Era pôr-do-sol em um lindo dia de primavera. Em um campo de futebol, agora vazio, uma bela criança loira estava sentada, aparentemente sozinha, de cabeça baixa e abraçando os próprios joelhos, de modo a esconder seu rosto.

Uma menina mais alta que a outra criança se aproximou silenciosamente e ficou observado o garotinho loiro por alguns segundos sem dizer nada. Mas a menina não estava sozinha. A Shugo Chara que a acompanhava flutuou para um pouco mais longe de sua dona, até encontrar o Shugo Chara vestido de Rei, que também observava o menino do alto.

– Nee... o que houve com ele dessa vez? - perguntou a Shugo Chara de kimono
– Ah, é você, Temari - falou o Rei dos Shugo Charas ao avisar sua "súdita" - Nada de mais... ele inventou de disputar uma partida de futebol contra aquele novo Valete, o tal Souma Kukai, e agora está chateado porque perdeu. Eu falei pro Tadase usar sua autoridade como Rei e ordenar que o garoto o deixasse vencer, mas esse tonto não quis me ouvir, agora tá assim emburrado!
– Humm... então é por causa de uma competição de futebol? - comentou Temari - Bem, acho melhor não me meter dessa vez... parece ser assunto de garotos
– Isso também não me interessa muito, mas suponho que você se interesse menos ainda do que eu - respondeu Kiseki - Mas... imagino que o seu dono ainda entenda alguma coisa do assunto.

A menina que ainda observava calada, e que não era uma menina de verdade por sinal, aproximou-se silenciosamente do garotinho chateado e sentou ao lado dele.

– Então era aqui que você estava... os outros Guardiões estavam preocupados com você, sabia Hotori-kun? - pronunciou-se a menina com aquela voz doce e melodiosa
– Me deixa em paz. Quero ficar sozinho - ele murmurou sem erguer a cabeça
– Que feio, um Rei como você ignorando seus súditos dessa forma... por que não me conta o que aconteceu? - insistiu a falsa menina de cabelos longos
– Já disse que quero ficar sozinho! Vai embora! - ele levantou um pouco a cabeça dessa vez, de modo que o grito soou mais alto
– Ficar aqui sozinho lamentando seus problemas não vai ajudar em nada, sabia? - comentou a menina impassível - Por que não me conta o que está te chateando? Talvez eu possa ajudar
– Já disse que não! Uma menina como você jamais entenderia!!

Quase que imediatamente, Tadase se arrependeu do que acabara de falar. Estava tão chateado que, por um instante fugaz, se esquecera de que a amiga ao seu lado não era uma menina real.

– Ah, é? Então é assim, não é?
– Ano... Fujisaki-san... e-eu não quis...
– Sabe de uma coisa, Hotori-kun? - Nadeshiko o interrompeu - Talvez eu realmente não possa entender o quer que esteja te chateando. Mas ainda assim, acho que posso fazer alguma coisa quanto à isso. Você sabia... que existe uma mágica pra animar as pessoas que só as meninas podem realizar?
– Uma mágica...?
– Sim, isso mesmo. Quem sabe eu... não consigo usar essa mágica em você?

Antes que Tadase pudesse perguntar que mágica era aquela, Nadeshiko jogou seus braços ao redor do seu pescoço e beijou sua bochecha. Foi instantâneo, como se realmente fosse num passe de mágica, Tadase sentiu seu rosto arder como se estivesse com uma febre de 40 ºC, e seu rosto estava tão vermelho que parecia até um tomate com olhos e uma peruca loira.

– O que... q-que está... f-f-fa-fazendo F-Fujisaki-san??? ele gaguejou dificilmente, se afastando alguns passos da falsa garota
– Ora, quem diria, deu certo mesmo. Você não parece mais estar chateado - Nadeshiko sorriu como se não tivesse feito nada de mais. Realmente, Tadase ficou tão chocado com o que acabara de acontecer que se esqueceu completamente sobre sua derrota no futebol - Que bom que consegui realizar a "mágica"... mesmo sendo o que sou. Mas, Hotori-kun... por favor, não se esqueça: Mesmo eu representando desse jeito todos os dias, lembre-se de que não sou uma menina como as outras. Você é o único que conhece meu segredo, então não se esqueça disso... não se esqueça da minha verdadeira identidade.

– Nagihiko! Acorda, tá na hora da escola!

Fujisaki Nagihiko abriu os olhos assustado. Ele sentou-se na cama bruscamente graças ao susto que levou com o grito, e sentiu uma leve tonteira por ter levantado tão de repente. Olhou para a porta a tempo de ver sua mãe fechá-la com força. As lembranças do sonho ainda estavam em sua mente, agora um pouco embaralhadas. Embora o sonho lhe parecesse um pouco confuso agora, ele se lembrava perfeitamente daquela memória de sua infância. Só tinha oito anos na época, mas ele se lembrava muito bem daquilo, pelo simples motivo de ser uma memória que compartilhava com Tadase. Com certa má vontade, ele se levantou e começou a procurar pelo seu uniforme, ainda pensando no sonho que tivera.

