Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 22
Capítulo 22 - Happy Birthday to you!


Notas iniciais do capítulo

Happy birthday to you - YUI
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Nagihiko sentiu a luz bater irritantemente em suas pálpebras, somado ao peso que amortecia seu braço. Algo quente e úmido acariciava seu pescoço, ritmicamente. Pensou em virar para o lado e se cobrir até que a luz não incomodasse mais, mas seu movimento foi impedido. Relutante, abriu os olhos, demorando para se acostumar à claridade, e então pode visualizar aquilo que atrapalhava seus movimentos, sentindo seu coração acelerar imediatamente.

Tadase estava completamente agarrado à ele, com os braços ao redor do seu peito, e a cabeça enterrada no seu ombro. O que Nagihiko sentia bater em seu pescoço, e que causava pequenos arrepios, nada mais era do que a respiração tranquila do loiro, que permanecia alheio à observação surpresa dele.

O valete fitou Tadase por alguns segundos, perdido entre a desordem momentânea causada pelo sono e a sensação de que estava fazendo algo muito errado. Não lembrava-se de ter abraçado Tadase durante o sono, e considerando as posições em que se encontravam, o mais provável era que a iniciativa tivesse sido tomada por ele, embora Nagihiko não conseguisse encontrar uma justificativa plausível para tal ato por parte de Tadase. Uma pequena e chata verdade ecoava na sua mente. “Droga, eu não devia mesmo ter convidado ele pra dormir aqui. Sabia que acabaria assim.”

Acariciou levemente as bochechas coradas do menor, somente verificando a possibilidade de ser um sonho sem sentido, do tipo que ocorria com mais frequência do que seria saudável. Sentiu a temperatura amena e a textura macia, constatando a realidade por trás daquela cena.

A luz do Sol que entrava pela janela evidenciava que já era manhã, e logo eles teriam que acordar, mesmo que fosse Domingo. Seria ruim se Tadase ou qualquer outra pessoa os visse naquele estado. Delicadamente, ele segurou a mão de Tadase, afastando-a devagar, para que o mesmo não despertasse. Tentou, ao mesmo tempo, retirar o seu braço, que estava embaixo do corpo dele.

Ouviu o loiro balbuciar algo indecifrável, relutando. Tadase soltou a mão de Nagihiko, e o abraçou com força novamente, prendendo-se ao corpo dele com firmeza, e enterrando o rosto no peito do valete. Ainda ressonava. Nagihiko sentiu-se trêmulo, imaginando se Tadase seria capaz de ouvir os batimentos descontrolados e escandalosos do seu coração. Era impossível não ouvir.

Nagihiko suspirou, aos poucos rendendo-se ao calor que o corpo diminuto transmitia. Tocou os fios loiros, bagunçados, distraidamente, fechando os olhos lentamente até cair por completo no inconsciente, dormindo novamente.

Momentos depois de Nagihiko voltar a dormir, a porta do quarto dele foi arrastada, sem fazer ruído. Sua mãe adentrou, sendo que já era hora de acordar os meninos, e se aproximou dos futons no chão. Ofegou, indignada, ao reparar na maneira como os jovens estavam, adormecidos e abraçados um no outro. Tadase trazia um gentil e pequeno sorriso no rosto calmo.

Com um semblante sério e rígido, lembrando uma máscara de teatro Kabuki, ela desvencilhou os braços de Tadase do corpo de Nagihiko, virando-o para o outro lado. O rosto de Nagihiko contorceu-se, incomodado, procurando com a mão pelo calor perdido. Sem perder tempo, a mãe dele o cutucou, habilmente disfarçando a irritação que chispava em seus olhos.

— Nagihiko. Acorde logo. Os pais de Hotori-kun estão aqui para buscá-lo.

Como movimento brusco, Nagihiko despertou, em um susto. Sentou na cama, vendo Tadase levantando-se também, atordoado, esfregando os olhos com força.

— Ah, os meus pais... eu tenho que ir, Fujisaki-kun – ele murmurou, com a voz rouca – Com licença, Fujisaki-sama – ele disse, levantando-se do futon e andando em direção ao lugar onde estavam dobradas suas roupas, vagarosamente. No meio do caminho, tropeçou nas próprias pernas, e no pijama grande demais que cobria seus pés, indo direto ao chão.

— Você está bem, Hotori-kun? – Nagihiko alarmou-se, preparado para pular e ajuda-lo a se levantar.

— Estou... – Tadase respondeu, tonto de sono, erguendo-se desajeitadamente, e andando até o banheiro.

Nagihiko soltou o ar e se ergueu, ciente do olhar fixo e observador da sua mãe queimando suas costas. Ela queria dizer alguma coisa, do contrário, não teria se demorado em seu quarto.

— Nagihiko – ela chamou, em voz severa, e baixa para que Tadase no banheiro não os ouvisse. Nagihiko largou os cobertores que dobrava em um canto, e se virou de frente – Eu não quero mais que Hotori-kun durma aqui em casa.

Nagihiko entreabriu a boca em choque. Poderia ser possível que sua mãe soubesse de algo?

— P-porque? – ele conseguiu proferir, com muita dificuldade. Sentiu um enorme peso no coração se instalando, ao ver a inexpressividade da sua mãe. Ela só fazia aquele tipo de cara quando tinha que tratar de assuntos absolutamente desagradáveis.

— Por que eu estou dizendo. As meninas que estão dançando comigo estarão em uma competição nos próximos meses, e as eliminatórias começam em breve. Eu preciso de você para me ajudar, e não quero que se distraia com brincadeiras. E mais, seu professor falou comigo sobre as suas notas, e eu não estou nem um pouco feliz.

— Entendo... mas eu pedi a você para tirar uma folga da dança, então, por que...

— Eu quero sua ajuda como homem – ela interrompeu, impassível – Preciso que carregue e busque as coisas que eu precisarei, esse tipo de serviço. Não aceito não como resposta. E você tem que se concentrar nos estudos. Não irei repetir. – E dizendo isso, deu as costas a Nagihiko, sem dar margem a respostas.

— Ano nee... – uma suave voz despertou Nagihiko dos seus pensamentos – Eu estou incomodando, Fujisaki-kun?

— O que? – ele exclamou, pasmo – É claro que não! Absolutamente não! – se apressou em dizer – Minha mãe só está estressada por causa dessas apresentações, não leve em conta o que ela diz – falou, querendo também convencer a si mesmo.

— Tudo bem então – Tadase tentou sorrir, sem saber o que pensar.

— Você nunca me atrapalha, Hotori-kun, pode ter certeza disso – Nagihiko acrescentou, em um tom sério.

Tadase corou, perdendo a linha.

— O-obrigado – ele se atrapalhou, varrendo o chão com os olhos – Eu t-tenho que ir... Até segunda, Fujisaki-kun... E-eu... agradeço sua hospitalidade.

