Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 45
Capítulo 45 - Innocent Starter


Notas iniciais do capítulo

Innocent Starter - Nana Mizuki
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Parando em frente à calçada dos Hinamori, Kukai respirou fundo, numa tentativa de que aquilo lhe desse coragem para o que estava prestes a fazer. Não fazia a menor idéia de como começaria aquela conversa, mas realmente queria ajudar seus amigos, então teria que encontrar um modo de fazê-lo. Inspirando fundo mais uma vez, ele bateu na porta e, quase que imediatamente, a porta se abriu de modo meio brusco. Kukai olhou em volta, para a direita e para a esquerda, mas não viu ninguém. Estava começando a pensar que de algum modo tinha quebrado a porta da casa da amiga, quando sentiu "alguma coisa" puxando sua camisa para baixo e uma voz esganiçada gritando:


– Waahhhh um novo Onii-chan "apaleceu"! Você é o novo "namolado" da minha Onee-chan? Veio visitar ela? - Ami gritava aos pulos e com empolgação excessiva, de um jeito que lembrava estranhamente Yaya, puxando a roupa de Kukai com cada vez mais força numa tentativa de trazer o garoto para dentro de casa
– Ah, a irmãzinha da Hinamori... pode chamar a sua irmã pra mim, baixinha? - Kukai pediu, rindo para a menina enquanto afagava os cabelos dela, sem dar a mínima atenção ao comentário da garotinha
– Ami! Quantas vezes já te disse que não pode abrir a port... ué? Kukai?! - Amu veio da cozinha, pronta para dar uma bronca na irmã, mas parou de chofre ao se deparar com o visitante
– Yoo Hinamori! Eu... precisava conversar uma coisa com você. Tem um minuto? - o garoto perguntou, tentando parecer descontraído, embora estivesse visivelmente nervoso
– O Onii-chan de cabelo vermelho veio te visitar, Onee-chan! Ele é o seu novo "namolado"? - Ami perguntou, ainda agarrada ao garoto
– Onii-chan? Namorado?! - o pai de Amu pareceu brotar do chão ao ouvir as duas palavras mais proibídas naquela casa. Assim que viu Kukai parado à porta, com sua preciosa filha caçula agarrada à ele, puxou Ami de volta para perto de si, segurando a menina firmemente em seus braços e deixando-a fora do alcance do garoto, como se ele fosse algum animal selvagem ou coisa parecida. Parecia querer fazer a mesma coisa com Amu, e só não o fazia porque agora sua primogênita estava grande demais para ele aguentar segurá-la no colo - Você! Quem é você, rapazinho? O que faz na minha casa à essa hora da noite??- ele gritou, estreitando os olhos, e parecendo que estava prestes a soltar fogo pelas ventas
– Ah, olá senhor Hinamori... desculpe pela hora, mas eu tenho algo importante à tratar com a Hinamori, então vou sequestrar ela por um tempinho, ok? - Kukai falou no tom brincalhão de sempre, sem ter a menor idéia do efeito que a conotação de suas palavras causavam no pai da amiga. O homem engasgou-se com as palavras, parecendo que teria um ataque cardíaco a qualquer momento
– E-E-Eu sabia! É um sequestrador!! Você quer levar minha preciosa Amu-chan embora e corromper ela!! Eu não vou deixar você levar minha filha, seu marginal!! Eu vou te dar uma lição que você nunca mais vai...
– Pelo amor de Deus, papai, ele só estava brincando! - Amu interrompeu o que prometia ser um discurso mortalmente longo - Este é Souma Kukai, ele é meu amigo, até já estudou comigo, esqueceu?!
– A-A-Amu-chan... não me diga que esse delinquentezinho é seu... n-n-na-namorado? - o homem perguntou à beira das lágriams
– C-Claro que não, eu já falei que somos só amigos! - a Coringa exclamou, corando um pouco - Argh, quer saber, não vai dar pra conversarmos aqui, vamos dar uma volta que é melhor, Kukai! - antes que o Ex-Valete compreendesse a situação, Amu o agarrou pelo braço e o guiou para fora da casa, só parando de andar quando já não podia mais ouvir os lamentos do pai.


Pararam em uma pequena pracinha, agora deserta por causa do horário, onde Amu costumava levar a irmã para brincar de vez em quando. A Coringa soltou um suspiro ao ver que finalmente teriam um pouco de privacicade, e soltou o braço do garoto, deixando-se cair em um dos balanços.