– Waahhh... bom dia Nagi - murmurou seu Chara Rhythm sonolento, ainda em seu ovo
– Bom dia... - ele respondeu sem emoção, já trocando de roupa
– Nossa que cara é essa, hein?! Não me diga que ainda está preocupado com o que aconteceu ontem?? - perguntou Rhyhm, voando até ele
– Não... não era nisso que estava pensando
– Humm... já sei, teve algum sonho bom né?? - adivinhou o Shugo Chara com uma risadinha maldosa
– Mais ou menos - respondeu Nagi vagamente - Eu sonhei... com uma lembrança do passado
– Ah, é? Então me conta, que lembraça é essa??
– Esqueça isso, Rhythm. Não importa mais
– Ehh?! Por que não?! Me conta vai! - insistiu Rhythm curioso.

Nagihiko ignorou os os pedidos insistentes de seu Chara, terminou de se vestir, e antes de sair do quarto para tomar o café, encarou o ovo rosa em cima de sua cômoda.

"- Porque agora... eu não posso mais fazer essa 'mágica', não é, Temari?"

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Aquele foi um dia exaustivo como sempre. Nada parecia dar ânimo para o Valete, e agora ele ainda tinha que se forçar a evitar Tadase, devido ao que acontecera no dia anterior. Sabia que isso seria impossível, afinal, eles estudavam na mesma classe, sem falar que hoje era o dia da tão esperada Festa de Halloween, mas ele ainda precisava tentar evitá-lo o quanto fosse possível. De vez em quando segurava com força o ovo cor de rosa em seu bolso, que ele carregava pra todo lado só por costume, numa esperança de que aquilo lhe desse forças pra seguir em frente, mas não parecia estar adiantando.

Felizmente as aulas terminaram depressa naquele dia, e no fim da tarde, Nagihiko forçou-se a caminhar até o Royal Garden e começar a se arrumar pra festa. Esperava levar uma bronca de Yaya por não ter ajudado com a decoração, bem como ver as outras meninas encarando-o de cara feia pelo modo como falara com Amu no dia anterior, mas foi surpreendentemente bem recebido.

– Ahh Nagi! Finalmente você chegou!! - exclamou Yaya sorrindo de orelha à orelha - Ontem você foi embora cedo então a Yaya nem pôde te dar a fantasia pra experimentar! Anda, veste logo e vê se é do seu tamanho, senão teremos que ajeitar isso correndo! - ela forçou algumas roupas emboloradas em suas mãos e empurrou o garoto até a sala de arquivos que eles estavam usando como provadores
– Ei... e-espera aí Yaya-chan, que animação é essa, hein?! - estranhou o Valete - Pensei que você estava chateada comigo...
– Como a Yaya poderia estar chateada?! Hoje é um dia de festa, temos que comemorar! - exclamou a menina quase pulando de tão alegre que estava - Vamos, anime-se, Nagi!
– A Yaya tem razão, vamos nos divertir à beça hoje! Então ninguém aqui tem tempo pra ficar chateado não! - apoiou Kukai erguendo um polegar
– É isso aí! Vai logo se trocar, Nagihiko, também quero que todas as fantasias estejam perfeitas! - por incrível que pareça até Amu estava sorrindo
– Amu-chan...? Você não está... zangada comigo?? - perguntou o garoto incrédulo
– Falei com eles mais cedo - Tadase sussurrou em seu ouvido, sobressaltando o Valete - Disse à eles que você não gostava de ser comparado com a "sua irmã", que era como um complexo de gêmeos, sabe? E que por isso você ficou daquele jeito
– Hotori-kun... err... o-obrigado - Nagihiko murmurou em voz baixa ainda sem encará-lo, sentindo o rosto esquentar
– Isso mesmo, não precisa se preocupar com nada, Nagi! - exclamou Yaya como se tivesse ouvido o breve sussurro de Tadase
– Ahh cara, ter irmão gêmeo parece ser mesmo complicado - comentou Kukai - Eu tenho um monte de irmãos, mas nenhum gêmeo, então não sei se posso dizer que entendo
– Complexo de gêmeos né? É bem a cara dele - comentou Rima - Suponho que essa tal irmã dele seja uma problemática também
– Ahh que isso, Rima, não é pra tanto - interveio Amu - A Nadeshiko é um amor, você iria adorar ela. M-Mas de qualquer forma, esqueça sobre ontem e vá logo provar sua fantasia, Nagihiko!
– Tá, mas... e vocês, não vão se arrumar? Só tem um provador aqui..
– Huhuhu... é aí que você se engana, meu caro Valete! - exclamou a Às com um ar de sábia que não combinava com ela - A Yaya conseguiu dividir essa sala com vários biombos antes de você chegar! Então vai dar pra todo mundo se trocar sem problemas! Agora vai logo vestir essa fantasia, que coisa!!!

