Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 2
Capítulo 2 - Marmalade Sky


Notas iniciais do capítulo

Marmalade Sky - Wakeshima Kanon
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O sinal que indicava o fim das aulas soou melancolicamente, ecoando pelas paredes antigas da Academia Seiyo. Movendo-se em unidade, os alunos rumaram para fora das salas de aula, comemorando a liberdade que o final de semana propiciava.

— Ei! Valete! – o pequeno Chara do Rei, Kiseki, balançou-se em frente ao rosto do garoto, tentando chamar sua atenção - A aula já terminou, você não viu?

Nagihiko apenas acenou afirmativamente, com a mente vagando em outra direção. Vagarosamente, arrumou os materiais, notando com o canto dos olhos a movimentação ao seu redor. Amu e Tadase estavam parados lado a lado entre as classes, conversando animadamente. Ele suspirou, apressando-se para se aprontar. Aquela era uma cena que ele não fazia questão de presenciar.

Passou como um raio pelos dois, avançando em direção à saída.

— Fujisaki-san – ouviu o chamado antes de chegar ao se destino. – Podemos conversar por um instante? – Nikaido-sensei pediu, ainda sentado em sua mesa.

Nagihiko retornou, registrando com a visão periférica a movimento dos dois guardiões, caminhando juntos para fora. Voltou-se para o lado, discretamente, não contendo a vontade de observar. Tadase sorria gentilmente ao longe. Nagihiko sentia-se sem chão, expectador de uma história que não lhe pertencia.

É claro que Tadase manteve sua palavra, ficando sempre ao lado de Nagihiko. O Rei Cumpridor de Promessas. Ele estava lá, todas as vezes que o garoto precisou de alguém para desabafar, para conversar, ou mesmo para passar o tempo. Entretanto, até quando estaria? Algum dia, Tadase encontraria outra pessoa para quem devotar sua gentileza e confiança. Uma garota, muito provavelmente. Talvez até mesmo Amu, que era inegável e indisfarçavelmente apaixonada pelo seu “Príncipe”.

A Atrapalhada Joker e o Gentil Rei. Eles combinavam, em tudo! Ficariam muito bem juntos. No entanto, Nagihiko sabia que não tinha condições de torcer pela bem estar dos seus dois melhores amigos. Ele queria poder dizer que a felicidade de Tadase era a sua também. Isso seria poético e inspirador. Fujisaki Nagihiko, o sofredor apaixonado. Mas ele não era hipócrita a esse ponto. Quando o dia chegasse, Nagihiko sorriria. Ele era um ator, apesar de tudo, e sabia colocar uma máscara alegre ocultando sua dor. Porém, não desejaria felicidade aos dois. Ele não diria que estava feliz por vê-los juntos. Não, a cota de mentiras em sua vida já estava mais do que saturada. No fim das contas, Nagihiko era um Valete Egoísta.

— Você concorda com esses termos, Fujisaki-san? – o professor indagou, ajeitando os óculos tortos com o indicador, numa posição solene que não casava com seu paletó amarrotado e os cabelos que aparentavam estarem dentro de uma centrífuga há poucos segundos.

— Desculpe, sensei. Eu não estava prestando atenção.

— Está vendo? Era exatamente sobre esse tipo de postura que eu comentava agora, com você. Fujisaki-san, o senhor tem estado muito desatento, em todas aulas. Diversos professores têm reclamado sobre sua falta de motivação, e em decorrência disso, suas notas despencaram visivelmente nesse último mês em que esteve conosco. Não me lembro de jamais ter visto sua irmã em tais condições. Mesmo que ela tivesse que equilibrar o estudo com as tarefas de guardiã e com as apresentações de dança, nunca permitiu que suas notas baixassem, uma única vez sequer!

— Minha... irmã? – Nagihiko repetiu, confuso. Tinha certeza de que sua situação havia sido exposta a todos os professores, no dia em que ele se apresentou como guardião, e se lembrava perfeitamente de ver Nikaido entre eles.

— Exato. Sua irmã gêmea, Fujisaki Nadeshiko. – Nikaido repetiu, com convicção.

Nagihiko sentiu uma gota gigante formando-se ao lado da sua cabeça. Que tipo de professor descobre que uma de suas alunas é um travesti e simplesmente se esquece disso? Mordeu os lábios com força, disfarçando a intensa vontade de rir naquele momento.