— Sem problemas. – Nagihiko murmurou, vendo Tadase se retirar. Não o acompanhou até a frente, como deveria fazer.

No fundo, ele acreditava que sua mãe estava certa em proibi-lo. Ter Tadase sempre tão perto era um erro, além de potencialmente arriscado. Não sabia até o quão longe poderia ir, sem tornar os seus machucados profundos demais para se cicatrizarem, embora algo o dissesse que já era tarde para pensar assim. Ao ver Tadase lhe dar as costas, mais uma vez, seu coração agitou-se desesperadamente procurando por refúgio, porém, não havia mais nada que Nagihiko pudesse fazer. Ele estava irremediavelmente apaixonado por Tadase, e nada mudaria essa situação.



Exatas duas semanas se passaram desde o White Day. Era 29 de março, finalmente o dia do aniversário de Hotori Tadase. Nagihiko passara os últimos dias fazendo preparativos e desviando das perguntas especulativas de Tadase, além de trabalhar para sua mãe a ainda tirar um tempo para estudar. Estava sentindo-se absolutamente exausto, e tinha certeza de que surgiriam um ou dois cabelos brancos em sua cabeça, mas sabia que assim que visse o rosto de Tadase ao olhar a surpresa que ele havia preparado, todo o seu cansaço seria recompensado.

Durante a manhã, Utau e Yaya foram até sua casa, trazendo consigo Kairi, que fora recrutado para carregar as caixas com decorações. Havia sido combinado que a festa de Tadase seria na casa dos Fujisaki, e sendo que a mãe de Nagi estava viajando com suas pupilas, ele havia conseguido com seu pai autorização para realizá-la.

O grande quintal da mansão, que era todo no estilo tradicional japonês, estava preparado para receber os convidados. Não era necessária muitas decorações há mais, já que o jardim era exuberante por si só, e considerando o dia ensolarado que se fazia, a noite seria ainda mais bela. Uma enorme mesa fora colocada na varanda, onde mais tarde ficariam as comidas, e luzes foram penduradas nas árvores de sakura, que estavam na época de desabrochar.

Nagihiko passou o dia envolvido com os preparativos, principalmente com a parte que dizia respeito às comidas. Durante toda a manhã e parte da tarde, ele cozinhou, com ajuda de Utau e Kairi(que surpreendeu a todos com sua habilidade na cozinha). Yaya, por sua vez, mais pulou e brincou do que qualquer outra coisa, mas isso já era esperado.

Ao cair da tarde, todos voltaram para casa, para se arrumar. Nagihiko fez o mesmo, demorando o dobro do tempo que seria razoável para um garoto escolhendo suas roupas. Assim que o Sol se pôs, Amu foi a primeira a chegar. Trazia consigo um embrulho branco, e parecia visivelmente nervosa. Yaya chegou logo em seguida, nem parecia que havia ficado a tarde inteira naquele quintal. Utau e Ikuto foram os próximos, junto com Kairi. Rima chegou depois, e logo Kukai deu as caras, completando assim a lista de convidados.

Nagihiko ligou as lanternas vermelhas que adornavam as árvores e cortavam todo o jardim, iluminando por completo a noite estrelada. O lago que repousava suavemente no centro do jardim refletia as luzes cintilantes, iluminando as carpas que nadavam sinuosas na água calma.

— Agora só falta o aniversariante! – Yaya bradou, após admirar a paisagem, e inflar o peito como se tivesse feito tudo sozinha – Alguém já pensou em como vamos chamá-lo para vir aqui?

— Uma mensagem de texto, quem sabe? – Amu sugeriu.

— Certo! Nagi-kun, o seu celular! – a cantora exigiu, e Nagihiko, suspirando, atendeu ao pedido. Ela digitou na velocidade da luz, mexendo os dedos tão rápido que eles se tornaram um borrão indistinto, e logo após, devolvendo-o, com um sorriso satisfeito.

Nagihiko a fitou, desconfiado, e resolveu verificar a mensagem. “Tadase. Eu preciso de você aqui. Por favor, venha até a minha casa, sem demora. Sinto sua falta. Nagi-kun.” Corou, indignado, apagando aquela vergonhosa mensagem imediatamente, como se isso fosse resolver alguma coisa. Eles nem mesmo se chamavam daquela forma! Tadase com certeza iria estranhar. Ele provavelmente já tinha recebido, e Nagi teria a chance de se explicar assim que ele chegasse, porém ainda assim, era constrangedor imaginar qual teria sido a reação dele ao recebê-la. Bom, no fim das contas, era uma maneira de trazer Tadase até a festa.

Momentos depois, ouviram a campainha tocar.

— Que rápido! – Amu sussurrou, surpresa.

— É por que ele veio correndo para os braç... Itaaai! – Yaya começou o que seria um emocionado discurso, mas foi interrompida por um discreto beliscão no braço.

Poucos segundos depois, Tadase adentrou a casa, recepcionado pelo pai de Nagihiko. Estava ofegante, com as roupas incomumente desarrumadas, e com o rosto muito vermelho, além de ligeiramente suado, com o semblante de preocupação.

— Ah! Fujisaki-sama! E-eu... eu fui chamado aqui... quero dizer... me desculpe por aparecer a essa hora... – Tadase se perdeu nas palavras, sem saber se deveria se explicar ou respirar. Era inesperado ver o pai de Nagihiko em casa, afinal, ele estava sempre no dojo de dança, ou viajando.

— Eu entendo. Por aqui, Hotori-kun – o pai de Nagihiko disse sorrindo tranquilamente, conduzindo o garoto até a área externa. Ele era assombrosamente parecido com o filho. Tinha os mesmos cabelos longos, caindo como duas cortinas cor-da-noite, amarrados da maneira tradicional, embora eles já estivessem começando a ficar mais grisalhos com o tempo. Estava usando um yukata simples, azul-escuro, da mesma cor dos olhos. Geralmente com uma expressão gentil e calma, ele era um pai compreensivo, e tantos anos lidando com a personalidade forte da esposa o ensinaram a controlar os nervos e a ser paciente. Tadase gostava do pai de Nagihiko, e sempre que o via, ficava perguntando-se se Nagihiko iria ficar parecido com ele quando crescesse.

Assim, ambos atravessaram a enorme casa, até chegar ao jardim. Tadase arquejou, paralisado, ao ver todos os amigos ali, com chapeuzinhos coloridos. Eles gritaram “Feliz aniversário!”, “Parabéns!” e “Surpresa!” todos ao mesmo tempo, agitando-se animadamente estourando fitas e confetes para todos os lados, enquanto Tadase decidia-se entre corar, sorrir, chorar, ou agradecer. Acabou fazendo tudo ao mesmo tempo, juntando-se aos amigos, enquanto o Sr. Fujisaki sumia para dentro de casa, deixando os jovens novamente a sós.

