Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 52
Capítulo 52 - Aikotoba


Notas iniciais do capítulo

Aikotoba - Sakura Merry-men
http://letras.mus.br/sekai-ichi-hatsukoi/1988097/



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Desde a manhã, Nagihiko permaneceu sentado no mesmo lugar na varanda da sua casa, vendo a chuva cair torrencialmente no jardim, sem parar nem por um momento. O barulho da água corrente, que deveria ser calmante, só deixava Nagihiko ainda mais impaciente. Ele estava confuso, atormentado… E não importasse quantas vezes tomasse o chá que sua mãe empurrava para ele, ou quantas vezes enfiasse a cabeça embaixo do edredon e desejasse sumir do mundo, isso não melhorava. Estava em um estado catatônico, que variava rapidamente do choque total, passando pela mais profunda depressão, e chegando a uma inquietação perturbadora. As palavras de Tadase ainda ecoavam soltas em sua mente, e cada uma delas era como um soco dado bem no seu estômago. Ele nunca havia visto Tadase tão alterado, levantando a voz daquela maneira para ele.

Nagihiko tocou a bochecha onde Tadase havia desferido o tapa. Tadase também nunca havia batido nele… na verdade, sabia que Tadase nunca havia batido em ninguém, nem em uma mosca sequer. Então, não entendia que tipo de sentimento aterrador havia o motivado a partir para a violência. Apenas isso já era um indício de que as coisas não se ajeitariam tão rápido.


Rhythm e Temari haviam tentando falar com ele, é claro, mas escolheram a hora errada. Logo que ele chegou em casa, completamente ensopado, com os olhos vermelhos de chorar, e com a irritação e a raiva fazendo ferver o seu sangue. A garota, Haruka, não estava mais lá, e isso era realmente bom, pois Nagihiko não sabia o que era capaz de fazer caso a visse novamente. Ao verem o dono chegando daquela forma, ainda mais depois de ter acabado de ficar doente, os dois Charas se apressaram em perguntar o que acontecera, mas Nagihiko gritou com eles, de uma forma que nunca havia feito, e depois de dizer coisas horríveis, se trancou em seu quarto. Claro que ele se arrependeu de brigar com os Shugo Charas, que nada tinham a ver com aquilo. Assim como tinha se arrependido de dizer aquelas palavras cruéis para Tadase, no exato momento em que as proferira. Mas não era sempre assim? A vida dele era resumida em arrependimentos, um atrás do outro, empilhando-se, misturando-se uns aos outros, crescendo… até que se tornasse impossível até mesmo de respirar.

Nagihiko julgava estar acostumado, ou pelo menos queria estar. Depois de tantos meses de felicidade plena, em que ele se permitiu esquecer a dor que já havia sentido, ele percebeu que esquecer foi um erro primordial. Ele não deveria ter esquecido, não deveria ter acreditado. Aquela felicidade não fora real, nada daquilo havia acontecido de fato. E mesmo que fosse verdade, Nagihiko havia acabado de destruir tudo o que possuía com apenas algumas poucas palavras.

Era impressionante o poder que as palavras possuíam. Apenas um par delas, e já se pode mudar completamente a vida de alguém. E com somente algumas poucas, ditas no momento certo… você pode criar um mundo tão belamente ilusório, que qualquer escuridão se torna pequena e esquecida, lá no fundo… “Eu te amo”… Tadase só precisou dizer isso, para que Nagihiko provasse daquela alegria tão plena da qual ele nunca pensou que fosse merecedor. E depois disso… apenas mais outras palavras… “não precisamos mais ficar juntos”… e tudo isso acabava assim tão rápido? Era mesmo tão simples?

— Não! Isso não está certo… - Nagihiko cerrou os dentes, encolhendo as pernas, e sentiu que mais uma onda de choro estava se aproximando. Se tivesse sorte o bastante, sua mãe não viria para fora com essa chuva, e ele poderia ficar em paz. Seus olhos arderam, já cansados de tanto lacrimejar, e ele soluçou, vendo as lágrimas que ele nem imaginava que ainda tinha escorrendo livremente, rolando pelo seu rosto, e então despencando do queixo. Ele tremeu, abraçando os joelhos e cerrando os dentes, escondendo o rosto no espaço quente formado pelos seus braços. Os cabelos violeta, úmidos pelo banho recente, desceram, formando uma cortina completamente cerrada que impedia a luz quase inexistente do céu nublado tocá-lo. – Eu quero te abraçar, Hotori…! – ele confessou para ninguém, soluçando ainda mais alto, quando a dor que fazia pulsar seu coração se tornou grande demais para segurar sozinho. Seus ombros tremeram, enquanto ele se encolhia em seu refúgio criado, com as imagens de Tadase, feliz e sorrindo, girando e girando em sua mente, mesclando-se as cenas dele gritando, com raiva. A lembrança do toque tímido e cálido dele… do seu cheiro tão doce, do sabor dos seus lábios… tudo isso o atingiu em um só golpe, fazendo-o despencar. Mas, a partir de agora… essas recordações não passariam disso mesmo. Seriam somente ilusões, como nunca deveriam ter deixado de ser.