Yaya deu outro empurrão no amigo e Nagihiko entrou no primeiro provador que viu. Começou a se despir, e enquanto vestia a fantasia, pôde ouvir as vozes dos amigos bem próximas, indicando que eles haviam começado a se trocar também. Quando estava terminando de fechar a jaqueta, ouviu alguém abrindo as cortinas do biombo onde estava.

– Com licença, Fujisaki-kun... a Yuiki-san quer saber se a roupa ficou boa, você já terminou de se trocar? - chamou Tadase timidamente à porta
– Ahh... já sim, diz pra ela que a fantasia está ótima - ele respondeu sem encará-lo.

Tadase saiu por um instante, e Nagi pôde ouvir fracamente a voz dele falando alguma coisa, depois a voz escandalosa de Yaya respondendo com afirmação, e em seguida o Rei voltou, acompanhado da amiga.

– Ei, Nagi! Desculpa invadir seu biombo, mas por acaso eu deixei aqui um pote de... ohh!! Que fantasia perfeita Nagi!! Ficou muito melhor do que a Yaya imaginou, você tá lindo!! - exclamou a Às com os olhos brilhando, rodeando o amigo
– Obrigado, eu acho... mas que fantasia é essa afinal, Yaya-chan?!
– Ah, não conhece, é? É que a Yaya pensou que seria muito mais divertido nos fantasiarmos como personagens de vários animes diferentes ao invés de só usar aquelas fantasias de monstro, vampiro, bruxa... sabe, aquelas coisas de sempre. E a Yaya achou essa roupa perfeita pra você! - exclamou a Às, tão empolgada que estava dando pequenos pulinhos
– Tá, mas... de quem é essa fantasia afinal??
– Ah! É do Nezumi, do anime Nº6. Aqui, olha uma foto dele!

Yaya mostrou um mangá com a foto do personagem. Se não fosse o cabelo preso do tal Nezumi, realmente estaria idêntico.

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– É, as roupas, estão mesmo perfeitas... mas você se esqueceu de uma coisa, Yaya-chan, eu tenho cabelo comprido - lembrou o Valete
– Eu sei, o Nezumi também tem! Mas é só você prender que fica igualzinho! Toma aqui o prendedor - ela entregou um elástico de cabelo ao amigo - Ahh e olha só o Tadase! Ele está vestido como o Shion, do mesmo anime!

Nagihiko respirou fundo e forçou-se a olhar para o Rei pela primeira vez naquele dia. Ele usava uma camisa branca, ainda aberta até a metade, com uma capa marrom totalmente aberta por cima, e calça preta. Até os olhos escarlate do Rei estavam idênticos ao do personagem, e Yaya ainda dera um jeito de esbranquiçar os cabelos do Rei.

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– Está... muito parecido mesmo - respondeu Nagihiko, rapidamente forçando-se a desviar os olhos do Rei
– Não é?! Só falta um detalhe pra ficar igualzinho, essas marcas vermelhas que o Shion tem! - exclamou a Às feliz. Ela adentrou o biombo, pegou um pote com uma espécie de maquiagem vermelha que estava ao lado do uniforme escolar do Valete e voltou até onde Tadase estava - Prontinho, vem cá Tadase, vou te deixar igual ao Shion, você vai ver... ué?! O que é isso Tadase? Tem uma mancha vermelha no seu pescoço.

Yaya agarrou a gola da camisa do garoto, puxando um pouco mais pra baixo para ver a marca melhor. A marca que Nagihiko fizera no Rei continuava ali. Estava bem mais clara, e logo desapareceria, mas ainda dava pra ver.
Ao ouvir a frase da Às, Nagihiko derrubou um frasco de esmalte vermelho que a menina provavelmente também esquecera ali. Felizmente ele estava de costas para os dois, assim ninguém poderia ver a sua cara pânico, sem falar na enorme onda de culpa que o invadiu e que certamente se refletiria em seu rosto. Se Yaya percebesse o que era aquilo... pior, se ela percebesse quem tinha feito aquilo em Tadase... seria o fim.

– Você tá bem Nagi? Se machucou? - ela desvidou os olhos do pescoço do Rei para o Valete amedrontado
– E-Estou sim... não foi nada - ele respondeu o mais naturalmente que pôde, recolhendo o esmalte do chão
– Toma cuidado hein, esse é o esmalte que a Rima-tan tem que usar, e a Yaya só tem esse - advertiu a Às - Mas hein Tadase, que marca é essa no seu pescoço?
– Isso é... é que um mosquito me picou ontem, por isso está vermelho - Tadase respondeu com uma voz tão natural que parecia que era verdade.

"- Ahh cara, não acredito que ele usou mesmo essa desculpa esfarrapada!!"– Nagihiko pensou desesperado - "Espero que a Yaya-chan seja burra o suficiente pra acreditar nessa lorota".

