– O que?! Festa??
– Isso mesmo, uma festa! - Yaya repetiu animadamente mais uma de suas famosas idéias de jerico. Alguns dias haviam se passado desde que Kyouharu foi transferido para a escola de Ikuto, e agora o próprio estava por algum motivo visitando o Royal Garden e conhecendo os "amigos pirralhos" de seu mais novo melhor amigo Ikuto, juntamente com o próprio neko e Utau, que por algum motivo estavam mais uma vez disfarçados com suas roupas de médico fajuto e enfermeira falsificada. Uma vez que as fantasias serviram para lhes colocar dentro de Seiyo sem serem descobertos, ambos os Tsukiyomi pareciam ter se apegado muito à elas - Vocês sabem, hoje é noite de Halloween, e nós não planejamos nada esse ano... então a Yaya estava pensando, podíamos ir até uma loja de fantasias alugadas quando sairmos daqui e depois pegar doces, pra comemorar o Halloween decentemente! E de quebra, comemorar também a chegada do Kyou-kun! - ela apontou para o mais novo melhor amigo de Ikuto, com quem fizera amizade extremamente rápido, visto que ele tinha se tornado tão bom em atazanar a vida de Utau
– Ohh grande idéia, Yaya! Eu gostei, tô dentro! - Kukai apoiou na mesma hora, se empolgando rapidamente também
– Acho que posso ir, se tiver chá nessa tal festa... - Rima respondeu com sua voz monótona, com a costumeira xícara de chá nas mãos
– Sim, sim, vamos todos comemorar noite adentro até o sol raiar! Grande idéia, baixinha! - Ikuto apoiou, planejando "diversões" bem diferentes para a tal festa do que apenas pegar doces
– Bem, a idéia da festa não é ruim... mas infelizmente eu passo dessa vez, já tenho outros planos - Nagihiko respondeu, já se preparando mentalmente para o bombardeio de perguntas que Yaya certamente lhe faria
– Ehhh?! Ahh, sem essa, você precisa vir, Nagiiii!! O que pode ser mais importante do que comemorar o Halloween com seus amigos?! - a Às choramingou, pronta para iniciar uma chantagem emocional
– É que... eu já tinha combinado outra coisa com o Hotori-kun primeiro... - ele respondeu de modo evasivo, virando o rosto para o lado, sem jeito de falar sobre aquilo na frente de Kyouharu, que ainda era praticamente um desconhecido para ele
– Ora, não seja estraga-prazeres, garoto! Não pode adiar esses seus planos por uma noite não? - o surfista indagou, sem entender do que ele falava
– N-Nós já tinhamos planejado isso há algum tempo, então não podemos... s-sinto muito... - Tadase gaguejou, tão ou mais envergonhado do que Nagihiko, e um tanto temeroso que o novo colega percebesse do que se tratava esse "compromisso" deles
– Ahh puxa... e a Yaya que já tinha até planejado de fazer o Nagi se fantasiar de Kamui Gakupo e o Tadase de Kagahime Len, ia ficar tão perfeito! - a Às choramingou, aparentemente sendo privada de um espetáculo pelo qual esperou há várias semanas
– Deixa, Yaya, deixa... eles devem querer comemorar o Halloween à sós, se é que me entende huhuhu... - a falsa enfermeira deu uma risadinha estranha, olhando para o Rei e o Valete de um jeito pervertido que lembrava terrivelmente o olhar de seu irmão
– Não é da sua conta como vamos ou não vamos comemorar o Halloween, Tsukiyomi-san... até porque, agora você tem o seu adorado surfista como "novo passatempo", então não precisa mais stalkear a gente - Nagi alfinetou, retribuindo o olhar sugestivo da garota
– Ohh então é isso mesmo? Quer dizer que a "Cortina" Utau está querendo comemorar comigo, é? - Kyouharu atirou um dos braços ao redor do pescoço da enfermeira loira, puxando-a para mais perto de si
– E-E-Eu nunca disse nada disso, seus bakas!! E tira essa mão de mim seu pervertido!! - Utau corou até a raíz dos cabelos, seu rosto vermelho de vergonha e raiva misturadas, e empurrou Kyouharu para longe de si - E meu nome não é "Cortina", é Hoshina!! Hoshina, ouviu bem, ô Surfista Prateado?!
– Hai, hai, entendi muito bem, "Mochila" Utau! - Kyouharu exclamou aos risos, fazendo a loira bufar de indignação, enquanto os outros se acabavam de rir com a cena, Ikuto mais escandalosamente do que qualquer um ali
– Ora, não seja tão malvada com ele, "Mochila Utau-san" - Nagi alfinetou de novo, aproveitando para se vingar das muitas indiretas que a garota lançava para ele e Tadase
– Ahh, você também não, Nagi-kun!! - a falsa enfermeira gritou, beirando ao desespero - Você quer implicar com a lguém, Kyouharu? Muito bem então, implique com eles! O Nagi-kun e o Tadase estão namorando!! - antes que pudesse se conter, ela apontou para o Valete e o Rei acusadoramente, tão desesperada para desviar a atenção para outra pessoa que percebeu tarde demais que tinha falado mais do que devia.

