Na manhã seguinte Nagihiko e Tadase foram juntos pra escola mais uma vez. Isso porque o Valete tinha passado a noite na casa do loiro, por insistência da mãe dele. Como suas roupas tinham demorado pra secar depois do incidente com Hotosaki, ele acabou pegando uma muda de roupas emprestada de Tadase (incluindo até mesmo a roupa de baixo, o que certamente aumentou o constrangimento entre os dois) e acabou concordando em ficar até a hora em que suas roupas secassem. Quando isso aconteceu, já era noite, eles já tinham até jantado, então a mãe do loiro acabou insistindo que o garoto ficasse por ali mesmo. Nagihiko se perguntava se a mulher apreciaria tanto assim a sua companhia se sousesse o que ele andava fazendo com o único filho dela, mas logo forçou-se a não pensar nisso agora. Eles teriam prova naquele dia, e precisavam se concentrar para tirar uma nota boa. Afinal, como diria Kiseki, seria imperdoável se um Guardião, que deveria servir de exemplo para os outros alunos, fosse reprovado na prova.

– Nee Fujisaki-kun... você pode ir até a minha casa depois da escola de novo hoje? - Tadase pediu timidamente depois de alguns minutos andando em silêncio com ele. Gostaria de ter segurado a mão de Nagi para enfatizar o pedido, mas como estavam no meio da rua, isso não seria possível
– Humm... eu teria que avisar minha mãe primeiro, mas se ela me liberar do ensaio, não tem problema - o maior respondeu - Tenho que devolver suas roupas tamém, não é... todas elas... - ele acrescentou baixinho, levando a mão ao quadril sem nem mesmo perceber. Ainda estava usando roupa de baixo de Tadase, pois a sua tinha ficado em um estado tão crítico que não poderia ser reaproveitada e acabou indo pro lixo. Tadase corou furiosamente ao se lembrar disso, e desviou os olhos para o lado depressa. Ao perceber isso, Nagihiko acrescentou - Eu... a-acho que vou passar em casa primeiro e trocar de roupa... p-pode deixar que vou devolvê-la lavada Hotori-kun
– Ahh, não precisa! - Tadase apressou-se a dizer, voltando a encará-lo com o rosto em chamas. Aquilo era sem dúvida embaraçoso, e um tanto quanto sugestivo, mas ainda assim, de certa forma, não o incomodava. Na verdade, ou Tadase estava ficando maluco, ou por um instante fugaz ele pareceu sentir inveja daquela cueca - Isto é... etto... v-vamos falar disso depois, agora precisamos nos apressar ou chegaremos atrasados! - ele tornou a desviar o olhar e apertou o passo à caminho da escola, com Nagihiko o seguindo.

Assim que conseguiram driblar a costumeira euforia matinal das alunas ao vê-los, Tadase e Nagihiko dirigiram-se para sua classe assim que chegaram na escola, revisaram a matéria por mais alguns minutos, até que Nikaidou adentrou a sala, e mandou que todos guardassem seus livros e cadernos. Os alunos obedeceram, e o professor começou a distribuir as folhas com a prova. Assim que terminou de preencher o espaço com seu nome e classe, Tadase não sabia mais o que escrever. Leu todas as perguntas, e se lembrava de ter estudado sobre elas, algumas mais do que outras, mas não fazia idéia de como responder nenhuma delas. Olhou para os lados, e viu os demais alunos concentrados, respondendo suas provas, alguns se descabelando ao tentar lembrar da resposta, mas ainda assim respondendo. Amu era uma que estava tentando colar da colega à sua frente, esticando o pescoço com medo de que Nikaidou notasse, mas ele estava concentrado demais na revista sobre robótica em suas mãos para notar isso. Rima também colava descaradamente, recebendo a resposta dos seus "escravos" que a rodeava. Imaginou se Yaya também estaria colando lá na classe dela, e concluiu que muito provavelmente sim.

