Sociedade Dark escrita por Nynna Days


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo. Estou vendo que as pessoas estão comentando e estão gostando. Ah, sim, uma novidade. Talvez eu vá mudar a capa de Sociedade Carmim e a de Sociedade Dark. Colocando os atores que representam cada personagens. Mas veremos isso mais tarde.



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“Então, quem poderia me dar a resposta dessa questão?”

Eu abaixei a cabeça na mesa, já sabendo o que aconteceria em seguida. Pela mente de um dos alunos, vi Christina e Annice levantando as mãos ao mesmo tempo e se dando olhares hostis. Drake sorriu, aproveitando a rixa entre as duas. Dimitri balançou a cabeça, já acostumado com isso. E eu queria me matar. Elas estavam nessa competição desde a primeira aula. Rezei para que o sinal do intervalo tocasse.

O professor levantou o dedo, apontando para Annice e para Christina, tentando resolver para quem daria o direito de responder. Vi a dúvida em sua mente. Christina era uma aluna impecável, mas Annice era novata, tinha que testar seus conhecimentos. As duas estavam apreensivas. Drake riu, sentado ao meu lado direito, com Christina a sua frente. Dimitri permanecia quieto no meu lado esquerdo, com Annice a sua frente. Ethan estava bem na frente da sala, tentando ao máximo ficar afastado de nós. Ou de mim.

O professor decidiu, enfim, em deixar Annice responder. Ela sorriu e levantou uma sobrancelha para Christina, desafiando-a a dizer algo. Christina ficou com a expressão frustrada e eu queria me matar cada vez mais. Annice deu a resposta certa e o professor sorriu para ela.

“Muito bom; Senhorita...”, ele disse e passou a mão pela ponte do nariz, tentando se lembrar do nome de minha prima.

“Annice Bloom”, ela sorriu.

“Senhorita Bloom”, ele repetiu e voltou a dar a matéria.

Era óbvio que Annice iria acertar a questão. Fora, eu, Christina e Ethan, todos os outros já haviam passado pelo sufoco da escola há um tempo atrás. Annice sempre foi uma garota prodígio, por isso tinha terminado a escola dois anos antes do que as pessoas terminavam. E o nome, Bloom, era o seu verdadeiro, que ela usava antes de seu pai morrer. Era um pouco triste falar daquilo, mas era necessário, para manter o disfarce.

Mais vinte minutos depois, Christina e Annice estavam disputando quem acertava mais novamente. Eu baixei minha cabeça e fechei os olhos, tentando me dar um descanso. Elas estavam nessa disputa desde a primeira aula. E ninguém fazia nada para impedi-las. Arrastei o meu olhar para a cadeira a minha esquerda. Dimitri estava olhando para Christina, e obviamente ele tinha um olhar sonhador e um pequeno sorriso brincando em seus lábios.

Christina não havia trocado mais nenhuma palavra com ele desde o estacionamento. Eu só não sabia se era por mágoa de anos atrás ou se era por medo de se entregar novamente. Foi um péssimo momento para pensar em Ethan. Levantei meus olhos lentamente para as cadeiras da frente.

Desde que tinha entrado na sala, ele não havia se virado nem uma vez. Os ombros tensos, a respiração lenta e regular. Os cabelos um pouco rebeldes. Como eu gostaria de passar a mão por eles para ver se eram tão macios quanto antigamente. Não poderia dizer se tinha gostado ou não de sua mudança. Tinha sido tão súbita que chegou a me assustar. Parecia que ele era outra pessoa. O mesmo garoto que eu amava, mas com uma casca dura e quase impossível de se quebrar. Eu suspirei, cansada, e senti uma mão em meu ombro.

Virei a cabeça, vendo os olhos azuis de Drake brilhando de preocupação. Eles pareciam um pouco cerrados, como se já suspeitasse do porque de meu desânimo. Olhou para frente, exatamente para onde Ethan estava; no exato momento em que ele olhou para trás. Ele nem me olhou, seus olhos verdes fixos em Drake, estreitando em ódio e as mãos fechadas em punhos em cima da mesa.

Pus a mão sobre a de Drake, fazendo com que seu olhar voltasse para mim e dei um sorriso triste, tentando mostrar que estava tudo bem. Mesmo com o buraco de meu peito se abrindo rápida e dolorosamente. Fechei meus olhos com força e balancei a cabeça, tentando me convencer que aquela dor era psicológica. Se eu não pensasse em Ethan, não teria dor.