— Você vai ficar só jogado aí como uma lata de Coca-Cola vazia? – uma voz espezinhou, forçando Nagihiko a sair do seu refúgio depressivo. Ele ergueu a cabeça, apenas o suficiente para visualizar a figura esguia de Utau, que o encarava com a expressão de uma mãe zangada, com uma mão na cintura e a outra segurando um guarda-chuva molhada. – Eu esperava um pouco mais de atitude de um garoto que costumava desafiar todo mundo com uma naginata… mas pelo visto você está novamente agindo como uma garotinha inútil.

— O que você está fazendo aqui? – Nagihiko entoou indiferente, sem nenhum interesse específico. Provavelmente Utau deveria ter descoberto sobre o rompimento, e veio tirar satisfações diretas da fonte. E a sua mãe certamente teria permitido a sua entrada, sem fazer questionamentos, afinal, não escondia sua aprovação da convivência de Utau com seu filho. Mas ele não queria ter que conversar com Utau, e com ninguém mais.

— Eu fui ver se o Tadase tinha melhorado hoje, e imagine só a minha surpresa ao ver aquele garoto com o rosto inchado de tanto chorar, enrolado em um cobertor, comendo chocolate até não poder mais enquanto assistia filme melosos que só o faziam chorar ainda mais!! – ela se exasperou.

— Ele está assim…? – Nagihiko não demonstrava nenhuma reação, e seus olhos não tinham brilho algum, mas aquela informação realmente tinha o acertado em cheio – Bem, ele vai se recuperar rápido. Hotori-kun é sensível mesmo, mas ele também é forte, mesmo que não pareça; ele vai saber se reerguer, logo… - ele dizia, mas era mais como se estivesse tentando convencer a si mesmo daquelas afirmações.

— Tadase não quis me contar nada do que aconteceu… – Utau ficou assustada com o tom de voz completamente desprovido de emoção com que Nagihiko se pronunciava – Então eu vim até aqui, conversar com você. – ela se ajoelhou em frente ao garoto, com movimentos brandos e olhar preocupado, tentando suavizar a sua repentina aparição brusca.

— E quem disse que eu tenho a ver com o jeito que o Hotori está agindo? Pode ser apenas um efeito colateral da doença… - Nagihiko arriscou, sem olhar na direção da garota.

— É claro que tem! – Utau continuou firme – Pra começar, as orelhas e a cauda do Tadase já sumiram completamente. E eu estou vendo, bem aqui na minha frente, o estado em que você está, isso é só mais uma confirmação das minhas suspeitas. E… acima de tudo, só você poderia fazer o Tadase ficar daquele jeito…

— Eu não sei o que você está falando… - Nagihiko tentou desconversar, virando o rosto para esconder qualquer resquício de aflição, e usando um tom de voz ríspido. Utau foi mais rápida, segurando seu rosto e forçando-o a olhar para ela.

Assim que ela fez isso, Nagihiko não conseguiu mais se segurar. Mordendo os lábios, ele não pode conter as lágrimas que rolaram soltas, umas por cima das outras, lavando o rosto pálido em uma enxurrada. Ele soluçou, mostrando-se mais frágil do que nunca, e Utau o trouxe para um abraço, deixando que ele chorasse em seu ombro, enquanto afagava fraternalmente os cabelos bagunçados.

— Você pode me contar o que aconteceu, Nagi… - Utau dizia, usando seu tom de voz mais suave e doce, enquanto acariciava as costas do garoto, que era mais como uma criancinha agora. Os ombros dele tremiam, fazendo parecer muito menor do que realmente era – Nós somos amigos, não somos?