Ikuto deu um tapa na própria cabeça, e Yaya e Kukai fizeram uma careta ao mesmo tempo, enquanto Rima apenas tomava um gole de seu chá, esperando para ver a reação do rapaz. Os outros apenas aguardavam em silêncio, entre nervosos, temerosos e curiosos. Nagihiko corou e sentiu algo agitar-se desagradavelmente dentro dele, mas manteve seu olhar firme, encarando o garoto mais velho nos olhos até o final. Tadase enrubesceu violentamente, deixando escapar uma exclamação de medo, e segurou as costas da camisa do Valete com a mão trêmula, aparentemente dividido entre afundar seu rosto ali e se esconder até que tudo aquilo milagrosamente acabasse e não passasse de um pesadelo, ou então encará-lo de frente como Nagi fazia e enfrentar a realidade.

– Vocês dois estão namorando? É sério? - Kyouharu finalmente saiu do estado de choque e perguntou, apontando para Tadase e Nagi, que confirmou com um aceno de cabeça. O surfista ficou parado e estranhamente sério por mais alguns segundos, até que finalmente se recuperou do choque e falou - Cara, que legal! É a primeria vez que vejo um casal assim! E pensar que vocês são mais novos que eu e já estão namorando, hein, que moleques mais precoces que vocês são... nee, nee, nesse caso, quem seria a menina da relação, hein? - ele perguntou curioso, e um tanto empolgado demais
– Etto... v-você não vai... sabe... rir, ou... fazer piada, ou debochar... nem nada assim...? - Nagihiko não pôde deixar de perguntar, estranhando aquela reação tão positiva de um completo estranho, e um garoto ainda por cima, perguntando-se se o rapaz não estaria apenas sendo sarcástico
– Rir? Debochar? Eu deveria fazer isso? - Kyouharu pareceu confuso - Por que eu faria isso? Se vocês estão namorando, deve ser porque se gostam ué, eu não tenho nada a ver com isso... ahh, já sei! Vocês devem ter encontrado algumas pessoas preconceituosas e agora acham que todo mundo vai insultar ou tirar sarro de vocês não é? Pois saibam que nem todo mundo é assim, viu, não deviam julgar os outros antes de conhecê-los! Mas e então, quem é a menina da relação afinal, hein??
– Bom, nesse caso, eu diria que é o Nagi, já que ele... - Yaya começou a falar, mas Nagihiko tampou sua boca, antes que acabassem revelando segredos demais para alguém que acabaram de conhecer
– Hein? Já que ele o que? - o surfista indagou curioso
– Já que ele se vestiu de menina durante uma peça que teve aqui na escola - o falso médico completou a frase com uma resposta que certamente não era a que a ruiva ia dar, e começou a contar sobre a peça do Festival Escolar, na qual Nagihiko tinha se vestido de Princesa. Kyouharu comentou que gostaria de ter visto essa peça, mas com Utau como Princesa, e fez outro trocadilho com o nome dela, o que logo desencadeou uma nova briga entre os dois, de modo que a atenção se voltou novamente para o surfista e a falsa enfermeira, de modo que Tadase e Nagi puderam se afastar um pouco sem serem vistos.

