Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 16
Capítulo 16 - Yume miru Tsubasa


Notas iniciais do capítulo

Yume miru tsubasa - SCANDAL
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As paredes frias de pedra nua que se erguiam ao redor do suntuoso salão principal do castelo deixavam o Rei, sentado em seu trono, com uma sensação claustrofóbica e desagradável. Ele bufou, irritado, apoiando a cabeça na mão. A coroa dourada, com rubis e outras pedras preciosas encravadas sobre seus cabelos loiros brilhou, magnífica. O manto real pesou sobre seus ombros, em vermelho vivo. Ele levantou os olhos soberbos, olhando ao redor.

Sentada ao seu lado, a Rainha tomava calmamente o seu chá, parecendo ainda mais aborrecida do que ele próprio. Ela trajava um vestido ostentoso e exagerado, que só fazia com que ela parecesse ainda menor. Uma delicada coroa de prata podia ser notada acima da sua cabeça, sobre os cabelos loiros e ondulados. De pé, ao lado dela, o valete principal esperava calmamente, com o carrinho de chá repleto de porcelanas importadas e bolinhos pequenos e delicados. Ele tinha uma expressão serena, com as mãos atrás do corpo, e o porte ereto e disciplinado. Tadase o observou por alguns segundos, analisando cada parte do seu rosto, passando pelos cabelos longos e lisos, que pareciam tão macios, até percorrer todo o restante do corpo, coberto pelas vestes de serviçal. Fujisaki Nagihiko, o valete, percebeu o olhar insistente do rei, e o fitou questionador, esperando por uma ordem, mas Tadase apenas desviou os olhos, incomodado.

Os outros dois valetes, Kairi e Kukai, aguardavam pacientemente pelas ordens. Kairi estava perfeitamente portado, enquanto Kukai praticamente dormia de pé, com os olhos semicerrados e pestanejantes.

— Mais chá, valete. – a voz da rainha Rima ecoou no salão, imperativa, e o valete não demorou em atendê-la. Tadase resmungou, fechando os olhos e virando o rosto para não ver aquela cena.

— Algum problema, Majestade? – sua conselheira principal, indagou, aproximando-se do trono aos saltos. Ela sorria animadamente, balançando suas marias-chiquinhas ao se mover. Era Yaya.

— É claro que não há nenhum problema! – Tadase rebateu, irritado – Por que haveria?

— Por acaso não o incomoda que seu valete pessoal esteja servindo a Rainha hoje? – ela indagou, sorrindo matreira. Tadase sobressaltou, indignado.

— É claro que não! – ele bradou, tentando não chamar a atenção, mesmo que isso fosse impossível – Por que um Rei como eu deveria se importar com um reles valete? Eu estou entediado! Traga entretenimento de qualidade, Conselheira! Agora!

— Como quiser, Majestade! Coringa! Venha já aqui! – Yaya, a conselheira do rei, bateu palmas, chamando pela Joker, Hinamori Amu. Vestida com uma roupa bufante e colorida, com um chapéu de guizos sobre os cabelos rosados, a Coringa adentrou o salão, fazendo piruetas e cambalhotas. Era uma cena patética de se ver, e a própria coringa não parecia feliz em realiza-la.

— Estou aqui, Majestade! – a coringa disse sem animação alguma, fazendo uma exagerada reverência e então começando a fazer malabarismo com bolinhas.

— Aqui está, a Coringa! – Yaya acenou, e depois adicionou em voz baixa, para que apenas o Rei ouvisse – Embora eu continue achando que você se divertiria muito mais sozinho com o valete do que com essa palhaça...

— O que disse, Ás? – Tadase berrou, corando irremediavelmente. Yaya riu com vontade, diante do embaraço do Rei.

Antes que a Conselheira pudesse responder, no entanto, a Rainha levantou do seu trono em um rompante, causando um estrondo ao derrubar o carrinho de chá. Os valetes correram para arrumar a bagunça.

— Como ousa apresentar tal desempenho na frente dos seus soberanos, Coringa? – ela exaltou-se, embravecida – Estúpida! Isso não é comédia!!!

