Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 44
Capítulo 44 - Usotsuki


Notas iniciais do capítulo

Usotsuki - Ranma 1/2
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Amu fitou Nagihiko boquiaberta por alguns instantes, sem entender onde ele queria chegar com aquelas afirmações. O choque da revelação de ter sido traído por sua própria irmã estava abalando as faculdades mentais do jovem ou ele estava apenas querendo arrumar uma desculpa para o ato falho do namorado, e então perdoá-lo para que seguissem como se nada tivesse acontecido?

Ela tornou a olhar para Tadase, que estava à beira das lágrimas, com a face suplicante e desesperada. No entanto, não era o semblante de alguém culpado, ou que estivesse tentando acobertar a verdade. Ele nem mesmo tentou se explicar para Nagihiko. Apenas correu ao seu encontro, delicadamente colocando as mãos sobre seu peito, como se quisesse contê-lo com somente isso. Era mais como se estivesse… tentando impedi-lo de dizer ou fazer algo. Como se fosse Nagihiko o culpado, aquele que guarda segredos, e não o contrário. Amu já não entendia mais nada.

— Você não precisa fazer isso por mim, Fujisaki-kun. Eu posso dar um jeito de me explicar sem precisar…

— Não, Hotori-kun. Esses segredos, essas mentiras… elas já foram longe demais. Já está mais do que na hora da Hinamori saber de tudo. Ela é a melhor amiga da Nadeshiko, afinal…

— O-olha… eu sinto que estou me metendo onde não devia, sabe…? Quero dizer, eu me preocupei quando vi o Tadase d-daquele jeito com a Nadeshiko, m-mas… acabou de me ocorrer, Nagihiko, que talvez você já soubesse e… também… e também gostasse disso, b-bem… - Amu se enrolou, sentando exausta na cadeira enquanto tentava reordenar os pensamentos – Será que é o caso dos boatos da escola estarem certos e… e você, a Nadeshiko, e o Tadase-kun… estarem juntos, assim, os três ao mesmo tempo?

— O que? – Tadase empalideceu, para então corar com furor até as orelhas, enquanto olhava aflito para Nagihiko, pedindo por ajuda.

— Não é isso, Amu-chan… - Nagihiko suspirou, sem entender a vontade de rir da suposição da garota que apareceu de repente. Uma imagem de duas duplicatas dele mesmo, uma masculina e uma feminina, agarrando Tadase ao mesmo tempo, de alguma forma, já estava gravada em sua mente.

— Aah, eu sei que nesse mundo moderno as coisas são diferentes, então…

— Não, Amu-chan, não é isso.– Nagihiko se tornou sério, e abraçando Tadase, o conduziu consigo até a mesa, os dois sentando do lado oposto. – Por favor, escute. Nós temos que conversar, realmente. É um assunto sério, eu peço que preste atenção… e que me deixe falar tudo. Acho que eu deveria fazer um chá para que possamos então…

— Eu faço! – Tadase se prontificou, entendendo que aquela conversa envolvia especialmente Amu e Nadeshiko, e ele nada tinha a ver com a relação de amizade das duas. Ele sumiu na copa do Royal Garden, deixando os dois iniciarem a sua conversa, sozinhos.

— Amu-chan… há uma coisa que você, mais do que ninguém, precisa saber. Não, não é nada sobre o meu relacionamento com o Hotori-kun ou qualquer outra coisa. É… algo sobre a Nadeshiko, e sobre mim. Não será nada fácil falar sobre isso, mas… eu espero que você possa entender o meu ponto de vista, e me perdoar por ter sido covarde e não ter contado a você mais cedo.

— Nagihiko… você está começando a me assustar… - Amu tremeu, segurando uma mão na outra com força. Ela havia se preparado o dia inteiro para confrontar Tadase e contar a verdade à Nagihiko, como foi que as posições se inverteram dessa forma no final?