– Um mosquito, é...? - repetiu a menina - Que mosquito tarado esse hein, morder logo no pescoço - ela se aproximou um pouco do ouvido do Rei para que Nagi não pudesse ouví-la - Nee Tadase... tem certeza de que esse "mosquito" não se chama Fujisaki?
– O que???– Tadase afastou-se assustado, sentindo o rosto esquentar - O q-que está insinuando Yuiki-san?!
– Eu nada. Se você diz que foi um mosquito, então foi um mosquito, ué - ela sorriu como se não tivesse dito aquela última frase - Ei, Nagi! A Yaya precisa pintar as unhas da Rima-tan correndo, então será que você pode passar isso no Tadase pra mim por favor? - ela forçou o frasco com a maquiagem vermelha nas mãos do Valete
– O que?! Mas por que eu??
– Porque o Kukai ainda está se trocando, e não posso pedir pra uma menina fazer isso, não é, ou ela cairia de amores pelo Rei aqui! - ela explicou como se fosse óbvio
– Mas Yaya-chan... você mesma ia passar isso nele, e você é uma menina
– Sim, mas a Yaya é uma criança inocente e não liga pra essas coisas! - ela fingiu-se de inocente, sem conseguir convencer ninguém - Além do mais, já disse que a Yaya está ocupada! O Kukai ainda está se trocando, e eu preciso pintar as unhas da Rima-tan agora, então ela não vai poder fazer isso... a não ser que você queira que a Amu-chi passe isso nele... acho que ela ainda está se trocando também, mas aposto que a Amu-chi não se importaria... - sugeriu Yaya com um tom de voz maldoso
– E-Eu não disse isso! - Nagihiko falou antes que pudesse se conter - E-Eu quero dizer... não me interessa quem vai passar ou deixar de passar isso nele... t-também não me importo de fazer isso
– Ótimo, então está resolvido! Valeu, eu vejo vocês depois! Divirtam-se, garotos! - exclamou Yaya como se tivesse ganho uma aposta - Aqui está a foto do personagem, é só você olhar que vai ficar tudo bem! - ela entregou um mangá com a foto do tal garoto na capa para Nagihiko, pegou o esmalte que iria usar em Rima, e saiu cantarolando feliz da vida.
– Essa Yaya-chan, francamente... o que ela quis dizer com "divirtam-se"?! - Nagihiko resmungou para si mesmo
– Bom... vamos lá, Fujisaki-kun? - perguntou Tadase timidamente
– Ah, sim... t-talvez você queira entrar aqui, sabe... quero dizer, se a Amu-chan te ver agora... ela pode dar um ataque histérico, ou sei lá o que
– Certo.

Tadase adentrou o biombo e terminou de abrir a camisa, deixando o tórax à mostra. Nagihiko respirou fundo várias vezes antes de encará-lo, usando toda sua força e vontade e concentração para tentar não corar. Tentando terminar com aquilo o mais depressa possível, ele pegou um pouco da maquiagem com os dedos e começou a passar no peito nu do garoto à sua frente. Nagi mal acreditava que havia se metido numa situação dessas. Não fazia nem um dia que ele havia se acabado de chorar por ter tocado Tadase daquele jeito tão indecente, e agora, lá estava ele, alisando o peito nu do garoto, como se nada tivesse acontecido.

O mesmo ocorria com Tadase. Não sabia bem o porquê, mas acabara corando no momento em que despiu a camisa na frente do Valete. Ele não entendia o porquê disso, afinal, eles já haviam trocado de roupa juntos inúmeras vezes. Sentiu seu corpo estremecer assim que sentiu o toque do Valete em sua pele pálida, quando começou passar a maquiagem, e fechou os punhos com força, tentando parar com aquela tremedeira sem sentido. Involuntariamente, acabou lembrando do dia anterior. Quando o garoto o tocou do mesmo jeito, mas não com as mãos, e sim com a própria língua... essa lembrança fez o Rei corar furiosamente, e ele sacudiu a cabeça, tentando afastar esses pensamentos estranhos. Sabia muito bem que aquilo só aconteceu devido ao descontrole causado pelo Chara Change do amigo. Mas então por que... por que essas lembranças cismavam e vir à sua mente o tempo todo?

Nagihiko parecia estar adivinhando o rumo que os pensamentos confusos do Rei estavam tomando. Ele mesmo acabara se lembrando do que acontecera ontem também, embora se forçasse ao máximo para não pensar nisso. Enquanto passava a maquiagem no peito do menor, acabou se distraindo com o turbilhão de devaneios e sua mente, de repente deu-se conta de que estava demorando mais do que o necessário, e subiu um pouco, passando a maquiagem agora no pescoço dele. Mal começara e reparou na marca vermelha que permanecia em seu pescoço.