Timidamente, olhou para o seu lado direito, e viu Nagihiko também concentrado, respondendo as questões de sua própria prova, com um olhar determiando em seu rosto, tanto que fazia seus orbes dourados faiscarem de concentração. Os cabelos longos esvoaçavam para trás de acordo com o movimento do vento que entrava pela janela aberta, com uma mecha arroxeada caindo por cima de seus ombros. Tadase se perdeu por alguns segundos admirando aquele rosto delicado do maior, perguntando-se vagamente como Nagi conseguia ficar tão concentrado na prova depois de tudo o que eles tinham feito juntos ontem, até que Nagihiko pareceu sentir seu olhar insistente e o olhou de volta, com um ponto de interrogação na cabeça, e Tadase desviou os olhos dele, corando furiosamente, e os baixando de volta para sua própria prova. O que ele estava fazendo, desse jeito parecia que Tadase queria copiar as respostas da prova dele! O que não lhe pareceu uma idéia tão ruim assim afinal, já que ele realmente não sabia nada. Mas não, isso era errado, Tadase jamais poderia fazer algo tão desonroso quanto colar na prova. Podia até ouvir Kiseki dizendo "Isso é tão indigno para um Rei!". E era mesmo.

Olhou de soslaio para Nagihiko novamente, e viu o namorado voltando a atenção de volta para sua prova, seus orbes dourados movendo-se enquanto ele lia a próxima questão. Um raio de sol refletia-se naquela pele alva da qual apenas Tadase tinha o privilégio de desfrutar. Quando se lembrou de que ele realmente tinha feito isso na noite passada, ao invés de estudar para a prova como tinha sido planejado, corou ainda mais intensamente, e baixou os olhos, envergonhado. Ao fazê-lo, seu olhar desviou-se do rosto para o quadril do Valete, e antes que pudesse controlar o rumo de seus pensamentos, Tadase lembrou-se do banho que os dois tomaram juntos no dia anterior. Mais uma vez ele perguntou-se por um breve momento como raios Nagi conseguia se concentrar na prova quando ele mesmo estava nesse estado caótico, com todos os seus pensamentos voltados para o Valete, mas esse pensamento logo se perdeu. Recordou como tinha visto o corpo surpreendentemente forte do maior ontem, sem nada o escondendo, completamente como veio ao mundo. E pra completar, agora Nagi estava usando uma cueca dele. Se considerar que a idéia de que "beijo indireto" se aplica também á outras coisas além do beijo, como roupas por exemplo, significava que, quando Tadase usasse aquela cueca de novo, seria a mesma coisa que estar tocando no...

– Aaahhhhhhh!!!!!!!! - antes que percebesse o que estava fazendo, Tadase levantou-se, berrando, e cobriu o rosto rubro com as mãos de tanta vergonha que sentia com o rumo que seus pensamentos tomavam. Vários segundos depois, quando tinha se recuperado do choque de ter descoberto que até mesmo ele possuia pensamentos tão imorais dentro de sua cabecinha loira, ele olhou para os lados, meio atordoado, e viu que a classe inteira o encarava agora, incluindo Nikaidou
– Tem alguma coisa que você queira compartilhar com o resto da classe, Tadase-san? - o homem indagou, erguendo uma sombranchela, irritado por ter tido que interromper sua leitura sobre robôs
– N-Não... não é nada, sensei. Eu só... err... m-me esqueci de colocar meu nome na prova e me assustei, foi só isso - Tadase murmurou de volta, sentindo-se patético. Ouviu algumas risadinhas abafadas dos colegas, e voltou a se sentar, o rosto queimando de vergonha, tanto que poderiam fritar um ovo na testa dele agora mesmo. Percebeu que Nagihiko também o encarava, com o semblante preocupado, e corou mais ainda. O que o Valete diria se soubesse que ele andava tendo tais pensamentos indecentes sobre ele?! Nikaidou resmungou alguma coisa sobre prestar mais atenção e fazer menos escândalo, e voltou a se concentrar na sua leitura sobre robôs.

