Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 21
Capítulo 21 - Anata No Ichiban Ni Naritai


Notas iniciais do capítulo

Anata No Ichiban Ni Naritai - Minami Omi
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Conforme os dias foram passando, os Guardiões começaram, aos poucos, a cuidar dos preparativos para a peça. Nagihiko havia escrito o roteiro, que foi bem aceito por todos, exceto por Yaya que, além de insistir que a peça deveria ter uma cena de beijo, também teimou em usar a sugestão inicial de Utau de fazer com que Nagihiko interpretasse a Princesa. Depois me muito esforço, os demais a convenceram de que seria impossível para um garoto interpretar uma Princesa, Yaya se conformou e os ensaios finalmente começaram. E, excepcionalmente naquela tarde, as tarefas diárias dos Guardiões haviam sido canceladas para que Nagihiko pudesse anotar as medidas de todos para poder começar a fazer os ajustes necessários nas fantasias.


– Então, vamos resolver logo isso para podermos cuidar logo dos relatórios - Tadase falou, querendo acabar com as tarefas daquele dia o mais rápido possível
– Nada disso! Você disse que hoje seria "sem tarefas"! Então a Yaya não vai assinar um relatoriozinho sequer, ouviu bem, seu Rei tirano?! - a Às exclamou, apontando um dedo acusador na cara do Rei, como se ele estivesse tentando obrigá-la a fazer um pesado trabalho braçal
– Yaya tem razão - Rima concordou, bebericando seu chá diário - Você disse que hoje não faríamos nossas tarefas rotineiras. Está dando pra trás agora, Hotori Tadase?
– Vamos, vamos, vocês duas, depois pensamos nisso, vamos nos concentrar em tirar as medidas primeiro, está bem? - interveio Nagihiko, também querendo resolver logo aquilo
– Nee Nagihiko... tudo bem mesmo você fazer nossas fantasias? - Amu perguntou - Quero dizer, tudo bem que as roupas só precisam de uns ajustes, mas costurar é um trabalho feminino... tem certeza de que consegue fazer?
– Olha quem fala... você é uma garota, mas mesmo assim aposto que não sabe costurar, Amu-chi! - Yaya intrometeu-se
– O-Ora, e nem você! - a Coringa rebateu, virando o rosto um tanto embaraçada
– Yaya é um bebê, e bebês não costuram - a Às resmungou fazendo biquinho
– Vamos, já chega vocês duas - Nagihiko tornou a falar - E não se preocupe com isso, Amu-chan, eu... aprendi um pouco sobre costura com a minha irmã, então, se for só uns ajustes, eu consigo fazer
– Humm... você aprendeu a cozinhar com a sua irmã, aprendeu a costurar com a sua irmã... essa sua irmã te ensinou mesmo um monte de coisas, hein Nagihiko?! - alfinetou Rima
– V-Vamos, vamos acabar com isso de uma vez - Tadase falou, tentando encerrar aquele assunto
– Mas ainda precisamos esperar os outros chegarem - lembrou Amu
– Agora não precisam mais!


Kukai adentrou o Royal Garden, sorridente e animado em excesso, sendo seguido de perto por Kairi, Utau e Ikuto.


– Ano nee... o Souma-kun e o Sanjou-kun eu entendo, mas por que raios esses irmãos suspeitos estão aqui também?? - Nagihiko perguntou ao avistar os dois ex-membros da Easter
– Ora, mas que ingratidão é essa?! Eu disse que seria sua assistente, não disse? Então, eu vim te ajudar, Nagi-kun! - Utau exclamou, atirando seus braços ao redor do pescoço dele e o abraçando
– Me solte por favor - ele pediu, tentando se desvencilhar da garota
– Hahahahaha! Tá vendo moleque, agora você sabe o que eu sofria nas mãos dela! - Ikuto exclamou, como se o que aconteceu com ele fosse culpa de Nagihiko
– E o que você veio fazer aqui mesmo, Ikuto?? - o Valete indagou, finalmente se soltando de Utau
– Eu vim ver a Amu! - Ikuto exclamou na cara de pau e, imitando o gesto da irmã, atirou seus braços ao redor do pescoço da Coringa, abraçando-a com força
– Me solta seu gato pervertidoooo!! - Amu começou a se debater, tentando inutilmente se libertar de Ikuto
– Ai, ai... acho que o mal é de família - Nagihiko comentou, observando a cena com uma gota na cabeça - Bom, então vamos acabar com isso logo
– Ei, espere um momento - Kairi o interrompeu - Você pretende fazer a medição com os garotos junto das garotas?!
– Ahh é verdade! - Amu exclamou, finalmente se desvencilhando de Ikuto - Você também não pode tirar as medidas das garotas! Você é um garoto, Nagihiko!
– Ahh... s-sim, tem razão. Não tinha pensado nisso - o Valete concordou, pensando no que deveria fazer sobre isso. Não que ele se importasse com esse detalhe, mas devia ser realmente constrangedor para as meninas. Isso sem falar que, ele tinha certeza de que, se ele fosse Nadeshiko agora, Amu não faria uma reclamação sequer
– "Não tinha pensado nisso", é? - Yaya repetiu - Aposto que você pensou nisso sim senhor, e só quis se aproveitar do fato de que vai consertar nossas fantasias pra pôr as mãos nos nossos lindos corpinhos! - ela exclamou, com as mãos ao redor do corpo de forma protetora, fazendo pose de vítima
– Quê?! N-Não diga besteiras, Yaya-chan, eu não pensei em nada disso!! - o Valete exclamou indignado, sentindo sua face esquentar. Olhou de esguelha para Tadase e viu que ele também estava bastante corado por causa daquela insinuação
– Ele tem razão, Yaya, o Fujisaki não faria uma coisa dessas... isso é mais a cara do Ikuto - Kukai falou e, por algum motivo, Ikuto concordou veementemente acenando a cabeça - Mas sabem, isso não resolve o que vamos fazer. Quero dizer, seria realmente errado deixar ele tirar as medidas das garotas também
– Então eu cuidarei disso! - Utau prontificou-se, erguendo uma mão no ar - Sou a assistente do Nagi-kun afinal, então eu tirarei as medidas das garotas!
– Bem, isso resolve o problema - Nagihiko concordou, pela primeira vez na vida sentindo-se agradecido à Utau - Então, é melhor vocês irem pra uma sala separada
– A sala do clube de música está vazia hoje, não é? - lembrou Amu - Podemos usá-la
– Então vamos para o clube de música! - Yaya exclamou, erguendo o punho no ar.


Depois de Nagihiko entregar uma fita métrica reserva para Utau, ela seguiu com as demais para a sala do clube de música.


– Então, é melhor começarmos também - Nagihiko falou, depois que as meninas se retiraram, pegando outra fita métrica
– Sim, mas... aqui? - Tadase falou meio sem jeito - Quero dizer, aqui qualquer um pode entrar de repente, e... ver...
– O Rei tem razão - Kairi concordou, ajeitando os óculos - Vocês ainda têm uma sala de arquivos, não é? Podemos fazer a medição lá
– Mas lá não é um pouco apertado demais? - Kukai lembrou
– Ahh e daí, dará certo se vocês entrarem um de cada vez, não é? - Ikuto falou preguiçoso - Droga, eu não devia ter vindo... não vou usar fantasia nenhuma mesmo. Mas quando ouvi a Utau falando em tirar as medidas, eu... ahh, já sei! - ele saiu correndo, furtivamente como um gato, em direção á saída
– Ei, Ikuto-niisan! Aonde você vai? - chamou Tadase
– Aonde mais?! Espiar as garotas, é claro! - ele confessou sem vergonha alguma, sumindo na saída do Royal Garden em seguida
– Essa não, isso é mal... precisamos detê-lo! - Tadase exclamou, e já ia sair correndo atrás do neko, quando Nagihiko o deteve
– Tudo bem, Hotori-kun. Eu dou um jeito nisso - ele tirou o celular do bolso e mandou uma mensagem para Utau, avisando que Ikuto pretendia espiar. Quase que imediatamente, recebeu uma mensagem de volta da cantora: "Obrigada pelo aviso. Pode deixar que eu cuido do meu irmão pervertido. E você, divirta-se tirando as medidas do seu uke e vê se aproveita pra fazer uma limonada, Nagi-kun!"
– O que? Do que ela está falando? - Kairi indagou, espiando o celular do colega
– Sei lá... e por que limonada? Nós sempre tomamos chá, não é? - Kukai perguntou, tão confuso quando o outro Ex-Valete
– Essa palavra de novo... por que as garotas usam tanto a palavra "uke" afinal?? - Tadase completou, também espiando o celular do Valete
– N-Não dêem atenção pra isso, essa garota é louca, ignorem!! - Nagihiko guardou o celular no bolso o mais depressa que pôde, sentindo o rosto esquentar tanto que parecia estar em ebulição. Virou a cabeça para o lado, tentando esconder a vermelhidão do rosto com seus longos cabelos
– Bom... mas foi bem pensado você mandar uma mensagem pra Utau, melhor do que se saíssemos correndo atrás do Ikuto! - Kukai comentou - Sem falar que, se fôssemos atrás dele, tenho a sensação de que aconteceria algum tipo de acidente e acabaríamos levando a culpa também
– Tem razão, essa foi a melhor saída. O esperado do atual Valete - Kairi concordou veementemente - Mas por que você tem o telefone da Utau? Pensei que não eram amigos
– Nós não somos, mas... quero dizer... - Nagihiko coçou a cabeça sem graça, sem saber o que responder - Bem, outro dia ela veio visitar a Yaya-chan, e eu encontrei com elas... começamos a conversar e ela me deu seu cartão com nome artístico e telefone, e foi só isso - ele olhou de relance para Tadase, que novamente parecia incomodado com aquilo, e acrescentou - B-Bem, de qualquer forma, chega de papo, não é? Vamos terminar com isso que é melhor.