— T-tudo bem – ele soluçou, soltando-se do abraço protetor da garota apenas para voltar a se encolher como uma bolinha. Utau tentou secar suas lágrimas, mas elas apenas voltaram a cair, com mais vontade. Ele estava cansado de mentir, e de esconder seus sentimentos. Tudo o que queria, era que alguém dissesse a ele o que fazer. – Eu e o Hotori-kun… durante a noite, eu acabei... m-me excedendo… - ele dizia, tão baixo que Utau tinha que se inclinar para ouvir melhor, ao mesmo tempo em que se controlava para não demonstrar nenhum sinal de descontrole com aquelas informações privilegiadas, já que a situação era delicada –Acho que foi por causa daquela doença de gato, mas… eu quase… eu quase… v-você sabe… eu quase o ataquei… - ele murmurou, com o rosto se colorindo levemente por baixo das lágrimas.

— Mas…. Isso não é natural? – Utau arqueou uma sobrancelha – Quero dizer, vocês estão namorando!

— Eu sei, mas… eu não queria… não agora… o Hotori-kun é tão inocente, e puro, ele nem deve ter percebido a consequência dos nossos atos, e apenas se deixou levar por mim. Eu devia ser aquele que cuida dele! E, ao invés disso… acabo me aproveitando sua da ingenuidade… eu sou um imoral, do pior tipo… Sinto como se estivesse abusando do que ele sente por mim… ou pelo menos dizia sentir… - Nagihiko baixou ainda mais a voz, soluçando e dando início a uma nova onda de choro silencioso.

— Nagi… - Utau afastou a franja que encobria os olhos do garoto, cuidadosamente – Você está duvidando dos sentimentos do Tadase por você? – ela exclamou, incrédula – Você… você acha que ele estava com você por… por pena?

Eu não tenho certeza de nada mais – ele virou o rosto, abraçando os joelhos – Tadase é o tipo de pessoa que pensa nos outros acima de si mesmo, ele poderia muito bem…

— Eu estou realmente com vontade de bater em você agora… - Utau rosnou, franzindo os olhos – Mas ao contrário disso, vou deixar que você me conte mais. Vocês brigaram só por isso mesmo?

— Mais ou menos… - Nagihiko hesitou – Quando eu saí da casa do Hotori-kun, encontrei uma… conhecida, e ela torceu o pé, então…

— Não vá me dizer que você a trouxe para casa… - Utau supôs, acertadamente – Ah! O Tadase veio atrás de você, viu você em alguma situação mal explicada com essa garota, e tudo saiu do controle, não é?

— Isso… - a voz de Nagihiko mal passava de um sopro.

— Seu… seu IDIOTA!!! – Utau perdeu o controle, dando um soco nas costas do garoto que quase o desmontou – Que tipo de imbecil leva uma garota pra casa logo depois de brigar com o namorado?!?! Diz logo o que aconteceu depois, antes que eu acabe com você agora mesmo… - ela sibilou, ameaçadoramente. Nagihiko engoliu em seco, com as lágrimas parando de súbito após aquele susto.

— B-bem… quando o Hotori-kun viu, ele saiu correndo, e eu fui atrás dele… Nós discutimos na rua e… eu acho que ele terminou comigo… - Nagihiko disse, sentindo sua garganta arder terrivelmente, e então se encolheu mais ainda, tentando refrear a dor que esmagava seu peito.

— Acho que entendi, mais ou menos o que aconteceu… - ela disse, e Nagihiko sabia que ela estava irritada com a impulsividade dele, mas não conseguia nem se sentir mal com isso, com seus nervos em frangalhos – Presta atenção, garoto… você acha mesmo que o Tadase é o tipo de pessoa que se declara para alguém sem ter certeza dos seus sentimentos? Você acha que ele mentiria assim para você?

— E-ele…

— Não! A resposta é não! Tadase pode ser ingênuo, gentil… ele é um bobo apaixonado, com certeza… e ele pode até agir por impulso muitas vezes… mas se tem uma coisa que aquele menino não é, é um bom mentiroso. Tadase não saberia mentir nem para salvar a própria vida! Como você pode sugerir que ele tenha te enganado, e enganando a todos nós por tanto tempo??

— Ah… - Nagihiko engasgou. Não tinha pensado por aquele ângulo… mas os argumentos de Utau faziam sentido. Muito mais sentido do que ele gostaria. – E-então, eu…

— Certo, se você entendeu que o Tadase te ama de verdade… e se você ousar pensar o contrário outra vez, eu juro que te espanco… então, me responde uma coisa. O Tadase mostrou estar arrependido… ou com medo… ele mostrou alguma resistência enquanto você, bem… o atacava? – ela indagou, um tantinho mais interessada na resposta do que antes.