– Ufa... não acredito que escapamos tão facilmente dessa - Nagi suspirou aliviado, levando a mão ao peito, ainda sentindo a mãozinha de Tadase apertar o tecido de sua roupa entre os dedos trêmulos
– Sim... nee, Fujisaki-kun... quando aquele rapaz... q-quando Kyouharu-san disse aquelas coisas... q-que não tem motivo pra rir ou debochar da gente, porque, se estamos juntos, é porque nos g-gostamos... eu fiquei tão feliz... fiquei muito feliz em saber que existem pessoas que, embora mal conheçam a gente, também são capazes de nos aceitar como somos - Tadase falou timidamente, sem conseguir tirar um sorriso bobo do rosto corado
– Sim... também fiquei muito feliz com isso - Nagi admitiu, tirando a mão do loiro que ainda apertava o tecido de sua roupa de suas costas e a segurando entre a sua própria - Mas então, Hotori-kun... tem certeza de que não prefere ir nessa festa da Yaya-chan junto com os outros? Nós já tínhamos planejado outra coisa, mas... bem... nós pensamos em fazer uma sessão de filmes de terror, e eu sei que você não gosta desse gênero de filmes... se preferir fazer outra coisa, por mim...
– Não! - Tadase interrompeu, erguendo o rosto e encarando o maior nos olhos - É verdade que esse não é o meu gênero preferido de filmes, mas... e-eu sei que você gosta dessas coisas, então... n-não tem problema assistir de vez em quando. É Halloween afinal... a-além do mais... v-você vai estar lá comigo, não vai...? - ele encarou o maior com o rosto corado e um olhar completamente adorável, que provocava em Nagi uma vontade louca de agarrar aquele garoto ali mesmo e nunca mais soltá-lo
– É claro que vou... não vou sair do seu lado nem um instante sequer, eu prometo - o Valete afagou os cabelos loiros dele com a mão livre, sem ter a menor idéia de que alguém havia escutado aquela conversa.

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Assim como combinado, depois da reunião daquela tarde (que no final nem reunião foi, já que a intromissão de Ikuto, Utau e Kyouharu no Royal Garden não permitiu que ninguém assinasse um documento sequer), Tadase seguiu com Nagihiko para a casa dele para darem início à sessão de filmes de terror pela qual o Valete estava tão ansioso, e da qual Tadase queria fugir á qualquer custo. Ele realmente detestava filmes com monstros, fantasmas, vampiros, casas mal-assombradas e serras elétricas, ou qualquer coisa do tipo, mas detestava ainda mais a idéia de Nagihiko achá-lo um covarde por ficar tão assustado com apenas um filme, então jurou a si mesmo que assistiria tudo junto com ele até o final, não importa o quão difícil fosse. Além do mais, havia outra questão que ele precisava enfrentar, e que poderia ser mais assustador do que qualquer filme de monstros por sinal: A mãe do Valete.