— Waa! Tadase finalmente está ficando mais velho! – Yaya cantarolou, abraçando o amigo, e tirando muitas fotos da cara de surpresa dele.

— Mais velho, mas não mais alto! – Ikuto riu, esfregando a cabeça loira com força.

— Não diga isso, Ikuto! – Utau repreendeu, tomando Tadase nos braços – Essa baixa estatura é o charme dele!

— Parabéns – Rima murmurou inexpressivamente, colocando-se na ponta dos pés para depositar um chapeuzinho listrado na cabeça de Tadase.

— M-meus parabéns, Tadase-kun – Amu gaguejou muito atrapalhada, enquanto suas charas riam-se às suas costas.

— Feliz aniversário, Hotori-kun – Nagihiko desejou, sorrindo satisfeito ao ver o sorriso emocionado que escapava pelos lábios do menor. Sentia-se verdadeiramente realizado ao constatar que havia conseguido deixar Tadase feliz com a sua pequena surpresa.

— M-minna-san... Eu nem sei o que dizer! – Ele se pronunciou, comovido – Esse lugar está tão lindo! – apontou para as lanternas que iluminavam a noite – Muito obrigado mesmo! Eu nem sei se mereço tanto!

— Claro que merece! – Kukai sorriu, piscando um olho – Você é um ótimo Rei, e um ótimo amigo! Merecia até mais!

— Está na hora dos presentes! Presentes, presentes, presentes! – Yaya pulou, mais exaltada que o próprio aniversariante.

Todos, menos Nagihiko que permaneceu ao lado de Tadase, pegaram seus próprios pacotes, que estavam na varanda da casa.

— A Yaya primeiro! – ela gritou, estendendo um pacote quadrado e colorido para o garoto. Tadase, todo sem jeito, aceitou, começando a abri-lo. Dentro, havia um álbum de fotos.

— Você gosta mesmo de tirar fotos, não é Yuiki-san? – ele riu, agradecido.

— Ah! Mas esse ainda tá vazio! – ela bradou, mostrando as páginas em branco – É para você colocar todas as suas recordações preciosas! Pode começar com as fotos do aniversário! – ela balançou a câmera na mão, ilustrando.

— Muito obrigado, Yuiki-san, eu adorei! – tornou a dizer, colocando o presente ao lado.

— Agora o meu! – Utau se colocou na frente, com um vistoso pacote amarelo e laranja. Tadase o desembrulhou cuidadosamente. Era um perfume. – Pra você ficar bem cheirosinho!

— Ah, obrigado, Utau-nee-chan! – ele agradeceu, experimentando um pouquinho. Pegou o próximo presente que era oferecido, dessa vez de Rima, e o desempacotou, revelando uma caneca de porcelana, com desenhos de pequenas coroas douradas a decorando.

— É para o chá – ela disse – Achei que combinava.

— Eu gostei muito, obrigado, Mashiro-san – o garoto sorriu de volta, voltando-se para Kukai que tinha tomado a dianteira, e estendeu dois pequenos papéis, muito entusiasmado. – São.... cupons de desconto para a loja de rámen...

— É sim, o melhor rámen da cidade! – ele exclamou, com convicção. Utau se espichou, logo atrás, sem esconder a sua vontade de pegar os cupons e sair correndo para longe.

— Eu agradeço – o loiro sorriu gentilmente, sentindo então uma mão sobre sua cabeça.

— Aqui está o meu presente, Chibi King! – Ikuto colocou uma pequena caixinha na frente dos olhos do garoto, que a pegou e abriu. Dentro havia um vidro, escrito ‘lubrificante’. Utau riu alto, ao ver do que se tratava, seguida de Yaya. Rima e Amu coraram furiosamente. Kairi e Kukai nada entenderam. Nagihiko engasgou, tossindo muito.

— Lubrificante? Para que eu vou precisar disso? – Tadase indagou inocentemente.

— Ah, eu vou te explicar! – Ikuto respirou fundo, mas foi interrompido por Nagihiko, que se colocou na frente dele.

— Não mesmo! Me dê isso aqui, eu vou guardar! – ele tirou o frasco das mãos de Tadase.

— Mas o presente é meu... – ele balbuciou, sem entender nada do que acontecia.

— Isso mesmo, Nagi-kun, guarde direitinho, para quando vocês dois tiverem idade para usar! – Utau cantarolou.

— C-calem a boca! – Nagihiko berrou, com as orelhas vermelho-vivo – Como vocês podem dar algo assim de presente para o Tadase?!

— É verdade... eu devia ter entregue direto para você, Valete. – Ikuto ponderou, com o dedo sobre o queixo.

— Não mesmo! – Nagihiko rebateu, entre irritado e constrangido.

— Para que isso serve? – Tadase indagou, mas recebeu um olhar de reprovação tão intenso da parte de Nagihiko que não ousou dizer mais nem uma palavra sobre o assunto – Ano...Obrigado mesmo assim, Ikuto-nii-chan – Tadase agradeceu, mesmo que não tivesse tido nem mesmo a oportunidade de analisar se presente com mais atenção.

— Ah, você vai me agradecer mais tarde, pode ter certeza.

Tadase assentiu, virando-se então para Kairi, que aguardava educadamente.

— Meus parabéns, Rei – ele disse, oferecendo à Tadase um bem feito embrulho. Tadase abriu-o, e tirou a camisa branca que era seu presente. Agradeceu, colocando-a sobre o peito para verificar o tamanho – Parece que serve – foi a única coisa que Kairi disse, em resposta ao agradecimento de Tadase.

— Etto... minha vez, Hotori-kun - Amu gaguejou, evidentemente nervosa, sendo que esteve tentando dizer algo desde o primeiro momento – Aqui está – ela ofereceu seu presente, que estava amarrado por fitas vermelhas, da mesma cor que seu rosto estava naquele momento.

Nagihiko resmungou algo indistinto, olhando para baixo, e Yaya riu disfarçadamente com o ciúmes indisfarçável do valete. Tadase abriu a caixinha, que trazia dentro um tipo de medalhão redondo e dourando.

— Muito obrigado, Hinamori-san! É lindo. – ele disse, sorrindo enquanto olhava o medalhão mais de perto.

— Ele... abre. E você pode colocar a foto de alguém e-especial... – ela corou ainda mais, baixando o olhar.

— Ah, isso é muito legal! Muito obrigado mesmo – ele sorriu, colocando o medalhão no pescoço imediatamente e o escondendo embaixo da camisa. – Eu irei pensar com carinho em alguém para colocar a foto.

— Com isso nós acabamos os presentes, não é? Eu tô morrendo de fome! – Kukai disse, desviando a atenção para a mesa de comidas.

— Ainda não! Falta o Nagi-kun! – Utau protestou, e então, todos os olhares se voltaram para o garoto de longos cabelos, que sorriu, de mãos vazias.