Nikaido continuou mortalmente sério, encarando Nagihiko através dos óculos espessos.

— Eu soube que o senhor tem interesse no time de Basquete, é verdade?

Nagihiko confirmou, estranhando a mudança de assunto.

— Pois bem. – Nikaido puxou alguns papéis embaixo da pilha de livros ao seu lado (que desmoronou com o movimento) e colocou em frente ao garoto. – Esses são os testes que você fez semana passada, Fujisaki-san. As médias de Matemática, História Mundial e Inglês não chegaram nem mesmo ao conceito D. Se não conseguir levantar suas notas até as provas finais do semestre, o time de Basquete não aceitará sua inscrição. Isso é tudo. – o professor encerrou o discurso, mas perdeu toda a sua pose digna quando tropeçou nos livros caídos e foi ao chão.

Nagihiko avançou para a porta, logo após Nikaido sumir no corredor, pelo lado oposto. Do lado de fora, Amu e Tadase o aguardavam pacientemente.

— Você está com problemas, Fujisaki-kun? – Tadase indagou, visivelmente preocupado.

— Não, se eu estudar. Mas não acho que conseguirei aumentar as notas até as provas finais. – ele lamentou, seguindo os dois amigos pelo corredor. – Logo agora, que eu havia decidido entrar no time de Basquete...

— Ah, eu tenho certeza de que você consegue, Nagihiko-san! – Amu sorriu animada, encorajando-o. Nagihiko tinha certeza de que se fosse Nadeshiko, Amu não titubearia em oferecer ajuda e seria a primeira a preocupar-se, porém, Nagihiko era para ela apenas o irmão da melhor amiga, um completo estranho. Não via, naturalmente, motivos para interferir.

— Se você não se opor, eu poderia ajuda-lo a estudar, Fujisaki-kun – Tadase propôs, hesitante – Eu sei o quanto basquete é importante para você, e não conseguiria vê-lo perder isso logo agora...

— Eu aceitarei sua oferta, Hotori-kun – Nagihiko se apressou em dizer, disfarçando as emoções que o agitavam naquele instante. Ele tinha consciência de que era patético ficar feliz somente com esse tipo de preocupação, que era algo mais do que natural vindo de alguém como Tadase, mas Nagihiko já havia perdido há tempos a noção de orgulho próprio em situações como esta.

— Então podemos começar logo, assim que terminarmos a reunião de hoje – ele sorriu, inclinando a cabeça para o lado. Uma chuva cintilante pareceu enevoar o local. Nagihiko e Amu, ao mesmo tempo, coraram enquanto admiravam tolamente o sorriso gentil do Rei, que continuava alheio as reações que provocava em seus súditos.

Os três seguiram seu caminho, logo depois. Nagihiko andava mais afastado, observando seus colegas por trás. Tadase e Amu já estavam entretidos em continuar sua conversa anterior, e o garoto acabou por ficar deslocado. Os pensamentos que antes povoavam sua mente voltaram a assolá-lo.

Era mais do que óbvio o quanto Amu estava feliz em poder andar ao lado do seu amado, e conversar tão facilmente com ele. Tadase também parecia especialmente contente. E mesmo assim, Nagihiko não conseguia manifestar nenhum sinal de conformismo. Ele estava, na verdade, visivelmente irritado. Mesmo que sorrisse educadamente, e respondesse a qualquer pergunta feita, um bom observador notaria a veia que saltava cada vez que ele olhava para frente, e seus olhos focavam-se em Tadase. O Valete Egoísta estava sentindo ciúmes.

Suspirando pesadamente, ele olhou para o lado, onde as árvores do caminho se erguiam, e enfiou as mãos nos bolsos da bermuda xadrez azul. Assim que sua mão tocou em uma superfície lisa, arredondada e quente, ele paralisou. Dentro do bolso, sua mão tateou, identificando imediatamente o objeto. Era o ovo de Temari.

— Você está bem? – Tadase voltou a perguntar, percebendo a falta de Nagihiko.

— Estou sim – ele mentiu, sorrindo perfeitamente – vamos!

Juntos, adentraram no Royal Garden, onde Rima e Yaya já os esperava com chá, e várias pilhas de papéis esperando para serem lidos. Os três suspiraram ao mesmo tempo, tomando seus lugares na mesa, e começando a trabalhar.