– Entre, fique à vontade, Hotori-kun... conhece o caminho, não é? - Nagi perguntou, andando na frente ao chegarem na propriedade dos Fujisaki, e seguindo para a cozinha
– S-Sim... err... c-com licença... - o menor murmurou num tom quase inaudível, olhando para todos os lados, apreensivo. Antes mesmo que chegasse na cozinha, Nagi voltou de lá, trazendo uma bandeja com uma jarra de suco, dois copos e um prato de biscoitos. Só então notou o receio evidente que estampava a face do loiro
– Está tudo bem, Hotori-kun? Tem certeza de que aguenta ver os filmes?
– Hein? Ahh sim, aguento sim! - ele exclamou, tentando passar o máximo de convicção possível - É só que... bem... s-sua mãe...
– Ahh, é isso - Nagi soltou um suspiro ao entender do que o outro falava - Hoje tinha um recital de dança das meninas que ela estava treinando, então ela foi na apresentação, vai passar a noite toda lá. Estamos sozinhos, não se preocupe
– Ahh ainda bem! - Tadase deixou escapar um suspiro aliviado, sem entender o que realmente significava estar sozinho com Nagihiko naquela casa, e ficando apenas aliviado de não ter a presença esmagadora da mãe do garoto por perto - Ah... n-não que eu tenha algo contra sua mãe, não mesmo! - ele apressou-se a dizer, nervosamente - É só que... ela... b-bem...
– Eu sei, eu sei... ela não é bem a pessoa mais simpática do mundo mesmo - Nagihiko riu sem graça, sentando-se e depositando a bandeja sobre a mesa - Bem, esqueça isso. Eu fiz suco, achei que seria bom variar de vez em quando, já que sempre tomamos chá... e sobraram alguns biscoitos do lanche de hoje, então eu trouxe também... me desculpe por serem apenas sobras, mas...
– Não! Eu adoro a sua comida, Fujisaki-kun, não importa o que você faça, então não se preocupe! - Tadase apressou-se a dizer, agarrando o biscoito mais próximo e devorando-o feliz, com um sorriso estampado no rosto - Está mesmo muito bom... como tudo que você faz
– Fico feliz que tenha gostado - Nagihiko sorriu, corando um pouco. Em seguida se sentou, puxando o DVD mais próximo. Tadase olhou a enorme pilha de filmes em cima da mesa com o canto dos olhos, e logo seu sorriso murchou - Bem, pensei em começar com um mais leve... esse se chama O Grito 3, é a continuação daquele filme que nós vimos juntos uma vez, depois de estudarmos juntos para as provas, lembra?
– C-Claro que lembro - Tadase murmurou baixinho, sofrendo por antecipação. Aquele filme havia lhe dado terríveis pesadelos, não era algo que ele esqueceria tão cedo, e Nagihiko ainda dizia que era algo leve?! Sinceramente, não queria ter que assistir ao filme daquela fantasma horripilante novamente, sem falar que o fato do Valete ter apagado a luz, deixando-os em meio ao breu total que era aquela sala completamente escura, cuja única fonte de iluminação era a luz da TV, também não ajudava muito, mas Nagihiko parecia realmente ansioso para ver a continuação, então teria que aguentar até o fim por ele. Viu Nagihiko abrir a capa do filme colocar o DVD no aparelho, e puxou a almofada mais próxima, abraçando-a com força, embora o filme ainda nem tivesse começado.

Nagi deu uma última olhada para o garoto ao lado dele, e segurou sua mão, entrelaçando seus dedos, numa tentativa de espantar o medo do loiro. Sentiu o arfar de Tadase, e ele logo apertou sua mão com força, retribuindo o gesto, e Nagihiko finalmente deu o play. Após o trailer de algum anime desconhecido, que eles não entendiam o que estava fazendo em um DVD de filme de terror, o filme enfim começou. Mas não parecia conter fantasmas, ou casas mal-assombradas, ou sangue escorrendo, nem monstro algum. Parecia na verdade ser alguma animação da qual eles nunca tinham ouvido falar. Logo no começo, mostrava um garoto loiro, de olhos claros, em um lugar que parecia ser uma casa de campo, conversando alegremente com um garoto ruivo com cara de tapado que era estranhamente familiar.

– Ano... t-tem certeza de que esse é o filme certo, Fujisaki-kun? Tadase perguntou incerto, soltando aos poucos a almofada em seu colo
– É... acho que colocaram o filme errado na capa - Nagi falou a única explicação plausível que conseguiu encontrar - Ah, bem... já que começamos a ver, por que não assistimos até o fim? Não parece ser de terror, mas...
– Sim! Vamos ver esse até o fim, vamos! - Tadase exclamou na hora, sem conseguir disfarçar o quanto estava feliz por ter escapado da sessão de filmes de terror - Nee... aquele garoto ruivo... ele não parece um pouco com o Souma-kun?
– Ah, sim... agora que você falou, é verdade. Por isso achei ele familiar - Nagihiko respondeu, enquanto o ouvia conversar com o menino loiro, que o chamava de Chico - Ah, o nome dele é Chico... parece mesmo com o Souma-kun, ele tem os mesmos cabelos ruivos espetados... e a mesma cara de tapado

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– Que maldade, tadinho do Souma-kun! - Tadase repreendeu, embora tivesse rido do comentário
– Mas é verdade, ué... e olha, aquele garoto loiro, o tal de Pico... ele parece com você - Nagi comentou, apontando para a tela - Tem os mesmos cabelos dourados, o mesmo sorriso inocente e um rosto angelical... apesar de você ser infinitamente mais bonito, é claro.