Os quatro se dirigiram à sala de arquivos, que realmente era um tanto apertada, mas caberia se entrassem apenas duas pessoas de cada vez. E, assim como Ikuto sugeriu, Nagihiko entrou primeiro, e em seguida a pessoa de que quem ele tiraria as medidas, e os outros dois ficaram esperando do lado de fora, próximos à porta. Kukai quis ser o primeiro, dizendo que teria uma partida de fubetol ainda naquela tarde, e não podia demorar.


– Bem, então vamos acabar logo com isso! - o ruivo exclamou, com empolgação excessiva - Nee... eu preciso tirar a roupa pra fazer isso?
– Ah, isso ajudaria a tornar as medidas mais exatas. Mas, se você não quiser, não precisa... - Nagihiko falou, mas, antes que completasse a frase, o garoto já estava se despindo. Arrancou a camisa com uma rapidez assustadora, e disse:
– Ah, tudo bem, tudo bem, estamos entre homens afinal! Eu devo tirar a calça também?
– Agora não... só quando eu for tirar as medidas das suas pernas. Vamos ver a dos braços primeiro - Nagihiko respondeu, espantado com a falta de pudor do amigo - Então... estique os braços para a frente.


Kukai obedeceu, e o Valete começou a medir seu corpo, fazendo algumas anotações em um bloco de papel a cada medida que tirava. Quando Nagihiko foi medir seu peito, porém, Kukai se arrependeu de ter se despido. Tinha esquecido completamente da conversa que tivera com Yaya há algumas semanas atrás e, por algum motivo, isso veio à sua mente agora. Ainda que soubesse que eram todos amigos ali, sentia-se estranho em ter que despir-se na frente de um garoto que estava apaixonado por outro garoto, e ainda por cima ser tocado por ele. Desejou que pudesse colocar suas roupas de volta o mais depressa possível, mas, se fizesse isso, levantaria suspeitas, então teria que aguentar até o final.


– Ei Souma-kun, você está bem?? - Nagihiko o despertou de seus pensamentos confusos - Seu rosto está vermelho... está passando mal?
– Hein?! N-Não, não, eu estou bem... não se preocupe, estou perfeitamente bem hahahahaha... - ele riu sem graça, torcendo pra que o amigo acabasse logo com aquilo. Ainda não tinha contado para Nagihiko que havia descoberto sobre o "outro segredo" dele, e pensava no melhor jeito de fazer isso
– Bem, se você diz... então, levante os braços para o alto agora - o Valete pediu, e continuou anotando as medidas.


Enquanto isso, Tadase observava a cena da porta com muita atenção. Sabia que Kukai era um tanto descarado, a ponto de não se importar em ter que despir-se na frente de outros garotos, mas não sabia que Nagihiko também não se importava com isso. Ele sempre foi tão mais reservado quando era Nadeshiko, que Tadase imaginou que ele seria assim também como Nagihiko, mas, pelo visto, se enganara. Ficou observando com atenção como o amigo tocava Kukai diretamente na pele tão despreocupadamente enquanto tirava suas medidas, aparentemente sem se incomodar nem um pouco com isso, e sentiu uma forte pontada no peito. Começou a sentir um nó na garganta também, e imaginou se estaria ficando doente, ou se isso tinha alguma coisa a ver com a cena que presenciava. Acabou concluindo que a segunda opção era a mais provável, embora não compreendesse o porquê disso. Por alguma razão, lhe incomodava o fato de Nagihiko estar tocando de modo tão displicente em Kukai, e incomodava muito. Por que isso afinal? Os dois também eram amigos há bastante tempo, e Kukai também sabia de seu segredo... ah, era isso. Não apenas Rima, mas Kukai também sabia sobre o segredo dele. Tadase sabia que isso não tinha fundamento, e que provavelmente isso era puro egoísmo infantil, mas realmente não lhe agradava o fato de outras pessoas saberem do segredo de Nagihiko além dele mesmo. Isso fazia parecer que Kukai havia se tornado mais íntimo do Valete. Claro que não podia ser verdade, afinal, Kukai nem estudava mais na Academia Seiyo, eles só se viam nos dias em que o Ex-Valete ia visitá-los.


"- Será mesmo?" – disse uma vozinha maldosa na cabeça de Tadase - "Será que eles só se vêem nos dias em que Kukai visita o Royal Garden? Como você pode saber? Você não tem idéia do que o Nagihiko faz depois da escola afinal... quem garante que ele não tem se encontrado com Kukai às escondidas esse tempo todo?".


Tadase sacudiu a cabeça, tentando afastar essa estranha voz maldosa que assolava sua mente. Mesmo que isso fosse verdade, isso não tinha nada a ver com ele afinal. Nagihiko era livre para se encontrar com quem ele quisesse em suas horas livres... mas então por que isso ainda incomodava tanto o Rei?!


"- O que estou pensando? Os dois são garotos afinal, isso não faz o menor sentido"– Tadase pensou, tentando se convencer de que aquilo realmente não tinha o menor fundamento - "Os dois são garotos, então não há motivo pra preocupação. Mas então... por que será que, mesmo sabendo disso, eu... pareço estar com ciúmes?".


– Terminei - Nagihiko anunciou, despertando o loiro de seus devaneios - Quem é o próximo?
– Posso ser eu? Também não quero demorar - Kairi adiantou-se, enquanto Kukai recolocava suas roupas e se despedia apressadamente dos colegas, ainda preocupado em se atrasar para sua partida de futebol.


Um pouco mais relutante o que Kukai, o outro Ex-Valete também acabou concordando em tirar a camisa, e Nagihiko começou a tirar suas medidas. Mais uma vez, Tadase observou a cena com atenção. Lembrou-se de que Nagihiko e Kairi não se conheciam tão bem assim, já que o Valete atual esteve viajando na Europa durante a gestão do garoto de óculos, mas, ainda assim, ele não parecia se incomodar em precisar tocar no corpo semi-despido do garoto para poder medí-lo. Tadase perguntou-se se o amigo agia assim com qualquer pessoa, ou se era apenas com os Guardiões atuais e antigos, com quem tinha mais intimidade. E então finalmente deu-se conta de uma coisa: Depois de Kairi, seria a vez dele de ser medido por Nagihiko. Imediatamente apavorou-se, sentindo uma onda de calor subir-lhe pela face. Também teria que deixar que Nagihiko tocasse nele, e provavelmente teria que despir-se na frente dele também. Tadase realmente não queria passar por isso, embora não entendesse o por quê de tanta preocupação. Ambos eram garotos afinal... e essa não seria a primeira vez que Nagihiko o veria sem roupa. Eles já se trocaram juntos no vestiário da escola, durante as aulas de Educação Física. Nagihiko também já o tinha visto sem roupa durante a viagem às termas. Porém, ao invés de se acalmar, lembrar daquela ocasião só fez com que Tadase corasse ainda mais. Era verdade que Nagihiko já o tinha visto sem roupa, mas ele nunca o havia tocado. E teria que fazer isso agora para poder tirar suas medidas, o Rei querendo ou não.