— Sim, falta o meu. Espere um momento, Hotori-kun – ele disse, dando as costas e entrando em casa. Tadase mal podia se conter, juntando as mão esperançosamente enquanto aguardava.

Logo Nagihiko apareceu novamente, com uma enorme caixa nas mãos. Amu deixou escapar um muxoxo de decepção. O presente dele era dezenas de vezes maior que o dela.

Ele repousou a caixa com cuidado na varanda, e deixou que Tadase se aproximasse para abri-la, colocando-se ao lado dele. O loiro já sorria por antecipação, curioso para saber qual seria o presente do seu amigo, e se apressou em abrir a caixa.

— F-fujisaki-kun! Eu não acredito! – ele exclamou em surpresa, com os olhos brilhando. Parecia uma criança na manhã de Natal. Nagihiko sorriu de volta, com uma enorme onda de felicidade espalhando-se ao ver a reação positiva. Tadase mergulhou dentro da caixa e tirou de lá o seu frenético presente. Um filhote de Akita, branco como a neve, de olhos azuis espertos e orelhas ainda meio caídas. Ele se contorcia nas mãos de Tadase, tentando alcançar o seu rosto, e trazia uma fita de presente azul no pescoço.

— Aah! Um cachorrinho!

— Que lindo!!!

— Deixa a Yaya abraçar ele!!!

— É tão fofinho...

Todas as garotas se aproximaram mais do que imediatamente, soltando exclamações e tocando no pobre cachorrinho, que nada entendia, e se encolheu no colo protetor de Tadase. Kairi e Kukai também se aproximaram, mais ao fundo, para analisar melhor o presente, que olhava para todos com curiosidade.

— Ei! Ikuto não vai vir ver ele? – Utau perguntou ao irmão, que permaneceu um pouco afastado, de braços cruzados.

— Hunf. Não gosto desses bichos – ele resmungou, virando a cara.

— Aaah!!!! É tão kawaaaaii!!! A Yaya quer muito apertar ele!! Apertar, apertar e apertar! – a ás esticou os braços, tentando agarrar o indefeso filhote, que choramingou e subiu até o pescoço de Tadase, escondendo a cabeça ali.

— Vocês estão deixando ele com medo! – Nagihiko ralhou, acariciando a cabeça do cão, que pareceu se acalmar um pouco, e se acomodou nos braços de Tadase.

— Fujisaki-kun, eu adorei seu presente, muito mesmo! Muito obrigado! – Tadase exclamou, mais uma vez, olhando para Nagihiko com os olhos transbordando gratidão e carinho, enquanto abraçava o cãozinho macio que estava quietinho em seu colo.

— Ele também gostou muito de você, Hotori-kun. Não poderia pedir dono melhor. – Fujisaki acarinhou mais uma vez as orelhas do cachorro, enquanto fitava ternamente o garoto – Eu sei que você sente muito a falta da Betty, e imaginei que ficaria feliz com um novo companheiro em casa.

— Acertou em cheio, mais uma vez, Fujisaki-kun... eu estava pedindo um novo animal de estimação para minha mãe há tempos, e ela sempre mudava de assunto. Era exatamente o que eu queria. Parece que você está sempre lendo meus pensamentos...

— Aaargh! Chega dessa melação toda, anda logo! Qual vai ser o nome do bicho? – Ikuto cortou o assunto, apontando para o cachorrinho.

— Eu acho que ele deveria se chamar Yuki, já que é tão branquinho! – Amu sugeriu, aproximando-se de Tadase para fazer carinho no cachorro, que rosnou, mostrando todos os dentes enquanto ela chegava mais perto.

— Parece que ele não gostou muito de você, Amu... – Kukai anunciou o óbvio, enquanto a rosada se retraía para longe de Tadase, amedrontada.

— Pode ser Nana! – Rima sugeriu.

— Isso mesmo, Rima-tan! – Yaya animou-se, pulando no ar – ‘Na’ de Nagi!! E lembra também a Naddy!

— É uma boa ideia... – Tadase se entusiasmou.

— Mas ele é um menino... – Nagihiko lembrou.

— Coloca Lemon!!! – Yaya pulou ainda mais, agitando os braços espalhafatosos para todos os lados – Lemon-chan! Waaaaa~ Kawaaii!!

— Eu gosto de Lemon... – Rima murmurou, sorrindo de maneira suspeita enquanto corava.

— Eu também... – Utau concordou, enérgica.

— Pare de dizer besteira, Yaya! E vocês duas também! – Nagihiko interviu, encarando seriamente as três garotas.

— Que tal Yukihiko? – Utau propôs então, ao ver que Nagihiko não estava nem um pouco disposto a ceder e depois ter que explicar o conceito de Lemon a Tadase, embora ela pensasse consigo mesma que o quanto antes ele o fizesse, melhor. – Yuki de neve, e Hiko de Nagihiko! Ia ficar muito fofo...

— Eu gosto de Yukihiko... – Tadase concordou, um pouco atordoado com aquela exaltação nos ânimos por causa de um simples nome.

— Ah! Pensei num nome perfeito para um cachorro do Tadase!!! – Yaya berrou, assustando o pobre Sem Nome – Ele vai se chamar Prínc...

— Não mesmo, Ás – Kairi interrompeu Yaya, ao mesmo tempo que Kukai tapava a boca dela com a mão – Isso geraria problemas desnecessários demais, não concorda?

— Mhas é isho que a Yayah quehrria beerr!!!! – ela resmungou indistintamente, protestando ainda com a boca cerrada por Kukai.

— Sem mais confusões, Yaya! – Nagihiko repreendeu, encarando seriamente Yaya, que havia conseguido se desvencilhar de Kukai, esperando que ela entendesse o recado.

— Eu acho que deveria ser algo mais chocante! Tipo... Trovão! – Kukai deu sua opinião, empolgado, mas foi perfeitamente ignorado.

— Não! Isso não é nem um pouco fofo! – Yaya rebateu.

— Podia ser algo como... Fuwafuwa-kun... ou MoeMoe... – Rima sussurrou, e Nagihiko a fitou desconfiado, desconhecendo aquele lado kawaii da Rainha dependente de chá.

— Sabe... a gente podia juntar os nomes do Tadase e do Nagi-kun, não ia ser fofo? – Utau teve a ideia, surpresa com a própria genialidade.

— O que? Por que o nome deles dois? – Amu indagou, indignada.

— Ora... por que o Tadase ganhou o Cãozinho, e o Nagi foi quem deu para ele. – Yaya respondeu como se fosse óbvio – Eles são, tipo assim, os pais do cachorrinho! Uma linda família feliz! Quem será que é a mamãe...?

Tadase sorriu, concordando, enquanto Nagihiko arregalava os olhos com o rosto escarlate.