– Ela ainda... esta aqui - Nagihiko acabou falando em voz alta
– Sim... mas está mais clara do que ontem, então acho que deve sumir logo né? - Tadase respondeu, sorrindo sem graça
–Ahh... é, deve sim - Nagihiko tornou a desviar os olhos dele - Ainda não acredito que a Yaya-chan não percebeu... será que ela estava fingindo?
– A-Acho que ela não notou mesmo. Melhor assim né?
– Sim, claro. Nee Hotori-kun... eu... realmente lamento por ontem. Por ter... feito isso em você - Nagihiko passou os dedos por cima da marca que ele mesmo fizera, cobrindo-a com a maquiagem - Eu sinto muito... não queria ter feito nada daquilo, eu só...
– Ei. Já não disse pra esquecer isso? - interropeu Tadase - Não precisa ficar se sentindo culpado, eu estou perfeitamente bem. Além do mais, você... me ensinou uma coisa ontem
– Ensinei? - repetiu Nagi confuso - Ensinei o que?! Se está falando daquela história de auto-defesa, isso não é nem de longe...
– Não é isso - o Rei tornou a interromper - Aqueles... rúidos que eu fiz. Eu nunca tinha tinha feito aquele tipo de som antes... nem sequer sabia o nome daquilo, ou porque se fazia isso... mas você me ensinou
– É... bom... imagino que você não soubesse mesmo, é bem a sua cara - admitiu Nagihiko, sorrindo sem graça - Mas você não se sentiu estranho? Quero dizer, aquelas coisas... aquilo só se faz com...
– Com o que? - perguntou Tadase curioso
– Com... a pessoa... que você realmente gosta - Nagihiko sussurrou num tom tão inaudível que Tadase não conseguiu ouvir
– Com o que?? Não entendi, fala mais alto
– N-Não é nada, esquece. Vamos terminar logo isso - desconversou o Valete, pegando mais um punhado de maquiagem e começando a passar no rosto do garoto, bem abaixo de um dos olhos. Ao fazer isso, lembrou-se de como Tadase havia enxugado suas lágrimas no dia anterior, e sua curiosidade acabou sendo mais forte do que a compostura - Nee Hotori-kun. Aquele... jeito que você... bem, quando eu acabei chorando ontem, você meio que... err... o-onde você aprendeu a fazer algo assim??
– Ah, quando eu enxuguei suas lágrimas? - Tadase falou inacreditavelmente sem vergonha nenhuma - Aquilo... bem... Niisan fazia isso quando eu era pequeno - ele respondeu, dessa vez corando um pouco - Eu fui uma criança muito mimada e chorona, sabe... não podia levar um tombo e já começava a chorar. E sempre que acontecia... Niisan fazia isso
– Com "Niisan", você quer dizer... o Ikuto?
– Sim! Quando eu era pequeno, nós vivíamos juntos, lembra? Ele sempre enxugava minhas lágrimas assim, como um gato cuidando do filhote... engraçado né? Acho que combina com ele - Tadase riu da lembrança, sem perceber a cara azeda de Nagihiko. O Valete esquecera-se completamente de que os dois tinham morado juntos na infância devido à inimizade de tantos anos desde que o rapaz trabalhou na Easter. Uma imagem de Ikuto lambendo o rosto de seu precioso Rei formou-se em sua cabeça, revirando o estômago do Valete.

"- Só me faltava essa... como se não bastasse a Amu-chan, tenho que me preocupar com o Ikuto também"– ele pensou mal-humorado - "Hã? Espera aí, me preocupar? O que eu estou pensando? Desse jeito parece até que eu quero mesmo ficar com ele... não que eu não queira, mas... sei muito bem que isso é impossível".

– Fujisaki-kun? Acho que já está bom, não é? - Tadase o despertou de seus devaneios
– Hã?! Ah, sim... é, já está bom mesmo - Nagi fechou o frasco de maquiagem enquanto Tadase examinava o resultado na frente do espelho
– É, ficou igualzinho mesmo... incrível! - exclamou o Rei - Bom, agora só falta você prender o cabelo que vai ficar igualzinho também né?
– É, tem razão - Nagihiko começou a juntar os cabelos, mas parou abrupdamente
– O que foi?
– É que... me sinto estranho. Prender os cabelos me lembra "ela"
– Ah, isso... mas eu já te falei ontem, não foi? A Fujisaki-san não está aqui agora
– Eu sei, mas... mesmo assim, me incomoda um pouco
– Se te incomoda tanto, então deixa que eu prendo pra você
– Quê?! N-Não precisa fazer isso Hotori-kun!
– Vamos, deixe. É a retribuição por você ter passado a maquiagem em mim.

Antes que Nagihiko pudesse protestar, Tadase tirou o elástico de suas mãos e o rodeou, parando atrás dele. O garoto começou a juntar seus longos cabelos, enrolando os fios até que pudesse prendê-los no topo da cabeça. Nagi sentiu um formigamento percorrer seu corpo ao sentir o Rei tocando em sua nuca enquanto juntava seu cabelo. Ele olhou de esguelha para trás e viu que Tadase estava na ponta dos pés para poder alcançá-lo e prender o cabelo corretamente.

