só então Katniss se dera conta de que desmaiara por um momento, e que infelizmente se encontrava na mesma situação e lugar.

- Eu não sei – fala ela automaticamente, fechando os olhos.

- Você acabou com o sofrimento do meu irmão, de uma forma ou de outra – as palavras ditas por Noel, não faziam sentido na mente atordoada de Katniss – Me diga o que eu quero saber, e acabarei com o seu.

- Eu não sei – respondeu ela, fazendo força para conseguir sugar o ar para dentro de seus pulmões.

Com as pálpebras pesando uma sobre a outra, Katniss não conseguia ver, mas conseguia ouvir o audível suspiro de Noel.

- Você não deixa outra escolha. Lorcan, aumente a potência.

A porta de metal é escancarada no momento em que o ajudante Lorcan fecha seus dedos sobre a alavanca.

- Pelo amor de Deus, Noel! Precisamos dela viva.

Katniss que nada via, ouviu passos se aproximando, ouviu o barulho das correntes, e sentiu seus joelhos de encontro ao chão.

- Eu não sei – disse ela automaticamente.

- Você estragou a garota! – exclama a conhecida voz de Snow – Parabéns Noel.

- Eu queria arrancar dela infor...

­- Você queria dar o troco – repreendeu Snow – Noel, você deixa seu ódio sobrepor suas obrigações. Levem-na para algum quarto. Onde está o curandeiro?

- O curandeiro é Dondarion – diz Noel – Está no 13.

- Assim, é verdade, o traidor. Você devia poupar as forças gastas na Katniss para usar nele. Meus ouvidos estão entupidos de tanto ouvi-la gritar. Os tordos têm uma garganta e tanta, não? Mas que seja, mande Dondarion a minha sala assim que chegar. Arrume um curandeiro para essa aí. Com sorte conseguimos o apoio do garoto do pão depois de ele ver esse vídeo.

Peeta, ele está bem, pensa Katniss ao ouvir ele ser mencionado. Se falaram do seu garoto do pão, significa que ele está bem. Katniss sentiu-se ser levantada do chão, por alguém.

- Você gravou...? – pergunta Noel incerto.

­- Mas é claro. Pode parecer meu caro amigo, mas isso, não é um simples jogo.

- Eu não sei – murmura Katniss antes de perder a consciência.

Dondarion já estava a tempo suficiente a serviço de Rudolphine Snow, para saber os métodos como este trabalhava. Já presenciara inúmeras torturas, a mandato de Snow, a qual quer um que Rudolphine soubesse, ou ao menos imaginasse ser um traidor ou empecilho sobre sua causa. Psicologicamente, Dondarion se preparava para o que quer que seja que lhe aguardasse. Mas depois de ter sido obrigado a assistir a trágica morte do irmão, ao lado dos conselheiros do antigo presidente, ele não imaginava que poderia haver tortura pior lhe esperando.

O aerodeslizador pousou na base interna, montada ao lado da antiga arena. A base interna servia há até alguns meses, como ponto de parada para turistas vindos da Capital, ansiosos para conhecer a arena onde vinte e três crianças foram massacradas. Mas eles eram tão alienados ao seu mundo, e nunca tiveram o desejo ou se quer a vontade de conhecer qualquer distrito de Panem, que imaginavam que as arenas, se encontravam em qualquer distrito distante da Capital.

Escoltaram Dondarion para dentro de um elevador próximo onde o aerodeslizador pousou, mas ao invés de subir, ele desceu. Rudolphine temia apenas por sua segurança, de modo que mandou construiu seu escritório no mais subterrâneo o possivel, caso sua base fosse atacada, ele teria muito mais chances situando lá em baixo, do que em alguma das salas lá em cima.

O elevador se abriu direto na sala de Snow.

- Deixem-nos – ordenou Snow, sentado em uma larga poltrona de couro vinda de Panem, dando as costas a Dondarion e os soldados que saíam ao seu comando – Você sabe por que veio para cá desse modo, rapaz?

- Sei sim, senhor – respondeu ele com a boca seca, devido aos panos que usaram para amordaçá-lo na viagem de vinda.

- E você nega ter feito o que fez? Nega ter ajudado Everdeen se comunicar para fora da base?

- Não, senhor – respondeu Dondarion, feliz de certo modo por desafiar de um jeito ou de outro algum dos Snow. As conseqüências seriam bem vindas.

- Pois bem – Snow se virou na sua cadeira, ficando de frente a Darion – Devo agradecê-lo e parabenizá-lo.

Darion piscou algumas vezes, confuso de mais para dizer qualquer coisa. Ouvira direito? Agradecer e parabenizar? Estavam eles dois falando da mesma coisa?

- Me des... Me desculpe, senhor? – perguntou ele.

- Graças ao seu planinho, nosso querido garoto do pão, assistiu ao vivo o castigo que a senhorita Everdeen recebeu. Acabo de receber uma mensagem, dizendo que não foi preciso muito mais para convencer o senhor Mellark a contribuir conosco para ver Katniss Everdeen sã e salva. Peeta está ao nosso lado Dondarion, graças a você. E agora, o jogo começa, e quem ditará as regras somos nós.