Mas, era só fechar os olhos que um flash de acontecimentos recorridos se repetia em minha mente. O primeiro sempre era de quando nos conhecemos. A tensão que havia tomado conta do lugar, o ódio fervendo em minhas veias e a atração por seus belos olhos verdes. Então vinha o dia em que ele me salvou das sombras. E quando ele foi sincero e me contou dos Carmim e dos Darks. Então, vinha uma das lembranças mais dolorosas.

Nosso primeiro beijo.

O jeito como eu me sentia derreter e queimar ao mesmo tempo. Como eu sentia que tinha outra pessoa dentro de mim que odiava Ethan com todas as forças, enquanto eu o queria mais do que nunca. Como chegamos tão perto de... Tremi e balancei a cabeça, tentando sair daquele sonho ruim. Mas era quase impossível. Os momentos com Ethan eram intensos demais para eu querer esquecer em tão pouco tempo.

A outra lembrança, e a mais dolorosa; era de quando ele estava me levando para casa, depois do ataque de Nara. Era a última vez que sorrimos um para o outro realmente felizes. E quando ele me disse que me amava. Meu coração deu um aperto e eu arfei com a dor. Meus olhos começaram a arder e eu me impedi de chorar. Não ali. Não na frente da sala inteira. Ou na frente dele.

A última lembrança era a que sempre vinha me atormentar assim que eu acordava. O dia no bosque em que eu fui dizer a verdade. E pensar, que, segundos antes de eu dizer a verdade, Ethan tinha dito que nada do que eu tivesse feito iria mudar o que aconteceu conosco. Mas, o problema no era o que eu tinha feito e sim, o que eu era. Parecia que Christina tinha aceitado bem, já que não me repudiou. Já Ethan...

Tenho nojo da sua raça. Dark.

O som do intervalo me despertou do sono em que eu nem sabia que tinha caído. Levantei a cabeça passando a mão pelo rosto amassado e pelo cabelo desarrumado. Vi as pessoas saindo em grupos da sala, enquanto o professor tentava inutilmente ditar o dever de casa. Olhei para frente, vendo que o lugar de Ethan já estava vazio.

Senti quatro olhares queimando minhas costas e reparei que nenhum dos meus guardiões, nem Annice e Christina tinham levantado, apenas me encarando, como se esperassem eu levantar. Demorei um ou dois segundos para perceber que era aquilo mesmo. Eles não iriam sair da sala sem mim. Levantei-me no susto, passando a mão por minha roupa e saindo da sala, escutando quatro pares de pés me seguido.

“Hey, me deixe passar primeiro.”, escutei Annice dizendo.

Virei-me para ver Annice e Christina presas na porta, tentando passar uma na frente da outra. Drake já estava do lado de fora, um meio sorriso em seus lábios e os braços cruzados em seu peito, indicando que nem iria se mover para soltá-las. Dimitri ainda estava do lado de dentro e bufando.

“Vamos logo.”, eu reclamei.

Drake pareceu ficar alerta com a minha voz e andou até onde eu estava parada com os livros pressionados contra o peito. Ele parou a minha frente e pôs as mãos em meus ombros, olhando fundo em meus olhos. Mas, os dele eram tão profundos que eu parecia estar perdida em mar aberto.

“Você está bem?”, ele sussurrou, fazendo a minha pele esquentar (principalmente nas bochechas). Abaixei os olhos.

“Estou sim.”, dei um pequeno sorriso. Então suspirei, fazendo uma careta. “É só que...”, levantei meus olhos. “Dói muito, sabe.”

“Não se preocupe.”, ele deu um passo a frente e fez menção de me abraçar. Mas foi impedido pelo grito de Christina.

“Sua vaca, você pisou em minha bota nova.”

“Melhor agora que você pode comprar alguma coisa que não seja de liquidação.”, Annice retrucou. Christina rosnou. Vi Dimitri se posicionando entre as duas com um olhar apavorado.

“Ah, você não disse isso.”, Christina estreitou os olhos.

“Disse e posso repetir.”, Annice pôs as mãos na cintura e encarou Christina sem piscar. “Suas. Botas. São. De Liquidação!”

“Agora você é uma Dark morta.”

Não fiquei para ver o que tinha acontecido. Aproveitei que Drake estava prestando atenção na possível luta e saí andando. Aquelas duas iriam realmente me enlouquecer. Escutei quatro vozes gritando meu nome e passos acelerados. Apertei o meu passo, fechando os olhos por um curto momento. Como princesa, será que eu não merecia um pouco de paz?