– Ahn... p-por acaso eu falei alguma coisa errada...? - Kukai perguntou incerto, ainda com dificuldade para compreender o que tinha acabado de acontecer
– Não, o meu pai é sempre assim exagerado com qualquer garoto que venha me visitar... não é culpa sua, não se preocupe - ela respondeu, soltando outro suspiro - À propósito, desculpe pelo modo como meu pai e minha irmã agiram... eles são meio exagerados
– Ah, não esquenta não, toda família tem seus problemas... tem que ver meus irmãos, eles fazem um estardalhaço quando meus amigos vão me visitar! - Kukai exclamou, lembrando-se de como seus irmãos adoravam implicar com ele, e sentando-se no balanço ao lado da garota - Mas nem posso reclamar muito deles... eu conheço pessoas com famílias muito mais problemáticas
– Conhece?
– Sim, conheço... na verdade você também conhece. A família do Fujisaki, por exemplo, é uma das mais complicadas que já vi... é sobre isso que eu queria falar com você, Hinamori - ele falou, mais sério, e a garota bufou, virando o rosto para o lado irritada
– Hunf... então aquele mentiroso já foi correndo pedir ajuda pra você, é? Fofoqueiro de uma figa... parece mesmo uma garota - ela resmungou, mais para si mesma do que para o amigo - Aposto que você não o defenderia se soubesse o que aquele mentiroso de duas caras tem aprontado durante todos esses anos...
– Que dizer o segredo sobre a Fujisaki Nadeshiko? Eu sei - Kukai a interrompeu - Fujisaki me contou sobre isso assim que voltou de viagem da Europa. Eu fiquei meio chocado no começo... bem, bastante chocado na verdade, descobrir que minha amiga era um garoto o tempo todo, é realmente surpreendente, mas... depois que me acostumei com a idéia e assimilei os fatos, isso já não fazia mais diferença pra mim. Nadeshiko ou Nagihiko, não importa, Fujisaki ainda era a mesma pesso...
– Você sabia? - dessa vez foi Amu quem interrompeu - Você sabia o tempo todo que ele estava me enganando e mentindo pra mim... não só pra mim, mas pra todos ao seu redor... sabia da verdade e não me contou? Não me falou que a minha melhor amiga não passava de uma farsa o tempo todo?! Que a pessoa que eu mais admiro era uma mentirosa que nunca existiu?!! - Amu pôs-se de pé, completamente indignada. Kukai levantou-se também, olhando-a com apreensão, sem saber o que fazer. Não esperava que ela reagisse tão mal logo no início da conversa
– Ahn... n-não é como se eu soubesse a verdade o tempo todo, Hinamori... durante anos eu também pensei que a Fujisaki fosse uma menina, e só fui descobrir a verdade quando ele voltou de viagem, e apenas porque o Tadase e o Diretor Tsukasa queriam minha ajuda para convencê-lo a ocupar o cargo de Valete que estava vago na época. Se não fosse por isso, acho que ele nem teria me conta...
– Então! Eles só te contaram porque queriam sua ajuda, e mesmo assim você não se incomoda?! - Amu interrompeu novamente - Quem mais sabe disso, hein?? Quem mais sabe dessa horrível verdade e não me contou??
– E-Eu acho que somos realmente os únicos a saber... o Diretor Tsukasa parecia saber desde sempre, já que os pais do Fujisaki devem ter explicado à ele a condição do filho na hora de realizar a matrícula na escola, e o Tadase provavelmente descobriu logo depois, já que é parente do Diretor... eu só fui descobrir anos depois... q-que eu saiba, somos os únicos a saber disso
– Então! Aquele mentiroso dissimulado vêm te enganando por anos, fingindo ser sua amiga, ou seu amigo, ou sei lá o que... e você não se incomoda com isso?! Como você pode reagir tão bem à uma coisa dessas?! - Amu voltou a gritar, com lágrimas nos olhos tamanha era sua indignação
– Hinamori... o Fujisaki não se fingia de menina porque queria, ele foi obrigado a fazer isso. Pelos próprios pais - Kukai contou, voltando a se sentar no balanço. Amu respirou fundo mais algumas vezes, tentando normalizar sua respiração, e se sentou também, esperando que Kukai continuasse - Você conhece a história e a tradição da família dele, não é?
– Se fala sobre aquela história da dança, eu conheço. Todo mundo conhece
