Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 56
Capítulo 56 - Hoshi ga Matataku konna Yoru ni


Notas iniciais do capítulo

Hoshi ga matataku konna yoru ni - Supercell
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O inverno já tocava com seus dedos gelados o fim de novembro, e encolhido de frio, Tadase escondeu o nariz regelado no cachecol vermelho, que era seu favorito, e adentrou o pátio da escola, que àquela hora estava realmente meio deserto, afinal, nem eram sete horas da manhã ainda. O motivo por ter vindo tão cedo para a aula era apenas para não ter que aguentar os sermões da sua mãe, que ainda estava estressada por causa da sua última nota. Essa era uma das desvantagens de ser sobrinho do diretor – sua mãe sempre tinha acesso às informações privilegiadas, e por causa disso, Tadase acabou ficando de castigo, por tempo indeterminado, pela primeira vez em toda a sua vida.

Depois disso, tudo o que ele fez foi estudar sem descanso. Nem mesmo ligava para Nagihiko, para não correr o risco de se distrair conversando com ele, e é claro que o valete manteve firme a sua proposta de castigo, que certamente angariou alguns resultados visíveis. Sem nada que pudesse captar sua atenção por aquele período, Tadase se viu tendo como única opção – para não ficar fantasiando sobre Nagi nas horas indevidas – o estudo.

O resultado veio logo no dia seguinte, na segunda etapa de provas, em que Tadase foi tão bem como sempre. Percebendo que o método de estudo estava dando certo, Tadase se viu realmente obrigado a se afastar de Nagihiko, durante esse período, já que ainda precisaria fazer as provas de recuperação de História Mundial e Literatura Clássica. E logo agora, que eles estavam prestes a completar três meses de namoro, e Tadase estava tão ansioso para saber qual era a surpresa que Nagi disse que estava planejando…

Tentando não pensar no que havia perdido (afinal, já havia tirado aquela nota vergonhosa mesmo, não adiantava nada lamentar), Tadase andou direto para o Royal Garden, destrancando a porta e se acomodando na mesa redonda, afrouxando o aperto do cachecol no pescoço, e abrindo os livros mais do que imediatamente. Era um lugar bom para estudar, há essa hora, principalmente se Yaya não estivesse presente para fazer balbúrdia.

Ele conseguiu ter um bom tempo de estudos naquele período, e quando notou, a luz da manhã que entrava pelas paredes do Royal Garden já havia mudado, e se tornado um pouco mais forte. Ele ergueu os braços, se espreguiçando e bocejando. Ouviu a porta do Royal Garden se abrindo, e então se aprumou, espiando por cima da mesa tentando ver quem se aproximava.

— Ohayou, Hotori-kun! – Nagihiko acenou para ele, chegando até a mesa e largando sua pasta.

— Ohayou, Fujisaki-kun… - Tadase parecia um pouco surpreso – Como sabia que eu estava aqui?

— Intuição – Nagihiko piscou um olho, sorrindo para ele – Aqui, eu trouxe para você mais algumas das minhas anotações, talvez possa ajudar… - ele entregou um caderno à Tadase.

— Ah, muito obrigado, Fujisaki-kun! – Tadase comemorou, folheando rapidamente o caderno e logo o deixando de lado. Levantou da cadeira, rodeando a mesa até chegar ao lado de Nagihiko – Nee, você sempre me salva quando eu preciso… - ele sorriu, inclinando a cabeça para o lado adoravelmente. Nagihiko engoliu em seco. Aquilo era mesmo o que ele estava pensando que era? – Ah… eu estava curioso para saber… - ele se aproximou ainda mais, escorando-se no braço do maior enquanto erguia seus enormes olhos na direção de Nagihiko. – o que era aquilo que você disse que tinha preparado para o fim de semana…

— Hm… acho que isso vai ter que ficar para depois, Hotori-kun, afinal, você está de castigo… - Nagihiko tentou desviar o olhar, mas Tadase continuava com aqueles dois rubis bem firmes, pregados nele.

— Ahh, você não pode me contar? – Tadase se colocou na ponta dos pés, apoiando-se com as mãos nos ombros de Nagihiko. Seus lábios se projetaram, rosados e úmidos, entreabertos mesmo quando Tadase não falava – Eu queria tanto saber…

Tadase encostou seu corpo ao de Nagihiko, e o encarou diretamente. Havia alguma espécie de fundo brilhante e cheio de rosas ao fundo, ou era apenas impressão de Nagihiko?

— Hotori-kun… - ele franziu os olhos, desconfiado, enquanto Tadase voltava a inclinar a cabeça, como um cachorrinho confuso – Você está tentando me seduzir, é isso?

— Aaahn? – Tadase se abaixou, soltando os ombros de Nagihiko. Seus olhos vacilaram por um momento, e então ele se fez de desentendido e ofendido – E-eu não acho que estivesse fazendo isso, absolutamente! M-mas… estava funcionando? – ele arriscou, mirando Nagihiko de soslaio, com um semblante quase arrependido.

Nagihiko soltou uma risada, enquanto colocava os cabelos para trás.

— É, foi quase. Mais um pouquinho, e eu tinha cedido… - ele suspirou, se dando conta do quanto Tadase podia ser perigoso quando queria – Mas ainda precisa de um milhão de anos para você conseguir me convencer com a sua atuação, Hotori Tadase – deu um peteleco de leve na testa de Tadase, como punição por ele ter tentado burlar o seu castigo – Agora, é melhor você voltar a estudar, se não quer que seu castigo aumente ainda mais!

— Mas… - Tadase baixou os olhos com o rosto corado, escondendo o local atingido com as duas mãos, e parecendo um cachorrinho que foi repreendido pelo dono – Eu só queria um beijinho… - ele disse, tão baixo que nem parecia real. Nagihiko corou ligeiramente, um tanto surpreso.

