Capítulo 13

Eu poderia ter gritado. Eu tinha vontade de gritar, mas assim que eu senti as mãos envolvendo meus antebraços, senti o ar saindo dos meus pulmões , e apenas um gemido baixo escapou dos meus lábios. Meu coração batia com tanta força que doía. A única coisa que me aliviava era o fato de Ethan ter conseguido escapar.

Então seria isso? Eu morreria capturada por criaturas da noite que eu nunca tive coragem nem de olhar nos olhos? Não veria mais as pessoas que eu mais amava nesse mundo? Minha mãe? Meu pai? Megan? Christina? Annice? Dimitri? Drake? Ethan? Eu morreria sem poder sentir os lábios de Ethan pela última vez contra os meus? Sem poder dizer a ele o quanto o amava? Era isso?

Fechei meus olhos com força, me xingando por ter nascido quase cega e ter que usar esses óculos. Eu deveria ter deixado Dimitri continuar me curando. Meu coração deu mais uma batida e eu gemi novamente. O aperto em volta dos meus braços não estava tão forte quanto eu imaginava. Estava firme, mas não me machucava. Aquele silêncio era o único que machucava os meus ouvidos.

Se pelo menos ele dissesse algo...

O barulho de passos familiares se aproximando me alertou. Eu fiquei tensa e olhei para trás, suando frio. Não, ele não poderia ter voltado por mim. Merda, Ethan. Eu queria gritar para ele ficar no lugar dele, mas eu sabia que ele estava perto. Eu sentia o seu cheiro se infiltrando em minha narinas e o medo entrando em minha veias.

“Jordan?”

Nunca senti tanto temor em escutar a sua voz. Minha vontade foi de gritar para que ele voltasse, mas isso só o faria se aproximar mais e mais. Fiquei em silêncio. O que estava me segurando também. Talvez, se ele não nos escutasse, passasse direto.

As mãos ao redor dos meus ante braços soltaram, mas eu não me mexi. Escutei o bagulho de algo sendo puxado e fechei os olhos. Era ali mesmo. Eles me matariam ali mesmo. E talvez matassem Ethan depois. Eu não podia deixar. Abri os olhos, com as intensão de me jogar pra cima do meu agressor e agarrar o que fosse que ele usasse como arma, quando arfei.

Era Drake.

“O que você está fazendo aqui?”, eu praticamente gritei.

Meu coração batia com força contra o meu peito.

Ele apenas fez um sinal para que eu ficasse quieta. A lanterna que iluminava o seu rosto mirou algo a sua frente e eu me virei, vendo o corpo paralisado de Ethan. Sem pensar duas vezes, me lancei na sua direção e o abracei com força. Ele apenas pôs um braço em torno de minha cintura, mas seu corpo continuava tenso. Levantei minha cabeça na sua direção e ele olhava para Drake, sério.

“Vocês não vão começar com isso logo aqui, não é?”, perguntei me afastando de Ethan e parando no espaço entre os dois. Nenhum deles me olhou. “Se for pra ficar essa tensão, eu vou embora sozinha”

Comecei a andar, mesmo que com medo da escuridão.

“Espere”, os dois gritaram.

Eu parei, suspirando aliviada por não ter que seguir sozinha.

“Você não pode ir sozinha”, Ethan disse se aproximando.

“Eu odeio concordar com o mauricinho, mas é verdade.”, Drake disse, abaixando a voz. “Isso está cheio de Renegados.”

“Como ele sabe dos Renegados e eu não?”, Ethan me perguntou. Seus olhos verdes faiscaram de raiva.

“Porque eu sou um guardião?! Porque eu nunca saí da Comunidade Dark na época que os boatos surgiram?!”, Drake jogou no rosto de Ethan, que fechou ainda mais a cara.

Quando eu vi que Ethan iria dizer alguma coisa, interrompi.

“Foco, garotos.”, eu disse olhando para os lados e encarando cada par de olhos multicolor. “Salvem a princesa, depois discutam a relação.”

Eles se encararam por alguns segundos. Incrivelmente, eu achava que eles ainda estavam decidindo se colocavam os pratos na mesa ali mesmo ou me salvavam. Me segurei para não revirar os olhos. Ajeitei os meus óculos e cruzei os braços, suspirando. No momento em que comecei a bater meu pé, eles entenderam que eu estava impaciente.

“Ela primeiro”, Ethan disse.

Drake assentiu. Tive que me segurar para não agradecer a Deus.