– Sim... bem... como você deve saber, as filhas mulheres da família devem suceder seus pais e se tornarem perfeitas dançarinas... mas Fujisaki nasceu um garoto. Como os pais deles não tiveram nenhuma filha, aquela mãe assustadora dele o obrigou desde pequeno a se vestir como menina, a agir como menina, e a usar um nome falso de menina, adotando assim o pseudo-nome "Nadeshiko". Por causa disso, ele foi privado de seus desejos e vontades de garoto, que ele não podia realizar por causa de sua falsa identidade... nem mesmo nos esportes, que ele tanto gosta, ele não podia dar o máximo de si, porque... bem, sem querer ofender, mas você sabe que a maioria das meninas não têm lá tanta agilidade nos esportes em comparação aos garotos, então ele não podia se esforçar no que realmente gostava como queria... até a primeira Shugo Chara dele nasceu fêmea por causa disso! Ele foi obrigado pela mãe a viver em uma farsa desde pequeno, enganando todos ao seu redor, contra sua vontade, e convivendo todos os dias com o peso e a amargura da culpa por ter que mentir para os seus amigos mais próximos durante todos os dias de sua vida. E você era uma dessas amigas. Ele odiava ter que mentir pra você, e se odiava por isso, mas não podia fazer nada, estava preso às correntes da família dele. Depois de anos vivendo sob a farsa de menina, ele... bem, eu não sei bem o que aconteceu, acho que tem algo a ver com o Tadase, mas... ele resolveu viajar pra Europa, e quando voltou, estava enfim livre da obrigação de se travestir, mas pagou um preço alto por isso. Temari tinha voltado pro ovo, e ficou mais de um ano presa no Shugo Tama. Ela ainda é a Chara da "Nadeshiko"... você realmente gostaria de ver a Shugo Chara da sua melhor amiga desse jeito, adormecida no ovo por sabe Deus quanto tempo, e sob a possibilidade de se transformar em um Batsu Tama a qualquer momento?
– C-Claro que não... eu não desejo um Batsu Tama pra ninguém... nem mesmo para um mentiroso duas-caras feito ele. A-Além do mais, a Temari não tem culpa do dono que tem, eu acho... então, é claro que eu não desejo que ela se torne um Batsu Tama - Amu respondeu baixinho, meio envergonhada por Kukai ter pensado isso dela, balançando-se devagar para a frente e para trás com a ponta dos pés numa tentativa de disfarçar o constrangimento óbvio que sentia
– Pois foi isso que quase aconteceu com o Fujisaki - Kukai continuou, estranhamente sério, sem encarar a amiga - Depois que voltou de viagem, ele realmente queria contar a verdade para todos, assim como tinha contado pra mim, mas... ele ficou com medo de vocês reagirem, bem... como você está reagindo agora - ele falou, apontando para a amiga, e Amu se remexeu incomodada - Ele não queria perder suas amizades, entende, e como Temari tinha voltado para o ovo, e outro Shugo Tama, o ovo do Rhythm, havia nascido, ele acabou inventando aquela história de irmão gêmeo. Mas a mentira foi se complicando cada vez mais, principalmente depois que a Temari voltou... e pra completar, ainda tem aquela história com o Tadase... ele sofreu por sabe Deus quantos anos por ter que esconder esse amor pelo amigo, ainda mais sabendo que você gostava do Tadase também... ele não queria magoar a melhor amiga de jeito nenhum, e nunca pensou realmente em lutar pelo próprio amor porque... bem, porque eles são dois garotos afinal, então o Fujisaki sempre achou que não tinha a menor chance, e ficou com medo do Tadase se afastar dele se descobrisse a verdade... mas, depois de muita dor e sofrimento, eles finalmente conseguiram se acertar e estão juntos agora. Depois de tanto tempo, os dois enfim estão namorando como sempre desejaram, então o Fujisaki devia estar feliz, mas ele não está porque perdeu a melhor amiga por causa de uma mentira que a mãe dele o obrigou a inventar. Não é justo que ele tenha que sofrer ainda mais por uma coisa que nem é culpa dele... não importa se o Fujisaki é um garoto ou uma garota, ele continua sendo um importante amigo meu, e eu sempre me considerarei seu irmão mais velho, assim como sou para o Tadase, para você, e para todos os outros. Eu não quero ver meus irmãozinhos brigando e sofrendo por causa de uma bobagem dessas... então será que realmente não há uma maneira de vocês se entenderem, Hinamori? Mesmo sendo um garoto, Fujisaki Nadeshiko foi sua melhor amiga uma vez, a pessoa que você mais admirou no mundo inteiro... você realmente vai deixar a verdadeira identidade daquela que uma vez foi sua melhor amiga, sofrer tanto assim?
– Droga, Kukai... você realmente sabe como fazer as pessoas se sentirem culpadas, hein?! - ela reclamou, de cabeça baixa, de modo que a franja lhe cobrisse os olhos - Não sei posso perdoá-lo por ter mentido pra mim por tanto tempo.... mas também não quero que ele sofra assim desse jeito... ele é o que está mais perto de ser a minha amiga Nadeshiko afinal. Eu... vou pensar no que você disse... e amanhã converso melhor com ele, está bem assim?
– É, já é um bom começo! - Kukai exclamou, voltando a sorrir de orelha a orelha, esperançoso - Valeu mesmo, Hinamori. E, pense com cuidado, viu... lembre-se de que a pessoa de quem você está com raiva agora, um dia foi Fujisaki Nadeshiko afinal.