— Então, estude direitinho, e sem tentar me enganar de novo! – respondeu, quase fraquejando mais uma vez. Olhou para o outro lado para não ter que ver o semblante suplicante que Tadase fazia, pensando em qualquer coisa que não fosse a vontade de mandar o castigo ou seja lá o que fosse para os ares e beijar Tadase ali mesmo. – Ah, isso me lembra! Eu tenho algo para entregar a você! – ele ergueu uma sacola de papel, que havia ficado esquecida aos seus pés – As suas roupas! Desculpe a demora…

— Ah, eu até tinha esquecido… - Tadase deu uma espiada na sacola, tentando esquecer a sua tentativa frustrada de se livrar da penitência imposta – Você até lavou tudo…

— Claro, era o mínimo a se fazer…

— Waaa~o que vocês estão fazendo aí tão ceeedo? – uma voz aguda cortou o ar, atingindo-os como uma flecha.

— Yaya-chan? – Nagihiko arqueou uma sobrancelha, vendo a garota aproximar-se saltitando – O que você faz no Royal Garden logo de manhã? Adiantar o trabalho é que não é, nee?

— E-etto… - ela paralisou, um tanto alarmada – N-não é como se a Yaya estivesse passando pra dar uma olhada nas câmeras de vídeos que ela espalhou por aí, nem nada assim! – ela balançou as mãos, agitadamente.

— Câmeras? – Nagihiko se alarmou, andando preocupado até a mais nova dos guardiões. Ela se safou de ter que pensar em uma resposta rápida pela nova figura que se aproximava lentamente, e captou a atenção de Nagi.

— Ah, Mashiro-san! – Tadase exclamou admirado, enquanto Nagihiko espezinhava Yaya com o olhar, e ela, suando frio, tentava pensar em uma maneira de se livrar do interrogatório – Precisa de alguma coisa?

— A Yaya me chamou pra ver…

— Ssshhhhhh!!!!! A Yaya não chamou ninguém! Não fala nada, Rima-tan!! – ela interrompeu mais do que depressa.

— Que história é essa de câmeras, Yaya-chan? – Nagihiko voltou a perguntar, usando aquele olhar que lembrava Nadeshiko no Chara change. Era uma sorte que os charas já tivesses se dispersado, ou do contrário, seria outra cena de perseguição e violência no Royal Garden.

— Câmeras? Quem falou em câmeras? – ela replicou, rindo nervosamente e fazendo-se de desentendida como ninguém – Ah, olha só, uma sacola, tem doces aqui? – desviou o assunto, correndo até a sacola de Nagihiko que estava sobre a mesa. Tadase tentou impedi-la, mas ela não deu ouvidos, e enfiou as mãos dentro, tirando de lá seu conteúdo – Ah, são só roupas e…, AAAHHH!! UMA CUECA!!!!!!! – ela gritou, pegando a peça de roupa e chacoalhando-a no ar – Olha sóo, a Yaya achou uma cueca!!!!!

— Solte isso, Yuiki-san! – Tadase bradou, com o rosto escarlate berrante – São somente as roupas que o Fujisaki-san trouxe para me devolver…

— AH, então o Nagi usou as suas roupas de baaaixo, Tadaaase!!! – ela pareceu eufórica com a novidade, e riu ainda mais alto, correndo ao redor da mesa içando a roupa íntima como se fosse uma bandeira.

— Yaya solta isso já e me explica direito essa história de câmera! – Nagihiko segurou a fronte do nariz entre os dedos, como um adulto impaciente faz para uma criança incontrolável.

— Aaaah, mas a cueca não ficou pequena pro Naaaagi? – ela continuou sua excursão pelo jardim com a cueca, e parou bem em frente à Nagihiko, como se medisse ele e a peça com os olhos.

— Ah! – Tadase pareceu se dar conta de algo, e esquecendo brevemente do embaraço, virou-se para Nagi – A minha roupa de baixo não ficou muito apertada, Fujisaki-kun?? – ele perguntou repentinamente, preocupado apenas com o desconforto que o garoto pudesse por acaso ter sentido, e sem se dar conta da conotação que suas palavras desmedidas poderiam ter.

— Isso não tem como saber, não é? – Rima se pronunciou, já irritada com toda aquela agitação logo de manhã.

— A não ser que a gente visse o Nagi sem roupas! – Yaya brincou, fazendo uma veia saltar na testa de Nagihiko. No entanto, a brincadeira sem intenções de Yaya fez Tadase ficar inteiramente rubro, até a raiz dos cabelos, enquanto se lembrava de certos fatos passados. – OOH MY GOD! Não me diga que v-você já viu, Tadase?!!? – Yaya berrou de repente, sem deixar de notar a reação completamente acusadora do loiro.

— Pare de ser metida Yaya, devolva essa roupa, e fique bem quieta antes que eu…

— AAAAAAAAAAAHHHHHH!!!!!!!!!!! EU NÃO ACREDITOOOO!!!!!!!!!!– Ela gritou, o mais alto que seus pulmões podiam suportar. Apenas a reação dos dois já era o suficiente para ela ter uma confirmação, e então, começou a correr por todo o Royal Garden, com a cueca na mão. – A UTAU PRECISA SABER DISSO…. O MUUUUNDO PRECISA SABER DISSO!!!!!!!!!!!!!!

Nagihiko olhou preocupado para Tadase, achando que ele deveria estar cavando um buraco para se esconder naquele momento, e era exatamente nisso que ele pensava, com a face inteiramente rubra, e os olhos assustados mirando o vazio. Subitamente, ele soltou um lamento, e se agarrou à Nagihiko, escondendo o rosto em seu peito, enquanto murmurava baixinho “aah, hazukashii… hazukashii….”.

— NYAAAAAAAAAAAAAAAAAH – Yaya continuava a gritar ensandecida, balançando os braços e a cabeça como se fosse levantar voo. Sorrateiramente, Rima se aproximou de suas costas, e acabou com todo aquele tormento embocando um balde bem na cabeça da escandalosa ás. – Eeeei, quem apagou a luz. – Yaya se debateu por um momento, enquanto Rima se esforçava, na ponta dos pés, para manter o balde na sua cabeça.

— Arigatou, Rima-chan… - Nagihiko riu sem graça, afagando os cabelos de Tadase para consolá-lo de todo aquele constrangimento.