Aquilo era uma completa e total mentira. Na verdade o nome era a única coisa que ele tinha escrito em sua prova até agora. Assim que o ataque de vergonha se dissipou um pouco, ele tomou coragem para olhar para o relógio pendurado na parede atrás de Nikaidou. Faltavam apenas dez minutos para acabar a prova. Conteu-se por pouco para não soltar outro berro e começou a escrever febrilmente na prova, mal se se preocupando se suas respostas estavam ou não corretas, de tanto que o pensamento de entregar uma prova em branco o apavorou.

Mal acabou de rabiscar a última linha, e o sinal tocou, indicando que a prova chegara ao fim. Nikaidou finalmente largou sua revista e caminhou por entre as mesas, recolhendo as provas, e dizendo que anunciaria o resultado após o intervalo. Os alunos em geral saíram sorridentes e se espreguiçando, aliviados de finalmente terem terminado com aquela tortura. O Rei, por outro lado, estava cabisbaixo, se arrastando até a porta, com a certeza de que tinha errado tudo. Quem fosse mais atento veria até uma nuvem negra pairando sobre a cabeça dele, e tudo o que Tadase queria agora era encontrar algum lugar deserto e silencioso para se refugiar, talvez colar cogumelos na parede, e acabou indo parar no terraço da escola, já que poucas pessoas iam no terraço naquele horário.

– Você está bem Hotori-kun? - a voz cálida e macia de Nagihiko invadiu seus ouvidos, despertando o loiro de seus devaneios depressivos. Ergueu os olhos a tempo de ver o Valete andando na direção dele e se sentar ao seu lado, recostando-se na mesma parece que ele. Apenas a presença de Nagihiko já era capaz de fazê-lo se sentir melhor, como se tivesse acabado de comer um delicioso bolo de chocolate com cauda de cereja - Você está com uma cara estranha desde que a prova começou... está tudo bem?
– E-Estou bem... é só que... eu acho que não fui muito bem na prova - ele confessou, encolhendo-se ainda mais, os joelhos dobrados junto ao peito em posição de "bolinha" - Na verdade tenho certeza de que não fui bem, devo ter errado tudo
– Errado?! - Nagihiko repetiu meio incrédulo - Mas não pode ser... nós estudamos aquela matéria ontem, você não se lembra??
– Lembro de termos estudado, mas... - ele baixou a voz, corando um pouco - M-Mas acontece que a memória do que fizemos ontem à noite, depois do banho... e também do próprio b-banho em si... está muito mais vívida na minha mente do que a memória do que estudamos
– Ah... - Nagihiko também corou, e desviou os olhos, sem saber o que dizer. Nem em um milhão de anos esperava que Tadase dissesse uma coisa dessas - Bem... n-não fique assim, Hotori-kun, você sempre foi um ótimo aluno, aposto que se saiu bem. Isso é apenas o nervosismo costumeiro antes de receber as notas
– Eu sei, mas... eu realmente não sabia essa matéria - o loiro contou - Não estudei direito, e sempre que pegava os livros pra revisar a matéria, meus pensamentos se perdiam, e... q-quando percebia, eu não estava estudando nada, estava apenas pensando em... em v-você
– Hotori-kun... - Nagihiko sentiu uma estranha mistura de alegria e culpa. Por um lado, sentia uma forte chama se acender em seu peito de tão feliz que estava em saber que o loiro pensava nele dessa forma mesmo quando não estavam juntos. Mas, por outro, não queria que Tadase fosse mal nas provas, e seria sua responsabilidade se isso acontecesse
– Me desculpe Fujisaki-kun! - Tadase cobriu o rosto com as mãos, terrivelmente envergonhado, e um pouco culpado também - Mesmo você tendo me ajudado com os estudos, ainda assim é bem provável que eu tenha ido mal na prova... eu fiquei pensando besteira ao invés de me concentrar em lembrar das respostas certas, e não dei valor aos seus esforços pra me ensinar... me desculpe, eu sinto muito, Fujisaki-kun!
– Não se preocupe... tenho certeza de que você acabou indo bem na prova, só está nervoso - ele tentou tranquilizar o menor, passando os dedos distraidamente por uma mecha loira que caía sob os olhos escarlates do Rei - E, mesmo que você tenha se saído mal na prova, ainda pode fazer a recuperação, e dessa vez sim, nós estudaremos com mais afinco. Nem que eu tenha que te castigar e te deixar sem isto aqui até você tirar uma nota boa - ele passou as mãos pelo próprio corpo de um jeito incrivelmente convencido que certamente faria Rhythm se orgulhar. Tadase estremeceu diante daquela ameaça, sentindo que agora sim tinha um incentivo mais poderoso para fazê-lo estudar - Mas, por enquanto... você pode disfrutar disso o quanto quiser - ele abraçou Tadase, decidido a fazê-lo se sentir melhor e esquecer aquelas preocupações que Nagi acreditava serem sem fundamento.