– Terminei - Nagihiko anunciou de novo, e Kairi tornou a se vestir
– Então, acho que vou dar uma olhada nas garotas e ver se elas terminaram - o Ex-Valete avisou
– Tem certeza? Elas podem pensar que você está tentando espiar, hein - Nagihiko avisou
– Tudo bem, vou ligar pra Utau antes pra ter certeza de que elas terminaram - Kairi respondeu - Então, até mais tarde - ele retirou-se lentamente do Royal Garden, com o celular na mão, provavelmente procurando pelo número de Utau na agenda telefônica
– Então... só falta você, Hotori-kun - Nagihiko chamou
– Ahn... c-certo - sem outra opção, Tadase adentrou a sala de arquivos - Ano... eu preciso mesmo... t-tirar a r-roupa?


Nagihiko ofegou ao ouvir aquela pergunta, e virou-se de costas para que Tadase não visse a vermelhidão que se apossava de seu rosto, fingindo estar fazendo uma última anotação no bloco.


– Não... bem... i-isso ajudaria, mas... p-posso fazer isso com você vestido mesmo, não se preocupe - Nagihiko respondeu por fim - Apenas... t-tire apenas a capa, ela pode atrapalhar um pouco
– Certo.


Tadase retirou a capa de Guardião lentamente, e a depositou em cima de uma mesa lotada com pilhas de documentos antigos. Estava um pouco aliviado por Nagihiko não ter pedido que ele se despisse, mas, por alguma razão, achou aquilo injusto. Kukai e Kairi haviam se despido para serem medidos afinal, por que com Tadase seria diferente? Isso sem falar que, se Nagihiko tirasse suas medidas por cima do uniforme da escola, corria o risco das medidas estarem erradas e ele ter que consertar a fantasia de novo depois, o que só daria ainda mais trabalho para o Valete que, além de cuidar das roupas, também estava cuidando do roteiro e de outros detalhes técnicos. Nagihiko já estava sempre cuidando dele, Tadase não queria dar ainda mais trabalho para o amigo. Decidido, o Rei respirou fundo, fechou os olhos e, antes que se arrependesse daquela decisão, despiu também o paletó, a gravata, a camisa branca e a bermuda do uniforme.


– M-M-Ma-Mas o que você p-pensa que está fa-fazendo H-Hotori-kun??? - Nagihiko engasgou-se com as palavras, quase não conseguindo dizer a frase, de tão chocado que estava com a repentina ação do Rei. Inevitavelmente seus olhos foram atraídos para a cueca branca de de Tadase, e seu rosto corou violentamente, tão vermelho quanto um morango maduro e suculento, isso sem falar no repentino calor que se espalhou pelo seu corpo
– É que... o-os outros tiveram que tirar a roupa também, então... n-não seria justo se apenas eu não tirasse - Tadase respondeu, ainda de olhos fechados, sentindo que poderia morrer de vergonha a qualquer momento - A-Além do mais, você... q-quero dizer, as medidas serão mais exatas assim, não é? Então... b-bem, isto é... faça logo isso, por favor
– Você... t-tem certeza de que não se importa? - Nagihiko indagou, embora agora fosse tarde demais para perguntar aquilo
– T-Tenho, apenas faça!
– Então... c-começarei pelas pernas. A-Assim você coloca seu shorte logo - Nagihiko falou, tentando por tudo no mundo não pensar nenhuma besteira em uma situação como aquela - Levante os braços.


Tadase obedeceu, mas, ao invés de esticá-los para cima ou para o lado, como haviam feito Kukai e Kairi, ele os colocou ao redor do corpo, cobrindo o peito de forma protetora, o rosto mais vermelho do que seus olhos escarlate. Nagihiko se perguntou mais uma vez por que raios ele fazia aquilo afinal, já que não era uma garota e, teoricamente não havia nada para esconder ali, mas resolveu deixar isso pra lá e acabar o quanto antes com aquela situação constrangedora. Ajoelhou-se diante do loiro, esticou a fita métrica e, ainda tentando não desviar os olhos para a roupa íntima do Rei e se concentrar em sua tarefa, encostou a ponta da fita no tornozelo dele, indo até o quadril. Tadase o sentiu tocando-o, ainda que de leve, e lembrou-se repentinamente da ocasião de semanas atrás, quando foi o contrário, e ele próprio havia tocado nas pernas do Valete, que na ocasião estava vestido como Nadeshiko. Sabia que havia prometido dar uma resposta ao amigo sobre o porquê daquele comportamento tão indecente, mas ele mesmo ainda não entendia porque agira assim, e torceu para que Nagihiko não se lembrasse disso agora. E então outro pensamento repentino lhe ocorreu: Eles meio que estavam em posições contrárias agora... e se Nagihiko resolvesse fazer o mesmo com ele? E se o Valete decidisse tocá-lo, muito mais do que o necessário, tanto por vingança pelo que Tadase fez com ele quando pelo Rei não ter lhe dado uma resposta sobre o porquê de agir assim? Tadase sentiu um receio enorme ao pensar nessa possibilidade, ainda que achasse que isso seria provavelmente justo, já que ele não se explicou devidamente com Nagihiko.
Porém, antes que os pensamentos confusos do Rei tomassem um rumo ainda mais estranho, Nagihiko se levantou e colocou-se de frente para ele.


– Eu vou medir sua cintura agora, então... p-pode levantar os braços? - o Valete pediu sem encará-lo.


Tadase obedeceu em silêncio, erguendo os dois braços para o alto, e deixando à mostra o peito nu. Tentando por tudo no mundo não olhar para aquela visão tentadora, Nagihiko passou a fita métrica ao redor da cintura dele. Inevitavelmente, tocou-o de leve com as duas mãos enquanto juntava as duas pontas da fita métrica. Tadase tinha a cintura fina demais para um garoto, provavelmente uma consequência de sua baixa estatura. O Rei sentiu aquelas mãos quentes e protetoras em sua cintura, como que o abraçando. Sentia certo constrangimento, mas ao mesmo tempo, sentia-se tão protegido por aquelas mãos suaves e fortes, que a sensação de proteção ganhava de longe do contrangimento. Por um instante fugaz, Nagihiko não resistiu à essa aproximação repentina, e apertou mais suas mãos ao redor da cintura dele, dessa vez realmente o abraçando. Tadase ofegou com o susto, sentindo seu rosto corar ainda mais, se é que isso era possível, mas não se afastou daquele toque, e fechou os olhos para apreciar melhor a sensação. Nagihiko também cerrou seus olhos, aspirando o perfume que a pele do Rei exalava. Aquela deliciosa fragância de morangos o invadiu por completo, confundo seus sentidos, quase que o embriagando. Como ele desejava poder ter Tadase sempre assim em seus braços... como ele almejava poder ser o número um em seu coração. Quantas vezes já não sonhou com uma realidade alternativa em que lhe fosse permitido ficar ao lado da pessoa que amou a vida toda. Porém, sempre acabava acordando de suas fantasias, e despertando para a cruel realidade. Nagihiko sabia muito bem que era impossível seus sentimentos alcançarem o Rei, pelo menos nessa vida. Por um instante fugaz, desejou poder renascer como uma garota e reencontrar Tadase em outra vida, só para poder ter alguma chance de ficar com ele.


– Desculpe. A fita... escorregou - Nagihiko falou ao soltá-lo, dizendo a primeira desculpa que lhe veio à mente para justificar o abraço repentino. Em seguida, virou-se de costas, sob o pretexto de anotar as medidas da cintura do Rei, e aproveitando para esfregar os olhos com força sem que Tadase percebesse. Seria um problema se ele começasse a chorar agora - Então... vamos medir seus braços agora. Estique eles para a frente - Nagihiko pediu, voltando a se virar para Tadase. Tirou as últimas medidas necessárias o mais depressa que pôde, e Tadase voltou a se vestir, enquanto Nagihiko se colocara de costas para ele, fazendo algumas últimas anotações. Aquilo havia sido uma provação e tanto, porém o Valete sabia que, mais difícil ainda seria quando chegasse o dia da peça, onde ele seria obrigado a assistir uma cena de romance entre o garoto que amava com aquela que uma dia foi sua melhor amiga.