— Ei, me falaram que vocês tinham vindo para cá e… - Amu parou à porta, interrompendo sua fala assim que viu aquela cena. Por mais incrível que pareça, ela não conseguia ficar surpresa com aquilo. Tadase e Nagihiko se agarrando em um canto, Rima colocando um balde na cabeça de alguém, Yaya tentando se livrar, ainda chacoalhando uma cueca na mão… Amu suspirou, já cansada mesmo àquela hora da manhã – Vocês não tomam jeito mesmo, não é? – ela indagou, seriamente. Todos pararam o que estavam fazendo, para encará-la temerosos. Yaya espiou por uma fresta debaixo do balde, e Tadase virou um pouco o rosto, para olhar através dos braços de Nagi. – Você – ela apontou para Nagihiko, que engoliu em seco, endireitando o corpo – Deveria parar de distrair o Tadase, ele ainda tem as provas de recuperação hoje! E você! – ela virou-se para Tadase, que soltou Nagihiko e se recompôs também – Pare de se agarrar com ele pelos cantos e trate de estudar! E você, Rima! – Ela fitou zangada a Rainha, que desviou o olhar, contrariada – Colocar baldes na cabeça das pessoas não é a solução pra tudo no mundo! E você, Yaya… - ela baixou os ombros, decepcionada, e Yaya, retirando o balde, encolheu-se – Eu ouvi falar do canal que você tem no youtube… deveria ter vergonha de fazer isso com seus amigos! E onde foi que você arrumou essa… essa cueca?!

— Gomen, Amu-chii…

— Youtube…? – Tadase balbuciou, chocado e com medo, em uníssono com Nagihiko, que parecia mais irritado do que qualquer outra coisa.

— Não quero ouvir mais nenhuma palavra! – Amu vociferou, e todos se retesaram – Já para a sala de aula! – ela bateu o pé, e todos correram para a saída, o mais rápido que podiam. Amu começou a andar também, logo depois deles – Francamente, eles não têm jeito…

Tadase chegou até o prédio principal, indo para as salas de aula onde as provas de recuperação seriam aplicadas. Nagihiko e os outros tinham aula normal, e por esse motivo, eles tiveram que se separar nas escadas. O valete desejou boa sorte à Tadase, correndo logo depois para a sala de aula, antes que Amu (que parecia estar possuída por um espírito de Nadeshiko, colocando todos em ordem daquela maneira súbita) viesse dizer que ele estava distraindo Tadase novamente.

Na sala de aula, o valete tomou seu lugar ao lado da janela, sentindo-se um pouco solitário sem o loiro ao seu lado, e só conseguindo pensar se ele estaria indo bem durante a prova. A aula pareceu durar uma eternidade, quando finalmente o sinal para o almoço soou. Ele almoçou com Rima e Amu, conversando com as duas sobre liquidações das lojas da estação, e antes que percebesse, o almoço também já tinha terminado. Agora, ele pensou, Tadase deveria estar começando a fazer a segunda prova. Ele deveria estar cansado, já…

A outra etapa da aula pareceu passar um pouco mais rápido, e foi com alegria que Nagihiko saltou para fora da sala de aula. Queria correr para o terceiro andar, onde Tadase estava, e abraça-lo com força, depois de toda aquela semana longe dele… e o fato de que isso não seria possível de se fazer na escola, na frente de todos, nem passou pela sua cabeça. Amu foi mais esperta, e o segurou à tempo, sugerindo que fossem todos esperar por Tadase no Royal Garden. Ele deveria estar cansado, e certamente, ficaria feliz com um chá quentinho para tomar naquele frio.

Nagihiko aceitou o conselho, e eles encontraram Yaya no caminho, indo direto para o Royal Garden. Ele preparou cuidadosamente o chá, ainda nervoso para saber como Tadase tinha se saído. Impaciente, andava de um lado para o outro, com os braços cruzados.

— Pare de andar assim – Rima bradou, já esvaziando o bule antes mesmo de Tadase chegar – Está me deixando tonta.

— Você vai furar o chão desse jeito, Nagi… - Yaya observou, com as mãos ocupadas com os biscoitos, e feliz pelo nervosismo de Nagihiko ter tirado aquela história de câmeras e canal do YouTube da mente dele.

— Ah, eu não aguento mais! A aula já terminou, mas ele ainda não apareceu! – ele esfregou as duas mãos na cabeça, bagunçando os cabelos.

— Vai ver ele desmaiou, tendo uma crise de abstinência por causa do castigo  – Rima alfinetou, perfeitamente tranquila mesmo com o nervosismo perturbador de Nagihiko.

— Como você sabe sobre…? – Nagihiko não se lembrava de ter contado a ninguém sobre seu método de incentivo ao estudo para Tadase, mas não importava realmente como Rima havia chegado a essa informação (embora ele tivesse um bom palpite em mente).

— Nyaan~ o Nagi não parece um marido esperando sua esposa dar a luz? – Yaya quase se afogou com o chá ao rir da própria piada.

— Para de falar besteira, Yaya!! – Amu replicou, irritada, enquanto Rima disfarçava uma risada.

Mas Nagihiko, que era o alvo da brincadeira, nem pareceu reparar nisso.

— Aaah, vou lá ver por que ele ainda não veio! – ele bradou, sem aguentar mais a espera, e correu na direção da saída, antes que qualquer um quisesse impedi-lo.

Percorreu toda a extensão do pátio, com as longas madeixas revoando atrás das costas, e subiu as escadas pulando de dois em dois degraus. Quando enfim chegou ao terceiro andar, já estava sem fôlego.

Olhou ao redor, e não havia mais ninguém nas salas de aula, apenas algumas pessoas nos corredores se preparavam para sair. Procurou com atenção em cada uma das salas, até que notou em uma delas, uma cabecinha loira deitada sobre a classe, iluminada pela luz poente do sol. Sorriu para si mesmo, se aproximando cuidadosamente para não fazer nenhum ruído. Tadase ressonava tranquilamente, com o rosto repousando entre os dois braços. Seu semblante, virado para o lado da janela, parecia cansado, mas ainda era absolutamente adorável, e seus cabelos reluziam com a luz alaranjada, ficando com aspecto de ouro derretido.