— Certo… como eu deveria começar? Amu-chan… você sabe sobre as atividades da minha família, certo? Os Fujisaki têm gerações de excelentes dançarinas tradicionais, que…

— Peraí! Você… v-você vai dizer que sua família é da máfia! É isso não é? Ah, eu sempre desconfiei daquele tal Fujisaki-ha, e todos aqueles empregados na sua casa… v-você… você e a Nadeshiko são herdeiros da máfia que levam uma vida de crimes, não são? Por isso que você não queria que ninguém soubesse sobre seu namoro com o Tadase, a vida dele corre perigo por estar com você… Esse é o seu segredo…

— Não, Amu-chan, não é isso! É um segredo sim, mas… muito menos ilegal. Não tem nada a ver com crimes… Droga, eu não pensei que seria tão difícil… - Nagihiko enterrou as mãos nos cabelos, baixando o rosto até que ele fosse encoberto pela franja.

Nesse momento, Tadase retornou com uma bandeja de chá de camomila bem quente, numa tentativa inocente de ajudar e acalmar a todos. Depois de servir as três xícaras, Tadase sentou ao lado de Nagihiko, que ainda se mantinha na mesma posição. Amu pegou uma das xícaras, esquentando as mãos frias nela, e Tadase afagou o braço do namorado suavemente, com um semblante quase doloroso no rosto sempre tão afável. Amu os observou em silêncio por um momento, sorvendo um gole do líquido quente. O amor e a preocupação nos olhos de Tadase transbordavam visivelmente, enquanto ele subia a mão devagar, acariciando o topo da cabeça de Nagihiko. Ela não conseguia ver nenhum resquício da possibilidade de Tadase trair Nagihiko, em qualquer ocasião. Mas isso não explicava o que ela tinha visto.

— Hinamori-san… eu sei que você deve estar confusa com tudo isso, mas… por favor, tenha paciência. Esse é um assunto delicado para o Fujisaki-kun, e eu espero que você seja compreensiva com ele nesse momento. – Tadase pediu em um sussurro, temendo que ela ainda achasse que ele era um ser desprezível e traidor.

— Amu-chan – Nagihiko suspirou, erguendo o rosto e a fitando tão diretamente que ela chegou a corar – Você tem vontade de ver a Nadeshiko novamente? De falar com ela como antes? Esqueça aquilo que você viu ontem. Ela ainda é sua melhor amiga?

— B-bem, se eu não tivesse visto aquelas coisas, acho que a resposta seria sim – Amu respondeu, com confusão estampada no rosto.

— E se eu dissesse que ela está aqui, neste exato momento? – Nagihiko arriscou, tentando outra abordagem.

— A-aqui? Ela voltou mesmo da Europa então?! – ela sobressaltou, fazendo menção de se levantar.

— Ela nunca esteve na Europa, Amu-chan, nem em lugar nenhum. A Nadeshiko nunca saiu daqui… esse tempo todo ela esteve bem aqui, do seu lado. – Nagihiko pronunciou, decidido a continuar com aquilo até o fim, e se preparando para dizer enfim, toda a verdade – A Nadeshiko… A Nadeshiko sou eu, Amu-chan. Fujisaki Nagihiko e Fujisaki Nadeshiko são a mesma pessoa. – ele disse de forma coesa e franca, encarando Amu diretamente nos olhos. Ela não esboçou reação, nem mesmo nenhum sinal de ter entendido aquelas palavras. Deixou a xícara que estava em sua mão repousar na mesa, fazendo o baque da porcelana ecoar pela estufa.

— Eu não entendi o que você está querendo dizer, Nagihiko… - ela sussurrou, alguns segundos de massacrante silêncio depois.

— Certo, acho que não foi claro o suficiente. Amu… espere aqui um momento. Não vai levar mais do que um minuto – ele disse, e sumiu para dentro do Royal Garden. Nesse pequeno espaço de tempo, Amu e Tadase não ousaram se entreolhar. A espera parecia ser ainda mais esmagadora do que o silêncio anterior.