— Não fique falando essas coisas, sua Ás barulhenta! – Ele avançou contra Yaya, que não teve chance de escapar, e pressionou a cabeça dela, girando os punhos fechados. Yaya gritou, pedindo socorro, enquanto Nagihiko continuava a apertar a cabeça dela e bagunçar seus cabelos, tendo enfim sua vingança contra as estratégias da Ás, que sempre o colocavam em situações constrangedoras.

— M-mas... eu gostei da ideia da Utau Nee-chan... – Tadase se posicionou, timidamente, um pouco assustado com aquela perda de controle repentina por parte do valete. Nagihiko soltou um pouco as mãos, em choque, dando à Yaya a chance de escapar, enquanto ele olhava abobado para Tadase.

— Você entendeu o que elas estão falando, Hotori-kun? – ele indagou, duvidando da saúde auditiva do Rei.

— É mesmo, Tadase-kun! Essas duas estão falando coisas estranhas! Como assim você concorda? – Amu se juntou à Nagihiko, ainda indignada com todas as coisas que Yaya e Utau diziam.

— Mas, é uma boa ideia juntar nossos nomes, afinal, foi você quem me deu ele, Fujisaki-kun... – Tadase argumentou, cuidadosamente – E... você não gostaria de me ajudar a cuidá-lo, também? – ele inclinou a cabeça, suplicante, com o rosto corado e brilhos ao seu redor. Nagihiko engoliu em seco, sem resistir àquele pedido.

— T-talvez... mas o que você sugere? – ele consentiu, derrotado.

— Nadase?? – Amu deixou escapar, em dúvida.

— Tadahiko! – Utau berrou.

— Nagidase!! – Yaya gritou logo depois, completamente recuperada do ataque de Nagihiko, arrumando novamente as marias-chiquinhas que haviam sido destruídas.

— Quem sabe se juntar os sobrenomes... – Kukai lembrou, coçando a cabeça em sinal de confusão – Eles dois só se chamam pelo sobrenome mesmo.

— Nesse caso... Fujitori... – Kairi arriscou, hesitante.

— Hotofuji. – Ikuto disse, caindo na gargalhada logo depois.

— Acho que... Hotosaki – Rima tentou, ponderando com o dedo no queixo.

— Aah! Hotosaki! – Tadase se pronunciou, com os olhos brilhando – Eu gosto de Hotosaki! Você gostou desse nome? – disse ao cachorrinho, que levantou as orelhinhas e se agitou para cima, tentando alcançar o rosto do loiro, e distribuindo muitas lambidas na bochecha corada dele.

— Parece que gostou...

— Você queria estar no lugar do Hotosaki-kun, não é Nagi? – Yaya cutucou o valete com o cotovelo, enquanto ambos fitavam Tadase ser atacado, completamente indefeso, pelo animado cãozinho.

— Você tem que controlar essa língua, Yaya-chan – Nagihiko sorriu gentilmente, deixando a ameaça implícita nos olhos dourados. Yaya sentiu um agourento arrepio, e lembrando do quanto as mãos de Nagi podiam ser rigorosas, ela mudou de ideia sobre provocá-lo, ao menos por hoje.

— Tá bom, agora que o cachorro tem nome, que tal nós começarmos essa festa duma vez?! Eu tô morrendo de fome! – Ikuto clamou, sendo imediatamente atendido.

Tadase soltou Hotosaki no chão, que se apressou em explorar todo o jardim e correr atrás dos Shugo Charas, e se aproximou da mesa de comidas, com todos os outros, sentindo que estava transbordando felicidade. No meio da mesa havia um bolo de frutas, com uma velinha no meio.

— Faça um pedido, Hotori-kun – Nagihiko disse, indicando o lugar a ele.

— Certo... – Tadase se aproximou, respirando fundo e fechando os olhos.

O que ele deveria desejar? Ele tinha tudo o que uma pessoa poderia querer! E ter seus amigos por perto era o mais importante para ele. Havia, no entanto, algo que ele não podia evitar de pedir, por mais que não fosse exatamente um desejo. Sorrindo, ele pensou “Eu quero... ser capaz de manter a minha promessa com Fujisaki-kun, para sempre!” e então, assoprou a pequena chama, que se extinguiu, levando para cima o pedido do pequeno loiro, assim que todos começaram a comemorar.

Nagihiko começou a cortar a torta, distribuindo-o para todos. Tadase pegou o seu pedaço, experimentando-o e soltando uma exclamação de agrado.

— Está ótimo, Fujisaki-kun, como sempre! E o de frutas é o meu favorito! – ele disse, entre uma garfada e outra na torta.

— Parece com os bolos da Naddy! – Yaya berrou, com a cara coberta de glacê.

— Realmente... – Amu ponderou, analisando o sabor – Parece muito com os bolos da Nadeshiko.

— Eu acho que gostaria de conhecer essa Nadeshiko, se ela é uma garota que faz bolos tão bons. É bonitinha? – Ikuto indagou, servindo-se pela segunda vez.

— Não! Nadeshiko... a minha irmã... não é pro seu bico, seu pervertido! – Nagihiko cortou-o, indignado, e visivelmente irritado, embora estivesse um pouco ruborizado.

— Waa! Nagi-kun tem ciúmes da irmã, que fofinho! – Utau exclamou, circundando o ombro de Nagihiko com um braço, enquanto trazia o prato de bolo na outra.

— Não é isso!

— Ah, vamos voltar ao bolo! Ao bolo! – Tadase tentou acalmar os ânimos, mudando de assunto. Kukai e Nagihiko se entreolharam, sem graça, e o ex-valete sorriu cúmplice. Rima também olhou para Nagihiko, mas apenas pediu por mais da torta, sem dizer realmente nada, mas entendendo tudo.

— Sim! O bolo! Yaya quer mais!!



Tempos depois, quando todos começaram a comer de tudo e conversar, ao mesmo tempo, Nagihiko olhava ternamente para Tadase, que sorria sem parar brincando com Hotosaki, sentiu repentinamente um puxão no braço. Olhou para o lado, sobressaltado, e viu Kukai que vacilava o olhar, visivelmente embaraçado.

— Nós... podemos conversar um pouquinho, Nagihiko? – ele perguntou, ainda evidentemente hesitante.

— Anh... claro! – Nagihiko assentiu, sem saber que assuntos o ex-valete poderia ter a tratar com ele.

— Hmm.. por aqui... – Kukai afastou-se dos outros, até que os dois estivessem atrás de um frondoso pessegueiro que espalhava seus galhos por grande parte do jardim – Eu... queria falar com você sobre... um assunto.