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No dia seguinte, depois das aulas, excepcionalmente naquela tarde, a reunião do Royal Garden tinha sido cancelada para que Nagihiko pudesse resolver de uma vez aquele assunto. Ele foi o primeiro a chegar no Royal Garden, acompanhado de Tadase, que realmente queria ajudá-lo de alguma forma, embora não soubesse como. Amu chegou logo depois, com dificuldade de encará-lo nos olhos, e sem saber muito bem o que dizer. Se remexeu no mesmo lugar por vários segundos, balançando-se nas solas dos pés, até que Nagihiko falou:


– A-Amu-chan... etto... S-Souma-kun me disse que você tinha algo a me dizer... o que...?
– Ah, aquele língua-solta... e depois dizem que as garotas é que são fofoqueiras - ela comentou, numa vã tentativa de acabar com a tensão no ar - Bem... o Kukai conversou comigo ontem. Ele me contou sobre... o motivo de você ter fingido esse tempo todo e mentido pra todos ao seu redor, embora eu já soubesse disso... e me contou também que você fez isso apenas porque sua mãe mandou você fazer. É verdade?
– Bem, sim... é uma tradição de família afinal. E eu era tão pequeno quando comecei a fazer isso que, quando vi, já nem me lembrava mais quando foi que essa farsa tinha começado
– Sei... então, basicamente, foi uma ordem da sua família você se vestir de menina, usar um nome falso e mentir pra todos ao seu redor, correto?
– Ahn... é... e-eu não podia deixar ninguém descobrir o meu segredo, ou o objetivo de eu me fingir de menina, afim de adquirir a graça e a delicadeza de uma donzela, não faria mais sentido - Nagihiko respondeu, sem entender muito bem aonde a Coringa queria chegar com aquilo
– E também foi uma ordem da sua família inventar aquela história de gêmeos? - ela perguntou
– Não... isso foi idéia minha - Nagi confessou, abaixando a cabeça envergonhado. Tadase segurou timidamente sua mão, numa tentativa de encorajá-lo a continuar, e o mais alto entrelaçou seus dedos com os dele, respirando fundo para prosseguir - Eu queria mostrar meu verdadeiro eu à vocês, mas ainda não estava livre para ser eu mesmo, então essa foi a única forma que encontrei de fazer isso. Eu pensei em contar a verdade quando voltei de viagem da Europa, mas fiquei com medo de vocês ficarem com raiva de mim, de não entenderem a minha situação e me odiarem... tive medo de vocês reagirem... c-como você está reagindo agora... então inventei aquela história para poder continuar ao lado daqueles que já eram meus amigos antes. Amu-chan, eu menti sobre ser uma menina, e sobre ter um irmão gêmeo sim... mas nada do que eu vivi com você, enquanto era a Nadeshiko, era uma farsa, tudo aquilo foi verdadeiro... eu nunca quis mentir, nem pra você nem pra ninguém, eu juro...
– Você inventou uma pessoa que não existe e sumiu com a minha melhor amiga - ela acusou
– Eu não sumi com ninguém, a Nadeshiko continua existindo, bem aqui - ele apontou para si mesmo, levando a mão livre ao peito - Ela está aqui dentro, faz parte de mim. Mesmo que eu não esteja mais travestido, eu... passei tanto tempo agindo e falando como uma menina, que a Nadeshiko se tornou parte do meu ser, sem ela eu estaria incompleto, como se faltasse um pedaço de mim, entende? Eu ainda sou a Nadeshiko. Apenas... eu apenas... sou um garoto.


Amu soltou um longo suspiro, tentando processar o mais rapidamente possível tudo o que ele disse. Sua cabeça ainda dava voltas com toda aquela avalanche de informações jogadas em cima dela, e Amu ainda estava indignada por ter sido enganada todo esse tempo pela pessoa que ela considerava como sua melhor amiga. Mas, ao mesmo tempo, saber que o atual Valete e a Ex-Rainha eram a mesma pessoa, seria como ter Nadeshiko por perto outra vez. Mesmo depois daquilo, ela ainda sentia saudades da amiga, sentia falta de conversar com ela, de fazer compras, de pedir conselhos... mesmo que Nadeshiko fosse um garoto.