— A-acho q-que não… - Nagi admitiu, corando novamente. Fitou Utau de soslaio, e tornou a baixar o olhar – Ele disse… q-que era o que ele queria, mas…

— “Mas” nada! Se é o que o Tadase quer também, não tem nenhum motivo pra sentir culpa!! – Utau se excedeu mais uma vez, gesticulando amplamente – Seu idiota, aquele garoto te ama! Ele está completamente, absolutamente, apaixonado por você, baka! Então, é claro que ele quer ficar perto de você, da mesma forma que você quer ficar perto dele! E se você se mostrar arrependido cada vez que avançarem um pouco na relação de vocês, é claro que ele vai ficar inseguro! Ainda mais se logo depois você foi encontrar uma garota, não é? – Utau bradou, e Nagihiko sentiu a culpa latejar bem fundo em si.

Utau tinha razão. Ele tinha sido idiota. Um imbecil dos maiores… merecia se afogar no lago do quintal, só para aprender a não ser tão burro. Como, ele se perguntava, havia acabado com aquela garota na sua casa, e ainda daquela maneira!!! E, se não bastasse isso, ainda fez aquelas acusações terríveis, à Tadase, como se ele fosse o errado na história. Claro que não, Tadase não tinha culpa de nada!

— O que eu faço agora? – Nagihiko a encarou, aflito, em um pedido desesperado por ajuda. – Eu disse coisas que não queria ter dito… n-não sei como me desculpar… e-eu…

— Calma, Nagi… - Utau se permitiu um meio sorriso convencido, como se fosse uma grande especialista no assunto – Vocês são um casal, é claro que vão brigar algumas vezes, e isso e normal! Na verdade, é até saudável. Aquele clima de Lua de Mel entre vocês não ia durar para sempre, e os dois precisam amadurecer juntos, isso foi até necessário. Mas você precisa conversar com ele, e vocês tem que se acertar. Parece que tem muitas coisas mal resolvidas entre vocês, você precisa esclarecer tudo, e dizer a ele como se sente, até mesmo nas coisas ruins. Se você não disser, como espera que ele entenda?

— T-tem razão… - Nagihiko murmurou para si mesmo, e se ergueu, decidido a sair dali agora mesmo. Tudo o que mais queria era correr dali o mais depressa possível até a casa de Tadase, agarrá-lo em seus braços, e não soltar nunca, nunca mais. Mas é claro, com aquela chuva, ele não podia fazer nada. E, além disso, ele não saberia como encarar Tadase depois de tudo aquilo. Então… apenas voltou a sentar, impaciente demais para ficar quieto, mas também sem saber o que fazer.

— Olha só… depois de tudo o que aconteceu, e sendo que essa é a primeira briga de vocês, eu acho que simples desculpas não vão resolver. – Utau ponderou, pondo a mão no queixo pensativamente.

— E o que eu devo fazer? – Nagihiko estava completamente perdido, e seu desespero era tanto, que ele faria qualquer coisa que Utau dissesse.

— Eu tenho uma ideia… mas preciso fazer uma coisa antes. – ela falava sozinha, ignorando completamente a presença do garoto enquanto se concentrava no seu celular. Digitou algo rapidamente, e então, minutos depois, recebeu uma resposta. – Aqui, eu pedi para a Yukari enviar uma coisinha que eu tinha pronta… ouve isso. – ela colocou fones de ouvido no celular, e então colocou no ouvido do garoto, esperando pela reação dele.

Nagihiko prestou atenção. Era uma música nova de Utau, cantada em uma versão demo. Ele fitou a loira, que ainda sorria para ele, e quando a música terminou, tirou os fones, surpreso.

— Tsukiyomi-san, isso é…

— É uma música que eu escrevi – ela elucidou, e pareceu um tanto orgulhosa de si mesma – Na verdade, não pretendia gravar, mas… eu a escrevi pensando em você e no Tadase. É inspirada em vocês dois.

— P-por que você está me mostrando ela? – Nagihiko indagou, com os olhos arregalados de surpresa. A música era linda… e ele não conseguia imaginar como poderia ter sido inspiração para ela.

— Essa é a minha ideia! – ela exclamou, excitada – Agora, entra lá dentro e veste uma roupa decente… e coloca uma capa de chuva também. Nós temos muito que fazer! – ela foi erguendo Nagihiko pela mão, e o empurrando para dentro da casa – Eu ainda tenho que chamar a Yaya…

— A Yaya?

— Claro!! Quem você acha que vai filmar tudo???






