Capítulo 14

Dara puxou os fios do meu corpete com força e eu fiquei na ponta do pé, tentando respirar. Fiz uma careta para a Jordan refletida no espelho. Não, não era a Jordan parada ali. Era a princesa Jordana. Os meus cabelos estavam perfeitamente arrumados, moldando o meu rosto em perfeitos cachos. Meus lábios eram de um vermelho tão pecaminoso contrastando com minha pele pálida.

Não impedi Dara de curar os meus olhos. Eles pareciam brilhar em contraste com meu cabelo escuro e o vestido lilás.

O vestido tinha sido feito sob medida. A ideia inicial era que ele fosse sem alças, mas eu me sentiria muito exposta, então alças caídas foram colocadas sobre meus ombros, deixando o vestido longo mais elegante que vinha desenhando todo o meu corpo deslizando fluido sob meus pés.

Quando eu fiquei pronta e voltei a respirar (com dificuldade), tive vontade de me lamentar. Aquela bela moça que me encarava com incríveis olhos cinza, não era eu, ela era a pessoa que Ethan menos gostaria de ver. A princesa Jordana. Suspirei, vendo o sorriso de Dara refletido e forcei um sorriso também.

“Está belíssima, princesa”, ela disse.

“Obrigada, Dara”, eu respondi indo para a janela.

Olhei o jardim terminando de ser arrumada e sorri. Exatamente como na minha visão. Refiz o caminho que eu correria atrás de Ethan mais tarde e suspirei. Ele tinha que escolher o caminho mais difícil, não é?

Balancei a cabeça sorrindo comigo mesma e vi minha porta se abrindo. De lá, apareceu um Dimitri perfeitamente arrumado e sério. Ele não tinha gostado nada de saber que eu tinha sido atacada e que Drake não tinha sido de bom uso. E ele disse cada palavra suja quando soube que eu estava sem celular... Eu estava quase surda depois da bronca que ele me deu.

“Pronta?”, ele perguntou depois de me olhar de cima a baixo e sorrir.

Sorri de volta, dando um último olhar para o jardim.

“Mais do que pronta.”

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Franzi os lábios, vendo todos ao meu redor me encarando como se eu fosse um tipo de peça de vidro que poderia quebrar a qualquer segundo. Desci os degraus lentamente, como mandava o figurino e sorria, mesmo que a minha real vontade fosse de sair correndo para longe dali e escapar daquele jantar ridículo.

Minha mãe estava sentada em uma cadeira dourada forrada de vermelho, em um espaço perfeitamente alocado embaixo da escada.

Chagando aos últimos degraus eu pude vê-la sentada, com um grande sorriso nos lábios. O vestido azul parecia deixá-la mais jovial. Ela quase parecia minha irmã. Os cabelos tão escuros quantos os meus presos em um coque arrumado e os olhos escuros me estudavam com admiração maternal.

Apenas quando retribui seu sorriso, que ele foi verdadeiro. Tinha dois guardas ao seu lado. Uma loira, tão elegante quando Dimitri e tão baixa quanto eu, e um homem com a pele cor de chocolate, que era tão alto quando Dimitri, mas parecia tão (ou mais) desconfortável que eu. Rose fez um sinal para a loira que se inclinou em sua direção e sussurrou algo em seu ouvido. Abri minha mente.

Minha garota é linda.

Foi o pensamento de minha mãe. Mas, o que me preocupou foi o pensamento da loira.

Tem os olhos do pai Dark.

Segurei uma careta. Continuei descendo. Devagar e segurando o braço bem torneado de Dimitri. Tive que segurar o riso pelos bufos de ciúmes de algumas mulheres presentes. Mas, um deles me chamou atenção. Peguei os olhos admirados de Christina um pouco distante da multidão. Ela parecia um anjo.

Os cabelos loiros curtos, ondulados e moldando o seu rosto. Um meio sorriso cor de rosa nos lábios e os olhos verde azulados. Um vestido rosa colado no corpo, fazendo todas as curvas ficarem aparentes e a fazendo ficar mais linda do que era.

Senti-me mal por tentar ficar bonita. Parecia que eu estava quebrando alguma regra de beleza que pertencia apenas a Christina. Ela sorriu para nós. Eu procurei por alguma pista de Ethan.

Encontrando apenas o vazio.