– Nagihiko... você mentiu pra mim durante muito tempo, e sinceramente, eu não sei se posso te perdoar por isso. Talvez um dia eu perdoe, mas não agora... e eu também não acho que podemos retomar a mesma amizade de antes, depois de todas essas mentiras, a confiança que eu tinha em você foi quebrada afinal - Amu falou, finalmente encarando-o, e Nagihiko abaixou a cabeça até seus olhos serem encobertos pela franja, apertando a mão de Tadase entre a sua - Mas... talvez seja possível recomeçar daqui. Vamos recomeçar do zero, uma nova amizade, sem mentiras, e sem segredos.... o que acha? - ela esboçou um sorriso sem graça, estendendo timidamente um das mãos para ele. Nagi a encarou, piscando incrédulo por alguns segundos, e duvidando se tinha ouvido corretamente. Depois que a ficha caiu, o peso que dominava seu coração foi se dissolvendo aos poucos, dando lugar à um tênue fio de esperança
– Acho que essa é uma ótima idéia - ele disse por fim, estendendo a mão também e apertando a mão que a garota lhe oferecia - Então, prazer em conhecê-la de novo. Eu me chamo Fujisaki Nagihiko, sou filho único e venho de uma família tradicional que preza a dança japonesa. Sou o sucessor da minha família, e... até pouco mais de um ano atrás, era obrigado a me fingir de garota por causa das tradições da minha família. Prazer em conhecê-la novamente
– É um prazer também. Eu me chamo Hinamori Amu, tenho uma irmã caçula, pais neuróticos, e... recentemente descobri que minha melhor amiga é um travesti... m-mas acho que posso que posso encontrar um meio de conviver com isso. Prazer em conhecê-lo de novo, Nagihiko
– Como é que é?! Amu-chi conhece um travesti e não nos contou???


A voz estridente de Yaya ecoou pelo Royal Garden, interrompendo o momento de reconciliação. Logo a Às veio correndo na direção dos dois, parecendo mais agitada do que o normal. Atrás dela, vieram Kukai, Kairi, e logo depois, Rima, que parecia ter certa dificuldade em acompanhar os passos apressados deles com suas perninhas curtas. Logo atrás dela, vinham Ikuto e Utau, por algum motivo vestidos de médico e enfermeira, respectivamente. Ikuto usava uma roupa toda branca, com um jaleco de médico esvoaçando às suas costas, um par de óculos emoldurando seu rosto que, ao invés de lhe dar um ar intelectual, como a maioria dos óculos faziam, só parecia deixá-lo ainda mais pervertido, e segurava uma maleta de médico em uma das mãos e uma injeção na outra, tinha até um estetoscópio pendurado no pescoço. Utau estava com um vestidinho curto e justo, todo rosa claro, de mangas curtas, e usando uma meia-calça branca que desaparecia por debaixo da saia, um chapéu de enfermeria com uma cruz vermelha no meio, e uma prancheta e caneta debaixo do braço. Os longos cabelos loiros estavam bem presos em um coque apertado, e também usava um óculos idêntico ao do irmão, deixando-a praticamente irreconhecível.