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Alguns dias se passaram, e os ensaios prosseguiram, com algumas dificuldades, é claro. Rima só queria saber de tomar chá e insistia que sua personagem deveria tomar no mínimo cinco xícaras de chá durante a peça; Yaya teimava em fazer mudanças no roteiro e modificar suas próprias falas para que ela fosse "um Espelho Mágico mais dinâmico"; e Amu gaguejava drasticamente toda vez que tinha que contracenar com Tadase. O Rei até que estava se saindo bem, apesar de também gaguejar ou esquecer algumas falas, principalmente quando contracenava com Amu, o que causa certo desconforto no peito do Valete, ainda que ele soubesse que Tadase devia estar apenas nervoso. Sem falar que é isso era apenas durante os ensaios, com menos gente olhando, e todos seus amigos próximos. Se ele já estava nervoso desse jeito apenas durante os ensaios, seria um problema muito maior ele atuar corretamente no palco, na frente de várias pessoas, e a maioria que ele nunca viu na vida. E isso sem falar que eles ainda precisavam cumprir suas tarefas de Guardião, além de todos terem suas próprias atividades de classe para cuidar e, no caso de Nagihiko, organizar a festa surpresa para o aniversário de Tadase junto com Yaya e Utau, que insistiram em ajudá-lo, o que estava sobrecarregando demais os Guardiões.


Depois de um treino intensivo ao longo da semana, em um sábado eles se permitiram tirar uma folga, visto que todos trabalharam duro (alguns mais do que outros) por vários dias seguidos. E naquela tarde de sábado, a mãe de Nagihiko avisou apressadamente que estava de saída, dizendo que tinha um assunto urgente para resolver e que voltaria tarde. Depois de tomar um longo e relaxante banho de banheira, ele já ia procurar alguma coisa pra comer, quando Rhythm o chamou:


– Nagi! Ei, Nagi, adivinha! - ele veio correndo, ou melhor, voando, mais agitado do que o normal - Você tem visita!
– Como visita se eu nem ouvi a campainha tocar? - o Valete indagou, enquanto ainda vasculhava a geladeira à procura de alimento
– Bem, é que o seu visitante parece meio indeciso se realmente quer entrar ou não... parece meio amedrontado na verdade - Rhythm deu uma risadinha - Melhor você ir logo lá antes que ele mude de idéia e vá embora sem te ver!
– Tá, tá, eu já vou.


Nagihiko fechou a geladeira e dirigiu-se até o portão principal, imaginando quem seria. Poderia ser alguma criança perdida, buscando informação, e se intimidou por causa do tamanho da casa... não seria a primeira vez que isso acontece. Nagihiko abriu o portão e deu de cara com Hotori Tadase, com o dedo indicador a centímetros da campainha.


– Hotori-kun?! - Nagihiko exclamou incrédulo, sobressaltando o loiro - O que está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa?
– Ah... b-boa tarde Fujisaki-kun - o Rei cumprimentou timidamente - Não aconteceu nada, é só que... bem, eu precisava te falar uma coisa. Eu posso entrar? - ele olhou para os lados, aparentemente receoso de que alguém escutasse o que quer que ele tivesse a dizer, embora a rua estivesse deserta
– Ah, claro... desculpe, entre - Nagihiko afastou-se para o lado, dando passagem para o Rei entrar, e ainda se perguntando o que raios Tadase estava fazendo ali em pleno sábado
– Hãn... por acaso essa campainha tem algum tipo de sensor de calor ou coisa parecida? - o loiro perguntou enquanto Nagihiko fechava o portão - Quero dizer, eu nem cheguei a tocar a campainha, e mesmo assim você...
– Ah, não, não. O Rhythm me avisou que tinha gente no portão - Nagihiko respondeu
– Ohh bom trabalho, plebeu! O esperado do Shugo Chara de um servo fiel como o Valete! - Kiseki exclamou orgulhoso
– Kiseki, já te falei pra não falar assim dos outros! - Tadase sibilou um tanto envergonhado
– Ah, deixa, já me acostumei - Nagihiko respondeu dando de ombros
– Mas isso é errado! - o loiro insistiu - Você não é meu... s-servo, é meu... meu amigo
– Talvez seja bem mais do que amigo, viu?! - Rhythm deixou escapar com uma risadinha
– Menos, Rhythm! - Nagihiko sibilou
– Hai, hai, já sei - Rhythm respondeu, sem dar importância - Venha, vamos dar uma volta, Alteza, preciso te colocar à par do que anda acontecendo por aqui
– Já falei que é Majestade, seu ignorante burro! - Kiseki reclamou, mas seguiu Rhythm, e os dois desapareceram pelo imenso jardim
– Então... o que você você queria me dizer, Hotori-kun? - Nagihiko perguntou depois que os Charas se afastaram
– Bem, na verdade, eu... q-queria te entregar uma coisa - o Rei respondeu, corando um pouco, e só então Nagihiko reparou que ele carregava um pequeno embrulho às costas - Etto... b-bem, você sabe que dia é hoje?
– Humm... sábado?
– É, isso também - Tadase murmurou, parecendo cada vez mais nervoso - Mas... hoje também é... o White Day. Então, bem... i-isso é pra você!


Tadase estendeu o embrulho que carregava, fechando os olhos com força e vermelho até as orelhas. Parecia até uma daquelas meninas que viviam se declarando para ele. Nagihiko o encarou espantado por vários segundos, com os olhos arregalados e a boca entreaberta. Por que raios Tadase estava dando um presente para ele afinal?! Tudo bem que Nagihiko deu chocolate para ele no Dia dos Namorados, mas jamais sequer cogitou a possibilidade de ganhar algo em troca. Isso sem falar que ele tinha se esquecido completamente da data, já que não tinha o costume de dar presentes para ninguém nesse dia.


– Ano... por que você... está me dando isso? - Nagihiko deixou escapar a pergunta - Quero dizer, eu sei que te dei chocolates, mas... não é como se eles representassem... a-a-amor ou coisa do gênero... e-eram giri-choko, v-você sabe disso, não é?? - ele acabou mentindo, temendo que Tadase percebesse suas reais intenções ao dar-lhe aquele chocolate
– Eu sei, mas... bem, quando pensei que não ganharia chocolates de você esse ano, já que a Fujisaki-san não está mais aqui, eu fiquei muito triste... e, quando você me deu chocolate assim mesmo, eu... senti uma alegria tão grande que nem sei como explicar. Então... bem, eu sei que eram apenas giri-choko, mas ainda assim, gostaria de retribuir. Porque você me fez tão feliz quando me deu aqueles chocolates que... eu queria que você ficasse feliz também
– E-Entendo. Então... por acaso você fez um presente pra Amu-chan também? - Nagihiko deixou a pergunta escapar, com a franja lhe cobrindo os olhos - Já que ela também te deu chocolates afinal...
– Eh? Não... agora que você falou, não fiz nada pra Hinamori-san - Tadase respondeu, surpreso com aquela pergunta
– Mas, se você não deu nada, então... por que está dando um presente de retribuição pra mim, se não preparou nenhum presente pra ela??
– É porque... seria injusto. Eu sei que a Hinamori-san ainda... g-go-gosta de mim, então... eu não sou capaz de retribuir os sentimentos dela. Então seria injusto dar um presente e lhe dar falsas esperanças, seria como se eu estivesse iludindo e enganando ela.


Nagihiko o encarou por um momento. Não que ele estivesse reclamando quanto à isso, pelo contrário, uma vozinha egoísta na cabeça dele cismava em lhe dizer que ele devia estar feliz e aliviado por Tadase não ter presentiado Amu também, e sinceramente, ele concordava um pouco com essa voz. Só não entendia por que Tadase havia dado um presente pra ele, e pra Amu não. Não poderia significar que Tadase não pôde aceitar os sentimentos de Amu, mas os dele sim, não é?! Não, é claro que não... Tadase pensava que Nagihiko havia lhe dado giri-choko, é claro que era apenas uma retribuição entre amigos.


– Tem certeza que... não tem problema dar um presente de retribuição pra mim? - Nagihiko indagou por fim - Quero dizer, eu sou um garoto, então...
– Isso não importa - o Rei interrompeu - Eu apenas queria... retribuir a alegria que você me fez sentir quando me deu aqueles chocolates, então não me importa se você é um garoto ou não
– Então... bem, acho que vou aceitar. Obrigado - Nagihiko pegou o presente antes que sua coinsciência o impedisse de aceitá-lo.