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Tadase corou furiosamente com aquele simples comentário, e abaixou a cabeça, constrangido. Nagi riu para si mesmo e continuou a ver o filme em silêncio, até que percebeu que, durante os poucos segundos em que eles ficaram conversando, o relacionamento dos dois meninos do filme havia avançado ridiculamente rápido, passando de amizade para um nível de romance que nem ele e Tadase sequer sonhavam em atingir um dia. Ambos os garotos estavam agora despidos, fazendo coisas muito indecorosas e imorais, que faria pessoas como Yaya e Utau gritarem escandalosamente e terem sérias hemorragias nasais. Os dois ficaram tão chocados em ver aquilo que não conseguiram ter nenhuma reação, senão olhar para a tela da TV com os rostos escarlates, a boca escancarada e os olhos esbugalhados em choque. Assim que Nagihiko compreendeu do que se tratava a cena diante deles, engatinhou desesperado até onde estava o controle remoto, tropeçando pelo tapede, e desligou o filme o mais rápido que pôde, ainda apertando o controle com força entre as mãos trêmulas.

– F-F-Fujisaki-kun... o q-q-que raios era a-aquilo? - Tadase fez a pergunta que Nagi mais temia ter que responder - O que a-aqueles g-garotos estavam f-fazendo... aquilo era... a-aquelas c-c-c-co-coisas que os a-adultos f-fazem, não é...? E-Eles fizeram... mesmo parecendo ser mais novos que a gente... eles fizeram, mesmo sendo... d-dois garotos...
– Hotori-kun! - Nagihiko exclamou, sem saber o que dizer a seguir. Não sabia como aquele DVD indecente tinha ido parar ali, embora parecesse algo típico do que Yaya faria, dizendo que era para "inspirá-los", só sabia que tinha que desviar a atenção de Tadase daquilo - Etto... m-melhor não ficar pensando nisso... isto é... n-não era pra você ter visto algo assim, na verdade não era nem pra eu ter visto... então... b-bem... v-vamos assistir outra coisa que é melhor! - ele tirou aquele DVD indecente do aparelho, amaldiçoando-o com todas as suas forças, e pegou o primeiro que encontrou, colocando-o no aparelho em seu lugar. Na capa, o filme estava intitulado como "Pânico", mas que parecia ser apenas outro DVD de anime que tinha sido trocado pelo original. No filme, uma garota de cabelos escuros e compridos caminhava pela cidade sozinha, com o vento batendo em sua saia rodada e levantando-a ligeiramente, e esvoaçando seus cabelos para trás. Tadase parecia ter voltado a prestar atenção no filme, ainda que seu rosto ainda estivesse irremediavelmente corado com a cena que presenciara, enquanto Nagihiko tentava em vão prestar atenção no novo filme, embora seu olhar recaísse sob o Rei de cinco em cinco segundos, perdido em pensamentos. Por mais que tentasse resistir, aquele filme havia lhe provocado sensações estranhas, das quais ele nunca provara antes, e agora ele se pegava imaginando a si mesmo com Tadase na mesma situação em que os dois garotos do anime estavam. Mais de uma vez ele sacudiu a cabeça com força, tentando espantar esses pensamentos imorais, e interiormente agradecido por sua mãe não estar em casa agora, até que ouviu uma exclamação de Tadase, e olhou para ele preocupdo.

– O que foi Hotori-kun? Apareceu algum fantasma ou coisa do tipo? - ele perguntou, tentndo parecer brincalhão, ainda que sua voz soasse meio falhada
– Não... é que... a-aquele garoto... - Tadase apontou para a tela, e Nagi viu o mesmo menino loiro do filme anterior, junto com a pessoa de cabelos compridos que eles pensaram ser uma garota, mas que agora percebiam que na verdade era um menino, graças ao fato de estar despido
– Ah... a tal de Coco é um garoto - Nagi falou surpreso - É, ele até que engana bem.... nada mal mesmo.