Antes que Tadase se desse conta do que estava acontecendo, Nagihiko o puxou para mais perto, e selou seus lábios nos dele. O Rei levou alguns segundos para assimilar a situação, e corou ainda mais quando se deu conta do que estava acontecendo. Tadase assustou-se com a atitude do maior, era tremendamente arriscado e perigoso fazer aquelas coisas na escola afinal onde qualquer um poderia flagrá-los a qualquer momento, mas suas bocas se encaixaram tão perfeitamente, que se esqueceu de tudo. Abriu seus lábios e deixou que a língua quente do mais alto entrasse em sua boca. Aquele gosto doce era tão tentador que o fazia quer senti-lo ainda mais profundamente, levando instintivamente sua língua a acariciar a do maior, em uma dança deliciosa.

Tadase sentiu as mãos velozes do Valete percorrerem seu corpo e apertar o abraço em sua cintura, enquanto tentava intensificar o beijo. Nagihiko não perdeu tempo e começou a explorar cada canto da boca do Rei com a língua, arrancando gemidos involuntários do loiro. Tadase atirou seus braços ao redor do pescoço dele, agarrando-se em seus cabelos. Ele adorava aqueles cabelos compridos e macios, e sempre aproveitava a oportunidade de brincar com eles cada vez que tinha a chance . Sentiu uma das mãos do Valete soltá-lo do abraço e voltar a percorrer seu corpo, veloz e experiente, entrando por debaixo da camisa e tocando sua pele. Sentiu um arrepio percorrer seu corpo, de cima a baixo ao sentir seu amado tocando-o daquela maneira. Deixou escapar outro gemido, dessa vez mais alto, e apertou os braços aos redor do pescoço de Nagihiko, numa tentativa inútil de fazer parar aquela mistura de sensações que invadiam seu corpo. Perguntou-se vagamente se o garoto ainda estaria respirando, sendo que ele apertava tão forte seu pescoço.

A resposta pareceu vir logo, pois, poucos segundos depois, Nagihiko deu um jeito de intensificar ainda mais o beijo. Entrando em um ritmo voluptuoso, as línguas brigavam por espaço, ora na boa do Rei, ora na boca do Valete. Por vezes, Nagihiko mordia levemente a língua de Tadase, o fazendo soltar baixos gemidos. Aquela dança sensual fazia com que Tadase sentisse seu corpo vibrar e esquentar a cada segundo. Só provava de algo como aquilo quando estava com Nagihiko, e mesmo não tendo tanta experiência assim no assunto, tinha absoluta certeza de que não poderia fazê-lo com mais ninguém além de Nagi. O maior escorreu as mãos pelas costas de Tadase, apertando e tocando tudo o que podia, sentindo o corpo do menor se arrepiar com cada toque. O Rei lançou uma das mãos aos cabelos longos escuros com um pouco mais de força, trazendo-o para mais perto de si, enquanto a outra tentava, de forma atrapalhada, desabotoar a camisa do uniforme escolar que ele usava. Conseguiu abrir os dois primeiros botões e afrouxar a gravata, mas assim que sentiu o maior mordiscando sua língua, soltou um gemido particularmente alto, esquecendo-se completamente do que suas mãos estavam fazendo.