No meio da chuva, um grupo de jovens armados de guarda-chuvas e capas de chuva esperava pacientemente que a chuva se acalmasse. Utau chamara alguns dos amigos, na esperança de que eles ajudassem com o plano que ela havia formado, e todos pareciam realmente entusiasmados, com exceção de Nagihiko, que andava de um lado para o outro, enrolando as mechas dos cabelos nos dedos, como sempre fazia quanto estava realmente impaciente.

— Utau, não vai dar pra tocar nada com essa chuva – Ikuto disse, indicando o violino que estava em suas costas. O que ele queria mesmo era voltar para casa e ir dormir, e só tinha vindo até ali por pura insistência de Utau, que sabia ser muito convincente quando queria.

— Esperem só mais um pouquinho, eu tenho certeza de que a chuva vai parar, nem que seja por cinco minutos! – Ela se agitou, e Yaya se juntou a ela, argumentando com todos.

— V-vocês tem certeza? – Nagihiko tremeu – Eu posso arrumar outra maneira de me desculpar, quero dizer, esse seu plano, Tsukiyomi-san… - ele coçou a cabeça, incerto.

— Vai dar tudo certo! – Yaya deu alguns pulinhos, agitando a câmera que ela tinha pendurada no pescoço – O plano da Utau-chii é perfeito, não sei como a Yaya não pensou nisso antes!! Uma serenata!!! Isso é tãaaaao fofo!

— Eu também gostei da sua ideia, Hoshina… - Kyouharu, que estava realmente adorando tudo aquilo, comentou calmamente, enquanto mexia em uma das marias-chiquinhas da cantora – Muito romântico…

— Cala a boca! – Utau replicou, cruzando os braços e tirando os cabelos do alcance do garoto – Você só está aqui por que sabe tocar violão! – ela apontou para o volume nas costas do garoto, que continha o instrumento.

— Não importa. Eu adorei receber uma ligação sua… - ele riu da expressão irritada da loira, e então se virou para Nagihiko – Vai ficar tudo bem, fica tranquilo…

— M-mas…

— Você já não está acostumado com isso? – Kukai, que até aquele momento brincava com o pé na poça d’agua, voltou-se para os outros – Você costumava dançar, como Nadeshiko, na frente de um monte de gente…

— Isso é diferente! – Nagihiko disse, com a voz mais alta por conta do nervosismo – Eu nunca cantei nada antes…

— Você não precisa cantar bonitinho, basta transmitir os sentimentos da música, o Tadase vai entender! – Utau tentou encorajá-lo – E, além do mais, o Tadase adora música, ele vai ficar tão emocionado que vai esquecer na hora o desentendimento de vocês. Mas é claro que você vai ter que conversar direito com ele depois, nee…

— Eu sei, eu sei… - Nagihiko suspirou – Mas… eu estou… com medo. E se ele não gostar…?

— Nagihiko… - Amu, que até aquele momento se absteve de qualquer comentário, começou a falar, de maneira quase irritada – Eu… eu não desisti do Tadase pra você deixar ele pra trás na primeira dificuldade, sabe?! Eu pensei que o que vocês sentissem um pelo outro fosse muito mais forte do que isso! Você não disse que amava ele mais do que tudo, independente da opinião das pessoas, dos problemas que poderiam ter…? Então. Prove isso!

— Amu-chan…! – Nagihiko ficou sem palavras diante da declaração da amiga. Abraçou-a por poucos segundos, antes de se afastar e sorrir para ela, tentando parecer seguro. Nunca esperou que algumas poucas palavras Amu, que sempre fora a sua maior “rival” pelo amor de Tadase, pudessem dar a ele tanta coragem. – O-obrigado…

— Eeeei!! A chuva não parou? – Yaya colocou a mão para fora do seu guarda-chuva, verificando que as gotas diminuíram consideravelmente.

— É isso! – Utau bradou – É agora! Todos aos seus postos!! – Os jovens começaram a se mover, da esquina onde estavam parados, na direção da casa dos Hotori. Utau andou na frente, enquanto os outros se escondiam atrás do muro, e apertou a campainha. Ela respirou bem fundo, pigarreou, e então falou ao interfone, com a voz mais alterada que conseguia fazer – Tia?? Ah, aqui é a Utau! Eu preciso de ajuda!! O Ikuto sumiu, eu não consigo encontrar ele! Por favor, me ajuda!

Depois que ela falou isso, a mãe e o pai de Tadase saíram imediatamente de carro, preocupados e fazendo infinitas perguntas para Utau, que os acompanhou, não sem antes lançar um olhar significativo para os que ficaram escondidos na esquina de trás. Utau cumpriu sua parte do plano, agora era com eles.