“Por aqui.”, meu guardião indicou.

Era estranho andar entre Ethan e Drake. Não, estranho não era a palavra certa. Era tenso andar entre Ethan e Drake. Primeiro, pelo fato deles estarem prontos para se matar a qualquer minuto. Segundo, por eu saber que iria beijar os dois, cada um em um dia. E terceiro, porque, eu estava gostando. Me sentia protegida com os dois juntos. Não que eu fosse vaidosa e quisesse os dois.

Era óbvio que eu amava Ethan, mas não podia negar que Drake me fascinava. No momento em que esse pensamento me atingiu, os dois olharam para mim e sorriram. Eu sorri de volta. Então, eles se entreolharam e os sorrisos morreram. Revirei os olhos e apertei o passo, sempre segurando os óculos.

“Eu estava te esperando no estacionamento, para te levar para a casa de seu pai.”, Drake disse, respondendo a minha pergunta quase esquecida. “Quando vi as luzes se apagando, eu sabia que tinha um dedo Renegado aí. Minha sorte foi que você trombou comigo, então não precisei andar as cegas pela escola.”

Eu assenti, mesmo ele não vendo. O silêncio queimava aos meus ouvidos e o único barulho que habitava, além de nossos passos, era de nossa respiração. A minha, ofegante. Percebendo o medo evidente em meus olhos, Ethan e Drake desaceleraram e começaram a andar dos meus lados. Sempre alertas. Se Annice estivesse ali, com certeza faria alguma piada.

Princesa Jordana, venha até nós.

Eu parei de súbito. Meu corpo tremia. Era como se a coisa mais suja e escura tocasse a minha mente. Eu respirava rapidamente e suava frio.

“Não”, eu disse por entre os dentes.

Você é nossa

“Não sou não”, respondi aos meus pensamentos.

Drake e Ethan se entreolharam novamente e observaram o espaço a volta deles. Agradeci mentalmente por ter contado a Ethan que era uma leitora de mentes, caso contrário, ele pensaria que eu era maluca.

Venha, estamos esperando.

Você nos pertence.

Apenas a nós.

Eles são mentirosos.

Te abandonaram.

Venha, volte para nós.

Nós realmente a amamos.

“NÃO”, eu gritei.

Sim, você é nossa.

“O que está acontecendo?”, Ethan perguntou temoroso.

“Os Renegados estão falando com ela.”, Drake tremeu. Ethan arregalou os olhos verdes. “Jordan, os ignore.”, ele pôs um braço ao redor dos meus ombros. Eu quase não o escutava. Era como se a sua voz estivesse a milhares de quilômetros. “Eles são apenas sombras, fracos.”, quando viu que não estava funcionando e que eu ainda estava tremendo, se virou para Ethan. “Me ajude, Ramirez. Fale com ela.”

“Fala?”, Ethan perguntou, também temoroso. Então olhou de Drake para mim. “Jordan, não os escute. Me escute, tudo bem?”, ele também percebeu que eu não estava escutando e continuava tremendo.

Drake me soltou.

“Não está funcionando”, Drake disse.

“E o que acontece se ela ficar os escutando?”, Ethan perguntou.

“Eu não sei” , Drake disse tão baixo que eu quase não escutei.

Você é nossa

Apenas nossa

Venha para nós

PARA NÓS

Eu gritei com todas as minhas forças.

“Droga”, Drake soltou. “Temos que fazer alguma coisa.”, ele disse bravo. Ele segurou em meus ombros. “Jodi, temos que ir. Seus pais estão te esperando. E Megan também. E Annice, Christina, Dimitri. Não podemos deixá-los esperando, não é?”

Eu gritei novamente.

“Droga”, Drake passou a mão por meus cabelos e por meu rosto. “Jordan, se concentre em mim. Escute apenas a minha voz.”

Mais um grito. Minha garganta ardia e minhas pernas cederam. Estava caída no chão, as mãos pressionadas contra as minhas têmporas e os gritos continuavam a sair dos meus lábios. Eu mal conseguia respirar. Meu coração estava tão acelerado que eu pensei que iria explodir. Então, senti outro par de mãos em meu rosto.

“Jordan, olhe para mim”, Ethan disse em um tom autoritário. Abri os meus olhos, arfando ao ver o quão perto ele estava de mim. “Não os escute. Eu estou aqui. Estou com você.”, ele se aproximou, nosso narizes se tocaram. “E não vou te deixar.”