– Ano... se está muito difícil pra você, pode deixar que eu prendo sozinho
– Não, eu já vou terminar - insistiu Tadase
– Mas... parece que você não alcança - comentou Nagi tentando conter uma risada - Além do mais, você não deve estar acostumado à fazer penteados e essas coisas...
– É só prender, não é? Eu posso fazer isso - ele respondeu decidido - Além do mais, eu...
– O que?
– Bom... o seu cabelo é bem comprido, então... eu gosto... de mexer nele às vezes.

Felizmente Nagihiko estava de costas para ele, então Tadase não pôde vê-lo corar feito um pimentão ao sol. Poucos segundos depois, o Rei exclamou:

– Consegui! Viu só, disse que podia fazer isso! - ele sorriu triunfante
– É, ficou bom mesmo - admitiu Nagi, se olhando no espelho - Bom, vamos ver se os outros terminaram?
– Hai!

Os dois saíram do biombo, e encontraram os amigos já prontos do lado de fora: Amu usava um vestido todo rosa tomara-que-caia, botas e luvas vermelhas, uma espcéie de gizo no pescoço, e tinha orelhas e cauda de gato. Estava fantasiada como Ichigo de Tokyo Mew Mew.

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Rima usava uma roupa toda preta, desde a blusa, o shorte, e até as luvas e botas, tudo com mutias fitas e lacinhos. Tinha as unhas compridas e vermelhas. Estava vestida como a Evangeline de Negima:

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Kukai usava uma roupa toda laranja, com alguns detalhes em azul, gola branca, uma kunai amarrada à perna e tinha uma bandana amarrada na testa. Seus cabelos estavam mais espetados do que o normal e loiros. Estava fantasiado de Naruto:

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– Uaaau... as fantasias ficaram incríveis mesmo! - exclamou Nagihiko
– Verdade, estão todos ótimos! - admirou-se Tadase
– Caramba, você caprichou mesmo, hein Yaya-chan?!
– Huhuhu... não subestime o poder da Às, meu caro Valete! - riu Yaya convencida
– Mas Yuiki-san, por que você não está fantasiada?
– É porque esse povo me deu o maior trabalho, pedindo ajuda pra Yaya arrumar eles! - gritou a menina um tanto estressada - E ainda nem consegui arrumar o cabelo da Rima-tan! O cabelo dela é ondulado demais, preciso passar uma prancha aqui!
– Assim você não vai terminar nunca Yaya! - exclamou Amu
– Eu te disse pra começar mais cedo, não disse?! - comentou Kukai
– Agora é tarde pra falar isso né Kukai?! - bufou a Às - Droga o que vou fazer agora??
– Deixa que eu cuido disso, Yaya-chan. Vá se arrumar de uma vez - ofereceu-se Nagihiko
– Ehh... você sabe fazer isso Nagihiko?! - admirou-se Amu
– B-Bem, sim... minha irmã me forçava a fazer essas coisas pra ela às vezes hahahaha... - ele riu sem graça
– Pois podem esquecer, não quero esse daí mexendo no meu cabelo - bufou a Rainha
– Rima-taaaaan!! O Nagi vai cuidar do seu cabelo SIM SENHORA!! Você querendo ou não, ouviiiiiu??? – Yaya gritou com uma cara tão medonha que assustou todos os presentes
– T-Tá bem, tá bem, já entendi, que coisa! - respondeu a menina mal-humorada
– Ótimo! Então, as coisas estão ali em cima, obrigada, viu Nagi?! Conto com você! - o rosto de Yaya mudou do nada pra uma expressão feliz de novo e ela foi correndo se trocar.

Rima acabou se dando por vencida e deixou que Nagihiko cuidasse do cabelo dela. Enquanto os outros conversavam e admiravam as fantasias uns dos outros, Tadase ficou observando a Rainha e o Valete. Por algum motivo aquela cena lhe incomodava. Mesmo sabendo que a garota não se dava bem com Nagihiko, se sentia desconfortável em ver os dois assim próximos... talvez por ter acabado de lhe dizer que ele gostava de mexer nos cabelos longos de Nagihiko. E agora Tadase o via mexendo nas longas madeixas de Rima. Pensando assim, o incômodo parecia aumentar ainda mais, transformando-se lentamente em uma forte dor no peito que ele não sabia de onde vinha.
Tadase achou melhor deixar isso pra lá e forçou-se a conversar com Amu e Kukai, tentando esquecer o assunto. Felizmente, alguns minutos depois, Tanto Rima quanto Yaya estavam prontas. Agora o cabelo da Rainha estava completamente liso, exceto pelas pontas onduladas, e ela tinha dois lacinhos pretos amarrados um de cada lado do cabelo.
Yaya veio correndo feliz da vida, louca para exibir sua fantasia aos demais: Ela trajava um vestido branco, com alguns detalhes em preto no decote e no babado, alças brancas que pareciam feitas de pérolas e usava um laçarote enfeitando seus cabelos soltos. Estava vestida como a Yui de K-on:

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Yaya mal terminara de se arrumar e de admirar os cabelos lisos de Rima, e saiu correndo dizendo que queria pegar doces pela cidade. Os outros bem que tentaram correr atrás dela para lhe avisar que a distribuição de doces só acontecia nos EUA mas a menina corria rápido demais e logo desapareceu de vista. Quando os Guardiões caíram em si, viram que estavam todos fantasiados no meio da cidade, e sem a organizadora da festa.