Ikuto foi à frente, pulando o muro com habilidade, e sem fazer nenhum ruído, levando consigo o violino. Kukai foi logo depois dele, conseguindo chegar ao outro lado com alguns saltos simples, e então acalmando Hotosaki com alguma comida, para que ele não anunciasse a chegada dos invasores. Kyouharu ajudou Yaya a subir, fazendo um apoio com as mãos, e Nagihiko ajudou Amu. Depois, os dois garotos escalaram o muro, e chegaram ao outro lado com facilidade.

A primeira parte do plano estava completa, e de repente, Nagihiko tomou consciência do que estava prestes a fazer. Sua garganta secou, suas mãos suavam frio, e seu coração batia quase na altura da boca. Mas era tarde, e mesmo que ele quisesse, não tinha mais para onde correr.

Yaya e Amu correram para um canto do jardim, com visão privilegiada, e a ruiva ficou a postos para filmar tudo. Hotosaki, por algum motivo, as acompanhou. Ikuto tirou o violino da caixa, e Kyouharu fez o mesmo com seu violão. Kukai se posicionou mais atrás, segurando um cartaz feito por Yaya, onde se lia “NAGI LOVES TADASE-KUN” com milhares de coraçõezinhos ao redor. Nagihiko estava nervoso demais para reparar nesse detalhe, do contrário, jamais teria o permitido.

O valete tremia, com seu coração batendo tão forte que poderia explodir, e com o rosto queimando em brasas por conta do constrangimento. Mas Tadase merecia que ele passasse por isso, e por muito mais, se fosse para ter o amor dele de volta. E Nagihiko iria até o fim do mundo, se fosse preciso, para tê-lo em seus braços novamente. Cantar uma música? Não era nada perto do que ele sentira ao perder Tadase. E nunca, jamais, deixaria que isso acontecesse de novo.


http://www.youtube.com/watch?v=zVgkK3YttZc


Ikuto deu a primeira nota. Kyouharu o acompanhou. E Nagihiko tomou todo o ar que seus pulmões aguentavam, e deixou que sua voz saísse.





Futarikiri no kouen kaerimichi no shiteiseki

O parque parece reservado só para nós no nosso caminho para casa

Itsumo yori hashaideru kimi wo mitsume kiitemita

Eu estou te observando, você está sempre de bom humor. Eu te pergunto:

"Moshimo ashita sekai ga naku nattara dou suru?"

Se o mundo fosse acabar amanhã, o que você faria?

Kimi wa nani mo iwazu ni boku no ude wo gyutto shita ne

Você não diz nada, mas segura minha mão

Nee kocchi wo muiteite

Ei, vire pra esse lado

Kuchibiru ga chikasugite doki doki tomaranai

Nossos lábios estão tão próximos, meu coração não para de bater…




Nesse momento, a janela do quarto de Tadase, que ficava diretamente acima do local onde eles estavam, se abriu. O loirinho colocou a cabeça para fora, ainda enrolado em um edredon, e quase caiu quando viu do que se tratava. Assim como Utau havia dito, os olhos dele estavam vermelhos e inchados, de tanto chorar, e essa visão só fez Nagihiko cantar com ainda mais vontade.




Donna kimi mo donna toki mo uketomeru kara

Não importa como você é, não importa quando, eu vou te aceitar

Moshimo kokoro ga kizutsuite namida koboreru toki wa

Mesmo quando você estiver de coração partido e chorando

Sekaijuu wo teki ni shitemo kimi wo mamoru yo

Mesmo se eu tiver que ir contra o mundo, eu vou te proteger


I LOVE YOU

EU TE AMO

Kotoba wa iranai yo kimi ga saigo no kissu

Não precisa ser dito com palavras, aquele seu último beijo

Itsumademo

Estará sempre comigo



— Eu não sabia que o Nagi cantava assim tão bem… - Amu sussurrou para Yaya, enquanto a ás filmava tudo com atenção.

— Eu também não… ah, isso vai ser um sucesso no YouTube!!! – ela comemorou, sem conter um enorme sorriso de satisfação.


Lá de cima, Tadase mordia os lábios com força, sem acreditar no que estava vendo. Inclinava o corpo através da janela do segundo andar, tentando enxergar melhor, e seus olhos se enchiam de lágrimas ao ver Nagihiko, olhando fixamente para ele. Um sorriso, fraco, se formou, e Nagihiko sorriu de volta. Nos olhos de ambos, a afeição e o amor mútuos transbordavam, e eles se esqueceram de onde estavam, do que havia acontecido antes, ou das pessoas ao redor. Só existiam os dois, e naquele momento, Nagihiko sentiu a esperança de ainda poder estar ao lado de Tadase fazer sua voz ficar mais alta.