Eu sabia que ele estaria lá, mas meu coração falhou uma batida quando vi que Christina estava sozinha. Senti Dimitri ficando tenso ao meu lado e agradeci mentalmente por estarmos no último degrau. Sorri novamente para as pessoas a minha volta a caminhei até a cadeira ao lado de minha mãe, me sentando. Todos bateram palmas para mim, inclusive a minha mãe. Eu suspirei, sem deixar de sorrir. Seria uma longa noite.

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Minha paciência estava chegando ao estágio zero depois do jantar. Rose me apresentou a todas as grandes personalidades da Sociedade Carmim, e foram muito simpáticos, mas eu estava ansiosa. Queria que a festa começasse logo. Olhei para Dimitri e Christina que estavam sentados a minha frente e os vi se entreolhando. Eles sabiam o motivo de eu estar inquieta, mas não iriam comentar nada.

Finalmente, todos terminaram de comer e podemos nos levantar. Eu fui a primeira a sair da cadeira e minha mãe fez uma careta. Segurei-me para não revirar os olhos. Agora eu entendia o porquê de meu pai não gostar de vir a Sociedade Carmim. Quando todos estavam se dirigindo para o jardim, Christina pegou em minha mão.

“Ansiosa?”

“Você não imagina o quanto”, desabafei.

“Se segure”, ela riu. “Essas festas são demoradas mesmo, se acostume.”

Respirei fundo e dei de ombros.

“Talvez com o tempo eu me acostume.”, disse. Meu olhar captou minha mãe sentada com cara de tédio. Eu ri. “Ou talvez não.”

A festa estava rolando a mais de uma hora e eu olhava descontroladamente para os lados. Christina estava sentada ao meu lado, tentando me dar forças. Eu não sabia que Ethan demoraria tanto para chegar.

Mas, ele viria certo? Ele tinha prometido e minha visão não poderia estar errada. Virei-me para Christina pronta para perguntar se eu poderia estar ou não errada, quando percebi que sua atenção tinha se deslocado para outro lugar. Ou melhor, outro alguém.

Dimitri.

Ele caminhava em nossa direção, hesitante.

Seus olhos castanhos estavam fixos na loira sentada ao meu lado. Encarei-a, vendo seu desconforto. Ela mexeu numa mecha do seu cabelo loiro e eu pude ver as suas bochechas levemente rosadas. Dimitri nos alcançou e parou na nossa frente.

“Será que eu posso tirar essa bela dama para dançar?”, ele disse estendendo a mão na direção de Chris.

Vi uma resposta negativa se formando na mente de Christina e me apressei.

“Claro que ela aceita, não é, Christina?”, eu disse. Ela me encarou com os olhos verdes arregalados. Eu fiz uma careta. “Além disso, eu vou dar uma volta.”, me levantei e parei ao lado de Dimitri, sussurrando. “Aproveitem e se acertem.”

Dimitri me olhou e assentiu, puxando Christina, enquanto eu me afastava. Chutei uma pedra que estava no meu caminho enquanto suspirava pela demora de Ethan. Será que ele não viria? Será que aquela visão tinha sido um sonho? Meu coração doeu com essa possibilidade e eu continuei andando, ignorando os olhares a minha volta.

Eu era um destaque e deveria estar acostumada com esse fato, mas ainda conseguia sentir as minhas bochechas queimando. Mantinha os olhos baixos, tanto pela desesperança quanto pelo constrangimento. Escutava sussurros ao meu redor misturados com a música.

Eu não sabia se os suspiros eram meus ou também das pessoas que me cercavam.

Parecia que a minha atmosfera fúnebre era bem evidente, porque nenhum dos Carmins que antes me sufocavam de perguntas se aproximou. Passei a ponta dos meus dedos por meu vestido, sentindo a realidade me alcançar conforme sentia a maciez do tecido contra a minha pele. Aquilo era real. Minhas visões eram suposições. Podiam acontecer ou não. Ethan podia vir ou não.

Parei em uma parede distante e cruzei os braços encostando minhas costas contra os tijolos frios. Olhei as pessoas se divertindo, e me senti egoísta por estar com aquele péssimo humor.

Tentei sorrir quando vi Dimitri e Christina rodopiando alegremente pelo salão. Eu podia ver como eles se encaixavam, mesmo sendo tão diferentes. Eles não desviavam os olhos um do outro por nenhum segundo e isso quase me fez sentir que estava invadindo um momento particular deles.