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Nagi olhou a tela mais alguns segundos, surpreso e admirado em ver outro garoto que podia se passar tranquilamente por uma menina, quando finalmente percebeu o que o mais novo travesti estava fazendo com o garoto loiro do filme. Já ia pegar o controle remoto e parar o filme novamente, quando ouviu o sussurro tímido de Tadase ao lado dele
– Nee Fujisaki-kun... o q-que aqueles d-dois estão f-fazendo... o que o garoto de cabelo longo está fazendo com o tal de Pico... isso... s-significa que.... u-um dia você vai f-fazer essas c-c-coisas c-comigo também...?
– O QUE?! - Nagi berrou, sentindo como se fosse vomitar o próprio fígado - E-E-E-Eu não... q-quero dizer... n-nós somos muito n-novos pra...
– Somos muito novos agora, mas... q-quer dizer que, um dia, quando formos grandes e estivermos mais velhos... v-você vai...? - Tadase deixou a frase incompleta, já que não era realmente necessário terminá-la. Nagi arquejou, desesperado, sem saber como responder aquilo
– Eu... bem.... q-quero dizer... eu não... isto é, você sabe...
– Então significa..... q-que EU vou ter que fazer isso com v-você...?! - Tadase concluiu precipitadamente, por algum motivo parecendo se desesperar só agora - Ahh não... p-por favor, não me peça uma coisa dessas, Fujisaki-kun, e-e-eu não sei se c-consigo... e-eu não sei como... c-como se f-f-f-faz... e-eu não...
– Não! V-Você não precisa fazer isso, Hotori-kun, não mesmo! - Nagi apressou-se a dizer, finalmente apertando o botão de desligar e tirando aquele filme, cuja trilha sonora de gemidos e exclamações só estava lhe proporcionando pensamentos e sensações cada vez mais imorais - V-Você não tem que f-fazer isso em mim, é sério!
– Então... v-você vai mesmo... em mim...? - Tadase sussurrou sem completar a frase novamente, abaixando a cabeça numa tentativa inútil de esconder o rosto escarlate com a franja. Parecia absolutamente apavorado, e visivelmente nervoso. Ele havia corado intensamente, até a raiz dos cabelos dourados, e desviava o rosto para todos os lados, mirando a mesa diante deles, o chão, a parede oposta, e a tela da TV, agora desligada, sem saber onde fixar o olhar, e evitando encarar Nagihiko, que por sua vez, não sabia o que responder. Seria mentira dizer que ele nunca tinha pensado nessas coisas, e a visão daquele filme, mesmo que apenas alguns minutos, foi mais que suficiente para despertar as fantasias mais loucas das profundezas de sua mente. Isso sem falar na enorme vontade que estava de agarrar Tadase e fazer coisas muito indecorosas com ele agora.

– Hotori-kun... quando revelei a verdade sobre a Nadeshiko para os outros, e também a verdade sobre nosso namoro... eu fiz isso porque não queria mais mentiras na minha vida, e não quero começar uma nova mentira agora, ainda mais pra você - ele começou, sem encarar o Rei - Eu... estaria mentindo se falasse que nunca pensei nessas coisas, mas... são apenas devaneios, ou sonhos malucos que eu tenho de vez em quando, e nada mais do que isso. Como eu disse antes, somos muito novos pra pensar nessas coisas ainda... e quando penso nisso, é... bem... p-porque quero passar o resto da minha vida ao seu lado, e crescer ao seu lado... e amadurecer junto com você, até termos idade e estarmos prontos para quando nosso relacionamento chegar a esse nível, entende?
– Sim... a-acho que entendi - Tadase respondeu, ainda sem encará-lo, porém parecendo mais calmo - Eu... ainda não consigo acreditar que vi mesmo dois garotos f-fazendo essas c-c-co-coisas... nem que isso seja realmente possível, mas... se chegar o dia em que eu... b-bem,.. você sabe... err... o que eu quero dizer é que... e-eu só poderia fazer algo assim com você. Eu te amo, Fujisaki Nagihiko-kun... te amo muito mesmo - ele finalmente forçou-se a encarar o maior, apertando sua mão com força entre os dedos trêmulos, numa tentativa de ganhar coragem com esse simples gesto
– Eu também... te amo agora, e te amarei sempre, Hotori Tadase-kun - Nagihiko entrelaçou seus dedos com os do Rei e acariciou sua bochecha macia com a mão livre, aproximando lentamente seu rosto do de Tadase, até selar seus lábios em um beijo.