— Você se esforçou bastante, não é Hotori-kun? – Nagihiko sentou na classe logo à frente, apoiando os braços em um canto da classe de Tadase, e acariciando os fios dourados com a ponta dos dedos – Desculpe por fazer você ficar nessa situação… mas eu não me arrependo de ter te distraído, dessa vez… - ele sussurrou, descendo os dedos pela testa de Tadase, passando pela sobrancelha, os olhos, o nariz, e então os lábios. Suspirou, sentindo seu coração se inflar com aquele sentimento confortável que era amar Tadase. Era tão simples e fácil agora… quase tanto quanto respirar. Devia ter sido dessa maneira desde o início, se ele não fosse tão cabeça-dura, e tolo, e cometesse tantos erros.  –… Mas agora eu vou fazer tudo da maneira certa… - Nagihiko disse para si mesmo, ficando de pé e apoiando um dos joelhos na cadeira. Inclinou-se sobre o adormecido Tadase, e depositou um inocente beijo no canto dos seus lábios, erguendo-se logo depois.

Sentindo o toque leve, Tadase estremeceu, e despertou. Levantou o rosto, confuso, e esfregou os olhos. Primeiro, fitou a janela, percebendo que havia ficado mais tempo na sala do que devia, e então, notou a presença de mais alguém. Ao ver Nagihiko na classe à frente, seus lábios se abriram em um sorriso, sonolento, mas muito contente.

— F-fujisaki-kun… eu acabei dormindo, sinto muito…

— Tudo bem. Você deve estar esgotado depois dessa semana inteira estudando. – Nagihiko sorriu, enquanto Tadase levantava-se, espreguiçando-se. – Mas… você ainda está de castigo, mesmo depois da prova?

— Sim… - Tadase pegou a pasta, e os dois começaram a andar juntos para fora da sala – Minha mãe disse que eu vou ficar até que as notas saiam, talvez até depois disso. – ele suspirou – Parece que nós não vamos poder sair até lá… E eu queria tanto saber para onde nós iríamos…

— É verdade – Nagihiko tentou não se mostrar desapontado, ou acabaria fazendo Tadase se sentir ainda mais culpado. – Mas ainda temos o Natal para passarmos juntos, e não falta muito!

— Ah! – Tadase abriu um sorriso, feliz só de imaginar como seria passar o Natal com seu namorado. Parecia até um sonho, ia ser o melhor natal de todos, com certeza. Subitamente, ele sentia que mal conseguiria aguentar até lá. – Eu estou ansioso por isso! Demo nee… Você vai voltar para casa comigo, depois de passarmos no Royal Garden…?

— Sinto muito, Hotori-kun, eu ainda tenho treino depois disso.

— E quando é o seu jogo?

— Ainda não sabemos. Precisamos esperar para ver qual serão os times classificados, e só então serão montadas as chaves.

— Entendo – Tadase baixou o olhar para a escada, enquanto a descia. – Eu queria poder ir assistir o seu treino, mas tenho que chegar cedo em casa…

Nagihiko afagou de leve os cabelos de Tadase, bagunçando-os, em uma tentativa de consolá-lo. Não poderiam ficar juntos agora, tampouco mais tarde, e dessa forma que iriam passar o seu aniversário de namoro. Tudo bem, o jeito era se conformar.

Quando enfim saíram na direção do Royal Garden, foram saudados por um vento congelante. Tadase se encolheu, tirando o cachecol vermelho da mochila e colocando-o no pescoço. Nagihiko reconheceu a peça, sorrindo para si mesmo, e desejou poder abraçar Tadase, para protegê-lo do frio durante o trajeto, mas, obviamente, esse desejo ficou apenas em sua mente.

Depois disso, os dois chegaram ao Royal Garden, e Nagihiko teve que preparar mais chá, pois Rima já havia acabado com tudo. Havia alguns poucos documentos a serem carimbados e lidos, mas Nagihiko fez questão de tomar conta deste trabalho para não sobrecarregar Tadase, que deveria estar completamente exausto. O loiro ameaçava cair no sono a qualquer momento, piscando e esfregando os olhos, afinal havia ficado acordado de madrugada estudando, e acordara muito cedo naquele dia.

Mesmo assim, pouco mais de meia hora depois, todos decidiram que já era hora de encerrar o expediente, pois estava ficando muito mais frio do lado de fora. Yaya estava animada com a perspectiva de terem neve em breve, embora Rima insistisse em acabar com a alegria da mais nova lembrando a ela que ainda estavam em novembro. Nagihiko não pode levar Tadase até em casa por causa do seu treino de basquete, e por isso os dois tiveram que se despedir mais cedo do que esperavam, com um singelo aceno de longe.

Tadase fazia seu caminho solitário até em casa, cortando o vento gélido, com apenas o cachecol vermelho como companhia. Acariciou a lã com carinho, distraidamente.

— Sinto sua falta… - ele sussurrou para si mesmo, cerrando os olhos escarlates, úmidos pelo vento frio. Já fazia mais de uma semana que não tinha nem uma conversa direito com Nagihiko, quanto mais poder beijá-lo ou acariciá-lo. E a tortura era ainda maior, por estar vendo-o todo dia e ainda assim, estar tão afastado. Era quase sufocante, a vontade que Tadase tinha de ficar de novo perto do seu amado, e poder tocá-lo livremente, sem restrições impostas pelo castigo, e sem preocupações de quem poderia estar vendo-os.

Com esses pensamentos, Tadase nem percebeu quando chegou à sua casa. Foi saudado por um animado Hotosaki, e brincou um pouco com ele, antes de entrar. Como esperado, sua mãe ainda estava de mau-humor, de modo que Tadase foi direto para o quarto, e só saiu de lá na hora do jantar, durante o qual Tsukasa fez questão de dizer que o professor de Tadase disse que ele provavelmente havia passado na recuperação com folga. Claro que a tentativa de ajudar o sobrinho não funcionou, e Tadase voltou para o quarto logo depois de terminar o jantar.

Olhou para as paredes do seu quarto, e entediado, sentou na cama. Kiseki veio voando mais uma vez, resmungando sozinho pelo fato de “Tadase ter sido capaz de tirar uma nota tão indigna”.

— Ninguém tem o direito de obrigar um rei a ficar encarcerado; mas dessa vez, devo admitir, você tem culpa, por ser tão pamonha, Tadase.  – Ele dizia. Andava desse jeito mau-humorado desde que soube da recuperação, e ainda mais por causa do castigo. – Ora, esquecer as suas obrigações por causa de um reles valete, francamente… Isso só vai atrasar o nosso caminho para a dominação mundial!