Poucos segundos depois, Nagihiko retornou. Ele vestia uma versão feminina do uniforme escolar, que estava apenas guardada por ali há algum tempo, e certamente deveria pertencer à Yaya, que vivia deixando suas coisas por aí. Seus cabelos estavam presos no alto por um elástico simples.

Ao se aproximar da mesa, ele parecia completamente transformado. Seu passo usualmente apressado e pesado tornara-se tão leve quando o bater de asas de uma borboleta, sem nem mesmo fazer barulho no assoalho. Os gestos eram contidos e elegantes, seu porte elevara-se, e seu olhar tornara-se brando e gentil. Era Nadeshiko quem estava ali.

— N-nadeshiko…? – Amu balbuciou, encarando a amiga com espanto e curiosidade.

— Sim… – ela respondeu com a voz suave de sempre – Mas também Nagihiko – a voz tornara-se rouca e masculina. Amu não compreendeu a mudança repentina – Era isso que eu queria dizer, Amu-chan – Nagihiko foi quem falou, mas ouvir a voz dele saindo dos lábios de Nadeshiko era apenas surreal demais para se acreditar. Era como algum sonho louco que não fazia sentido algum.  Nadeshiko sentou novamente ao lado de Tadase, e tomou um pequeno gole do chá, apenas por hábito – A família Fujisaki cultua há muito tempo sua tradição na dança – Ela começou a contar, retornando à voz feminina, e Amu se inclinou sobre a mesa, prestando atenção – As primogênitas femininas são cuidadas como pequenos tesouros, pois são elas quem se encarregarão da responsabilidade de transmitir o estilo de dança Fujisaki para as próximas gerações. Todas as mulheres são levadas a dançar, e treinadas desde que começam a dar os primeiros passos. Mas… na família principal, não há distinção. Seja homem ou mulher, os treinos são ainda mais árduos, e o mínimo esperado é a perfeição. Desde que nasci, meu destino estava planejado, e eu teria que arcar com a responsabilidade do meu sangue, e dançar com a delicadeza, impecabilidade e suavidade de uma mulher. Mas eu… nasci homem. E para desespero de minha mãe, eu não tive irmãs, Amu-chan. Não havia ninguém para me substituir, não havia nenhuma mulher na família principal para se tornar a herdeira. Então… Pelo bem da minha dança, e da minha família, eu abri mão do meu lado masculino por completo, durante toda a minha vida, e me tornei Fujisaki Nadeshiko, uma garota perfeita, em muitos sentidos… mesmo que não fosse uma garota completa. Dessa forma, eu pude satisfazer o meu clã, e aperfeiçoar minha dança. Nadeshiko e Nagihiko são a mesma pessoa, essa é a verdade, Amu.

Quando enfim terminou de falar, não havia som algum no Royal Garden, além da respiração apreensiva de Tadase, que carinhosamente afagava as costas da mão de Nagihiko por baixo da mesa, tentando com esse pequeno ato, ajudá-lo a prosseguir, e mostrar que estava ao seu lado.

Nadeshiko fitou Amu, esperando por uma reação, qualquer que fosse. Tinha quase certeza de que ela sairia correndo assim que acabou de contar, mas ela continuava pregada na cadeira, paralisada, como uma boneca. Seus olhos miravam o líquido transparente na xícara, que soltava um fino vapor para o alto.

— A Nadeshiko… ela nunca existiu? É isso que você está me dizendo? – murmurou muitos minutos depois, quando ele já estava desistindo de obter qualquer resposta.

— Não é isso, Amu-chan. A Nadeshiko existe, ela está bem aqui, vê? – ela apontou para si mesma, ciente de que a garota não estava muito convencida. – Eu sei que sou uma farsa… mas nada do que nós vivemos, nada do que eu disse a você… a nossa a amizade, Amu-chan, isso não é uma farsa.

— Se você mentiu para mim esse tempo todo… eu não vejo por que deveria acreditar no que diz agora – Amu disse apenas, apática, sem emoção alguma na voz – Eu entendo que tenha mantido o segredo pela sua família, mas… por que quando você voltou, não contou a verdade para mim? Por que inventou que era um irmão gêmeo? – ela levantou os olhos inconformada, demonstrando toda a incredulidade e indignação refletida neles.