– Ahh cara... não acredito que a Yaya fez a besteira de sair correndo por aí sozinha! - exclamou Amu cansada de correr
– Será que ela não sabia mesmo que não distribuem doces aqui? - indagou Nagi
– Ahh deixa aquela maluca pra lá! Quando ela quebrar a cara e descobrir que ninguém vai dar um docinho sequer pra ela, vai acabar voltando! - exclamou Kukai
– Quer dizer que você perdeu uma de suas amiguinhas, minha gatinha?

Antes que alguém percebesse quem era o dono daquela voz, Amu sentiu dois braços fortes abraçando-a por trás e soltou um berro.

– Waaahhh!! I-Ikuto?! O que você tá fazendo aqui??? - ela gritou, se afastando quase dez passos dele, vermelha até as orelhas
– Não é óbvio? Vim curtir o Halloween, oras - respondeu o rapaz
– Pois é, Amu, isso é óbvio. O que ele devia explicar é essa fantasia dele - Rima apontou para o garoto felino. Ele realmente parecia um homem-gato agora, vestia uma roupa toda azul, com patas de gato, cauda e orelhas de gato, e usava um lencinho verde amarrado ao pescoço. Estava fantasiado como o Happy de Fairy Tail:

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Todos ali presentes começaram a rir. Até Rima deu uma risadinha disfarçada. Se Nagihiko não estivesse tão incomodado em rever o ex-funcionário da Easter depois de tanto tempo, teria caído na gargalhada também.

– Mas que raio de roupa ridícula é essa, Ikuto?! Não tinha nada melhor pra você vestir não?? - riu-se Amu
– Vai ver tava em liquidação hahahaha!! - gargalhou Kukai - Fala sério, o Chara Nari dele seria bem melhor do que essa roupa horrível! Ai, pena que a Yaya perdeu essa hahahaha!
– Parem de rir seus palhaços!!

Tanto Amu quanto Kukai, que eram os que riam mais escandalosamente, sentiram um doloroso cascudo em suas cabeças. E logo a autora do cascudo surgiu ao lado de Ikuto. Utau estava lá também, e assim como o irmão, estava fantasiada. Ela vestia uma blusa branca de marinheiro com um laço vermelho no pescoço, uma minissaia azul, botas vermelhas, luvas brancas e usava suas costumeiras maria-chiquinhas. Estava vestida como a Sailor Moon:

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– Caramba Utau, até você se fantasiou?! - exclamou Amu boquiaberta
– Tá igualzinha hahahaha!! - riu-se Kukai
– Mas isso ainda não explica porque o Ikuto está usando uma fantasia tão estranha - falou Rima, recuperando seu ar sério - Como o Kukai disse, o Chara Nari dele seria muito melhor do que isso
– Cala a boca, baixinha! Não tenho culpa, foi a Utau quem escolheu minha roupa - defendeu-se Ikuto
– Ela escolheu a roupa de todas nós na verdade.

De trás dos dois, surgiu um garoto mais novo do que eles, com cabelos azulados e um óculos emoldurando seu rosto sério. Ele vestia um sobre-tudo branco, luvas brancas, sapatos brancos, e carregava um enorme arco, listrado em preto e branco. Estava vestido como o Ishida de Bleach:

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– Ehh?? Sanjou Kairi?! - Os Guardiões gritaram em uníssono
– Há quanto tempo - cumprimentou o garoto com um leve sorriso
– Estou chocada de encontrar vocês três na mesma noite, e andando juntos ainda por cima! - exclamou Amu
– Isso é a Yaya quem deveria dizer! - a Às surgiu do nada, pulando em cima deles - Nee, nee... eu ia contar que ninguém quis dar doce pra Yaya e que uma dúzia de pessoas bateram a porta na minha cara, mas isso não importa mais! O que vocês três estão fazendo aqui, fantasiados ainda por cima?!
– A empresa da minha irmã estava dando uma festa de Halloween, e nós fomos convidados - Kairi respondeu às várias dúvidas de todos com uma única frase
– Pois é, e essa maluca aqui inventou da gente se fantasiar também, apesar de isso não ser necessáro pra ir à tal festa - resmungou Ikuto, apontando para a cantora - Mas até que não foi tão ruim. Acabou que nossas fantasias estão combinando, né Não Amu?! Você se fantasiou de gatinha pensando em mim, confessa - ele tornou a agarrar a Coringa
– C-Claro que não seu gato pervertido!! - ela se soltou dos braços dele, tornando a corar - Quem escolheu nossas fantasias foi a Yaya pra início de conversa!
– A ruivinha? Então agradeço á ela, valeu aí pirralha! Toma - ele tirou uma bala do bolso e jogou para Yaya
– Kyaaa finalmente ganhei um doce! Valeu à pena fantasiar a Amu-chi de gatinha!! - exclamou Yaya feliz da vida
– Não me diga que você escolheu essa fantasia pra ela pensando nisso Yuiki-san?! - indagou Tadase
– Bom, é verdade que eu achei a personagem parecida com a Amu-chi, mas... eu realmente lembrei do Ikuto quando vi essa fantasia, não tinha como não lembrar hahahaha! - riu-se a Às, colocando a bala na boca
– Ora, sua anãzinha, não acredito que você fez isso! - bufou Utau, com sua famosa aura maligna crescendo ao seu redor
– É bem a cara dela mesmo - comentou Kairi
– Yaya, como pôde fazer isso comigo?! - gritou Amu indignada
– Ora, não brigue com a menina, Amu, ela é o nosso cupido afinal - Ikuto tornou a agarrar a Coringa
– Quer parar com essa mania de agarrar os outros Ikuto-niisan?! - pediu Tadase, também visivelmente irritado. Logo formou-se a discussão que sempre acontecia quando eles se encontravam, mas dessa vez parecia que seria um pouco mais longa, devido ao grande tempo que não se viam.

– Ahhh cara, lá vão eles de novo... não tô com paciência pra isso hoje, vou voltar pra festa - avisou Kukai - Vocês vêm?
– Acho que vou também, se não for incômodo - falou Kairi
– Que incômodo o que, você também já foi um Guardião afinal! - exclamou Kukai animado - Acho que a Yaya vai querer ficar pra ver o barraco... e vocês dois, vêm ou não vêm?

Nagihiko realmente não sabia o que fazer. Um lado dele queria afastar Tadase tanto de Amu quanto de Ikuto o máximo que pudesse. E o outro lado lhe dizia que isso era imprudente e uma tremenda burrice, e que ele devia apenas se afastar o mais depressa possível para não presenciar essa cena incômoda.
Antes que pudesse decidir o que fazer, ele sentiu uma pequena mão segurando a sua e o puxando para longe da briga iminente.

– Hunf, que perda de tempo, parecem um bando de idiotas. Vamos embora logo e voltar pra festa que é melhor - Rima segurou a mão dele, guiando-o para longe da discussão
– É... acho que é melhor voltar pra festa mesmo - Nagihiko deixou-se ser guiado pela loirinha, concluindo que seria menos doloroso presenciar aquela cena do que acabar se intrometendo e falando algo que não devia - Até que você ficou bonitinha com essa fantasia, Rima-chan... a personagem parece mesmo com você
– Q-Que está querendo dizer com isso, hein?! Você conhece ela por acaso??
– A Yaya-chan me mostrou uns mangás antes da festa... ela realmente lembra você - respondeu Nagihiko sem emoção na voz. Na verdade ele se referia ao fato da personagem ser uma loira baixinha malvada e sarcástica, mas achou melhor não dizer isso para Rima ou iria acabar apanhando.

Nagihiko suspirou, tentando se conformar. Ele estava se preocupando demais ultimamente. Sabia muito bem que, por mais que Tadase fosse apegado à Ikuto, no fim quem ele realmente amava era Amu. Não era ele quem teria o coração do Rei no fim das contas, e muito menos Ikuto, e sim a sua suposta melhor amiga. Ele sabia muito bem disso, e já havia decidido que não podia fazer nada a respeito além de fingir que estava tudo bem. Enquanto pudesse continuar ao lado de Tadase, mesmo que como um simples amigo de infância, já bastaria para ele. Enquanto pudesse estar ao lado do Rei, apoiando e protengendo ele, já bastava. Ele devia estar agradecido em poder ao menos continuar ao lado de Tadase, mesmo que como um amigo. Nagi precisava ser forte e se conformar com a situação. Afinal, já sabia há tempos que era um amor impossível, certo? Não importava que Tadase tivesse escolhido não ir com ele agora, mais tarde eles se veriam novamente. Ou amanhã na escola. Não importava quantas vezes se separassem ou se despedissem, Nagihiko sempre poderia vê-lo de novo depois. Contanto que se conformasse em continuar sendo apenas seu amigo.

Os quatro seguiram andando lentamente de volta pra escola, enquanto Tadase os observou de longe. Acabou ficando junto de Amu e dos outros, e sentiu aquela incômoda dor no peito de antes voltar quando viu Rima de mãos dadas com o Valete.