Minha mente se desligou do mundo ao meu redor quando senti os lábios de Ethan nos meus. Por um momento, eu hesitei. Mas, então meu corpo assumiu o comando total e quando eu percebi estava retribuindo. As vozes em minha cabeça se tornaram sussurros e eu suspirei quando senti os braços de Ethan ao redor de meu corpo.

Aquele beijo era diferente dos outros. Tinha algo além da queimação e o prazer. Era como se eu estivesse beijando o mesmo Ethan que se declarou para mim a dois meses. Era doce, era quente, era puro. Era Ethan. Senti um braço em minha costas e outro em baixo dos meus joelhos. Coloquei minhas mãos em seu rosto e o senti me puxando para cima, me carregando. Afastei meu rosto do dele, para poder respirar e toda a situação a minha volta, retornou.

Ethan começou a andar comigo em seus braços e Drake... Fechei meus olhos com força, não queria encará-lo. Ninguém disse mais nada até que, finalmente encontramos a porta da saída. Olhei para o céu escuro e agradeci a presença da lua. A luz iluminou minhas bochechas coradas e eu me encolhi um pouco mais nos braços de Ethan. No estacionamento, Drake se encostou em seu Audi e Ethan me colocou no chão.

“Vamos para a casa de seu pai.”, Drake disse, sem deixar brecha para eu argumentar. Apenas assenti. “De lá ligamos para sua mãe e para Megan. Elas devem estar preocupadas.”

Assenti mais uma vez.

Me virei para Ethan e vi seus olhos fixos em Drake. Mas, ao invés de desprezo, tinha algo estranho. Se não fosse loucura, eu diria que era pena. Escutei o barulho da porta do carro se fechando ao mesmo tempo em que Ethan desviava os olhos para mim. Eu suspirei com as esmeraldas que eram os olhos de Ethan e quase perdi o ar quando ele sorriu, se aproximando. Era como se tudo tivesse voltado ao seu devido lugar.

“Te vejo na festa dos Carmim amanhã?”, ele perguntou tocando em meu rosto.

“Você me prometeu”

“E irei cumprir.”, ele se aproximou e beijou a minha testa. Eu fechei os olhos, sentindo meu coração se apertando com as lembranças da visão. Por impulso, segurei seu braço quando o impedindo de se afastar.

Eu não sabia o que dizer. Eu não sabia se deveria dizer algo. Então, ainda movida pelo impulso, o abracei. Ethan nem hesitou em retribuir. Eu fechei os olhos, escutando seu coração e relaxei em seus braços. Ficamos alguns minutos assim, até que a buzina do carro de Drake nos despertou. Ethan foi o primeiro a se afastar.

“Tenho que ir.”, ele deu outro beijo em minha testa e foi para o carro.

Olhei ele se afastando e me virei, vendo os olhos azuis de Drake frios feitos gelo.

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Eram quatro da manhã.

Eu descia as escadas em direção a cozinha com cuidado para não fazer barulho. Não queria que ninguém acordasse. Já havia causado comoção demais na casa do meu pai. Quando eu fosse para a casa de Rose no dia seguinte... Nem queria imaginar. Estava na última virada das escadas, tocando nos últimos degraus, quando escutei vozes vindas da sala.

“Eu não entendo.”, Drake dizia. Desci mais um degrau e pude vê-lo se jogando contra o sofá e passando a mão pelos cabelos escuros. “Eu fiz de tudo para ela voltar a ter foco. E aquele idiota, só precisou dizer que iria ficar do lado dela que tudo ficou normal.”

“Ele disse isso e a beijou, Drake. Você esqueceu do essencial.”Annice disse, parada com as mãos na cintura na frente do meu guardião. “Jordan o ama, Drake. Ele pode ser um idiota, mas ela o ama de qualquer jeito.”, ela deu de ombros.

“Ele faz mal a ela”, Drake disse e suspirou. “Sou um idiota mesmo.”, ele olhou para a poltrona e suspirou novamente. Só então eu percebi a presença de meu pai. Ele tinha um olhar sério e os lábios pressionados em uma linha reta. “Christian, sinto muito, mas eu tenho que falar. Eu estou apaixo...”

“Acho que não é o melhor momento para você dizer isso, Drake.”, meu pai disse olhando na direção onde eu estava. Me encolhi e antes que Annice e Drake também olhasse, subi as escadas rapidamente com o coração pulando.

Drake iria dizer que estava apaixonado por mim?