Nagihiko inclinou o corpo de Tadase para baixo, empurrando-o contra o chão, e colocou-se acima dele, deslizando a mão que antes estava em seu rosto até a cintura e abraçando-o, sem interromper o beijo. Sentiu as mãos de Tadase passando por suas costas, apertando-o, e retribuindo ao beijo à altura, enquanto tentava inutilmente conter um gemido. Tadase sentia o maior tomar seus lábios para si, em um beijo suave e lento no começo, mas que foi se tornando gradualmente mais intenso e mais feroz, como se Nagihiko quisesse devorá-lo por inteiro. Sentiu as mãos ágeis do mais alto percorrerem seu corpo diminuto velozmente, adentrando suas roupas, ao mesmo tempo em que o abraçava pela cintura e, com uma das mãos, buscava os botões da camisa, abrindo-os apressadamente e com incrível habilidade. Tadase segurou-se ao máximo para não fazer nenhum barulho estranho, ainda que isso fosse quase impossível quando ele pensava no fato de estar sendo despido por seu namorado, exatamente do mesmo jeito que o garoto Pico do filme fora também. A mão ágil de Nagihiko invadiu o tecido já aberto de suas roupas, percorrendo o abdômen até chegar às costas, acariciando cada centímetro da pele quente, que se arrepiava com o toque dele.

Nagihiko ia intensificando o toque gradualmente, e curiosamente parecia tocá-lo apenas nos lugares mais sensíveis, como se ele soubesse onde precisava tocar para provocá-lo e fazer Tadase gemer cada vez mais alto. Nagi desceu mais as mãos, indo até a cintura do Rei, e vez ou outra tocando-o mais embaixo, enquanto invadia a boca do loiro com a língua, explorando e invadindo a cavidade bucal do menor com certa pressa e urgência. Os beijos do Valete tornavam-se cada vez mais provocantes, mais sedutores... mais ardentes. Tadase podia jurar que iria morrer engasgado quando sentiu o maior enfiando a língua em sua garganta, mas por algum motivo acabou se sentindo muito bem com isso, depois que se acostumou, é claro. O loiro já estava sentindo falta de ar, mas Nagihiko parecia estar longe de querer parar. Tadase começou a sentir suas pernas bambearem e seu corpo tremer, chegando a ter tonturas devido à falta de oxigênio em seu corpo, até que inevitavelmente se lembrou outra vez do filme incompleto que eles assistiam, onde Coco fizera exatamente a mesma coisa com o garoto Pico. Ele mesmo tinha dito que, se fosse com Nagihiko, ele não se importaria de fazer aquelas coisas constrangedoras um dia, mas... será que o Valete estava pretendendo fazer aquilo agora?! Ele disse que faria aquilo um dia, não agora, ainda eram jovens demais pra isso! Será que Nagihiko pretendia realmente...?!

Aquele pensamento o apavorou por completo, e Tadase sentiu uma mistura de sentimentos estranhos dentro de si. Ansiedade, medo, angústia, insegurança... e no entanto, também uma certa curiosidade e excitação. Não havia dúvidas que ele tinha receio de fazer algo como aquilo, e muito, mas... se fosse com Nagihiko... talvez, só talvez... não fosse tão assustador como ele imaginava.

No entanto supreendeu-se ao ver que Nagihiko tinha se afastado alguns centímetros, interrompendo o beijo, e agora respirava ofegante, tentando repor o ar em seus pulmões. Ele podia sentir o hálito quente do Valete batendo em seu rosto, inspirando e expirando ritmicamente.