– Meu Kami-sama, o que aconteceu com vocês?! - Amu exclamou, apontando escandalosamente para os dois Tsukiyomis - Por que raios estão fantasiados assim se ainda nem sequer chegou o Halloween??
– Olá pra você também - Utau falou, séria demais para alguém que estava se passando por uma enfermeira - E não faça perguntas bobas, Amu, até parece que uma cantora famosa como eu poderia entrar aqui sem chamar atenção, eu tinha que me disfarçar! No momento sou a enfermeira temporária da enfermaria da sua escola, e o Ikuto aqui é o médico substituto - ela falou como se isso fosse uma explicação perfeitamente aceitável - Na verdade o Ikuto não é famoso nem nada, então nem precisava da fantasia, mas gostou da idéia e quis se disfarçar também... mas eu acho que ele acabou chamando mais atenção assim do que se estivesse com suas roupas normais, foram tantas alunas que nos pararam no meio do caminho...
– Ora, as pirralhas não têm culpa de terem bom gosto, todas elas queriam ser examinadas pelo sensei aqui e brincar de médico comig... ittaaaii!!! - o mais velho falou, tremendamente convencido, mas interrompeu a frase assim que teve o seu pé pisado pela Rainha
– Tá... e por que todos vocês estão aqui mesmo....? - Amu perguntou, ainda confusa com todas aquelas informações ao mesmo tempo
– O Nagi disse que queria nos contar uma coisa, mas isso não interessa agora! Que história é essa de você ser amiga de um travesti e não nos contar, Amu-chi?! - Yaya tornou a repetir escandalosamente - E melhor amiga ainda por cima! Ahh e eu que pensei que a sua melhor amiga fosse a Naddy, que decepção... ela vai ficar arrasada quando souber, vai sim...
– Na verdade é sobre isso mesmo que eu queria falar, Yaya-chan - Nagihiko interrompeu - Preciso contar uma coisa importante sobre a Nadeshiko... pra todos vocês
– Fujisaki-kun... v-você vai mesmo fazer isso?? - Tadase perguntou incrédulo, e preocupado ao mesmo tempo
– Espera aí... ah, essa não! V-Você vai mesmo... p-pra todos eles, Nagihiko?! - Amu exclamou, mais abismada do que o Rei
– Vou sim. Estou cansado de tantas mentiras na minha vida... você tem razão Amu-chan, já está na hora de acabar com essa farsa que nunca deveria ter começado - Nagi falou, respirando fundo numa tentativa de reunir coragem
– Bem, já estava mais do que na hora mesmo - Rima murmurou para si mesma, tirando uma garrafa térmica da bolsa e servindo-se de chá, enquanto se sentava para apreciar o espetáculo
– Do que está falando afinal, Nagi? Yaya não está entendo!! - A ruiva reclamou
– Bem... o que eu vou dizer é uma coisa difícil de se contar, então por favor, não interrompam - o Valete pediu, ainda tentando reunir coragem para falar aquilo para tanta gente de uma só vez - T-Todos vocês pelo menos já ouviram falar sobre a Nadeshiko, não é?
– A sua irmã, certo? - Kairi perguntou indiferente - O que tem ela?
– Ahh sei, a tal da sua irmã gêmea! - Ikuto exclamou antes que o Valete pudesse continuar - Se você já fica ótimo vestido de menina, ela então, que é uma menina de verdade, deve ser mil vezes melhor... gostaria mesmo de conhecê-la um dia. Não me diga que ela vai voltar pro Japão?? - ele perguntou esperançoso, e recebeu outro pisão no pé de Rima
– Cala a boca e deixa o menino falar, Ikuto! - repreendeu Utau - O que tem a sua irmã, Nagi-kun?
– B-Bem... a verdade é que... eu... a Nadeshiko e eu... nós somos um só. Eu nunca tive uma irmã gêmea... eu... eu sou a Nadeshiko. Sempre fui, desde o começo.


Pôde-se ouvir um coro uníssono de "Ehhh??!!!". Rima, que já sabia da verdade, apenas bebericou novamente seu chá, enquanto observava a reação dos demais, assim como Kukai, que parecia bem mais nervoso e apreensivo do que a Rainha por sinal. Yaya, Kairi, Ikuto e Utau estavam com seus olhares pregados no Valete, todos fixos e vazios, e suas bocas faziam um “o” perfeito. Era possível ouvir as engrenagens de seus cérebros rangendo. Ao fundo, planetas e constelações giravam, movendo-se lentamente.


– Espera um mínuto - Kairi foi o primeiro a falar, ajeitandos eu óculos, que tinham entortado tamanho foi o choque - Então você está dizendo... que você a tal daquela sua irmã na verdade são uma só pesso...
– OMG não acredito nissoooo!!!!! - Yaya berrou escandalosamente, interrompendo o garoto - E-E-Então quer dizer que... v-você é a Naddy?! Você era ela esse tempo todo???
– É... bem... é basicamente isso. Eu fui obrigado a me travestir desde muito pequeno por causa dos costumes da minha família - Nagihiko contou, e explicou detalhadamente sobre a tradição de dança de sua família, e sobre o destino das crianças que nasciam meninos, que tinham que carregar esse fardo querendo ou não. Yaya tentou interromper algumas vezes com seus ataques histéricos, mas na terceira tentativa, Kukai a segurou por trás e tampou sua boca, impedindo a garota de continuar interrompendo, no que Nagihiko agradeceu intimamente. Todos ouviram com muita atenção a explicação do Valete sobre os motivos que o levaram a se travestir. Nagi contou sobre aqueles que já sabiam da verdade e como eles descobriram seu segredo, acidentalmente ou não. Contou também sobre seus Charas, inclusive sobre como Temari tinha voltado para o ovo durante tanto tempo por causa da confusão em seu coração. Ele pediu desculpas por ter mentido todo esse tempo e disse que não era escolha dele fazer isso, mas que não tinha outro jeito, e quando terminou todas as explicações, aguardou em silêncio, esperando para ver a reação dos amigos.