— Pensei que você gostasse do Fujisaki-kun, Kiseki – Tadase argumentou, rindo-se das preocupações tolas do seu chara – Ele não era a “rainha perfeita” que você sempre adorou?

Kiseki corou levemente com aquela lembrança. Havia se esquecido, por um momento, que o valete também era a ex-rainha.

— Isso não vem ao caso! Valete ou Rainha, ele está distraindo você da mesma forma…

— Não é culpa do Fujisaki-kun, Kiseki! – disse Tadase – A culpa é minha, por não ter conseguido me concentrar em nenhuma outra coisa além dele… - seu rosto ardeu, com a confissão – A-acho que eu não sei lidar direito com as prioridades… não tenho experiência com isso, afinal!

— Pois trate de ganhar mais experiência ou seja lá o que precise, para que isso não volte a se repetir! – Kiseki bradou, irritado, encerrando-se em seu ovo. Tadase concordou, nem ouvindo mais o que Kiseki dizia, e levantou-se, pegando um livro de cima da sua mesa. Folheou-o, e então, sentou novamente na cama, escorado na parede, começando a lê-lo.

Mal tinha avançado para o segundo capítulo, ouviu um barulhinho sutil de algo batendo no vidro. Ignorou da primeira vez, mas como o ruído insistia, levantou-se. Olhou para a janela, e ouviu o barulho mais uma vez, enxergando algo como uma pequena pedra batendo nela. Correu até a janela, abrindo-a. Lá embaixo, sorrindo para ele, estava Nagihiko. Tadase quase escorregou para fora da janela, com o susto, e seu coração acelerou rapidamente, alegre com a surpresa, mas ainda com medo de que alguém o visse.

— Mas o que…? – Nagihiko não o deixou terminar a pergunta óbvia, levando os dedos aos lábios em um sinal de silêncio, e piscando o olho matreiramente. Só então, Tadase reparou que ele tinha um fone de ouvido no pescoço, e ainda estava acompanhado de Temari e Rhythm. Tadase olhou para trás, temendo ver sua mãe aparecendo na porta a qualquer momento, e voltou a olhar para Nagihiko, como se perguntasse o que ele planejava fazer.

— O que você está fazendo aí, Tadase? – Kiseki, que estava em seu ovo até agora, apareceu – Aquele valete resolveu cantar de novo na sua janela? Pois diga a ele que não é hora de vir cantar na casa dos outros!

— Quieto, Kiseki. Fujisaki-kun está… fazendo alguma coisa… - ele estreitou os olhos, tentando ver além da escuridão do pátio da sua casa. Finalmente, conseguiu enxergar Nagihiko, movendo-se agilmente por entre os galhos da árvore mais alta, que ficava diretamente ligada ao telhado.  Ele subiu a árvore com tanta facilidade que Tadase mal pode o distinguir se movendo, e então, pulou silenciosamente, para a beirada do telhado, andando agachado até a janela de Tadase, que o acompanhava com os olhos, mal acreditando no que ele havia tido coragem de fazer.

— Boa noite, Hotori – Nagihiko sorriu brilhantemente, sentando-se no peitoril da janela. Tadase, que ainda estava apoiado nela, sorriu sem graça. Ia perguntar o que Nagihiko fazia ali, mas foi subitamente interrompido por um longo selinho de Nagihiko, que se debruçou sobre ele, ainda sentado na janela. Tonto pelo ato repentino, não conseguiu nem bem formar uma saudação coerente. O Chara Change de Nagihiko sempre tinha esse tipo de efeito sobre ele.

— Isso tudo foi ideia do Rhythm! – enquanto isso Temari explicava para Kiseki, um tanto estressada – Ele insistiu para que Nagi viesse e comemorasse o aniversário de namoro com Tadase de qualquer jeito. E no fim, ele acabou fazendo chara change, e aqui estamos… É claro que eu fui absolutamente contra isso! – ela exclamou, quase perdendo a compostura dessa vez. Kiseki, temeroso, nem se atrevia a interrompê-la – Só acompanhei esses dois inconsequentes por que fiquei preocupada com o Nagi. Se algum policial tentasse prende-lo por invadir a casa… ele precisaria de mim para lutar!

— V-você pretendia lutar com os policiais… - Kiseki e Rhythm se entreolharam, nenhum dos dois com coragem para rebater a afirmação da pequena, que voltou a observar Tadase e seu dono com refinada atenção.

— Por que você veio, Fujisaki-kun? É perigoso! –ralhou Tadase, sem muita convicção, sentindo o olhar penetrante de Nagihiko o analisando dos pés a cabeça, como se apreciasse a vista que tinha de Tadase, em suas roupas casuais.

— Não é óbvio? – ele se inclinou, cerrando os olhos ao chegar bem perto, mas sem de fato tocar no loiro. Suas respirações se misturavam, e a provocação desmedida só o deixou ainda mais embaraçado – Eu vim roubar você.

— R-roubar? Pare de fazer brincadeiras, Fujisaki-kun! – Tadase corou ainda mais, recuando um passo.

— Vem comigo, Hotori… - Nagihiko sussurrou, enrolando a mecha de cabelo mais comprida de Tadase entre os dedos, e fazendo-o aproximar-se mais.

— P-para onde? – ele indagou, quase em um sopro. Claro que ele iria sem pestanejar para qualquer lugar que Nagihiko pedisse, esquecendo-se completamente das provocações de segundos atrás, do castigo que ainda estava em vigor ou o que quer que seja.

— É surpresa. – ele soltou o cabelo loiro, pulando para dentro do quarto – Você vem?

— Claro! – Tadase assentiu, com o rosto muito corado. Olhou para si mesmo, envergonhado por estar apresentando-se com seus moletons velhos e puídos de usar em casa – Apenas, deixe-me trocar de roupa, e…

— Você está ótimo assim! – Nagihiko respondeu, segurando Tadase pelo braço antes que ele fosse em direção ao guarda-roupa. Com a outra mão, ergueu os joelhos do menor no ar, segurando-o no colo como uma princesa.

— E-eei, Fujisaki-kun, m-me c-coloque no chão! – Tadase relutou, enlaçando o pescoço de Nagihiko pensando que iria cair direto no chão a qualquer momento.