O menor se agarrava ao corpo do maior, perdido em meio aos gemidos. Sentiu suas pernas cederem e se não fosse pelos braços em volta de sua cintura, já teria cedido e caído esparramado no chão há tempos. Ao ver que Tadase já mal conseguia sustentar-se por si só , Nagihiko inclinou o corpo para frente, obrigando o loiro a se deitar, e caindo por cima dele, sem interromper o beijo nem uma única vez. Nagihiko conseguiu tornar o beijo ainda mais intenso e sensual, o que arrancou exclamações cada vez mais desmedidas do Rei. As mãos do Valete agora adentravam a camisa do mais baixo, tocando seu tórax e abdômen, realizando uma verdadeira excursão pelo corpo de Tadase.
Depois do que pareceu uma verdadeira eternidade, o oxigênio finalmente começou a fazer falta, e Nagihiko enfim o soltou, encerrando o beijo. Um pequeno fio de saliva ainda ligava a boca dos dois.

Nagihiko se sentou primeiro, um tanto ofegante, tentando recuperar o ar que agora fazia falta em seus pulmões. Tadase, por outro lado, não se deu ao trabalho de fazê-lo, e apenas ficou lá esparramado no chão, arquejando, e puxando com força o oxigênio para dentro do corpo.

– Não se esqueça, Hotori-kun... se você realmente tiver ido mal na prova, terá que ficar sem isto - Nagihiko falou depois de algum tempo, quando finalmente tinha recuperado o fôlego. Tadase ficou alguns segundos perguntando-se do que raios ele estava falando, visto que, depois disso tudo, ele já tinha se esquecido completamente da prova - Será um castigo caso você tenha tirado uma nota ruim, para que você estude devidamente da próxima vez. Mas eu acho que isso não será necessário... tenho certeza de que você tirou a nota máxima, como sempre faz
– F-Fujisaki-kun... - a frase de Tadase foi interrompida pelo sinal que tocava ao longe, anunciando o fim do intervalo
– Vamos. Temos que voltar pra sala - Nagihiko pôs-se de pé e estendeu uma mão para Tadase, ajudando-o a se levantar. O loiro a aceitou, e juntos eles seguiram de volta para a sala de aula.

Ao chegarem na classe, as previsões de Nagihiko se provaram completamente erradas. Tadase tinha tirado a pior nota de toda sua vida, e acertara somente duas questões.

– E então, como foi? - Nagihiko perguntou baixinho após Nikaidou ter devolvido as provas. Ele tinha errado algumas também, mas tinha conseguido ficar acima da média, então não estava preocupado
– Eu... vou ter que fazer a recuperação - Tadase sussurrou, ainda de queixo caído, os olhos pregados na própria prova repleta de "Xises" marcando suas respostas erradas, tanto que parecia um festival de Batsu Tamas, só que vermelhos ao invés de pretos. Quando percebeu que Nagi tentava espiar sua prova para saber que nota ele tinha tirado, apressou-se a dobrá-la e a enfiou desajeitadamente no caderno - Não olhe! Eu... n-não quero que você veja o quanto eu sou estúpido...
– Não diga isso, Hotori-kun! - Nagi exclamou, mais alto do que pretendia, atraindo os olhares das pessoas mais próximas
– Você também tem algo que queira compartilhar com a classe, Nagihiko-san? - Nikaidou perguntou lá de sua mesa, erguendo uma sombrancelha pra ele
– Não... n-não senhor - Nagi abaixou a cabeça, um pouco corado. Mais risadinhas dos alunos encheram a sala, e depois que Nikaidou os mandou calar a boca e todos se aquietaram, Nagihiko sussurrou para o loiro ao seu lado - Não fale desse jeito, você não é estúpido. A culpa disso é minha, eu tomei muito a sua atenção e o seu tempo, e por isso você não pôde estudar direito
– Se fosse assim então você também teria ido mal na prova, já que eu também tomei toda a sua atenção e o seu tempo, não acha? - Tadase argumentou
– É... b-bom, isso é verdade, mas... - Nagihiko titubeou, sem saber como rebater aquele argumento - B-Bem, de qualquer forma, você ainda pode fazer a recuperação, nem tudo está perdido ainda
– Sim... cara, minha mãe vai me matar, já estou até vendo - Tadase cobriu a cabeça com as mãos, completamente desolado. Nagihiko queria abraçá-lo e consolá-lo, mas estavam em uma sala de aula repleta de pessoas, ele não poderia fazer isso agora. Parte da frustração de Tadase passou para ele, só que por motivos diferentes. Não queria esconder isso do mundo, e nem sabia por quanto mais tempo aguentaria ter que mentir assim e fingir que ele e Tadase eram apenas amigos. No entanto, o receio da reação de seus pais, do resto da escola, e de todas as outras pessoas caso descobrissem que ele e Tadase estavam namorando, era muito, muito pior.