— Eu achei que era o melhor a fazer, na época. Foi um erro, eu sei, mas me deixei levar pelas situações, e quando percebi, era tarde demais, e eu já havia criado mais uma mentira para a minha coleção. Eu… estava perturbado, e Temari havia retornado para o ovo dela, estava prestes a virar um batsu-tama…. – Nadeshiko relembrou aquele tempo, e Amu arfou assustada, desconhecendo aquela parte da história. Apesar de tudo, era muito horrível pensar que o ovo da sua amiga estava prestes a ganhar um X bem ao seu lado, e ela nada percebera – Eu planejei contar tudo a você assim que chegasse da Europa… pensei muitas vezes em escrever em alguma carta, mas sentia que isso era algo que deveria ser tratado pessoalmente… Eu retornei, mas meus planos de dizer você a verdade foram sendo adiados por um motivo e outro, e quando me dei conta, não conseguia mais encontrar um momento para contar a você…

— Certo. Eu entendi. – Amu recitou em um tom gélido, que fez o coração de Nadeshiko doer. Levantou da mesa, puxando a pasta para o ombro. Nadeshiko fitou a amiga, esperançosa, mas tudo o que recebeu foi um olhar inexpressivo e frio, que fazia o usual semblante “Cool and Spice” parecer cordial e gentil.

— Amu-chan…! – Nadeshiko levantou-se, rodeando a mesa para ficar de frente para ela – Por favor, me perdoe! Eu sei que é difícil, e que eu sou uma grande, grande mentirosa, mas eu ainda a considero a minha melhor amiga, e tenho por você um imenso carinho… Honto ni gomen’nasai! – ela implorou, baixando a cabeça ao máximo, com os cabelos caindo sobre seus olhos.

— Eu preciso pensar sobre isso. Não… não consigo raciocinar direito… por favor, me dê um tempo – ela articulou, preparando-se para dar as costas à Nadeshiko. Lágrimas juntavam-se nas bordas dos seus olhos, que ela lutava para manter sob controle a todo custo – Eu achei que deveria alertar você, Nagihiko… mas pelo jeito, era eu quem estava sendo traída, esse tempo todo, não é? – ela adicionou, com um fraco sorriso, e sem conseguir dizer mais nada, pois certamente as lágrimas não seriam mais seguradas, ela foi em direção à saída, com a pasta nos ombros.

— F-fujisaki-san…! – Tadase correu ao encontro de Nadeshiko, assim que Amu sumiu pela saída, e a amparou em seus braços, deixando que ela apoiasse a cabeça em seus ombros.

— Ela me odeia, Hotori-kun… - Nagihiko pronunciou com sua voz normal, fracamente. Não havia dor ou tristeza naquelas palavras, apenas a confirmação de um fato.

— Claro que não, não diga essas coisas! – Tadase se apressou em dizer, afagando os cabelos da ex-rainha – A Hinamori-san só precisa de um tempo para absorver as informações… Por que você resolveu contar tudo aquilo para ela? Eu poderia… poderia ter dado um jeito de explicar sem revelar seu segredo, Fujisaki-kun…

— Está tudo bem, Hotori-kun. Eu cansei de todas essas mentiras na minha vida. – Nagihiko se afastou, e soltou os cabelos, suspirando pesadamente – Eu mentia sobre ser uma garota, depois menti sobre ter um irmão gêmeo… e durante esse tempo, menti sobre amar você… e ainda menti para mim mesmo, dizendo que tudo ficaria bem no final. Eu não aguento mais isso, é exaustivo, causticante… e prejudica a todos os que estão ao meu redor. Eu não quero mais isso, Hotori-kun, eu não quero mais viver mentiras. E, além disso, eu não podia deixar a Amu-chan pensar mal de você. – ele concluiu, com um sorriso melancólico. Acariciou o rosto preocupado do loiro, inclinando-se e roçando levemente os lábios com os dele – Ainda bem que eu tenho você. Senão, não teria aguentado isso até o final.