Estava pronta para desviar o olhar, quando Christina parou. Desencostei da parede, alerta. Ela olhou para os lados, como se alguém tivesse chamado o seu nome. Fiquei séria e descruzei os braços. Dimitri se inclinou na direção dela e sussurrou algo em seu ouvido.

Se a minha lógica estivesse certa, ele estaria perguntando o que estava acontecendo. Mas, naquele momento, minha lógica tinha parado de funcionar. Meu coração batia tão forte contra o meu peito que me impedia de pensar. Abri a minha mente para ver o que se passava pela mente de Christina. Sabia que era arriscado com tantas mentes ao meu redor, mas eu precisava saber.

Foi como se eu tivesse acertado uma flecha certeira na mente de Chris. E bem no segundo certo. Seu olhar cruzou com outro par de olhos verdes, do lado oposto ao que eu estava parada. Automaticamente, saí dos pensamentos de Christina e fiquei na ponta dos pés, tentando enxergá-lo. Mas, havia muitas pessoas na minha frente.

Balancei a cabeça e segurei a barra do vestido, respirei fundo e me pus na corrida da minha vida. Olhava freneticamente para os lados conforme me aproximava e subitamente reconheci a cena de minha visão. Mas diferente da mesma, eu sabia o que estava procurando. Meus pés doeram e eu sorri. Estava tudo acontecendo como eu sabia que iria acontecer e isso me fascinou.

Como se meu corpo tivesse tomado vida própria, fiquei na ponta dos pés e olhei ao meu redor. Pessoas trombavam em mim e reclamavam, mas eu estava inerte as suas palavras.

Virei-me novamente, ainda na ponta do pé e olhei na direção da mesa de comida e bebida. Senti meu ar fugindo dos pulmões quando cruzei com o olhar sério de Ethan.

Finalmente.

Eram como se eu tivesse ganhado uma segunda chance. Eu queria essa segunda chance. O vi começando a se afastar e voltei a correr. Segurava o vestido com tanta força que tive medo de rasgá-lo no caminho. Dessa vez não tinha medo de perdê-lo de vista. Sabia o caminho que ele faria perfeitamente. Era como se houvesse um mapa desenhado em minha mente.

Acho que a única coisa que não fiz exatamente como na visão foi admirar o corpo de Ethan bem vestido num smoking.

Virei o corredor, sabendo que ele tinha uma boa dianteira. Eu só não sabia se estava tão longe da festa e da música que não conseguia mais escutá-la ou se meus ouvidos tinham entrado em estado de torpor e eu tinha ficado surda temporariamente. Na verdade, eu não ligava.

O vi entrando no beco e parei não por estar hesitando de medo, como na visão. Eu só queria acalmar o meu coração o suficiente para que ele não pulasse fora do meu corpo. Pressionei os lábios juntos e relembrei o final da visão. Eu tinha que dar um jeito de mudar aquilo. De fazer Ethan ver que não precisa ser tão cuidadoso comigo. Eu não quebraria. Pelo menos, achava que não.

Vi Ethan sumindo no final do beco e sabia que estava na hora de eu voltar a segui-lo. Apertei o meu passo em direção ao celeiro e passei a língua pelos lábios. O barulho do relincho dos cavalos foi à primeira coisa que eu escutei. Antes de voltar a freqüentar a escola, eu ficava um bom tempo com os cavalos. Eles me acalmavam e me impediam de surtar de vez.

Fechei os olhos e voltei a correr. Meus pés reclamaram mais uma vez. Respirei fundo quando a luz tocou o meu rosto lentamente e eu sabia o que vinha em seguida. A mão de Ethan se fechou em meu antebraço e eu nem tive chance de reagir, novamente.

Fui empurrada na parede com força. A intensidade daquele toque e o calor em minha pele, me fez abrir os olhos. Ethan estava tão perto que eu abri a boca, pronta para gritar, mas minha garganta se fechou para tudo, incluindo para o ar. Meu coração bateu com tanta força contra o meu peito que doía. O ar voltou a entrar e sair de meus pulmões com força. Ele se aproximou mais ainda, sério.

Por um momento, pensei em perguntar o porquê daquelas mudanças súbitas de humor, mas me calei. Iria seguir o roteiro que minha mente havia me entregado naquela visão. E eu sabia que nesse roteiro, eu tinha que esperar Ethan dar a primeira palavra. Fiquei tensa e pronta para qualquer ataque dele.