Senti meu corpo se impactando ao de outra pessoa. Recuei com o impacto e abri meus ombros, pronta para me desculpar. Minhas palavras ficaram presas em minha garganta quando me vi encarando as duas jades que eu tanto cobiçava. Pensei que, assim que visse quem tinha trombado com ele, Ethan iria se afastar. Mas ele nem se mexeu.

Meu coração se acelerou e meus pulmões pareceram ter travado e estavam queimando, me lembrando que eu tinha que respirar. Mas o ar a nossa volta estava tão pesado que era quase impossível. Meus ouvidos entraram em estado de torpor. As quatro vozes ainda gritavam o meu nome, mas eu não conseguia escutar. O fluxo de pessoas a nossa volta pareceu congelar, então desaparecer.

A expressão de Ethan estava vazia, mas seus olhos se mexiam enquanto estudavam com cuidado o meu rosto. Desde os olhos cinza, os cabelos escuros em contraste com a pele pálida. Os lábios rosados, o nariz pequeno e as bochechas rosadas. Eu também o estudava.

Os olhos verdes pareciam queimar em um verde brilhante, mas eu via gotas azuis no canto de sua pupila. A pele dele estava com um tom de bronzeado, como se ele tivesse ficado na praia por um dia ou dois. O maxilar quadrado, o nariz fino, os lábios um pouco cheios e bastante beijáveis. Os cabelos ondulados e levemente bagunçados.

Abri a boca para dizer algo, mas nada saiu de lá além de um gemido de dor. Por um breve segundo, jurei ter visto um rastro de arrependimento em seus olhos. Mas foi rápido demais para que eu pudesse ter certeza. Ele piscou forte, e parecendo sair do encanto, deu um passo hesitante para trás. Eu me segurei para não esticar minha mão ou dar um passo a frente. Ethan deu outro passo para trás, dessa vez mais seguro. Então balançou a cabeça.

“Desculpe-me.”, eu sussurrei, abaixando a cabeça.

Escutei-o bufar e se afastar corredor a fora. Sem me dizer uma palavra sequer.

*******

“Não se deixe enganar pelo jeito duro de Ethan.”, Christina disse passando um braço ao redor de meus ombros. “Quando você sumiu por uma semana, ele ficou muito preocupado. Ficava olhando o celular de dois em dois minutos. Isso irritava.”

Nós estávamos caminhando para o estacionamento pra ir pra casa. Depois do meu “encontro” com Ethan todos eles tinham ficado em silêncio absoluto. Como um luto. Eu também não disse nada e isso pareceu preocupá-los ainda mais, até que depois da última aula, Christina resolveu dizer algo. Annice, Drake e Dimitri estavam alguns passos atrás, presos em seus próprios pensamentos.

“Christina, como quando...”, hesitei, respirando fundo. “Quando ele soube quem eu realmente eu era.”, terminei sussurrando rapidamente.

Surpreendendo-me, Christina jogou a cabeça para trás e começou a rir. Refiz a pergunta em minha mente, me perguntando se eu tinha dito alguma coisa de errado. Então, percebi que o riso de Christina tinha um tom diferente do habitual. Parecia amargo, como se doesse.

“Ele pirou, Jordan.”, Christina praticamente gritou. “Chegou lá em casa dizendo palavras que eu nem sabia que existiam. Quebrou metade do quarto dele. Nossa mãe quase o mandou para um hospício. O papai só dizia: Calma, são os hormônios. Mas eu e mamãe sabíamos o que era.”

Então, me lembrei de uma conversa que tinha tido com Christina há um tempo atrás. Um dia depois de eu e Ethan quase termos nos beijado. A tensão no carro e Christina falando coisas sem importância. Lembrava-me vagamente dela dizendo sobre a sua mãe vidente e seu pai humano. Só que, ela tinha comentado um detalhe importante. Seu pai verdadeiro era controlador de mentes, como Ethan, só que tinha abandonado a mãe deles, grávida. Então ela se casou com um humano.

“E você, Christina?”, eu perguntei, desviando do assunto de sua família. “Qual foi a sua reação ao saber o que eu sou?”

“Uma mestiça.”, ela disse as palavras lentamente e olhou para frente, ficando pensativa. “Eu sempre soube que você era especial. Só não sabia que era tão especial. Tipo, filha da Rainha Carmim com o Rei Dark e essas coisas. Mas, eu meio que já sabia antes de Ethan entrar em casa quebrando tudo.”, ela confessou.

“Nara.”