Nagihiko, com um papel na sua frente, e um carimbo esperando para ser usado, voltou a colocar a mão no bolso, acariciando levemente o ovo. Já fazia alguns meses desde que Temari voltara ao seu ovo.

Ele estava na época na Europa, durante sua viagem para estudar dança. Bem, ao menos isso era o que ele havia dito à sua mãe como motivo para querer sair do país. No entanto, a verdade era que ele estava com seus sentimentos confusos. Talvez tantos anos vivendo como garota estavam bagunçando seus sentidos. Ou talvez a culpa fosse da convivência. Porém, o fato era que ele tinha sentimentos por seu melhor amigo de infância. Sentimentos que estavam, aos poucos, ultrapassando a simples amizade. Ele estava apaixonado por Hotori Tadase.

Essa constatação fez com que ele ficasse sem ação. Como iria encarar Tadase, se a cada vez que o via, seu coração se agitava incomodamente? E como ia conseguir conter esses sentimentos, o vendo todos os dias, sorrindo gentilmente e se preocupando com todos? Era impossível. Então... ele fugiu. Covardemente, ele reconhecia, fugiu de todos os seus problemas, esperando que uma nova paisagem, sem nenhuma pressão, pudesse fazê-lo recobrar a lucidez. Entretanto, ele já não era mais o mesmo. Mesmo que quisesse estudar novas danças, os passos não fluíam mais como antes. E nada podia fazer Tadase sair de sua cabeça. Ele estava dominando seus pensamentos, todo o momento do dia. E durante a noite, enquanto pousava a cabeça no travesseiro, seu coração doía, ao perceber que não poderia mais conversar com Tadase, ouvir sua voz, a sua risada, seus planos de dominação mundial...

E então... Temari voltou para seu ovo. Nagihiko não sabia o que fazer. Estava enterrado em alguma cidade da Europa, sem motivação, sem ninguém com quem pudesse contar, e agora, sem Temari também.

Naquele dia, Nagihiko lembrava bem, ele não havia saído da cama. Estava com um edredon o cobrindo até as orelhas, com o ovo de Temari entre as mãos. Tudo o que queria era dormir para sempre, e fazer essa dor sumir de alguma forma. E seu celular tocou, inesperadamente. Nagihiko recebeu um e-mail, vindo de Tadase. Ele não queria ler. Aquilo reabriria as feridas, faria emergir novamente todos aqueles sentimentos conturbados. Mas a curiosidade foi maior. Com o coração batendo rápida e dolorosamente, ele abriu a mensagem. “Como posso cumprir minha promessa com você tão longe, Fujisaki-san? Estamos com saudades.” Lágrimas subitamente marejaram seus olhos, inundando-os e escorrendo para o lado e molhando o travesseiro.

Por que aquele garoto tinha que ser assim? Se ele simplesmente não se importasse, seria mais fácil! Tarde demais, Nagihiko percebeu que não importava o quão longe estivesse, seus sentimentos o seguiriam. E ele era um garoto! Não deveria fugir! Deveria correr atrás de suas preocupações, e enfrentá-las diretamente! Decidido, ele imediatamente ligou para o aeroporto e reservou uma passagem para o Japão. Na manhã seguinte, quando acordou, um ovo azul, idêntico ao de Temari, estava sobre seus cobertores.

Nagihiko suspirou, carimbando mais um papel. Discorreu seus olhos pelo próximo, bocejando, e o carimbou também. Fez isso mais algumas vezes, até perceber que carimbava o mesmo papel pela terceira vez.

— Eeeei! Nagi! Você está fazendo uma cara engraçada! – Yaya berrou, agitando os braços na frente do Valete.

— Que tal uma pausa, para tomar o chá? – Amu sugeriu, colocando sua pasta de formulários para o lado.

— Eu aceito – Rima disse, também tirando suas tarefas do caminho.

Yaya, dando pulinhos, trouxe o chá e alguns biscoitos em uma bandeja. Amu serviu-se, fitando os biscoitos comprados na loja de conveniência com certa decepção.

— Sinto falta da Nadeshiko – ela sussurrou tristemente, dando um gole no chá – Tenho certeza de que ela teria algo preparado para dias assim.

Tadase e Nagihiko se entreolharam, dividindo a culpa. Nagihiko desviou seu olhar, mirando fixamente a xícara a sua frente, que fumegava gentilmente. Tadase se apressou, levantando-se, notando a nítida reação de culpa vinda de Nagihiko. Precisava fazer alguma coisa.