“O que você quer?”, ele perguntou sério.

Eu sabia exatamente o que fazer. O sorriso cresceu em meus lábios quase que automaticamente, e a expressão confusa de Ethan se fez aumentar cada vez mais. Desencostei-me da parede do celeiro, mesmo com os meus pés reclamando com esse movimento.

“Eu não tenho nada com ele.”, eu disse. As palavras fluíram naturalmente dos meus lábios, exatamente como na visão. Ethan arregalou os olhos, então relaxou. “Só tem um aqui”, peguei a sua mão, tremendo ao sentir o calor que a sua pele emanava contra a minha e a pus por cima do meu coração acelerado. “Ainda estou com raiva de você, mas...”

“Mas...”, ele disse lentamente.

Meu sorriso cresceu mais ainda.

“Não consigo deixar de te amar.”, balancei a cabeça, soltando um riso amargo. “Eu tentei Ethan. Tentei esquecer tudo o que tinha acontecido entre nós, mas toda noite volta a minha mente como um filme não acabado. É torturante.”, fiz uma careta e o vi suspirando.

“Você é louca.”, ele sussurrou. E a mesma raiva que eu tinha visto na visão estava de volta em seus olhos. Ele se aproximou mais ainda, fazendo os nossos narizes se tocarem. Segurei um suspiro. Seu rosto estava rosado, e o meu pegava fogo, assim como o restante de mim. “Eu poderia te matar aqui mesmo.”, quase revirei os olhos e ele estreitou os dele. “Eu querendo te matar e você dizendo que me ama.”, um pequeno sorriso brotou em seus lábios enquanto ele balançava a cabeça.

Estava na hora das palavras cruciais. Quando tive a visão, não percebi o quão importante elas eram. Mas, assim que elas passaram pelos meus lábios, eu percebi o peso que elas fariam em minha vida. Em minhas duas vidas. A de princesa e a de estranha. E elas duas amavam o mesmo homem. Mesmo ele se comportando como um idiota de cabeça dura.

“Eu sou a Jordan, não a Jordana, Ethan”, disse, séria.

Ele levantou os olhos lentamente para mim e eu notei o tom azulado que havia se instalado neles. Ele me estudava, parecendo pensar com cuidado no peso e no sentido de minhas palavras, mesmo que fosse óbvio. A sua mão foi até meu pescoço, como eu esperava. Fechei os olhos, quando senti seu dedo subindo até a minha bochecha corada.

“Desculpa, senão consigo te enxergar.”, ele sussurrou. E dessa vez eu tive certeza que essas foram as suas palavras exatas.

Eu sabia o que viria em seguida e fiquei ansiosa. Mesmo ele tendo me beijado ontem, cada vez que sentia seus lábios tocando os meus, parecia a primeira vez.

Minha mente apagou e o calor se instaurou da ponta dos meus dedos até a raiz do meu cabelo escuro. Dessa vez eu tinha certeza. Meu coração realmente iria explodir.

O de Ethan estava tão rápido, que eu pensei que iria estourar a qualquer segundo. Nem percebi o momento certo em que aprofundamos o beijo, só quando senti as mãos dele escorregando por minhas costas. Não demorou muito e minhas pernas estavam enroscadas em sua cintura. Mesmo estando tão perto, eu queria uma aproximação maior.

Eu sabia que aqueles não eram modos de uma princesa, mas eu não queria saber. Apenas enrolava os meus dedos por seus cabelos loiros e rezava para que o beijo real durasse bem mais do que durou na visão. Ficamos por um bom tempo assim. Ethan me segurava como se eu pesava a mesma coisa que uma pena.

Fiquei tensa quando seu dedo passou por minha coxa, subindo pela parte exposta de minha pele. Parecia que tinham se passado apenas poucos segundos desde que nos encontramos, mesmo que no fundo de minha mente, eu tivesse consciente de que estava sumida a um bom tempo. Era como se lava estivesse sendo jogada em minha pele, sem dó.

Ethan afastou o rosto, mas sem me soltar. Era a hora. Minha respiração estava ofegante e eu esperei pelas palavras que ele diria. Fiquei um pouco decepcionada comigo por ter feito tudo exatamente igual como na visão. Era óbvio que teria o mesmo resultado. Ele suspirou e abaixou os olhos. Coloquei um pé no chão e esperei.