– Ano... F-Fujisaki-kun...? - Tadase chamou depois de também repor o oxigênio em seu corpo - V-Você não vai... sabe...
– Hein? Não vou o que...? - o maior perguntou, ainda arquejando
– É que... v-você demorou tanto que eu pensei... q-que você iria... err... f-f-fazer a mesma c-coisa que aquele garoto f-fez com o Pico no filme... - Tadase sussurrou tão baixinho que Nagihiko podia jurar que tinha entendido errado, mas o modo como o rosto do Rei corou tão intensamente, sendo escondido entre as mãos do mesmo logo em seguida, não deixavam dúvidas
– H-H-Ho-Hotori--kun...! - Nagihiko exclamou no que pretendia ser um tom de repreensão, mas foi terrivelmente mal-sucedido - E-Eu não... isto é... e-eu jamais... v-você sabe, nós... s-somos muito novos pra essas c-coisas! - ele se levantou, desviando o rosto, agora enrubescido, de Tadase, numa tentaviva falha de que o Rei não notasse o quanto ele ficara envergonhado com o comentário. Tadase se sentou também, perguntando-se se tinha falado alguma coisa de muito errado, enquanto ajeitava a própria camisa, voltando a fechar os botões, um tanto atrapalhado, até que viu Nagi retirar um DVD da estante, e colocar no aparelho - O-Olha... vamos deixar esses filmes que alugamos de lado, ok? Porque, pelo jeito, foram todos sabotados... então, vamos assistir à um filme meu mesmo!
– E qual você escolheu?
– O Chamado - Nagi mostrou a capa com uma garota de pele branco-acizentada, um vestido branco desbotado e longos cabelos negros cobrindo sua face medonha, e Tadase se encolheu de medo, procurando com uma das mãos pela almofada que tinha deixado de lado. Nagihiko riu e se sentou ao lado dele depois de dar o play, abraçando-o pela cintura com uma das mãos e puxando-o para perto antes que o garoto encontrasse a almofada - Não seja bobo, Hotori-kun... é só um filme! Além do mais, mesmo que você sinta medo... não precisa ficar se agarrando à uma almofada. Você... pode me abraçar sem problemas agora, não é?
– Humm... s-sim... a-acho que sim - Tadase respondeu baixinho, apoiando sua cabeça no ombro dele timidamente, e agarrando-se à camisa do maior com as mãozinhas trêmulas. Ele realmente detestava filmes de terror, mas se eles servissem como desculpa para ficar duas horas inteiras abraçado assim com Nagihiko, sendo embalado pelo doce aroma dele... talvez esse tipo de filme não fosse tão ruim assim afinal. Estava pensando nisso, quando se lembrou de algo que ele mesmo dissera da última vez em que Nagihiko foi até a sua casa, e não resistiu em comentar - Nee Fujisaki-kun... lembra daquela vez em que fomos estudar na minha casa? Eu tinha dito que... desde que começamos a n-na-namorar... bem... n-nós nunca mais d-dormimos j-juntos... e-então eu estava pensando... que podíamos fazer isso hoje - ele falou como quem não quer nada, encarando o maior de soslaio com um olhar irresistivelmente fofo. Viu Nagihiko corar mais do que o esperado, e parecer mais chocado e nervoso do que devia com aquele pedido, então rapidamente acrescentou - Ah! M-mas quando eu digo dormir... e-eu quero dizer literalmente dormir, entendeu? N-Não quis dizer... pra fazermos nada do que aqueles garotos do anime estavam f-fazendo... n-nem nada parecido, ouviu?!
– C-Claro... eu entendi, não se preocupe, Hotori-kun - Nagi respondeu o mais calmamente que pôde, tentando normalizar as batidas de seu coração ao compreender o que exatamente Tadase estava querendo com aquilo - Acho que não é uma má idéia dormirmos juntos mais uma vez... faz tempo que não fazemos isso afinal - ele passou a mão distraidamente pela cabeça do menor, bagunçando seus cabelos loiros, e arrancando um luminoso sorriso de Tadase
– Feliz Halloween, Fujisaki-kun - Tadase sussurrou no ouvido do maior, mais sorridente e radiante do que nunca por ter tido seu pedido aceito, e deslizou a cabeça até seu peito, apoiando-a ali, do jeito que mais gostava, enquanto sentia o maior acariciar seus cabelos com a mão livre
– Sim... Feliz Halloween, Hotori-kun.