Com as mãos trêmulas, Nagihiko retirou o papel de embrulho, sentindo seu coração bater descontroladamente, lutando contra sua caixa toráxica. Quando terminou de desembrulhar, viu um porta-retrato, aparentemente feito à mão, contendo uma foto de Tadase e Nagihiko quando ainda eram crianças, antes de entrarem para os Guardiões. Tadase estava sorrindo na foto, fazendo um "V" de vitória com os dedos, sentado em um balanço, e Nagihiko ao lado dele, segurando a corrente do balanço com a mão esquerda, e uma bola de basquete embaixo do braço direito, os cabelos soltos na altura do ombro, bem mais curtos do que agora, e sorrindo também. Aquela era uma das raras fotos de sua infância em que Nagihiko aparecia como ele mesmo, e não como Nadeshiko.


– Foi... você quem fez? - o Valete perguntou
– Sim... d-desculpe se não ficou muito bom, mas... como você mesmo tinha feito os chocolates, eu queria fazer alguma coisa também. Só que eu realmente não sou bom na cozinha, então... isso foi o melhor que consegui pensar - Tadase respondeu meio sem graça, observando com cuidado a reação do amigo
– Arigatou, Hotori-kun. Guardarei isso pra sempre como se fosse um tesouro... prometo - Nagihiko o encarou com os olhos brilhando, sem conseguir conter um sorriso. Logo sentiu uma imensa felicidade preencher seu peito, uma sensação de alegria que não tinha há muito tempo, e que apenas Tadase era capaz de provocar nele. Ele queria abraçar Tadase com força e nunca mais soltá-lo, mas conseguiu se conter à tempo, e se contentou e afagar sua cabeça, bagunçando os cabelos loiros do menor. Tadase corou e fechou os olhos para apreciar melhor aquele toque. Nagihiko queria poder lhe dizer o quanto estava feliz com aquele presente, tanto que seu coração parecia que ia transbordar de alegria, mas infelizmente não poderia fazê-lo. Alguns instantes depois, afastou a mão da cabeça de Tadase, e falou - Bom, já que você está aqui... quer entrar pra tomar um chá e comer alguma coisa?
– Hai! Quero sim, obrigado!


Os dois deixaram o quintal, adentrando a casa e, depois de Nagihiko colocar seu novo porta-retrato em cima da cômoda em seu quarto, seguiu para a cozinha, com Tadase em seu encalço. Vasculhou a geladeira alguns instantes e perguntou:


– O que você quer comer Hotori-kun? Temos misô, yakisoba, sashimi, onigiri...
– Ano... isso não vai te dar trabalho? Não precisa cozinhar só por minha causa
– Imagina, não tem problema
– Mas você vai ter o trabalho de cozinhar só por minha causa - Tadase insistiu, se sentindo meio culpado - Não precisa se incomodar com isso
– Humm... está bem então - Nagihiko fechou a geladeira, pensativo. Devia ser estranho afinal, ter um garoto cozinhando para ele. Não importava o quanto se parecesse com uma menina, mesmo na forma de Nadeshiko, ele ainda era um garoto afinal. E Tadase devia se sentir no mínimo incomodado com isso, mas era gentil demais pra falar - É mesmo estranho né... ter um garoto cozinhando pra você - Nagihiko admitiu sem encará-lo - Tudo bem, não precisa comer minha comida se não quiser. Podemos pedir uma pizza ou coisa assim...
– Não é isso! - Tadase exclamou, agarrando-se ao braço dele por impulso. Nagihiko ofegou, surpreso com aquele toque - Não é isso... não precisa pedir pizza nenhuma. É só que... sempre que venho aqui, você cozinha todo tipo de coisas deliciosas pra mim... até mesmo na escola, ou quando você vai à minha casa, você sempre acaba preparando tudo sozinho. E eu... bom, eu sou realmente uma negação na cozinha, então nunca posso fazer nada para retribuir, então... me sinto meio inútil, sabe? Sem falar que vivo te dando trabalho... porque você está sempre fazendo todo o tipo de coisa pra me ajudar, mas eu... nunca consigo fazer nada em troca. Mas eu não estou dizendo que não gosto da sua comida, não mesmo! Pelo contrário... tudo que você cozinha é delicioso. Aposto que muitas garotas morreriam de inveja dos seus dotes culinários.


Nagihiko surpreendeu-se com aquela frase, e sentiu seu rosto esquentar tanto que poderia jurar que alguém tinha tocado fogo em sua cabeça. Ele virou o rosto para o lado, respirando fundo, em uma tentativa de normalizar sua respiração descompassada, e respondeu:


– V-Você não devia... se preocupar com isso. Eu sou o Valete afinal... é meu dever cuidar do meu Rei. Mas você... realmente não se importa? De ter um garoto cozinhando pra você
– Não, é claro que não! Isso não me importa nem um pouco!
– Certo... b-bem, então eu irei continuar - Nagihiko puxou de volta o braço que ainda estava entre as mãos de Tadase, e tornou a abrir a geladeira, pegando alguns ingredientes aleatórios. Puxou uma faca da gaveta, e começou a cortar o peixe, quando se lembrou que Tadase não havia dito o que ele queria comer - Bem, eu vou fazer sashimi então. Como você prefere o tempero?
– Pode fazer como quiser. Não importa como você faça, tudo que você prepara é delicioso mesmo. Eu realmente... adoro a sua comida, Fujisaki-kun. Fico feliz em poder provar dela de novo.


Mais uma vez Nagihiko ofegou com o elogio repentino e, por causa do susto, não prestou atenção no que estava fazendo e acabou cortando o dedo. Ele largou a faca e soltou uma exclamação de dor, examinando o dedo ferido. Uma grossa gota de sangue vermelho-vivo começava a brotar do corte.


– Fujisaki-kun! Você está bem?? - Tadase perguntou preocupado, se aproximando mais do garoto
– Estou sim, só me cortei - ele respondeu, ainda examinando o dedo ferido. Novas gotas de sangue brotavam do corte, e ameaçavam pingar no chão a qualquer momento - Ah, que beleza, hein, comida com sangue - ele comentou, tentando fazer uma brincadeira para aliviar a preocupação do Rei - Tudo bem, é só eu lavar que...


Antes que completasse a frase, o Rei agarrou seu pulso com as duas mãos e, levando o dedo ferido do garoto até os lábios, o abocanhou por completo. Nagihiko arregalou os olhos, sentindo o rosto esquentar drasticamente, e já ia abrir a boca para perguntar o que raios Tadase estava fazendo, mas o choque foi tão grande que sua voz não saía. Deixou escapar um ruído rouco com a garganta ao sentir a língua do Rei passeando pelo seu dedo, lambendo o corte, em um vagaroso movimento de vai-e-vem. Tadase passava língua delicadamente pelo corte, sentindo aquele dedo comprido e fino entre seus lábios. Até o gosto da pele dele era surpreendentemente delicioso. Tadase fechou os olhos, apreciando melhor o sabor da pele do maior, o rosto irremediavelmente corado. Mesmo quando o corte já não sangrava mais, Tadase relutou um pouco em soltá-lo. Ele tinha um gosto tão bom, tão doce, tão agradável... queria poder ficar assim pra sempre, mas infelizmente sabia que não seria possível. Ainda meio relutante, o Rei finalmente reabriu os olhos, tirando o dedo do garoto da própria boca e soltando-o.


– Ano... v-você não precisava... ter feito isso - Nagihiko falou vários segundos depois, tentando fazer com que seus batimentos cardíacos tornassem a se normalizar
– Eu sei, mas... eu queria poder te ajudar de alguma forma, nem que fosse só um pouco - Tadase respondeu sem jeito
– Entendo... b-bem, obrigado - o Valete disse por fim, tornando a se virar de frente para a pia. Antes de retomar a tarefa de cortar o peixe, examinou o corte fino em seu dedo, que agora não sangrava mais. Não apenas o corte, mas o dedo todo exibia certa quantidade de saliva. Nagihiko aproximou o dedo dos lábios, um tanto temeroso, se perguntando se aquilo poderia ser considerado um beijo indireto
– Eu vou pegar um band-aid pra você. Fica no banheiro, certo? - Tadase o despertou de seus devaneios, sobressaltando o maior
– Hein?! Ah, sim... isso, no banheiro, em uma caixa embaixo da pia. Obrigado - Nagihiko respondeu, e Tadase saiu correndo para fora da cozinha.