“Jordan, eu...”, ele pausou enquanto me soltava e dava um passo para trás. Voltei a me encostar-me na parede e cruzei os braços. Era apenas para proteger o meu coração. Ethan balançou a cabeça. “Desculpe, mas eu não consigo.”

Aquilo doeu. Eu poderia tê-lo mandado calar a boca. Eu queria ter o mandado calar a boca, mas a parte curiosa de mim queria saber como aquilo realmente iria terminar. Ethan finalmente levantou os olhos para mim. Eu não sabia ao certo o que tinha dentro deles. Pena, raiva, autopiedade. Nada forte o suficiente para impedi-lo de dizer as próximas palavras.

“Eu não sou o cara certo para você, apenas admita isso para si mesma.”, ele bufou e passou a mão pelo cabelo. “Pode dizer que sou idiota, mas fui criado assim. Os Darks são ruins e os Carmins são bons. Desculpe, mas não posso mudar esse conceito da noite para o dia.”

“Nem por amor?”, eu disse com um fio de voz.

Ethan me encarou por um segundo, e seus olhos se amoleceram. Então, parecendo voltar a realidade, ele balançou a cabeça e suspirou. Seus olhos verdes se endureceram e ele deu mais um passo para trás. Minha garganta se apertou.

“Principalmente por amor.”, ele disse. Pisquei, tentando conter as lágrimas. Mas, doía. “Acabou a brincadeira Jordan. Apenas esqueça o que aconteceu aqui. Esqueça esse beijo. Pode ser que eu mude de ideia, mas não se prenda a essa esperança. Foi bom enquanto durou, mas você tem que viver a sua vida.”, ele olhou pro castelo e suspirou novamente. “E, infelizmente, eu não faço parte dela.”

“Ethan, eu...”

“Vai passar.”, ele me cortou, suavemente. “Esse amor que você diz sentir, vai passar. Então, você olhará para trás e verá que eu fui um grande erro e...”

Minha mão estalou em seu rosto antes que ele terminasse a frase. Estava quase cega pelas grossas lágrimas que desciam em meu rosto. Meu estômago deu uma volta e eu fiquei com medo de vomitar ali mesmo. Dessa vez, Ethan não ficou surpreso com a minha reação. Nem eu mesma fiquei surpresa. Eu só queria que ele calasse a boca. Mas, não tinha forças o suficiente para mandá-lo fazer isso. Num surto de emoções, dei um passo a frente, fazendo os nossos rostos ficarem a centímetros um do outro.

“Eu te odeio, Ethan Ramirez.”, eu rosnei. “Odeio-te por ser covarde o suficiente para não admitir que me ama, e não lutar. Eu te odeio. Te odeio. Te odeio”, comecei a bater em seu peito com força, até que ele segurou os meus pulsos. A eletricidade percorreu o meu corpo e eu me afastei. “Arrependo-me do momento em que pus os meus olhos em você. Deveria ter continuado me odiando. Faria a sua mentira mais convincente.”

Virei as costas e saí andando. Na verdade, saí correndo. Escutei os gritos de Ethan nas minhas costas, me chamando. Mas eu não voltei. Minha mente era um turbilhão. Ele me amava ou não? Obviamente, eu o amava. Mas doía tanto. Só queria um pequeno motivo para continuar.

Estava tão distraída com meus pensamentos que nem percebi que tinha corrido para o portão da saída dos Carmins, direto para a rua. Os seguranças ainda gritaram o meu nome, mas minhas pernas tinham vida própria. Minha visão estava embaçada e meu coração despedaçado. Meus passos se cessaram apenas quando escutei o bagulho de um carro se aproximando.

Congelei e olhei na direção dos faróis, vendo o meu destino final se aproximar. Fechei os olhos e esperei a dor me atingir. Mas, ela não me atingiu. Escutei o barulho dos freios, seguido pelo som das portas abrindo e fechando com força. Então, escutei a voz que eu mais precisava naquele momento.

“Jodi”

Abri os olhos, vendo Drake correndo na minha direção. Um suéter branco com gola alta e uma jaqueta de couro o vestiam, junto com uma calça jeans escuras e tênis. Antes que eu me desse conta do mundo ao meu redor, ele me abraçou.

E eu chorei em seu ombro, até que esquecesse o porquê de estar chorando.