– Então, deixa eu ver se entendi - Ikuto foi o primeiro a pronunciar-se dessa vez - Quer dizer que, todo esse tempo que eu passei sonhando e fantasiando com a sua suposta irmã... até mesmo quando a imaginava vestida de maid, e usando nekomimi, fora outras coisas que prefiro não comentar... na verdade eu estava fantasiando com um garoto o tempo todo?!
– É... bem... você realmente fantasiou esse tipo de coisas com a Nadeshiko?! - Nagi perguntou incrédulo, sem saber se ficava constrangido, enojado ou ofendido com essa informação. Ele pensava que conhecia Ikuto, mas o tamanho da perversão do mais velho sempre o surpreendia cada vez mais
– OMG meu irmão tem tendências yaois e eu não sabia! Kyaaaa nunca tive tanto orgulho de você como agora, Ikuto!! - Utau exclamou escandalosa, abraçando o irmão
– Ei, nem começa! Eu não sabia da verdade, então isso não conta! - ele rebateu, afastando a cantora de si
– Você... você é... um travesti... é a primeria vez que vejo um - Kairi murmurou baixinho, apontando para Nagihiko
– Ahhh então quer dizer que o Tadase estava namorando a Naddy esse tempo todo?! - Yaya exclamou, finalmente libertando-se dos braços de Kukai - Não acredito!! Tudo bem que eles ainda parecem fofos juntos, mas... assim não é mais yaoi, perdeu completamente a graça!!! - ela gritou completamente arrasada, tão entristecida que parecia mais que um parente seu tinha falecido ou coisa parecida
– Peraí Yaya-chan, acho que você não entendeu uma coisa - Nagi falou com uma gota na cabeça - Eu me travestia sim, mas sou realmente um garoto, viu?!
– Mas não pode ser!! Você tem esse rostinho de menina tão delicadinho, e esse cabelo longo e bem cuidado, um senso de moda incrível, e cozinha bem ainda por cima... ahh por que você me iludiu desse jeito, hein Naddy?! - a Às choramingou, fazendo com que a gota na cabeça de Nagi aumentasse
– Tudo bem, Yaya-chan... se não acredita em mim, então veja você mesma - o Valete falou, começando a ficar irritado com aquilo. Ele levantou a camisa do uniforme, deixando expostos o abdômen e o tórax indiscutivelmente masculinos, e provando que ele dizia a verdade - Olhe bem. Se eu fosse uma garota, meu corpo não seria assim, não é?
– É... completamente reto. Droga, que decepção - Ikuto comentou, desapontado, olhando o corpo exposto do Valete, com mais atenção do que deveria por sinal.


Kukai e Kairi desviaram os olhos, embaraçados, e ainda um tanto confusos com aquela história sobre a verdadeira sexualidade do herdeiro dos Fujisaki. Tadase também desviou o rosto para o outro lado, embora seus olhos acabassem sendo misteriosamente atraídos na direção do peitoral exposto do Valete. Yaya aproximou-se alguns passos, olhando o amigo com atenção, querendo confirmar de uma vez por todas o que raios ele era afinal. Olhou-o de cima abaixo e, sem mais aviso ou sem pedir permissão, colocou as duas mãos em seu peito esguio.


– É... completamente liso e plano... parece mesmo o corpo de um garoto, eu acho... - a ruiva murmurou para si mesma, apalpando o corpo do amigo com o maior descaramento - Mas não se pode ter certeza só por isso, quero dizer, Rima-tan também é reta como uma tábua mesmo sendo uma menina, e o mesmo vale pra Amu-chi, então não vejo porque a Naddy não poderia...
– Y-Y-Y-Yaya-chan q-quer parar com isso?! E-E-Eu não disse que você podia t-tocar...! - Nagihiko gaguejou, corando drasticamente com o atrevimento da garota em tocá-lo desse jeito tão displicente, e na frente de outras pessoas ainda por cima
– Não mesmo, a Yaya precisa verificar direitinho o que você é! - a menina teimou - Mas assim está difícil, acho que só tem um jeito de confirmarmos o que você você é realmente... mas a Yaya é um bebê, ela não pode fazer isso... quem sabe a Yaya devesse pedir ao Ikuto-sensei pra te "examinar"...
– Opa, eu topo! - o neko concordou rapidamente, se empolgando mais do que devia por sinal
– Você... quer parar... de tocar no meu namorado??? - ouviu-se um berro estridente, calando a todos os demais. Nagihiko foi puxado bruscamente para longe do alcance das mãos atrevidas da Às, e quando se deu conta, estava sendo abraçado de modo possessivo por Tadase. O garoto estava com o rosto vermelho até a raíz dos cabelos loiros, embora não se soubesse se era de raiva ou de vergonha. Todos olharam abismados para o Rei, mal acreditando no surto do loiro - Ele é meu... este é o meu Valete, e só meu!! Ninguém mais pode tocar nele! Se ousar colocar suas mãos plebéias nele de novo eu juro que mando cortar sua cabeça fora, ouviu bem, sua súdita insolente?! Fique longe dele! É uma ordem do Rei!!
– Kyaaaaaaa o Tadase entrou no Chara Change pra defender o seu amor! Kawaiiii! - Yaya gritou com voz esganiçada, não dando a mínima para as ameaças do Rei
– Ahhh nem acredito que estou presenciando uma crise de ciúmes do Tadase! Nossa, que sorte eu ter vindo hoje!! - a falsa enfermeira gritou escandalosamente, tão empolgada quanto a ruiva. Atrás dela, Rima tentava não esboçar nenhuma reação, embora estivesse discretamente filmando a cena com o celular
– Ei, eu falei com você, sua camponesa atrevida! Fique bem longe do meu Valete, você me entendeu ou terei que te castigar por esse atrevimento, hein?? - Tadase repetiu
– Hai, hai, entendi Majestade! Pode deixar que o Nagi é tooooodinho seu! - a Às exclamou, sorrindo de orelha a orelha
– Ótimo, que bom que estamos entendidos! Agora, você, Valete... venha comigo, depressa! - Tadase puxou Nagi pela mão em direção à saída do Royal Garden, andando à passos apressados, e arrancando mais um coro de gritos estridentes de Yaya e Utau.