Itsumo no wakare michi de nanimo dekinai wakatteru

Eu sei que não sou capaz de nada quando não estamos juntos

Hoppeta fukuramasete te wo hanashite "Moo iku ne"

Estufe o seu peito e solte a minha mão: "eu tenho que ir"

Nee kocchi wo muiteite

Ei, vire pra esse lado

Kuchibiru ni chikazuite doki doki tomaranai

Eu estou próximo dos seus lábios, meu coração não para de bater…



Konna boku mo kimi ga ireba tsuyoku nareru yo

Quando eu estou do seu lado eu me torno mais forte

Koi wa fushigi na mahou da ne, nanimo kowakunai kara

O amor é uma mágica estranha, eu não estou mais com medo nenhum

Sekaijuu wo teki ni shitemo hanashi wa shinai

Mesmo que eu tenha que ir contra o mundo, eu não tenho nada a dizer

STAND BY ME

FIQUE AO MEU LADO

Dareka ja dame nanda kimi ni zutto soba ni ite hoshii

Tem que ser você, eu quero que você esteja sempre perto de mim




Aa mujaki na sugao no mama kimi wa iu

Ahh! Do jeito que você está, você me pergunta:

"Nee, ojiichan* ni nattemo kisu shite kureru no?"

"Ei, quando eu ficar velho, você ainda vai me beijar?"

Nee sono toki ni wa boku datte onaji da yo

Mas quando isso acontecer, eu também estarei velho

Tsunaida te hanashi wa shinai kara

Mas eu nunca vou soltar a sua mão




Donna kimi mo donna toki mo uketomeru kara

Não importa como você é, não importa quando, eu vou te aceitar

Moshimo kokoro ga kizutsuite namida koboreru toki wa

Mesmo quando você estiver de coração partido e chorando

Sekaijuu wo teki ni shitemo kimi wo mamoru yo

Mesmo se eu tiver que ir contra o mundo, eu vou te proteger


I LOVE YOU

EU TE AMO

Kotoba wa iranai yo kimi ga saigo no kissu

Não precisa ser dito com palavras, aquele seu último beijo

Itsumademo

Estará sempre comigo



Assim que Nagihiko silenciou, e os instrumentos pararam, ele voltou a olhar para Tadase, com um sorriso tímido, como se esperasse pela avaliação pelo seu desempenho como cantor. Todos esperavam ansiosamente pela resposta de Tadase, e não ousavam mover sequer um músculo, olhando apreensivos para a janela.

Tadase sumiu para dentro, e ninguém podia vê-lo. Nagihiko sentiu uma pontada de dor, e uma vozinha lá no fundo que dizia “eu avisei” ininterruptamente. Estava tudo acabado. Mas então, milésimos de segundos após isso, Tadase surgiu novamente. Ele havia corrido novamente na direção da janela, e então, pulou. O edredon revoava as suas costas, enquanto ele caia diretamente nos braços de Nagihiko, agarrando-se a ele para não cair, e envolvendo-o completamente com o cobertor, que não havia soltado.

— Hotori-kun…! Você podia ter se machucado! – ele exclamou, segurando Tadase em seu colo. Não esperava por aquela atitude, e ainda duvidava um pouco da própria sanidade mental, afinal, em que mundo imaginaria que Hotori Tadase pularia de uma janela, direto para seus braços? Mas o calor que sentia espalhando-se pelo seu corpo era real, e o cheiro doce que fazia seu nariz formigar também. Nagihiko apertou o abraço, afundando o rosto no peito do menor, ainda seguro em seus braços, querendo certificar-se de que não se tratava de um devaneio.

— I-isso foi lindo! – Tadase gaguejou, com a voz ainda embargada, e com os braços ao redor da sua cabeça – Eu pensei que… p-pensei que…

— Me perdoa, Hotori-kun! – Nagihiko o pôs novamente no chão, e afagou os cabelos dele, quase sufocando-o em seu abraço apertado – Eu fiz tudo errado, eu sou um idiota, você pode até me bater se quiser, mas… por favor, não saia de perto de mim, nunca mais!

— E-eu não vou… Eu queria ter ido atrás de você no mesmo momento em que saí correndo, mas… m-mas… eu pensei que estivesse me odiando… - Tadase fungou, com a voz abafada por estar escondido no peito de Nagihiko, envolto no cobertor.