— Eu fico feliz por ter sido útil, Fujisaki-kun – Tadase respondeu em um suspiro, acarinhando de volta a mão que Nagihiko deixou em seu rosto – Agora… vamos para casa. Você precisa descansar depois de tudo isso, e só o que podemos fazer agora é esperar que Amu-chan entenda e o perdoe.

Sendo assim, Nagihiko trocou-se rapidamente e retornou com o uniforme masculino. Ainda tinha uma nuvem negra pairando sobre seus olhos, num misto de ansiedade e culpa, que Tadase lamentava ver no rosto daquele que amava. Queria poder fazer algo para ajuda-lo, mas sabia que agora, o mais efetivo era aguardar o andamento dos fatos. Se Amu não perdoasse Nagihiko, então ele teria que ser forte para consolá-lo e ampará-lo.

Os dois andaram lentamente pelo caminho de pedras até a entrada, sem trocar palavras e sem se tocar. Era agonizante para Tadase, mas ele sabia que Nagihiko devia estar se sentindo muito pior agora. Estava ponderando sobre alguma alternativa que pudesse ajudar Nagi a desanuviar a sua mente, quando uma figura familiar se fez presente.

— Yoo, kouhais! O que fazem indo embora assim tão cedo? – a voz otimista de Kukai sobressaltou a ambos, que estavam perdidos em seus próprios pensamentos e não o notaram se aproximando – Logo hoje que eu vim para visitar vocês…!

— Ah, Souma-kun… parece que não veio em um bom dia – Tadase lamentou, tentando esboçar um sorriso que não parecia muito natural. O sorriso de Kukai desmanchou-se, e ele marchou preocupado até onde os dois garotos estavam.

— O que aconteceu? V-vocês brigaram? – ele arriscou, sem ter muita certeza, afinal, os dois estavam andando juntos – Aquilo… aquilo que a Yaya me contou outro dia era verdade, certo, Fujisaki? Você e o Tadase, finalmente…

— Sim, é verdade, Souma-kun – Nagihiko sorriu para o mais velho, tentando reestabelecer-se. Olhou novamente para Tadase com afeição visível, e então suspirou, voltando-se novamente para Kukai – Aconteceu outra coisa, bem… Nós podemos conversar direito, em algum lugar, o que acha?

— Está bem para mim – Kukai concordou, entre curioso e preocupado com o que quer que estivesse acontecendo com os amigos. Nesses momentos, a sua personalidade como irmão mais velho de todos os guardiões ressurgia, e ele não via como não ficar apreensivo.

— Ah, Fujisaki-kun, eu não posso ir com vocês – Tadase alarmou-se, repentinamente – Prometi à minha mãe que chegaria cedo em casa… sinto muito.

— Está tudo bem, Hotori-kun, eu converso com o Souma e ligo para você mais tarde, antes de dormir – Nagihiko sorriu para ele, e Tadase assentiu, apressado, corando levemente com aquela expectativa. Deu alguns passos hesitantes até Nagihiko, e olhando bem ao redor antes, ficou na ponta dos pés, depositando um singelo e discreto beijo na bochecha de Nagihiko.

— Até amanhã – disse com voz fraca, afastando-se logo depois. Curvou a cabeça rapidamente para Kukai, envergonhado demais para dizer qualquer coisa a ele, e então saiu correndo na direção oposta, carregando a pasta nos braços.

— Parece que vocês estão se dando bem. – Kukai sorriu de uma maneira que deixou até mesmo Nagihiko com vergonha – Então, o que tá pegando? Pode contar com o Onii-chan aqui pra qualquer coisa! – ele apontou para si mesmo com o polegar, dando seu sorriso mais confiante. Nagihiko não viu outra possibilidade além da de sorrir de volta.

— Vamos para a minha casa então? Lá podemos conversar com calma… - Nagihiko começou a andar na frente.