Conforme se distanciavam, os gritinhos histéricos das amigas iam ficando cada vez mais baixos, e quando já não podiam mais ouvir as vozes delas, os dois finalmente pararam de andar.


– Nee Hotori-kun... você não entrou no Chara Change de verdade, não é? - Nagi perguntou astutamente - Parece que os outros não perceberam, mas aquela coroa dourada não se materializou na sua cabeça dessa vez
– Não... não entrei - o Rei admitiu, soltando a mão dele e abaixando a cabeça, corando drasticamente - Mas... quando vi a Yuiki-san te t-tocando daquele jeito, eu... f-fiquei com tanta raiva, com tanto ciúmes que... e-eu só queria afastá-la de você, mas não queria ter uma crise histérica na frente de todo mundo e te envergonhar, então... e-então pensei que, se eu estivesse no Chara Change, talvez não tivesse problema, e ninguém poderia me culpar depois... então eu fingi que me transformei. Desculpe... eu sinto muito, Fujisaki-kun
— Está tudo bem, Hotori-kun... – ele afagou os cabelos loiros de Tadase, tentando tranquilizá-lo – Eu... eu gostei disso que você fez... não se preocupe com nada
– Fujisaki-kun... - Tadase andou alguns passos, se aproximando mais dele até poder abraçá-lo, e segurou a camisa do mais alto com as mãos hesitantes, encostando a cabeça no peito dele, e fechando os olhos para apreciar melhor aquele toque - Nee Fujisaki-kun... acho que agora está tudo bem, não é? Todos descobriram sobre o seu segredo, mas... os outros não parecem que estão zangados com você, nem nada parecido
– Tem razão... eles reagiram melhor do que eu esperava - Nagi concordou, sentindo como se tivesse tirado um enorme peso das costas agora que não tinha que carregar mais nenhuma mentira consigo - Eles pareceram meio chocados, é claro, mas... acho que isso é natural. Com o tempo eles se acostumarão com isso, assim como o você, o Souma-kun e a Rima-chan fizeram - ele falou, mais para si mesmo, mal ousando acreditar que finalmente tinha resolvido essa questão e que poderia enfim respirar aliviado. Sentia-se tão leve agora que estava finalmente livre dessa farsa que parecia que poderia sair flutuando pelo céu a qualquer momento. Ele levou a mão que afagava os cabelos de Tadase até uma das mãos do loiro, e entrelaçou seus dedos entre os do Rei, segurando firmemente a mão dele entre a sua - Acho que está tudo bem agora. Vamos, Hotori-kun... vamos pra casa.



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Notas finais do capítulo

Ohayou! Teffy-chan falando! õ/
Sim, o Nagi contou o segredo dele pra todo mundo, estamos todas chocadas, eu sei... mas acho que foi melhor assim né, pelo menos desse jeito nosso Valete está finalmente livre de mentiras! =D E a Amu ainda perdoou ele! Bom, mais ou menos... mas aos poucos eles vão se entendendo =P
Deixem reviews,por favor, inclusive vocês leitores fantasmas, que EU SEI que estão aí lendo a fic escondidinhos na encolha!! Mesmo que não saibam o que comentar, só um simples "estou adorando" ou "continua!" já dá pro gasto, pelo menos assim nós sabemos que vocês estão aí, acompanhando a fic, e não ficaremos com aquela sensação de vazio de que estamos escrevendo e postando pra ninguém ler, sabe? Comentem onegai e façam duas autoras felizes!!! *o*
O próximo capítulo é com a Shiroyuki-chan!! /o/
Kissus e até a próxima^^



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