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No instante em que os olhos do vampiro foram invadidos pela luminosidade repentina ele proferiu um rosnado que estava carregado da dor cruel que parecia adentrar pelos seus olhos e rachar seu crânio de dentro para fora. Michael colocou a mão sobre os olhos, tentando amenizar o que sentia e começou a pensar no que iria fazer, caso isso fosse alguma espécie de ameaça, mas não pôde, um medo que pode ser apenas imaginado havia se instaurado em seu ser.

Um ato reflexo, algo como uma proteção contra a luz diurna que fora ativada assim que seus olhos, mais fotossensíveis do que os de um ser humano, foram atingidos por aquela luz intensa, o impeliu a fugir imediatamente e, na maior velocidade que pudesse alcançar, encontrar um local escuro. O desespero o qual começava a apertar-lhe o pescoço, como um monstro determinado a sufocá-lo, era imenso, acabou por achar que caso não encontrasse um bom esconderijo iria simplesmente ser impelido a cavar um buraco com as próprias mãos, e então se esconder...

...Mas você TEM que se encontrar com Coudray.

Sim, Michael tinha que se encontrar com seu criador e no instante que essa lembrança surgiu em sua cabeça na forma de sua velha vozinha interior, que discutia com ele, o ajudava e lhe trazia lembranças. Devido a aquele medo sobrenatural havia esquecido o que viera fazer ali, sobrepujou qualquer outra espécie de sentimento que poderia estar mente, fazendo aquele o pânico que lhe atacara desaparecer como se nunca houvesse existido.  O artista não era nenhum prodígio em questão de força de vontade, pelo contrario, era preguiçoso, covarde e sugestionável, contudo, estava obstinado e isso lhe deu uma força maior do que qualquer pessoa imaginaria que ele tinha. Ele ia encontrar com Coudray, nada ficaria em seu caminho.

Aos poucos suas pupilas foram contraindo e o que via foi ficando mais nítido, não melhorara por completo, ele apenas conseguia divisar algumas manchas escuras no mar branco que era sua visão, suspeitou que fossem carros. As imagens demoravam para surgir novamente, agora ele tinha certeza: Mesmo atraídos pelas luzes da cidade, vampiros eram, de fato, seres da escuridão. Tendo tão conclusão em mente, moveu-se para o lado, saindo do lugar onde a rajada de luz era mais forte e se limitou a esperar sua visão melhorar. Queria sair correndo, atropelando qualquer coisa que estivesse em seu caminho para então adentrar na mansão e encontrar seu benfeitor, seu criador, mas, conseguiu refrear essa ânsia com a curiosidade de saber que feixe luminoso era aquele que o havia pego desprevenido, a voz interior aprovava essa decisão. Não estava preocupado, embora sentisse alguns pares de olhos o observando, sabia que não existia perigo.

Assim que seus olhos se recuperaram a um nível que satisfazia suas necessidades, procurou, protegendo os olhos com as costas do braço, o que o havia cegado, logo encontrou. Um refletor havia sido posto no chão e tirava boa parte das trevas que deveria cobrir o lado da estrada pelo qual Michael viera. O objeto o intrigou. Quem não se sentiria intrigado ao encontrar um refletor numa estradazinha como aquela?

Ainda tentando compreender o propósito do objeto, o vampiro lembrou da sensação de ter sido observado enquanto recuperava a visão, bem como das manchas que vira, e deu alguns passos a frente, tornando a fechar os olhos, para sair da área de efeito do cone de luz, pois temia compromete-los novamente. E então novamente os abriu, querendo acabar logo com todo aquele mistério. Demorou um tempo para que seu cérebro captasse a cena à sua frente, as sugestões que ela trazia pareciam... Inconcebíveis. Quando entendeu de todo, o panorama que via, entrou em desespero.