— Etto... Fujisaki-kun? Será que nós podemos ir até a minha casa, para estudar? Acredito que quanto mais cedo começarmos, melhor irá ser para as suas notas...

— Fujisaki está com problemas? – Rima indagou, sem expressão, mas notadamente curiosa.

— Waa! Yaya também está com problemas nas notas, e mesmo assim, Tadase nunca ofereceu ajuda! - ela fez bico, chorando e balançando os braços sobre a mesa – Yaya quer um tutor particular também!

Enquanto Amu se ocupava em consolar a Ás, que havia invocado o Chara Nari, e agora agitava o chocalho para todos os lados usando um babador, Nagihiko e Tadase aproveitaram para sair discretamente.

— Obrigado, Hotori-kun – Nagihiko disse, quando já estavam afastados suficientemente – Eu... me sinto mal quando ela fala desse jeito. Odeio isso.

— Eu percebi. Mas você não deveria se sentir assim. Nadeshiko foi uma grande parte da sua vida, mas você é um garoto. Não importa o quando ela tenha sido significante para tantas pessoas, Nagihiko é o que você é agora.

— Você acha... que eu devo contar a verdade?

— Somente se estiver preparado para isso – Tadase sorriu, fitando Nagihiko docemente. Ele parou de caminhar, sentindo o coração trêmulo. Tadase se aproximou – É isso o que você quer? Contar a verdade? Então vá em frente.

Nagihiko fitou o chão, a culpa fazendo-o sentir-se pequeno.

— Eu não... consigo – ele murmurou, com a franja escondendo eu rosto.

— Foi o que pensei – ele sorriu compreensivamente, tocando com delicadeza o topo da cabeça de Nagihiko e o acariciando. A cena era um pouco inconcebível, considerando o fato de que Nagihiko era mais alto do que Tadase, e o mesmo tinha que esticar-se para alcançá-lo. O valete apenas escondeu ainda mais o rosto, sentindo o toque cálido e carinhoso. Seu peito inflou, parecendo queimar, e seu rosto ardia e brasas. Fechou os olhos, querendo gravar aquela sensação em sua memória, para sempre. Era tudo a que ele tinha se permitido. Nagihiko estava disposto a enfrentar seus sentimentos, e aceitá-los, mas não os forçaria a Tadase, de maneira nenhuma; Sabia que ele se sentiria culpado, e a relação de amizade entre eles jamais se recuperaria.

— E então, vamos estudar? – Tadase sugeriu, quando finalmente se afastou. Nagihiko acenou com a cabeça, incapaz de formular uma frase que fizesse sentido.

Assim que Tadase se virou, Nagihiko colocou a mão na cabeça, sorrindo fracamente, com o rosto corado.

O Sol se punha a longe, começando a colorir a paisagem em tons de laranja e vermelho. Nagihiko olhou para o céu colorido, com as nuvens rosadas refletindo sua luz. Aquele era o mesmo céu que ele via através da janela do quarto de Hotel. Mas agora, enquanto andava ao lado de Tadase, seu coração já não parecia mais tão machucado. Na verdade, ele estava até mesmo um pouco feliz por poder andar ao lado dele nesse momento. Discretamente, observou o garoto com o canto dos olhos. Ela caminhava tranquilamente, sorrindo. Nagihiko conhecia todas as faces que Tadase era capaz de fazer. Quando estava irritado, com fome, triste, decepcionado, determinado ou pensativo. Ele já havia visto todas. Porém a que mais gostava, era essa que ele demonstrava agora. Tranquilidade. Satisfação. Apenas saboreando o vento que soprava seus cabelos. Nagihiko sabia que seu coração iria se aquecer, ao vê-lo assim tão perto. Sabia que isso doeria mais tarde, quando tivessem que se separar. E que Tadase jamais saberia dos seus sentimentos, trancados bem lá no fundo.


E não conseguia evitar isso, de jeito nenhum.



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Notas finais do capítulo

Nyaan~ espero que tenham gostado!
Esse é o meu primeiro yaoi, sou uma estreante, então tenham paciência comigo! Queria agradecer à Teffy-chan por me convidar para escrever uma fic junto com ela! Finalmente encontramos um casal com qual as duas concordam nee?
Enfim, deixem suas opinões, por favor!
Obrigada♥