— Tudo bem, mas… sua mãe vai estar lá? Sem querer ofender… mas ela me dá calafrios… - Kukai resmungou, fazendo Nagi deixar escapar uma risada.

— Ela está no estúdio de dança, não vai voltar para casa tão cedo – o valete tranquilizou o amigo, que soltou o fôlego, mais calmo.

— Então está certo.

Os dois valetes foram então para a casa de Nagihiko, conversando apenas sobre amenidades corriqueiras como provas, escola, ou a nova loja de doces que abriu na estação até chegar lá. Kukai sempre se surpreendia com o tamanho da casa da família Fujisaki. A cada vez que a via, ela parecia de alguma forma, maior e mais imponente do que antes. Eles adentraram, encontrando apenas o pai do garoto que cuidava do jardim com um apreço notável, e então foram direto para o quarto de Nagihiko, onde poderiam conversar sem interrupções.

— E então, Fujisaki? – Kukai se atirou no chão, apoiando as costas na cama – Parece que seus dias de solteiro chegaram ao fim, não é?

— É parece que sim… - Nagihiko sorriu, desanuviando seu semblante e tomando lugar a frente de Kukai, do outro lado da mesa baixa que ficava no centro do cômodo – Acho que eu devo um agradecimento à você, Kukai… Você me apoiou no momento em que eu precisei, e graças as suas palavras, acho que eu fui capaz de dar um passo à frente… mesmo que um pouco tarde demais.. mas, ainda assim, muito obrigado!

— Ah, que isso! – Kukai riu sem graça, esfregando a mão atrás da cabeça – Eu só fiz aquilo que os amigos devem fazer, não foi nada demais. Eu fiquei realmente muito feliz de saber que você e o Tadase finalmente se acertaram… como eu já disse, vocês fazem um casal perfeito. Mas… ah, tem algo que eu sempre tive vontade de perguntar mas não tinha a chance… pode me dizer… Você e ele… - Kukai coçou o queixo, fitando o teto para disfarçar o embaraço, mas estava realmente curioso – Até onde… vocês são c-capazes de ir?

— Como assim? – Nagihiko inclinou a cabeça, intrigado, e Kukai corou levemente, baixando os braços e cruzando as pernas no chão.

— Você sabe! – Kukai resmungou. – As c-coisas… - Ele estava muito intrigado com isso, desde que Yaya contou a ele sobre o casal, mas ela não sabia ser clara, e não era aconselhável ter esse tipo de conversa com alguém como ela. Além disso, ele tinha direito como amigo de fazer perguntas embaraçosas e de saber sobre os detalhes… mesmo que os detalhes em questão talvez não o agradassem muito. Se Nagihiko estivesse namorando uma garota, ele também faria perguntas, então não via motivos para não as fazer mesmo se tratando de outro garoto – Você e ele… o quão longe vocês foram…?

— Gaah… o q-q-q-que você está p-perg… Souma! – Nagihiko engasgou. Se não estivesse no chão, teria caído para trás. Seu rosto enrubesceu em uma escala que poderia ser comparado ao de Tadase, no mais drástico. Ele agradeceu intimamente por Rhythm não estar por perto agora, por que certamente ele faria um estrago.

— Vamos lá! Eu quero saber… vocês dois… podem realmente… sabe… mesmo sendo dois garotos? – ele juntou coragem para dizer, embora não tivesse coragem para olhar Nagihiko nos olhos.

— Eu… presumo que s-sim… - Nagihiko respondeu em um fio de voz, escondendo o rosto rubro com os cabelos.

— Sério? E v-vocês já…

— NÃO! – Nagihiko berrou, e ao se dar conta disso, escondeu a boca com ambas as mãos – Nós nem temos idade pra isso… e nem você, por falar nisso…

— Eu sei disso! Mas é que… sei lá, eu não sei… vocês são os primeiros amigos meus que estão namorando… nem mesmo meus colegas do ginásio têm namoradas… e eu fiquei curioso. Pelo que a Yaya me contou… bom, eu sei que ela deve ter exagerado bastante… mas vocês d-devem… se b-b-b-eijar, e outras coisas assim…

— Etto… sim…

— E já chegaram perto de…

— D-d-depende do p-ponto de vista… - Nagihiko balbuciou, relembrando algumas passagens, e sentindo suas orelhas formigarem, quentes. – Mas nunca… nunca tentamos nada a mais, é claro… - ele disse depois, com vontade de fugir dali o mais rápido que suas pernas permitissem.