— Está tudo bem, Hotori! - Nagihiko bradou confiantemente, rodando Tadase no alto, girando ao redor de si mesmo.

— Kyaaa~- Tadase deixou escapar, ao se sentir girando, e se apertou ainda mais ao redor de Nagi – N-não faça isso!

— Eu não vou te deixar cair! Não confia em mim, Hotori?

— Confio… - ele baixou o olhar, relaxando um pouco nos braços de Nagihiko.

— Então vamos! – ele bradou, dirigindo-se para a janela, ainda carregando Tadase com certa facilidade nos braços. – Vocês, fiquem aqui cuidando de tudo! – ele virou-se rapidamente para os charas, que assentiram (Kiseki, à contragosto), e então segurou Tadase bem firme, pulando a janela. O ar frio da noite cortou o rosto de Tadase, mas diferente do que ele pensava, não estava com medo. Nos braços de Nagihiko, tudo parecia fácil e simples, e nada era capaz de amedrontá-lo.

Nagihiko avançou pelo telhado cuidadosamente, ainda sem fazer barulho, mas ao contrário do que Tadase previu, não foi na direção da árvore, mas pulou direto do telhado, com a ajuda do chara change para impulsioná-lo, indo pousar perfeitamente no jardim da casa dos Hotori. Tadase se controlou para não soltar um berro, com o susto de repentinamente se ver voando. Nagihiko o colocou de volta no chão, entregando a ele um par de tênis que ele nem havia reparado que o maior apanhara em seu quarto.

— Agora, temos que pular o muro – ele disse, e correu sorrateiramente na direção da alta parede que circundava o terreno. Virou-se de costas, e mirou Tadase com o canto dos olhos – Você sobe nas minhas costas, Hotori-kun – ele sorriu de canto, apontando para os ombros com o polegar.

— O q-que? Mas e você, como vai sair? – ele se preocupou. Nunca na sua longa vida de 13 anos havia pulado aquele muro, e a perspectiva de estar fazendo isso pela primeira vez o fazia sentir-se estranhamente agitado.

— Como acha que eu entrei, Hotori-kun? Eu consigo pular sozinho. – ele sorriu meio convencido – Agora anda, suba nas minhas costas, antes que alguém nos veja.

— Tudo bem… - meio incerto, Tadase andou até Nagihiko, tentando apoiar-se com as pernas nas costas dele sem machuca-lo. Com alguma dificuldade, conseguiu se posicionar nos ombros do maior, e desajeitadamente, içar-se até o alto do muro. Sentiu uma pontinha de orgulho de si mesmo por ter conseguido, e então pulou de volta para a calçada, do outro lado. Repousando encostada no muro, estava uma bicicleta, e ao lado dela uma mochila azul-marinho, que Tadase reconheceu como sendo de Nagihiko.

Poucos segundos depois, ele veio do alto, pousando com habilidade ao seu lado. Nesse mesmo momento, talvez devido á distância, o chara change se desfez, Nagihiko voltou ao normal. Pareceu que ia querer se desculpar, por um momento, mas desistiu ao ver como Tadase sorria, animado com a ideia de sair escondido como ele nunca imaginou que o loiro, sempre tão responsável e sério, poderia estar. Nagihiko estava transformando Tadase em um delinquente, que tirava notas ruins e fugia de casa durante a noite…

— Vamos logo, para voltarmos antes que alguém dê pela nossa falta – ele se apressou em dizer, erguendo a bicicleta do chão, e colocando a mochila na cestinha da frente.

— Nossa? – Tadase estranhou o uso do plural.

— Não foi só você que saiu escondido, Hotori-kun! – ele disse, sorrindo, e então subiu na bicicleta. Ajudou Tadase a se colocar no banquinho de trás, e ele mais do que imediatamente enlaçou os braços ao redor da sua cintura, escondendo o rosto no tecido do casaco que o valete usava, e aproveitando para sentir o seu cheiro. Estava sentindo tanta falta de poder ficar assim, perto de Nagihiko, que até mesmo um passeio de bicicleta já era o bastante para satisfazê-lo, por enquanto.

Nagihiko começou a pedalar, no início lentamente, acostumando-se com o peso extra, e então ganhando velocidade. Tadase o abraçava com força, cerrando os olhos e os dentes. Logo, eles já não estavam mais no mesmo bairro, embora Tadase não conseguisse identificar nada familiar pelos borrões que via passar por si através dos olhos semicerrados, que o ajudasse a se localizar.

— N-não vá tão rápido… - pediu, enquanto agarrava o casaco de Nagihiko com os dedos regelados.

— Nós temos que chegar logo, ou não vai dar tempo! – Nagihiko explicou – E abra os olhos, Hotori-kun! Você está perdendo uma vista linda!

Tadase fez como Nagi sugeriu, e abriu os olhos, um de cada vez, para a noite fria. Estavam no alto de uma colina, e abaixo deles, as luzes da cidade piscavam e cintilavam, como um tapete de estrelas aos seus pés. Tadase admirou-se, desviando o olhar da paisagem para o rosto de Nagihiko, que refletia as mesmas luzes ao virar-se para trás, e sorrir para ele. Sim, era lindo!

Mas ele não teve muito tempo para apreciar, pois logo Nagihiko tomou impulso e desceu a colina, ainda mais rápido do que antes. Tudo o que Tadase conseguiu fazer foi gritar, agarrando-se à Nagihiko e fechando novamente os olhos, enquanto sentia o vento varrer seus cabelos para trás, e também os de Nagihiko, que flutuavam acima da sua cabeça. Ele tremeu, sentindo as mãos geladas e o corpo tremendo na baixa temperatura. Haviam saído de casa e ele nem teve tempo de colocar um casaco.

Depois da colina íngreme, todo o caminho fora tranquilo, e Tadase sentiu que seria capaz de dormir, daquela maneira, sentindo o cheiro e o calor de Nagihiko tão próximos. Como continuava de olhos fechados, Tadase não via por onde eles andavam. Acomodara-se nas costas de Nagihiko, confortavelmente, e nem mesmo sentiu a passagem do tempo.

— Chegamos – ele anunciou de repente, acordando Tadase de suas distrações. A bicicleta parou, e o loiro abriu os olhos.