— Eu nunca poderia… - ele começou a dizer, e olhou ao redor. Porém, não havia mais ninguém ali, nem mesmo Yaya. Todos haviam evaporado tão subitamente quanto tinham aparecido, para dar mais “privacidade” ao casal. Nagihiko nem mesmo teve a chance de agradecer, embora, ele supunha, Yaya ainda deveria estar em algum lugar por ali, filmando escondida. – Hotori-kun… - ele ergueu o rosto do menor com os dedos, e sentiu algo dentro de si se agitar, ao vislumbrar aqueles grandes olhos rubros novamente – Eu amo você. E eu sei que você me ama também, eu nunca mais vou duvidar disso. Por favor, me perdoe por ter sido tão idiota a ponto de fazer isso, me perdoe por ter falado com aquela garota de novo, e me perdoe por ter dito todas aquelas coisas para você antes. Eu não queria ter dito nada daquilo. Eu amo você, e isso nunca vai mudar. Eu quero passar todos os dias da minha vida com você, e eu quero te fazer feliz, então, me deixe ficar ao seu lado. Para sempre!

— Sim! – Tadase exclamou, jogando os braços ao redor do pescoço de Nagihiko – Eu perdoo você! Eu também disse coisas que não queria ter dito, me desculpe. Eu amo você, Fujisaki Nagihiko, e quero ficar com você para sempre também! É uma promessa, lembra? – ele se afastou minimamente, apenas para enlaçar o mindinho no de Nagihiko.

— Uma promessa… - Nagihiko sussurrou, então se inclinou na direção de Tadase, encaixando seus lábios com os dele.

Eles só ficaram separados por um único dia, e mesmo assim, Nagihiko sentia-se como alguém que anda por muito tempo no deserto e acaba de encontrar água, tamanha a sua vontade de estar com Tadase. Invadiu os lábios de Tadase impacientemente, segurando-o pela nuca, e ele colocou-se na ponta dos pés, protegido apenas por meias, para alcançá-lo. O loiro agarrou-se aos cabelos longos do outro, deixando que invadisse seus lábios ávidos, e entrelaçando a língua à dele, esquecendo-se de tudo no mundo apenas por estar nos braços daquele que amava. Quando enfim se separaram, ofegantes, Nagihiko acariciou levemente as mechas de cabelo mais comprido de Tadase, fitando-o carinhosamente.

Em um instante, Nagihiko foi capaz de fazer todas as suas lágrimas secarem, e todas as feridas cicatrizarem. Em algum passe de mágica inexplicável, de repente, era como se a briga jamais tivesse acontecido. Tadase se sentia completo novamente, ali, ao alcance dos braços de Nagihiko, o lugar mais confortável do mundo em sua opinião.

— Não pense que você vai se livrar apenas cantando essas músicas quando nós brigarmos… - ele resmungou, com um beicinho se formando, e encostou a testa no peito de Nagihiko.

— Eu vou pensar em outras coisas… - Nagihiko sorriu, afagando o ninho de cabelos dourados que era a cabeça do garoto – Mas, você sabe, nós ainda precisamos conversar… sobre muitas coisas…

— Eu sei. Mas nós temos todo o tempo do mundo… – Tadase se enlaçou novamente a ele, decidido a não soltá-lo nunca mais.




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Notas finais do capítulo

*ojii-chan, foi trocado, na música original era "obaa-chan", mas eu passei por masculino, por motivos óbvios...
Música: Kiss~ Kaerimichi no Love Song - Tegomass
do anime Lovely Complex
http://letras.mus.br/lovely-complex/1082635/

Shiroooyuki desu o//
Aaaaah~finalmente eles fizeram as paaaazes!!! Eu não aguentava mais essa briga, por mim eles tinha se acertado até no mesmo dia em que brigaram >.<
E, particularmente, eu achei muuuito fofa essa serenata do Nagi, mas quase morri de vergonha alheia... ah, isso é romântico demais pra mim, omg, i can't... se fosse comigo (sonhaaar, mais um sonho impossível) eu desmaiava la daquela janela, caia feito uma panqueca no chão... ai acabava com o romantismo todo, é... acho que sou tão romantica quando um tijolo... '-' enfim...
Deeeeixem suas opiniões sobre o ato fofo e completamente vergonhoso do Naagi~ e da reconciliação deles~
Você pode conferir a continuação em uma semana, neste mesmo horário, neste mesmo canal o// Mentira, nem sei... ah~ vcs entenderam u-u o próximo é com a senpai o// otanoshimini