“Sim.”, ela assentiu. “Ela me contou assim que acordou. Eu não acreditei de primeira, mas então juntei tudo e vi que era a única explicação racional.”, ela respirou fundo, ainda olhando para frente. “Nara se mudou, sabia?”

Isso me fez frear.

“Não. Para onde?”

“Alasca.”, Christina deu um pequeno sorriso. “A Rainha estava louca para prendê-la, mas mudou de idéia.”, ela me deu um olhar significativo. “Mas, disse que ela precisava esfriar a cabeça. Nara é louca por te atacar, sabendo que você é filha da Rainha.”

Nós paramos entre o carro de Dimitri e de Ethan. Eu sabia que ele já estava dentro do carro. Ethan tinha passado por nós, como um furacão. Isso desencadeou nosso assunto inicial. Pensei nas palavras de Christina. Minha mãe tinha aliviado para Nara por minha causa. E se ela estava no Alasca, queria dizer que nunca mais iria nos atrapalhar, não é?

Annice, Dimitri e Drake nos alcançaram rapidamente e Christina me soltou. Ethan começou a apertar a buzina e sua irmã revirou os olhos verdes. Annice deu um meio sorriso. Estava na hora de nos despedimos. Christina pôs as mãos em meus ombros.

“Até amanhã, não é?”, ela perguntou.

“Claro.”, eu sorri e ela me abraçou.

Então se virou para Drake e esticou a mão, educadamente.

“Mesmo nossas raças se odiando, eu estou feliz por saber que você é o guardião dela, Williams.”, ela sorriu. Drake olhou para a mão de Christina como se fosse tóxica, então suspirou, apertando-a.

“Muito obrigado.”, ele agradeceu e fez uma careta. “Também fico feliz que ela te tenha como amiga Ramirez.”

Então ela parou em frente a Annice. Elas se olharam de cima a baixo. Christina com a mão na cintura e a boca com um bico perfeito. Annice com os braços cruzados e uma sobrancelha levantada.

“Eu te vejo amanhã, não é?”, Chris revirou os olhos, como se não tivesse outra escolha.

“Claro que sim.”, Annice sorriu sarcástica. “Onde minha prima estiver eu estarei.”

“Onde minha amiga estiver eu estarei.”, Chris disse concordando. Ethan buzinou mais insistentemente. Christina se irritou. “Espere Ethan. Ou pode ir na frente.”, ela gritou irritada.

“Isso tudo é pra não olhar mais pra Jordan?”, Annice perguntou.

“Meu irmão está agindo como um perfeito idiota.”, Christina cruzou os braços emburrada. Então olhou para Dimitri.

Não conseguia descrever o que tinha acontecido quando os olhos verdes de Christina encontraram os castanhos de Dimitri. Ele ficou tenso. Ela respirou fundo. Annice olhou de um para o outro e revirou os olhos. Sentia os olhos de Drake em mim, mas mantive os meus presos na cena. Christina balançou a cabeça para Dimitri e se afastou sem dizer nenhuma palavra. Dimitri baixou a cabeça e suspirou.

Assim que Christina e Ethan se afastaram Drake se moveu para o meu lado e pôs um braço ao redor dos meus ombros. Senti um calor percorrendo o meu corpo e me segurei para não tremer. Estar ali parecia tão certo, tão fácil. E eu nunca gostei das coisas fáceis.

“Está pronta para ir para casa?”, ele perguntou.

“Eu vou, com Dimitri.”, deixei bem claro.

“Não.”, ele discordou e sorriu. “Seu pai pediu para te levar para os Darks. Ele quer conversar com você.”

“Ela não pode ir.”, Dimitri disse. “A Rainha iria pirar e...”

Fomos interrompidos pelo toque do meu celular. Olhei o número desconhecido e franzi o cenho. Senti o olhar dos três queimando em mim. Dei de ombros e atendi. Tomando o maior susto de toda a minha vida.

“Pode ir.”

“Ham?”, demorei um segundos para identificar a voz de minha mãe. Olhei para o celular como se ele tivesse enfeitiçado. “Mãe, o que você falou?”

“Você pode ir com Drake e a Princesa Annice.”, Rose suspirou, enquanto eu continuava surpresa por ela ter um celular. “Mande lembranças minhas ao seu pai.”

Então, antes que eu pudesse dizer algo, ela desligou.

Annice, Drake e Dimitri estavam apreensivos para saber o que minha mãe tinha dito. Levantei meus olhos para Drake e ele deu um meio sorriso, já sabendo o que eu diria.

“Vamos ver o meu pai.”


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Notas finais do capítulo

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