— Sei… e c-como… como acontece…?

— Você quer mesmo saber, Souma-kun? – Nagihiko espantou-se, levantando a cabeça pela primeira vez.

— Acho que estou um pouquinho curioso… - ele voltou a fitar o forro, com ar inocente. Nagihiko quase engasgou novamente.

— Eu não sei bem os detalhes… acho que a Yaya e a Utau sabem mais sobre isso do que eu… quem sabe devesse perguntar a elas…

— Não! Elas me dão medo…! Enfim, como você pode não saber se… se… algum dia, vocês vão ter que…

— Eu estou dizendo que só sei em teoria! – Nagihiko explicou rapidamente, desejando poder sumir daquele quarto – É claro que eu sei que algum dia nós iremos… b-bem… não posso negar que estou um pouco… a-ansioso por isso…bem… n-n-nós temos tempo até lá! Não é preciso saber dessas coisas agora…

— É, você está certo. – Kukai sorriu embaraçado, retornando ao seu normal – E eu desejo sorte à vocês… Sabe, eu sempre achei que você e ele ficavam bem juntos, desde a época da Nadeshiko.

— Ah, sim… a Nadeshiko… é exatamente ela o motivo dos meus mais recentes problemas… logo agora que tudo estava indo tão bem… - Nagihiko lamentou, baixando a cabeça. Todo o dia de hoje retornou a sua mente como uma enxurrada, e ele desejou retornar àquela conversa embaraçosa apenas para não ter que pensar nisso – Bom, eu não posso me queixar afinal… A culpa é inteiramente minha.

— Não me diga que... alguém descobriu?

— Sim, e da pior forma possível. A Amu-chan… ela me viu como Nadeshiko junto com o Hotori-kun. Primeiramente ela pensou que o Hotori estava me traindo com minha “irmã”. Eu não podia deixá-la pensar essas coisas dele! Então resolvi contar logo toda a verdade. Ela não reagiu da melhor maneira, é claro…

— Ela está com muita raiva?

— Provavelmente. Nada além do esperado, não é? Qualquer um se sentiria assim se descobrisse que sua melhor amiga é um… travesti. Acho que ela nunca mais vai querer falar comigo… É o castigo por tantas mentiras, eu presumo…

— Ah, cara, que problemático! – Kukai esfregou os cabelos com força, querendo demonstrar toda a sua indignação, que não conseguia por em palavras – E agora, o que você vai fazer?

— Esperar. Não há nada que eu possa fazer. Já expliquei tudo à ela, e ela não vai aceitar conversar comigo novamente. Só posso desejar que ela entenda… e me perdoe.

— Isso é complicado, nee? A Yaya me contou sobre o ataque dela quando descobriu sobre você e o Tadase. E logo agora, ela descobre isso também. É difícil ela querer falar com você, depois de descobrir que a sua melhor amiga também é a pessoa que roubou a pessoa de quem ela gostava… e que era um garoto…

— Tem razão… - Nagihiko baixou os olhos, ainda mais depressivo.

— Não fica assim…! – Kukai se apressou em dizer, sentindo-se culpado por dizer coisas que só colocaram o amigo mais para baixo. Ele era péssimo com consolos e coisas do tipo. Deu uns tapinhas nas costas de Nagihiko, imaginando que isso talvez pudesse ajudar – Ahn… vamos falar de coisas felizes, okee? Faz muito tempo que não conversamos… Como anda o basquete…?