— Tudo bem, pode falar. – Nagihiko incentivou, ligeiramente curioso. Kukai respirou fundo uma, duas três vezes, ensaiando o que queria dizer, mas sem fazer mais do que alguns grunhidos envergonhados e balbuciados. Nagihiko ponderou seriamente se deveria deixar Kukai pensando no que queria dizer e voltar a olhar Tadase brincando com Hotosaki, quando ele fechou os olhos e se preparou para falar tudo de uma vez.

— Nagihiko, você... eu soube pela Yaya, quero dizer... bom, parece cada vez mais óbvio até para mim, mas ainda assim... eu queria saber se era verdade que... você... você... gosta do Hotori? É isso mesmo?

Nagihiko sentiu sua pele toda regelar, pálida, e mirou Kukai com pavor e surpresa. Não conseguia assimilar a informação com rapidez suficiente, ou talvez apenas não quisesse acreditar que Kukai sabia mesmo sobre os seus sentimentos, que ele se esforçou por tanto tempo para manter em segredo, e mesmo assim, parecia que escapava por todos os lados, fugindo do seu controle.

— A Yaya... o que foi que ela te falou? – foi a única coisa que Nagihiko conseguiu perguntar, depois de ficar alguns instantes engasgado com a surpresa e a avalanche de dúvidas que surgiram na sua cabeça.

— Que você… está apaixonado pelo Tadase. Desde muito tempo. – ele sintetizou, realmente constrangido por estar falando desses assuntos. Era a primeira vez na sua curta vida de ginasial que ele tratava de interesses românticos com um amigo, ele estava absolutamente perdido.

— Entendo... então você já sabe, não é? – Nagihiko fitou a grama sob seus pés, sem conseguir visualizar uma forma de negar aquela história. De fato, ele se sentia aliviado por poder admitir seus sentimentos para outra pessoa – O que pensa sobre isso? – indagou num fio de voz, repentinamente preocupado com a opinião do jovem.

— Bom, na verdade eu me assustei um pouco quando descobri, mas eu acho que não há problema algum nisso. Você e o Tadase já se conhecem há tanto tempo, e se dão realmente bem um com o outro, eu não vejo nada de errado com os seus sentimentos, se é o que você quer saber. Eu só queria que você soubesse... que eu estou do seu lado, Nagihiko. Nós já somos amigos a bastante tempo, desde que você era, bem... uma garota... Sabe... antes de saber a verdade sobre você, eu sempre achei que a Nadeshiko ficava incrivelmente bem ao lado do Tadase, um casal perfeito e, veja bem, eu estava certo... continuo pensando dessa forma.

— Muito obrigado, Souma-kun – Nagihiko agradeceu, emocionado. Não esperava por palavras de incentivo vindas da fonte mais inesperada, Kukai, que apesar de tropeçar nas palavras e não conseguir se expressar com exatidão, transmitiu sua mensagem – Eu… não pretendo seguir adiante com essa história, mas é bom saber que existem pessoas nesse mundo capazes de pensar como você. Fico feliz por ter a chance de ser seu amigo.

— Nagi... cara… Eu acho que você deveria mesmo dizer pro Tadase o que sente. Acho mesmo, de verdade. Talvez você possa se surpreender. Eu sei que vocês passariam por muitos problemas, não sou assim tão burro, mas vocês os enfrentariam juntos, e não é isso o que vale, no fim das contas? Não sacrifique assim a sua felicidade, só por causa do que uns e outros pensam. – Kukai disse claramente aquilo que vinha remoendo em sua mente há bastante tempo já. Ele não poderia ver ninguém desistir assim, sem ao menos tentar. Sua mente de esportista abolia essa hipótese. Desistência não estava em seu dicionário. E ele estava decidido a fazer Nagihiko entender seu pensamento, antes que fosse tarde demais.

— Não tem a ver com que os outros pensam, Souma-kun... tem a ver com o Tadase pensa. Eu não poderia forçá-lo a tomar uma decisão que pode destruir a vida dele, e fazê-lo enfrentar o mundo por minha causa. E isso, somente é claro, na remota possibilidade de ele hipoteticamente pensar na chance de retribuir aos meus sentimentos. – Nagihiko respondeu sinceramente, tocado com o entusiasmo de Kukai em apoiá-lo.

— E você vai tomar a sua decisão sem nem ao menos ouvir o que o Tadase tem a dizer? Isso me parece muito injusto. Ele também faz parte desse assunto, Nagihiko.

— Eu... entendo o que você quer dizer. Mas eu faço isso pelo bem dele.

— Pelo bem dele ou pelo seu? Isso tudo não é apenas medo de ser rejeitado?? – Kukai bradou, e logo depois se arrependeu, mas era tarde para desfazer, e ele viu o rosto de Nagihiko passar do leve rubor ao branco neve, absolutamente chocado.

— Talvez... você possa estar certo. – Nagihiko murmurou, mal movendo os lábios, com seus ombros caídos.

— O que eu queria dizer a você era que... por favor, não se desanime! – o ex-valete se atrapalhou, perdendo a surpreendente pose madura que ele adquirira segundos antes – Eu estou aqui, sempre que você quiser um garoto para conversar! Para conversar, somente, você entende! Eu não poderia, quero dizer..

— Não se preocupe, Souma-kun – Nagihiko riu da atrapalhação do garoto em se explicar. Olhou ao redor, verificando se não havia ninguém por perto – Eu só tenho olhos para o Hotori-kun, você pode ficar tranquilo quanto a isso.

— Ah, claro que sim! – Kukai sentiu-se muito patético naquela situação – Eu só acho... que você deve querer alguém para desabafar. Alguém que não seja uma louca desvairada como aquelas duas, eu digo. E pode contar comigo, sempre que precisar.

— Eu o farei. Obrigado – Nagihiko curvou-se ligeiramente, para então voltar ao jardim e a festa, com um magnífico sorriso no rosto, que Kukai nem qualquer outra pessoa poderia classificar como sendo de alívio ou apenas uma máscara, como ele estava habituado a fazer.



Tadase ainda estava com Hotosaki, porém agora estava sentado no chão, com o cachorro entre as pernas, e sendo novamente atacado. Não parava de rir, cada vez mais alto, e Nagihiko sorriu ao ver a cena. Havia conseguido fazer Tadase feliz, e esse era seu maior desejo. Ikuto, deitado na varanda e estrategicamente colocado, apenas esticava a mão para pegar um petisco e outro. Manteve-se afastado do filhote, como medida de segurança, assim como Amu. Apesar de pequeno, ele tinha considerável força, e era bom não levá-lo aos limites. Utau e Yaya estavam completamente absortas em sua própria conversa, e ninguém de fora entendia qualquer coisa, embora estivessem ambas muito entusiasmadas. Kairi tentava esporadicamente puxar assunto com Amu, mas era sempre interrompido por um sarcástico comentário de Rima, ou alguma piada solta de Yaya, que tinha a extraordinária habilidade de se meter em conversas alheias ao mesmo tempo em que discutia com Utau. Kukai infiltrou-se naquela confusão, rapidamente tomando partido e conversando a altos brados.