A sua frente, a escuridão se assomava. Não havia poste, casa nem qualquer outra coisa que produzisse luz. Nagihiko tinha em mãos uma lanterna, e isso era tudo o que iluminava o caminho, e permitia que Tadase enxergasse o bosque denso que se erguia logo à sua frente. Era uma pequena floresta nos arredores da cidade, formada principalmente por pinheiros, que obviamente não pertenciam àquela região, mas foram trazidos de longe. O lugar pertencera há muito tempo a uma madeireira, mas já fazia alguns anos que ninguém extraia nada dali, de modo que a floresta apenas se expandiu sozinha, cercada por altos muros de pedra, e um portão que não servia para mais nada, já que estava escancarado.

Tadase ia fazer algum comentário, mas seu queixo tremeu, fazendo bater os dentes, antes que ele pudesse dizer algo.

— Ah, você está com frio! Como eu fui descuidado! – Nagihiko bateu na própria testa, e então se apressou em tirar o próprio casaco, vestindo-o no menor, que já estava encolhido. Puxou o capuz, cobrindo também as orelhas regeladas, e abraçou-o com cuidado. Ele imediatamente sentiu-se melhor, acariciado pelo calor do namorado, e sorriu.

— Você não vai ficar com frio também?

— Eu vou ficar bem, tenho outro casaco– ele mostrou o suéter de lã que usava por baixo – e além disso, tenho você para me esquentar… - parecia que o lado provocador do chara change ainda deixava resquícios. Tadase sentiu seu rosto esquentar, e rapidamente, todo o frio que sentia se extinguiu – Agora vamos, não chegamos ao lugar da surpresa ainda – ele anunciou, pegando a mochila e colocando nas costas, enquanto deixava a bicicleta em um canto, perto da entrada. Os dois andaram, lentamente, abraçados um ao outro, com Nagihiko iluminando à tudo com sua lanterna. Tomaram uma estradinha que começava no portão, e seguiram, chegando rapidamente a uma clareira no centro de uma colina mais a frente. Aquele era o lugar que Nagihiko procurava, pois ele parou bem no centro da elevação, e olhou ao redor.

— Eu vinha nesse lugar, um pouco antes de ir para a Europa… para pensar… – Ele começou a falar, abrindo a mochila e tirando de lá uma espécie de toalha de piquenique, colocando-a sobre a relva baixa. Tirou lá de dentro também um cobertor, e uma térmica pequena. Sentou, e ergueu a mão para Tadase fazer o mesmo – Mas hoje… tem algo que eu quero muito ver com você, e aqui é o melhor lugar para isso, com certeza.

Tadase olhou ao redor. Dos dois lados, e atrás, o espaço de grama baixa onde eles estavam era cercado pela floresta negra, e Tadase não queria nem mesmo pensar no tipo de coisa que poderia estar escondida ali, mas á frente a clareira limpa se estendia indefinidamente ao longo da colina. Ao longe, era possível divisar as luzes da cidade, brilhando como vagalumes pequenos e juntinhos. A escuridão da noite os envolvia, mas a luz pálida da lua crescente, que os espiava claramente, sem nenhuma nuvem por perto, os deixava mais confortáveis.

— Quando você diz que vinha pensar… - Tadase iniciou timidamente, virando o rosto para o lado de Nagi.

— Sim, eu vinha pensar em você – Nagihiko respondeu sem titubear, enrolando Tadase com o cobertor, e trazendo-o para bem perto, até quase estar em seu colo. Abraçou-o com força, suspirando. – Naquela época… eu nem pensava na possibilidade de ser correspondido. E também, era complicado admitir que eu estava me apaixonando pelo meu melhor amigo… e que ainda era um garoto…

— Você sofreu muito por minha causa, não é Fujisaki-kun? – Tadase acariciou cada sílaba ao falar, erguendo as mãos debaixo do cobertor e passando levemente os dedos pela bochecha de Nagihiko, deslizando até o queixo e subindo novamente. Nagihiko estremeceu, com a lembrança e com o toque, e então, sorriu afavelmente. – Por favor, não pense mais nessas coisas. Elas são apenas recordações tristes agora, e nada mais. Por que eu estou aqui com você, e nada nem ninguém seriam capazes de acabar com o amor que eu sinto por você. – ele disse, aproximando-se, segurando a mão de Nagihiko, enquanto a outra mão ainda afagava seu rosto, calmamente.

— Hotori-kun… - murmurou Nagihiko, pensando em uma maneira de responder agora.

—Fujisaki-kun… eu ainda estou de castigo? – ele indagou sussurrando, baixando o rosto e erguendo os olhos.

— Não… eu planejava tirar você do castigo assim que a prova terminasse… - Nagihiko respondeu prontamente, semicerrando os olhos e se inclinando na direção de Tadase. – Então… - Soltou a lanterna, erguendo a mão e enlaçando a cintura do loiro, enquanto ele fechava os olhos e terminava com a distância entre eles, de uma vez por todas. Um calor cingiu o corpo de ambos, e eles sentiram que precisavam disso mais do que precisavam de ar. Tadase enlaçou o pescoço de Nagihiko, enrolando-se nos cabelos longos, e sentindo a língua passar pelos seus lábios, avançando logo depois para aprofundar o beijo, enquanto o abraçava com ambas as mãos.

Segundos depois, os dois se afastaram. Tadase repousou no peito de Nagihiko, e ele subiu o cobertor pelas suas costas, aconchegando-o. Tadase estremeceu, pela enorme felicidade que sentia inflar dentro do seu coração, e que se espalhava por todo o seu corpo, como se milhares de pequenas estrelinhas explodissem no seu peito e corressem até a ponta dos seus pés. Ele se aninhou a Nagihiko, fechando os olhos com um sorriso tolo no rosto corado.

— Ei, não durma, Hotori-kun. A minha surpresa ainda não aconteceu. – Nagihiko o cutucou na bochecha com o indicador, fazendo Tadase abrir novamente os olhos.

— Eu não estava dormindo… ah, qual é a sua surpresa!? – ele se agitou rapidamente, completamente curioso.

— Por enquanto, nós temos que esperar. Aqui, eu trouxe um pouco de café para tomarmos enquanto isso! – ele pegou a térmica, e mais duas canecas, e serviu – Sinto muito por não ter trazido nenhuma comida, mas eu tomei a decisão de… etto… roubá-lo… meio de repente, então não deu tempo…

— Está tudo bem… - Tadase riu, provando o conteúdo quente devagar, enquanto esquentava as mãos na xícara – mas… e a surpresa, o que é?