Depois disso, um acordo silencioso de não citar assuntos constrangedores ou deprimentes havia se firmando, de modo que continuaram mantendo um parâmetro aceitável no seu nível de conversação, com assuntos como esportes, os filmes em cartaz no cinema ou os últimos jogos de vídeo game lançados. Nagihiko trouxe chá, e Kukai confessou que sentia muita falta de tomar chá desde que se formara, principalmente do chá de Nadeshiko. Os Shugo charas dos dois apareceram de repente, voando pela janela alegremente. Daichi estava matando as saudades de Temari, já que não tinham tido oportunidade de se ver desde que ela retornara, e então havia começado a jogar algo com Rhythm. Os dois estavam verdadeiramente exaustos quando chegaram ao quarto.

Cerca de meia hora depois disso, a mãe de Nagihiko chegou em casa. Ela cumprimentou rapidamente Kukai, deixando bem claro na forma que comprimia os lábios o quanto desaprovava aquela companhia para seu filho. Em sua opinião, o garoto Souma era o responsável por instigar em seu filho o gosto por esportes, e com isso, afastando-o do caminho da dança. Era claro que era também não gostava nem um pouco do fato de Nagihiko ter entrado para o time de basquete.

Com isso, Kukai arrumou qualquer desculpa para ir embora, e saiu de lá mais rápido do que Nagihiko era capaz de dizer “volte outra vez”, com Daichi em seu encalço reclamando do fato de não ter se despedido dos amigos.

Assim que ganharam a rua, Kukai foi capaz de respirar normalmente, e começou a andar com as mãos no bolso na direção da sua casa, que não ficava realmente muito longe dali. Logo os pensamentos dele recaíram sobre o problema de Nagihiko com Amu. Ele não era alguém acostumado a pensar muito sobre qualquer assunto, mas aquilo realmente o incomodava.

Estava certo em Amu ficar um pouco receosa e abalada ao saber a verdade sobre Nadeshiko, ele não a culpava. Ele mesmo não havia ficado chocado com a revelação? Nagihiko errou ao manter o segredo dela por tanto tempo, disso não poderia ter dúvidas… mas ele não gostava de ver os seus amigos tendo brigas como essa. Como um bom irmão mais velho, Kukai queria ser capaz de ajudá-los com esse dilema.

Amu tinha o direito de ficar brava, e talvez até de evitar Nagihiko por algum tempo… mas Kukai sentia que o amigo não merecia tanto desprezo. Ele estava tão triste… Kukai não queria vê-lo dessa maneira! Ainda mais agora, que ele finalmente havia conseguido conquistar seu amor, e deveria estar dando pulos de alegria. Esse problema só atrapalhava tudo.

— Ah, droga! – Kukai resmungou, parando no meio do caminho e dando a volta para a direção oposta.

— Ei, Kukai, para onde você vai? – Daichi indagou, desorientado com a repentina mudança de direção, mas mesmo assim não demorou em seguir seu dono.

— Para onde mais? Eu vou lá falar com a Amu…


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Notas finais do capítulo

Yeey~ Shiroyuki desu~
Dessa vez o capítulo demorou um pouquinho, não é?? Mas realmente, eu estava com todos os trabalhos finais acumulados pra essa semana, sem falar que resolveram trocar os postes aqui da minha rua e eu fiquei sem luz - e consequentemente, sem internet! E, somado a isso, o fato de haverem pouquíssimas leitoras que comentam com frequencia nos deixam desanimadas... nós sabemos que vocês estão aí, mas se ninguem disser o que está bom e o que está ruim, não temos como melhorar! Eu sei qe a fic é enooorme, isso deve dar uma desaminação terrível na hora de ler, mas se vocês continuam lendo mesmo assim, e gostam, não custa nada dizer isso pra gente, nee?
De qualquer forma, muito obrigada a quem continua lendo, e mais ainda a quem manda reviews~ Nós somos muito gratas a todos os leitores, mesmo aqueles fantasmas que nunca aparecem --eeei, nós não mordemos, podem aparecer!! o//
Etto~ era isso...
O próximo é com a senpai, otanoshimini!! *w*