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Assim como Tadase imaginava, sua mãe ficara terrivelmente decepcionada por ele ter ido mal na prova. Tinha colocado o garoto de castigo até a próxima encarnação. E, naturalmente, não deixaria que Nagihiko passasse a noite na casa deles de novo. Na verdade proibiu qualquer visita, telefonema, ou qualquer outro contato com seus amigos até que ele fizesse a recuperação da prova, e se ele tirasse uma nota baixa de novo, podia contar que o castigo seria muito pior do que isso.

– Gomen... parece que você não vai poder ficar hoje - Tadase falou cabisbaixo, no portão de casa. Nagihiko o tinha acompanhado até lá, e sua mãe estava na porta de casa, observando os dois de cara amarrada e batendo o pé impaciente enquanto eles se despediam
– Ah, bem, era o esperado, eu acho... - Nagihiko coçou a cabeça sem graça, fingindo não se importar - Bem... eu devolvo suas roupas amanhã então, quando nos vermos na ecola. Você... vai pra escola amanhã, não vai??
– Ah sim, com certeza... minha mãe jamais me deixaria faltar depois dessa nota - ele respondeu tristonho
– Não fique com essa cara, Hotori-kun... estude com mais afinco dessa vez, e tenho certeza de que vai conseguir passar na recuperação - ele tentou encorajá-lo, sem sucesso - E... lembre-se do que eu disse no telhado da escola hoje. Não é só a sua mãe que o colocou de castigo, viu?!
– O que?! F-Fala sério sobre aquilo Fujisaki-kun?! - Tadase ergueu os olhos para ele com espanto
– Sim, muito sério. Se isso for preciso pra você tirar uma nota melhor, então é isso que faremos! - ele respndeu, tentando parecer determinado. Na verdade Nagi não pretendia cumprir aquela ameaça, isso também seria uma tortura para ele, e tudo o que ele queria era assustar um pouco Tadase para que ele se empenhasse mais. No entanto, visto que o loiro estava proibido de sair de casa e de falar com seus amigos (até com aqueles que eram bem mais do que amigos), ele não via outra opção além de cumprir a ameaça - Demo... não se preocupe tanto com isso. Depois que as provas acabarem e você fizer a recuperação... eu vou recompensá-lo por esse tempo, está bem? - ele acrescentou tão baixo que Tadase duvidou se tinha ouvido direito - Então... até amanhã, Hotori-kun. E boa sorte com o castigo
– H-Hai... nos vemos na escola - ele acenou para o maior, ainda meio chocado de que ele estivesse realmente cumprindo aquela ameaça, e mais ainda com o que ele dissera depois. Gostaria de ter dado um longo beijo de despedida em Nagi ao invés de um simples aceno, mas sua mãe ainda estava de olho, então isso estava fora de questão. Ele fechou o portão assim que Nagihiko saiu, e dirigiu-se para dentro de casa, arrastando os pés cabisbaixo, com a sensação de que esse seria o pior e o mais longo castigo de toda a sua vida.