Nagihiko não respondeu, e olhou no visor do celular a hora. Assentiu uma vez, desligando a luz da lanterna, e os deixando no mais completo escuro. Tadase se encolheu.

— Olhe para o céu, Hotori-kun. – ele sussurrou no ouvido do menor. Quando ele olhou, soltou um arquejar de surpresa. Bem a sua frente, uma estrela brilhante passou rajando, em menos de um segundo, cortando o céu de um lado a outro. Logo depois, outra surgiu, e em seguida mais uma. Tadase mal podia acreditar no que seus olhos registravam, e sua boca abriu-se em espanto, ao ver aquilo.

— Fujisaki-kun! É uma chuva de estrelas!! – ele disse, num tom admirado e infantil, esticando o pescoço para o alto como se isso fosse ajudá-lo a ver melhor. Outra estrela cortou a noite, e ele soltou uma exclamação maravilhada.

— São meteoros… Eu sabia que isso ia acontecer essa noite e… queria ver isso com você, Hotori-kun. – Nagihiko contou, dando um beijo na bochecha de Tadase enquanto o abraçava com mais força.

— São lindos!! – Tadase exclamou, com os olhos brilhando de emoção, vendo as rajadas de luz que cortavam o céu noturno de minuto em minuto.

— Sabe… esses meteoros são o mesmo que estrelas cadentes, então… você pode fazer pedidos, Hotori-kun. – contou Nagihiko, com os olhos fixos no céu.

— Mesmo? – Tadase olhou para cima, esperançoso. Em todo aquele mar de felicidade que Nagihiko proporcionava em sua vida… havia uma coisa, apenas uma pequena coisa, que ele sentia estar faltando – O que você vai pedir, Fujisaki-kun? – Tadase perguntou primeiro, acariciando os braços de Nagihiko que circundavam seu corpo carinhosamente.

— Hm… acho que, enquanto eu estiver com você, não preciso de mais nada.  – Nagihiko disse, tendo a certeza de que isso faria Tadase corar, e enterrou o rosto no ombro do menor, beijando de leve seu pescoço, por baixo do cobertor – Eu dou o meu desejo para você, e então, com a força dos nossos dois desejos juntos, ele com certeza se realizará!

— Ah, então… - Tadase sentiu a responsabilidade aumentando naquele simples desejo, e olhando para as estrelas cadentes lá do alto, ele pensou bem, antes de falar. – Nee… Nagareboshi-sama… - Tadase chamou timidamente, entrelaçando os dedos com os de Nagihiko, em uma espécie de prece dividida – Se eu puder fazer somente um pedido… a única coisa que eu quero… é poder estar com Fujisaki-kun todos os dias, e sem precisar esconder de ninguém o que eu sinto por ele. Eu quero poder dizer a todos que eu o amo, sem medo, e poder dividir essa alegria imensa que ele me faz sentir com toda a nossa família. Isso é tudo o que eu peço, Nagareboshi-sama… onegai, atende o meu pedido… - Tadase baixou a voz até quase um sopro, enquanto virava-se de frente para Nagihiko. Dos seus orbes escapavam as lágrimas brilhantes, escorrendo pelo rosto pálido. Ele notou que Nagihiko também estava com os olhos marejados, e eles se abraçaram profundamente, com Tadase soluçando em seu peito.

— Calma, calma, meu amor… - Nagihiko entoou, deixando as suas próprias lágrimas escorrerem pelo rosto também – Eu vou… eu vou com certeza… fazer isso acontecer. Não chore mais, não chore… - ele acariciava as costas de Tadase, o sentindo tremer, fragilmente, em seus braços. – Eu vou pensar em um jeito de contar pra todos, e nós vamos poder compartilhar a nossa felicidade com todos eles, está bem? Com certeza, eu vou fazer isso acontecer. Você não confia em mim? – ele afastou Tadase, apenas para dar um beijo em sua testa, e enxugar as suas lágrimas. Tadase ergueu uma das mãos, secando também as lágrimas de Nagi. – Eu disse a você. Mesmo que eu tenha que lutar contra todo o mundo, para estar do seu lado, eu vou fazer…

— M-mas… e se eles não nos aceitarem? – Tadase murmurou num fio de voz, se recusando a acreditar naquela possibilidade.

— Então eu faço como hoje. Eu roubo você. – Nagihiko sorriu de canto, e Tadase não conseguiu fazer outra coisa além de sorrir embaraçadamente em resposta. Nagihiko o abraçou, inclinando a cabeça até encaixar seus lábios em um delicado beijo – Eu vou te fazer feliz, Hotori-kun, não importa o quê. Esse é o meu desejo para a Estrela Cadente, então. Fazer você feliz. – ele disse, e se aproximou para outro beijo, apaixonado e necessário.

As estrelas continuaram a cair, ao fundo. Enrolados no cobertor como se estivessem em uma base secreta, um refúgio de tranquilidade, livre de todo medo e toda a angústia, Nagihiko e Tadase mataram a saudade que sentiam um do outro.

O futuro se assomava a frente deles. Escuro e assustador, como a floresta que os rodeava. Mas só havia os dois naquele mundo azul, iluminado pelas estrelas que caíam. Não temiam o desconhecido, o destino assustador que não tinham como saber como seria… pois, desde que estivessem juntos, podiam enfrentar qualquer coisa. Nagihiko tinha a certeza de que seria capaz de derrubar qualquer obstáculo com uma só mão; se tivesse Tadase, segurando a outra.


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Notas finais do capítulo

Nyaaan~ Shiroyuki desuu~~
Capítulo enorme, eu sei... mas não resisti! Esse capítulo é um dos meus favoritos, tenho que admitir... Eu não consegui deixar o Tadase de castigo... é muito moe para eu aguentar kkkkkkkkkkkk e Nagi quase fraquejou nee...
Como vocês podem perceber, eu adoro esses capítulos cheios de drama, e tristeza... awn~ apesar de sentir muita peninha...
Boom, tenho que ir~ oyasumi!!
Não se esqueçam dos reviews *u*



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