Com aquela atmosfera familiar e descontraída, Nagihiko sentou ao lado de Tadase, acariciando e brincando com Hotosaki, que parecia inteiramente adaptado à sua nova família. Ganhou uma grande lambida na mão, que poderia ser um beijo de boas vindas.

— Ele gosta muito de você, Fujisaki-kun. Talvez, para ele, você seja mesmo o Papai, assim como eu. – Tadase riu, completamente alienado da real conotação das suas palavras.

— Isso não te incomoda? – Nagihiko deixou escapar.

— Absolutamente não. Afinal, ele compartilha nossos nomes, não vejo por que não possamos nós dois sermos seus pais. Será como quando éramos crianças, e brincávamos de casinha, não é?

— Só que naquela época... eu era a mamãe... – Nagihiko suspirou, incomodado, sem que ninguém ouvisse suas palavras.

Inesperadamente, Hotosaki parou de brincar e começou a rosnar raivosamente, ladrando logo depois, com seu latido agudo de filhote. Os dois olharam para a direção que ele apontava, e viram Amu, tentando se aproximar e sendo barrada pelo pequeno projeto de cão de guarda, que mais parecia um brinquedo de pelúcia pulando no mesmo lugar, com muita irritação.

— Etto... Tadase-kun...? – ela chamou timidamente, evitando chegar perto para não receber uma mordida no tornozelo, embora com uma boca daquele tamanho, nem fosse causar grandes estragos. Tinha o rosto mais vermelho do que jamais se viu, e torcia as mãos atrás das costas, nervosamente. Nagihiko a fitou por poucos segundos, e logo teve certeza do que se tratava. – Podemos conversar um pouquinho?

— Claro, Hinamori-san – Tadase respondeu tranquilamente, deixando Hotosaki no colo de Nagihiko, embora este tentasse desesperadamente se desvencilhar para atacar Amu.

Nagihiko o viu se levantar e seguir Amu para um canto mais afastado. Estava inteiramente calmo, e provavelmente nem mesmo imaginava as intenções da garota. Nagihiko, por outro lado, conhecia a mente feminina, e sabia do que elas eram capazes. Ele já sabia como isso terminaria. Enquanto via as costas de Tadase se afastando, rumo ao seu destino predestinado, não havia nada que pudesse fazer. Amu cumpriria seu papel, afinal, ela era uma garota de verdade, alguém que poderia fazer Tadase genuinamente feliz, como Nagihiko jamais seria capaz.


O loiro seguiu a coringa pelo jardim, até pararem perto da fonte de água mais afastada. Ela se virou na direção dele, sem encará-lo nos olhos, e apertando as mãos uma na outra. Seu rosto apresentava um intenso rubor, mas a luz das lanternas vermelhas disfarçavam, e Tadase nada percebeu. Estava curioso, era verdade, mas sua mente vagava sem profundidade na vontade de voltar ao lado de Nagihiko para brincar mais um pouco com Hotosaki.

— Tadase-kun... eu... eu... p-pensei em pedir ajuda das Shugo Charas para me fazer isso... mas me pareceu injusto e errado que não fosse eu mesma a dizer... e-então, me p-perdoe por não poder ser clara o s-suficiente... eu só pensei que... não conseguiria mais esconder... eu quero muito que você saiba, então... decidi que o dia do seu aniversário seria uma boa data. Eu espero não trazer problemas para você, mas será que... v-você... pode me ouvir por um momento?

— Eu posso, Hinamori-san. Diga. – Tadase murmurou, estranhamente sem reação. Por um breve momento, ele teve um vislumbre do que Amu queria tratar, e isso o apavorou.

— Eu... e-eu... aaannhh... eu... q-queria dizer que... eu... d-desde muito tempo eu tenho... t-tenho... gostado de v-você... – ela enfim conseguiu dizer, depois de muito gaguejar e se perder nas próprias palavras. Seu rosto estava ainda mais vermelho, impossível de passar despercebido.

Tadase entreabriu a boca, tentando pensar no que dizer. Se Amu tivesse dito a ele aquelas palavras há alguns meses, ele ficaria desconcertado, e provavelmente, muito feliz. Mas agora, em que ele percebia que seus verdadeiros sentimentos pela Joker não passavam de amizade e admiração, não havia maneira agradável de encerrar esse assunto. Ele teria que dizer isso a ela.

— Hinamori-san... veja bem... Não é como se eu não tivesse conhecimento sobre os seus sentimentos em relação a mim, e eu com toda a certeza me sinto honrado por eles, mas... eu não posso retribuí-la. Eu... não possuo os mesmos sentimentos por você. Sinto muito.

— T-Tadase-k-kun... – ela soluçou, desmanchando-se imediatamente em lágrimas, embora tivesse tentando realmente contê-las e assumir a pose Cool and Spyce, porém, já era tarde para isso. Ela tentou enxugar as lágrimas, que caiam como cascatas, mas parecia impossível, então ela permaneceu com o rosto escondido nas mãos, com os ombros pequenos tremendo. Parecia que a qualquer momento ia desmoronar e ir ao chão.

— Hinamori-san... não chore, por favor... – Tadase tentou se aproximar, em dúvida sobre tocá-la ou não – Direcione esses seus sentimentos a alguém que realmente os mereça, e possa retribuí-la a altura. Me perdoe por não poder ser essa pessoa – ele desculpou-se mais uma vez, sentindo seu coração se apertar por saber que era o causador daquela tristeza em sua amiga.

— Eu que devo me desculpar – ela soluçou, ainda escondendo o rosto, e então, quando sentiu que não poderia mais aguentar, saiu correndo, atravessando o pátio como um borrão, e sumindo pelo portão lateral da casa. Todos a fitaram, em choque e sem dizer nenhuma palavra, até que Kairi tomou a iniciativa e saiu atrás dela, sem pensar duas vezes. Todos permaneceram ainda algum tempo atônitos com a cena, até que aos poucos foram retornando a normalidade, já que não havia muito o que fazer.

Tadase permanecia pasmado, parado no mesmo lugar. Quando todos voltaram a fazer o que faziam antes, ele andou lentamente, um pouco desfocado, até a varanda, e ali se sentou, longe das luzes e da animação, pensando no que tinha acabado de fazer. Escorou a cabeça na parede da casa, fechando os olhos. Era a primeira vez que via uma garota chorar. Era a primeira vez que fazia uma garota chorar. E se sentia péssimo por isso. Teve vontade até mesmo de correr atrás dela e voltar atrás em sua decisão, apenas para não vê-la chorar mais.

Ouviu alguém se aproximando, mas era apenas Hotosaki, que se aninhou em seu colo e deitou ali, como se sentisse que seu dono não estava em um bom momento para brincar. Logo depois, Nagihiko se aproximou, também fugindo da agitação da festa, e sentou ao lado de Tadase, sem dizer nada.