Depois que o Rei saiu, Nagihiko cedeu ao impulso e abocanhou o próprio dedo ferido, que segundos atrás estivera na boca de Tadase. Podia sentir um resquício de saliva dele, e corou furiosamente com esse pensamento. Sabia que não devia estar fazendo isso, sabia que aquilo estava errado, mas não podia resistir. Era apenas um beijo indireto, não podia fazer tanto mal assim afinal... podia?


– Ainda está doendo? - ele ouviu a voz de Tadase perguntar, sobressaltando-se, e tirando instantaneamente o dedo da boca
– N-Não... eu estou bem - Nagihiko respondeu, extremamente aliviado do loiro não ter percebido as reais intenções de seus atos
– Bem, aqui está o band-aid - Tadase puxou a mão de Nagihiko para perto, colocou o band-aid no dedo machucado, e o Valete finalmente voltou a se concentrar na comida.


Depois de algum tempo de esforço, a comida finalmente ficou pronta e os dois se dirigiram à sala para comer o lanche que, pela hora, já tinha virado janta. Depois de comerem, Tadase ajudou Nagihiko com a louça, e os dois passaram o resto da noite conversando e repassando algumas falas da peça, quando repararm que já eram onze da noite. Depois de convencer Tadase que seria melhor ele passar a noite lá do que voltar pra casa à essa hora sozinho, o Rei telefonou para casa avisando que iria passar a noite lá, e foi tomar um banho antes de ir dormir, enquanto Nagihiko arrumava outro futón para ele no quarto.


– Eu disse pra ele que seria melhor ele passar a noite aqui ao invés de voltar pra casa sozinho à essa hora, mas... será que está mesmo tudo bem com isso? - Nagihiko perguntava-se enquanto trocava sua roupa normal pelo pijama
– O que está dizendo Nagi, você devia estar feliz! - Rhythm exclamou, um tanto relutante em entrar no seu Shugo Tama hoje - Você conseguiu trazer o Tadase pro seu quarto afinal... é um feito e tanto hahahahahaha!!
– Ouça bem, Valete! Vou te dizer uma coisa que estou querendo falar há tempos, então vou aproveitar essa oportunidade - Kiseki intrometeu-se, sobressaltando Nagi - Eu fiquei sabendo dos seus sentimentos pelo Tadase. E eu fiquei pensando nisso... pensei muito, muito mesmo... e isso simplesmente não entra na minha cabeça. Mas, conheço você há tempos, desde a época em que você vivia aquela farsa... e sei que não é má pessoa. Além do mais, você sempre protegeu e cuidou bem do Tadase, independente de qual forma estivesse assumindo, então... bom... talvez essa escolha... não seja tão... errada afinal.


Nagihiko não podia acreditar no que estava ouvindo. Ele estava redondamente enganado, ou aquela era a forma de Kiseki dizer que não se importava com o fato de ele estar apaixonado pelo seu dono?! Jamais esperou uma reação tão positiva de Kiseki, que sempre pareceu ser tão rígido. Chegou a imaginar uma vez ou outra no que faria se o Reizinho viesse a descobrir sobre os sentimentos que ele nutria por Tadase, mas nunca chegou a uma conclusão, imaginando que o Chara simplesmente entendia pouco demais sobre assuntos amorosos para ser capaz de perceber uma coisa dessas sozinho. Nagihiko quase ficou feliz com as palavras de Kiseki, mas logo lembrou-se de que ele mesmo já havia desistido assim que se deu conta dos sentimentos que nutria pelo seu amigo de infância.


– Obrigado, Kiseki. É bom saber... que você pensa assim - Nagihiko respondeu por fim, com um sorriso triste - Aliás, como foi que descobriu isso? Você não parece ser o tipo de Shugo Chara que... dá importância... a esse tipo de assunto
– Tem razão, não sou. O Rhythm e a Eru me contaram - Kiseki respondeu, e Nagihiko fez uma nota mental para estrangular os dois mais tarde
– Entendo. E você.. não falou sobre isso com o Hotori-kun... falou?
– Não, claro que não! - Kiseki negou prontamente - nem sei como diria uma coisa dessas pra ele... eu não falei nada, e nem pretendo falar
– Certo... eu agradeço se você puder manter segredo sobre isso. Mas não precisa ficar se preocupando com isso. Eu não pretendo seguir em frente com esse assunto
– Como assim não pretente?! - o Reizinho exclamou
– Ele quer dizer que está desistindo dos sentimentos que tem pelo Tadase, e não vai tentar lutar por ele - Rhythm explicou, anormalmente sério
– É como o Rhythm falou - o Valete confirmou - Não importa a minha aparência, ainda sou um garoto afinal, então... isso é impossível. Se eu insistir nessa história, só irei ferir o Hotori-kun, isso sem falar que ele vai querer se afastar de mim se descobrir sobre isso, e eu não suportaria uma coisa dessas. Mesmo que ele tenha concluído que não gosta da Amu-chan, algum dia ele encontrará alguma outra garota, vai se apaixonar, ser feliz e ter uma vida normal e sem problemas desnecessários com ela. Se eu ousasse ficar com o Hotori-kun... só faria ele sofrer... na verdade ele nem sequer aceitaria um sentimento desse tipo vindo de mim pra início de conversa.... então, é melhor não insistir nesse assunto. Tudo que eu quero é proteger e cuidar dele... mesmo que seja como um amigo, ou por causa da minha posição de Valete... se eu puder permanecer ao lado dele, zelando por ele, isso já basta
– Eu não acredito no que estou ouvindo! - por algum motivo Kiseki pareceu se ofender - Quer dizer que você vai simplesmente desistir? Sem nem mesmo lutar?! Que espécie de Valete é você que nem sequer luta pelos sentimentos do seu Rei?! E você realmente acha que pode protegê-lo sendo covarde assim?! Francamente, que vergonha, Valete, eu esperava mais de você! Se você é tão covarde a ponto de nem sequer lutar pelo que é mais importante pra você, então talvez você não mereça o Tadase mesmo!!


Kiseki refugiou-se em seu Shugo Tama, deixando Nagihiko sem ação. Ele estava novamente muito enganado, ou o Chara o estava encorajando a tentar ficar com seu dono?! Não, não podia ser isso, devia ter alguma coisa errada aí. Além do mais, isso não importava de qualquer maneira. Nagihiko já tinha tomado sua decisão, independente do que Kiseki pensava ou deixava de pensar sobre isso. Ele sacudiu a cabeça, tentando afastar esses pensamentos confusos, e enquanto terminava de vestir o pijama, a porta do quarto se abriu.


Nagihiko só teve tempo de registrar Rhythm fazer um comentário maldoso, e entrar em seu Shugo Tama em seguida, quando se deu conta de que Tadase o encarava da porta, completamente boquiaberto. Nagihiko estava com os cabelos presos frouxamente, que ele amarrou de qualquer jeito para não embolar nos botões da camisa, a parte de cima do pijama aberta até a metade. Ainda não tinha vestido a parte de baixo. Uma parte da cueca estava à mostra, apenas parcialmente coberta pela camisa branca do pijama. Notou que Tadase o encarava fixamente, sem piscar uma única vez, e a boca entreaberta, lhe dando um semblante meio tolo, o rosto vermelho até as orelhas.


http://desmond.imageshack.us/Himg849/scaled.php?server=849&filename=fujisaki.jpg&res=landing


Nagihiko seguiu o olhar parado dele e percebeu que o Rei observava atentamente suas pernas. Como em um flash-back involuntário, Nagihiko lembrou-se do dia de chuva em que os dois foram parar naquele estúdio de dança vazio de sua família, quando Tadase praticamente o molestou enquanto estava sob a forma de Nadeshiko. O Valete arregalou os olhos, sentindo o rosto queimar como se estivesse em chamas. Largou a fita que ainda amarrava seus cabelos, e pegou a calça do pijama, vestindo-a o mais rapidamente que suas mãos trêmulas permitiam. Ainda não entendera daonde surgiu essa repentina obsessão do Rei por suas pernas, mas não queria criar um dejà-vu para aquela cena constrangedora de jeito nenhum, já foi vergonhoso demais passar por aquilo uma vez, não aguentaria passar por isso de novo. Depois que o Valete se vestiu, Tadase pareceu despertar para a realidade. Ele sacudiu a cabeça com força, piscando várias vezes, e falou:


– Ano... gomen... e-eu cheguei em má hora?
– Não, tudo bem - Nagihiko respondeu, fingindo não estar incomodado nem embaraçado. Ele terminou de abotoar a camisa, quando percebeu que o pijama que havia emprestado para Tadase estava comprido demais, as mangas quase cobrindo suas mãos, assim como a calça, que praticamente arrastava no chão - Ah, desculpe.... ficou meio grande né? E olha que esse é o menor pijama que eu tenho...
– Não, não tem problema - Tadase riu sem graça - Etto... você viu o Kiseki?
– Ele já está dormindo no ovo. O Rhyhm também - Nagihiko respondeu, apontando para a cômoda onde, ao lado do porta-retrato que ganhara de presente de Tadase, estavam três Shugo Tamas agora. Um deles, por sinal, que permanecia fechado já tinha algum tempo
– Ah... o ovo da Temari - Tadase reparou ao ver o ovo cor de rosa - Não teve... nenhum progresso sobre ela?
– Não, nada - Nagihiko respondeu, olhando o ovo tristemente - Estou começando a pensar... que ela não vai voltar
– É claro que vai! - Tadase exclamou, sobressaltando-o - Ela é sua Shugo Chara afinal, é parte de você! Talvez demore um pouco, mas é claro que ela vai voltar um dia!
– Não - Nagihiko discordou - Se o motivo pelo qual ela me deixou é o que estou pensando, então acho... que provavelmente, ela não vai mais voltar
– Fujisaki-kun...?
– Ah... b-bem, vamos dormir? - o Valete desconversou, forçando um sorriso. Tadase ficou preocupado com o que ele disse, mas achou melhor não insistir se ele não queria falar sobre isso. Afinal, Temari era a Shugo Chara dele, e não de Tadase, devia ser alguma coisa muito pessoal que a fez deixar o dono.


Nagihiko desamarrou os cabelos, apagou a luz e, depois de desejarem boa noite um para o outro, foram dormir, cada um perdido em seus próprios pensamentos e emoções confusas.




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Tadase acordou embalado por um delicioso aroma familiar, que o estado de sonolência em que se encontrava não lhe permitia reconhecer, registrando vagamente os fracos raios de sol que entravam pelas frestas da cortina, batendo em seus olhos sonolentos. Um tanto relutante, abriu minimamente os olhos, e a primeira coisa que viu ao acordar foi alguma coisa comprida e arroexada bem perto dele. Estranhou, pois tinha certeza de que as cobertas eram azuis, e não roxas. Piscou algumas vezes, e percebeu que a "coisa arroxeada" era na verdade mechas de cabelo, espalhadas para todos os lados de qualquer jeito. Só então notou Nagihiko dormindo profundamente ao seu lado. Tadase ergueu a cabeça, surpreso, perguntando-se como o garoto havia ido parar ali, quando percebeu que aquele quarto não era dele, e então lembrou-se de que passou a noite na casa do amigo. Encarou mais uma vez o rosto sereno do Valete, passando os olhos por toda extensão do seu corpo, quando percebeu que o garoto havia chutado as cobertas para longe no meio da noite, revelando a camisa do pijama aberta até a metade, deixando à mostra uma parte sugestiva da sua musculatura, que era modesta, mas bem definida. E, por algum motivo, estava sem a parte debaixo do pijama também.


Tadase piscou várias vezes, com os olhos voltados naquela direção, sem conseguir acreditar no que via. Lembrava-se perfeitamente de ter visto Nagihiko vestir a calça do pijama na noite passada, então por que ele não a estava usando agora?! Esse pensamento logo se perdeu devido à tentadora visão diante dele. Pôde ver mais uma vez aquele belo par de pernas, compridas e esguias, tão delicadas que era difícil acreditar que pertenciam à um garoto, mas a cueca preta no final delas, e o peito liso mais acima não deixavam dúvidas sobre isso. Tadase se aproximou um pouco, curioso. Mais uma vez sentiu vontade de tocá-las, ainda que não quisesse de jeito nenhum repetir o "acidente" do estúdio de dança de semanas atrás. Tentava por tudo no mundo se controlar, movendo a mão, ora na direção das pernas expostas do amigo, ora puxando ela de volta, e tentando inutilmente desviar os olhos delas. Até que Tadase não aguentou mais e, vencido pela tentação, encostou um dedo devagar. Olhou para o rosto dele e, como Nagihiko não tinha acordado, encostou os outros aos poucos, até tocá-lo com a mão inteira. Deslizou suamente as mãos por aquelas pernas suaves e bem torneadas, sentindo a maciez da pele do mais alto. Fechou os olhos, apreciando melhor aquela sensação, quando ouviu:


– O que pensa que está fazendo Hotori-kun?!


Tadase arregalou os olhos assustado, e viu Nagihiko olhando para ele, mais assustado ainda. Tadase recuou um pouco, temendo a reação do Valete. Não importava o que ele falasse agora, não havia explicação para o que ele estava fazendo. Ele havia tocado em um garoto adormecido e indefeso, feito coisas indecentes com ele, e não havia nada no mundo que justificasse isso. Como Nagihiko reagiria à isso? Ficaria assustado? Com medo? Sentiria raiva dele? Aversão? Seja lá o que fosse, com certeza não seria bom.


– O que estava fazendo Hotori-kun? - Nagihiko repetiu - Você estava me... tocando... enquanto eu dormia?!
– Sinto muito. Sei que não tem... explicação para o que eu fiz. Mesmo que eu fale que foi sem querer, ou sem intenção, você provavelmente não vai acreditar... sei que o que eu fiz foi... errado, e provavelmente imoral, mas... e-eu,.. eu... - a voz de Tadase foi morrendo aos poucos, até que ele finalmente se calou, temendo a reação do Valete
– Hmm... então você ficou fazendo coisas indecentes comigo enquanto eu dormia, é? - Nagihiko perguntou sem encará-lo - Você não... se aproveitou de mim enquanto eu estava dormindo, não é?
– N-Não, claro que não!! - Tadase respondeu sem pensar duas vezes - Quero dizer... isto é... e-eu não sei bem se isso pode ser chamado de... s-se aproveitar - ele caminhou alguns passos na direção do Valete, rezando para que o garoto não estivesse com raiva dele. Abriu a boca para se desculpar de novo, mas, acabou tropeçando na calça do pijama, que ficava exageradamente comprida nele, e caiu em cima de Nagihiko, sendo segurado pelo mesmo pela cintura
– Eu acho que pode sim - Nagihiko respondeu, o corpo ainda colado no de Tadase, seus braços envolvendo fortemente a cintura do Rei - Mas por que você resolveu fazer isso enquanto eu estava dormindo? Porque, sabe... se você queria me tocar, bastava me pedir.


E sem mais aviso, Nagiiko segurou Tadase pelo pulso e encostou a mão dele no próprio peito, parcialmente à mostra por causa da camisa aberta. E então sussurrou em seu ouvido:


– Demo nee Hotori-kun... em troca, eu quero poder tocar em você também.


Antes que Tadase se desse conta do que estava acontecendo, sentiu a língua de Nagihiko percorrendo seu pescoço, parando para beijá-lo aqui e ali, e então sentiu as mãos do Valete percorrerem seu peito nu, sendo que nem percebera quando foi que Nagihiko havia tirado sua camisa. Sentiu seu rosto esquentar drasticamente, e quando abriu a boca para protestar, acabou deixando escapar um gemido no lugar da reclamação.


– Humm... então você gosta disso, Hotori-kun? - Nagihiko perguntou baixinho, com a voz estranhamente sedutora, mordiscando o lóbulo da orelha dele em seguida e fazendo com que Tadase gemesse ainda mais alto.


– Ahn... F-Fujisaki-kun... o que você... ahh... q-que está fazendo? - o Rei perguntou com dificuldade, tentando inutilmente conter seus gemidos
– Eu estou tocando em você. Assim como você fez comigo antes - Nagihiko respondeu como se não fosse nada de mais. Em seguida, aproximou os lábios da orelha dele e sussurrou - Nee Hotori-kun... você gosta de tocar nas minhas pernas, não é? Pode tocar agora se quiser... eu deixo.


Sem esperar por uma resposta, ele segurou Tadase pelo pulso, aproximando a mão dele de suas pernas, encostando-a nelas. Tadase estremeceu um pouco ao sentir aquele toque macio, mas não resistiu. Mesmo depois que Nagihiko soltou seu braço, ele continuou com a mão apoiada na coxa do maior, e a delizou suavemente, fazendo Nagihiko soltar um gemido baixo. Em seguida, abriu os olhos para encarar o rosto do Valete, querendo ter certeza de que realmente o ouviu fazer aquele tipo de som, como se o fato de olhar ou não para o rosto do garoto fizesse alguma diferença, e então viu Nagihiko aproximar o próprio rosto do dele devagar, encarando-o profundamente nos olhos, sem piscar uma única vez. Sentiu Nagihiko tocar seus lábios com os dedos, para então deslizar a mão até sua bochecha corada e apoiá-la em seu rosto, aproximando cada vez mais seus lábios dos dele. Estavam a centímetros de distância... milímetros agora... e então...


Tadase abriu os olhos atordoado, com os primeiros raios de sol entrando pelas frestas da cortina e ofuscando sua visão. Sua mente girava com as últimas cenas vivenciadas naquele sonho insano. Sua frequência cardíaca estava perigosamente acelerada, seu rosto queimava tanto que ele devia estar inteiramente rubro, e sentia seu corpo inteiro coberto de suór, mas não se importou com nada disso agora. Assim que registrou o fato de que estava em um quarto que não era dele, girou a cabeça para o lado, um tanto temeroso, e viu Nagihiko dormindo tranquilamente ao seu lado, os cabelos arroxeados espalhados desordenadamente pelo travesseiro, em suas costas, e cobrindo-lhe parcialmente o rosto. Ao contrário do que vira no sonho, Nagihiko estava perfeitamente vestido dessa vez, a camisa abotoada corretamente, e com a calça do pijama cobrindo-lhe as pernas, ressonando serenamente ao seu lado, sem ter a menor idéia do tipo de sonho que o amigo havia tido com ele.


Tadase suspirou, encarando o teto, sem saber se estava aliviado ou decepcionado. Como ele acabou tendo aquele tipo de sonho com Nagihiko afinal? Ainda mais quando tinha dormido na casa dele, no quarto dele, e bem ao lado dele! Que tipo de pessoa fica sonhando essas indecências com seus amigos afinal?! Será que Tadase era algum tipo de pervertido e não havia se dado conta disso?? Porém, o mais estranho era que, sempre que o Rei tinha esses sonhos sujos e imorais como o que acabara de ter, Nagihiko estava no meio. Ou melhor, estava em cima dele, tocando-o, beijando-o, apalpando-o, e fazendo todo o tipo de coisas que, só de lembrar, já fazia Tadase querer se enfiar em um buraco e só sair no próximo século. Por que... por que, sempre que ele sonhava essas coisas, Nagihiko estava envolvido? Nunca sonhou esse tipo de coisas imorais com mais ninguém, nem mesmo com Amu, por quem ele pensava estar apaixonado. Tornou a encarar o rosto adormecido do amigo, pensando o que Nagihiko diria se soubesse que havia se tornado um alvo frequente dos sonhos mais indecentes e obscuros que o Rei já teve. Era melhor nem imaginar, com certeza a resposta não seria boa.


Ainda encarando o amigo, Tadase repassou o sonho mentalmente, mais um para sua coleção de sonhos indecorosos e sem noção, que parecia aumentar cada vez mais. Lembrou-se da sensação cálida da qual experimentou quando sentiu o toque de Nagihiko no sonho, e de como a textura da pele dele era sedosa e atrativa. Antes que pudesse se conter, deslizou a mão pelo rosto dele, afastando uma mecha de cabelo que cobria sua face, e esticou um pouco mais a mão até abraçá-lo. Nagihiko resmungou alguma coisa incompreensível, mas não acordou. Em seguida sentiu o braço do Valete se mexendo enquanto ainda dormia, inconscientemente abraçando Tadase pela cintura, e o ouviu murmurar:


– Hoto... ri... kun.


Tadase sobressaltou-se, tanto pelo abraço repentino, quanto pelo fato de Nagihiko ter sussurrado o nome dele, denunciando a si próprio. Aparentemnte estava sonhando com o Rei... que tipo de sonho ele estaria tendo? Provavelmente algum com muito mais decência e pudor do que o sonho de Tadase, o loiro concluiu, sentindo uma onda de culpa invadir-lhe. Não conseguia entender porque passou a ter esse tipo de sonhos despudorados de repente. Entendia menos ainda porque Nagihiko sempre aparecia neles como o personagem principal. Tadase tentou forçar-se a não pensar nisso agora, afinal, ele estava na casa da vítima que sempre atacava descaradamente em seus sonhos insanos, não seria nada prudente pensar nisso enquanto estivesse lá. Tentou recolher a mão que ainda abraçava Nagihiko, mas hesitou. Talvez fosse influência do sonho recente, mas ele realmente queria continuar abraçado ao garoto, pelo menos mais um pouco. Sentia-se tão protegido e seguro quando estava ao lado dele que temia que, quando o soltasse, alguma coisa ruim pudesse acontecer. Por fim, acabou desistindo de soltá-lo, e deixou que sua mão permanecesse ali, pelo menos por mais um tempo. Ele não poderia fazer isso sempre afinal... um dia, Nagihiko se apaixonaria por alguém, arranjaria uma namorada, e então só teria tempo pra ela, e Tadase não poderia mais dormir com ele assim, na casa dele, abraçado à ele. Cogitou novamente a hipótese de Utau ser uma possível candidata ao cargo. Nagihiko lhe garantiu que eles eram só amigos, e que Utau era uma espécie de irmã mais velha para ele, mas ainda assim Tadase não gostava de vê-los andando juntos, conversando juntos, e se tratando tão intimamente como andavam fazendo ultimamente. Afinal, a garota vivia abraçando-o sem permissão, e até o chamava de "Nagi-kun"! Nem mesmo Tadase, que o conhecia há muito mais tempo do que Utau, chamava ele pelo primeiro nome, então por que Nagihiko deu essa liberdade para a cantora?! Lembrou também de Kukai, uma das poucas pessoas que conhecia o segredo do Valete. Recordou como Nagihiko tocou o amigo tão despreocupadamente enquanto tirava suas medidias, e sentiu uma dolorosa pontada no peito.


"- Isso é ridículo... Souma-kun é um garoto, por que estou me sentindo assim em relação à ele?! Não há razão pra ter ciúmes de outro garoto!" – Tadase pensou, tentando se convencer de que aquilo não fazia sentido algum - "Isso é mesmo... ciúmes, não é? Mas por que? Se for isso, então por que estou sentindo ciúmes de outro garoto afinal? Eu também... sou um garoto. Sou um garoto, então... não há razão pra ter ciúmes... há?"


Ele encarou novamente o rosto adormecido do Valete, tão próximo ao dele, ainda pensativo.


"- Seja lá qual for o motivo... não poderei ficar assim com ele pra sempre. Logo ele vai se apaixonar por alguém, arranjar uma namroada, e eu... não vou mais poder fazer essas coisas. Então, acho... que só dessa vez... acho que vou ficar assim mais um pouco".


Tadase encostou a cabeça no pescoço dele, encaixando-a no espaço entre o ombro e a cabeça, e tornou a fechar os olhos, sendo rapidamente embalado pelo delicioso cheiro do garoto ao seu lado, e antes que percebesse, voltou a adormecer.



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Notas finais do capítulo

Ohayou minna! Teffy-chan falando!
Olha, esse capítulo me deu um trabalho que vocês nem imaginam... principalmente na hora de postar, pq queriam me expulsar do pc bem nessa hora, nem acredito que estou conseguindo postar ele!! /o/
É, capítulo 21.. finalmente chegamos aos dois dígitos, nem acredito! Foi tão rápido, parece que essa fic começou ontem... que emoção *-* Mas essa fic ainda está longe de acabar, ainda falta acontecer muita coisa, então espero que continuem acompanhando essa história com a gente, hein?!
Ah, e quero agradecer à Suki_Kagamine, adoreeeei o desenho que vc postou no review do capítulo passado, ficou muito lindo e super bem feito mesmo, parabéns menina!! Se quiser fazer mais desenhos desses e mandar pra gente eu agradeço, a Shiroyuki-chan e eu vamos adorar ver mais dessas suas montagens maravilosas! *o*
E falando em desenho, o desenho do Nagi só de camisa ali em cima foi feito por euzinha aqui, se puderem me digam o que acharam dele tbm, por favor *-*
O próximo capítulo é com a Shiroyuki-chan! /o/ Quero só ver como ela vai continuar essa história rsrsrsrsrsrs
Deixem reviews por favor! A cada review que você não deixa, um autor morre. Ajude a salvar os autores de fanfics comentando nas histórias! Não deixe os autores morrerem!!
Kissus ^__^