O valete esperava que Tadase aceitasse os sentimentos de Amu. Era essa a atitude esperada de um garoto como ele, que colocava a vontade e os sentimentos dos outros acima de si próprio. Não imaginava que ele iria rejeitar Amu, e na frente de todos, pela segunda vez. Na verdade, estava até mesmo se preparando para ver os dois saindo de mãos dadas do cantinho escuro ao lado da fonte, para onde tinha ido.

Esperou pacientemente, sentado ao lado de Tadase e Hotosaki, que ele dissesse algo. Ele falaria, quando estivesse preparado. E assim foi.

— Fujisaki-kun... – ele chamou timidamente, e Nagihiko atendeu prontamente – Eu sou um garoto horrível por fazer uma garota chorar dessa forma, não sou? – ele indagou, mirando o chão com olhos tristes, enquanto passava a mão no pelo macio do cachorro. Mordeu os lábios, com o queixo tremendo e os olhos fixos e sem brilho, aos poucos deixavam transparecer lágrimas teimosas em suas bordas.

— Hotori-kun... você está chorando? – Nagihiko inquiriu, baixinho, e Hotosaki ergueu-se do colo de Tadase, assustado, cheirando ao redor para verificar o que tinha de errado com o seu dono.

— Isso é patético, não é? – Tadase riu sem graça, enxugando as lágrimas, mas isso só fez com que elas caíssem com mais intensidade – Quem deve chorar é a Hinamori-san, e não eu! E mesmo assim, elas não param de cair! – ele soluçou, esfregando os olhos úmidos. – Eu me sinto... t-tão mal por tê-la feito chorar! Eu sou... uma pessoa horrível!

— Não! Não mesmo! – Nagihiko exclamou, e então fez aquilo que teve anseio de fazer assim que viu Tadase andar até Amu, tanto que chegava a doer fisicamente. Puxou o garoto para um abraço, aconchegante e protetor, ignorando as pessoas que provavelmente os veriam mais cedo ou mais tarde. Sentiu as mãos pequenas do garoto apertando a sua camisa, e o corpo dele tremia por inteiro, em seus braços. – Não diga essas coisas, por favor! Você é a melhor pessoa que conheço, Hotori-kun. Essas lágrimas são a prova disso. Você não tem motivos para se sentir culpado, apenas foi sincero com seus sentimentos... o que é algo realmente complicado de se fazer, eu sei disso.

— M-mas... eu a fiz chorar! – Tadase soluçou contra o peito de Nagihiko, e logo depois sentiu a mão quente dele acariciando suavemente os seus cabelos.

— Amu-chan vai ficar bem, ela é forte. Kairi foi atrás dela, você não viu? Vai dar tudo certo.

— Eu sou tão inútil... – Tadase murmurou, sem levantar o rosto nem se afastar do abraço confortável e cálido – Eu nem sei se vou ser capaz de fazer aquela peça... ainda mais agora, com isso... eu... eu...

— Não, pare com isso, Hotori-kun! Eu não posso ouvi-lo falar assim de si mesmo! – Nagihiko apertou o abraço, sentindo o inseguro e frágil Tadase tremer em seu colo. Queria poder abarcar toda a aflição dele, tomar a dor para si, apenas para não vê-lo derramar mais nenhuma lágrima – Eu já disse que cuidarei de você, e que não há nada para se preocupar quanto à peça. Vai dar tudo certo.

— Fujisaki-kun... – Tadase soluçou, com a voz embargada, e se afastou minimamente, tentando enxugar as lágrimas. Nagihiko segurou o rosto dele com ambas as mãos, sentindo as bochechas macias e vermelhas, agora molhadas. Tadase fechou os olhos, choroso, e deixou que o valete secasse suas lágrimas com os polegares, tão suave e delicadamente que ele mal sentia seu toque.

— Está melhor agora? – indagou, sem tirar as mãos do rosto dele. Tadase assentiu brevemente, sem dizer nenhuma palavra, e então abriu novamente os olhos escarlate, brilhantes por causa das lágrimas, diretamente focados nos âmbares surpresos do valete.

— Obrigado, Fujisaki-kun. Obrigado por estar sempre ao meu lado. Eu não poderia... não poderia ganhar nada melhor do que isso no meu aniversário.

Nagihiko apenas sorriu, incapaz de dizer qualquer coisa. Sentiu um nó subir à sua garganta, e soltou lentamente as mãos que seguravam Tadase, sentindo transbordar a afeição que sentia por ele. Seu coração saltou incomoda e dolorosamente ao se separar dele, mais uma vez.

— Ei! Nagi! Nós vamos jogar War! Seu pai acabou de trazer o tabuleiro! – ouviu a voz estridente de Yaya chamando. Tadase se recuperou rapidamente, levantando-se e desamassando as roupas. Nagihiko fez o mesmo, andando até o lugar onde todos já haviam tirado as comidas para o lado e Ikuto montava o mapa mundi no meio da mesa. Utau e Kukai dividiam as pecinhas, brigando entre si para ver quem ficaria com as pretas.

Todos se posicionaram ao redor da mesa, enquanto Nagihiko levava alguns pratos vazios para dentro.

— Nagihiko – ele ouviu a voz grave e branda do pai a suas costas. Virou-se e o viu de pé, no seu quimono, com óculos de leitura e um livro nas mãos – A sua amiga. Eu a vi sair correndo enquanto chorava, há poucos minutos. Aconteceu algo. – ele disse, e não era uma pergunta.

— Sim... ela... não estava muito bem. – Nagihiko respondeu, tentando parecer verossímil ao encarar seu pai.

— Eu sou seu pai. – ele replicou, seriamente – E assim como você, eu também sou um bom ator, e sei distinguir a verdade da mentira muito bem. Algo está acontecendo. Com aquela garotinha, e com você também.

— Otou-san... eu...

— Você não precisa me dizer, se não estiver pronto. No entanto, eu sei melhor do que ninguém o quanto mentiras e segredos podem machucar, se você não puder sustentá-los. Se quiser... eu estarei aqui, meu filho. Sua mãe pode ser rigorosa, exagerar algumas vezes, mas não é como se ela quisesse o seu mal. Você sabe disso, não sabe?

— Eu sei, pai – Nagihiko se apressou em dizer, voltando para fora da casa – Não se preocupe, estou bem.







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Notas finais do capítulo

Shiroyuki desu o/
Espero que tenham gostado do capítulo n_n Sem muito a dizer!
Eu fiz uma ediçãozinha do que eu imagino que seja o pai do Nagi, se ficarem curiosos, aqui está:
http://shiroyuki-desu.tumblr.com/post/24856466225
Obrigada a todos, e espero pelos reviews *u*!
Kisu♥



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