— O que? – a joker parecia perdida. Deixou as bolinhas caírem, e fitou a Rainha que se erguia sobre ela com fúria espantosa.

— Eu irei ensinar a você o que é a verdadeira comédia, sua Joker Falida! – Rima sorriu sinistramente, com uma sombra negra a envolvendo. Amu sentiu um calafrio, preparando-se para sair correndo, e foi perseguida pela Rainha colérica, que juntou o vestido nas mãos e começou a correr. Tropeçou mais de uma vez no caminho, mas manteve a velocidade, e assim, cruzou o salão atrás da Joker, em desembestada corrida.

— O que estão esperando?! – o Rei apontou para os valetes, que assistiam a cena atônitos – Você e você, vão atrás delas e as impeçam de destruir meu castelo! – ele ordenou, e Kairi e Kukai correram para fora na mesma hora.

— E então, só sobramos nós aqui! – Yaya pronunciou sorridente, balançando-se nos pés – Como vai fazer para relaxar agora, Majestade? Quem sabe possa pedir uma limonada ao nosso querido Valete Real...

— Não diga nada, Ás! – o Rei levantou do seu trono, com a pesada capa arrastando-se no chão. – Valete! Eu irei me retirar para os meus aposentos.

— Sim, meu Rei. – o valete acenou obedientemente, acompanhando o Rei, e Yaya se agitou histericamente.

— Oh! Vocês são tão rápidos!! Nagi, seja gentil com Sua Majestade! Seja um bom seme para o seu Rei uke!

— Calada, Yaya! – Tadase berrou autoritariamente, e Yaya se afastou saltitante, sorrindo como o gato de Chesire.

Assim que ela sumiu no corredor, Tadase se precipitou para a porta, com Nagihiko ao seu encalço. Os dois andaram até o quarto principal, e Tadase adentrou, com sua pose soberba. Nagihiko se aproximou pelas costas, desamarrando o manto e o retirando, e Tadase sentou-se na cadeira majestosa, de madeira escura e almofadas vermelhas e confortáveis, colocada próxima à janela, e removeu a coroa da cabeça, colocando-a na mesa ao lado.

— Valete, eu quero algo doce! – Tadase exigiu, altivamente. Nagihiko pegou um pedaço de chocolate da bandeja colocada sobre a mesa do outro lado do quarto, e caminhou na direção do seu senhor, ajoelhando-se na frente dele. O loiro abriu a boca, erguendo presunçosamente o queixo, esperando. Nagihiko colocou o chocolate nos lábios rosados, e sentiu-os tocando seus dedos ao morder o chocolate. Quando tentou afastar a mão, Tadase impediu-o, segurando-o pelo pulso, e lambeu cada um dos dedos, meticulosamente. O valete ofegou surpreso, corando, com o coração agitado ao sentir o toque provocante da língua do rei, e este, ainda segurando a mão dele, levantou os olhos lentamente.

— Eu quero massagem, valete – Tadase ordenou num rompante, soltando a mão do garoto e erguendo o pé direito sobre o joelho dobrado do valete.

— Como quiser, meu Rei – Nagihiko assentiu, retirando a bota de Tadase e a colocando de lado. Logo depois, removeu a meia branca, que subia pela perna esguia, vagarosamente, a medida que ia a enrolando. O loiro arquejou, com o toque quente da mão do valete. Assim que terminou de tirar a meia, Nagihiko acariciou o pé macio, apertando o nos lugares certos, e arrancando gemidos contidos de Sua Majestade. Encarou o rosto do loiro por muitos minutos, vendo-o se contorcer e morder os lábios, com o rosto corado, tentando controlar os seus impulsos. Não pode deixar de sorrir minimamente com o resultado de suas ações. Subiu as mãos até os tornozelos, sentindo a textura macia da pele clara, e avançou um pouco mais pela perna, afagando-a lentamente.

Tadase abriu os olhos, que brilhavam de desejo encarando o valete, e não conseguiu pronunciar nenhuma palavra. Nagihiko levantou, deixando o pé descalço ao lado, e começou a desabotoar a camisa de seda do rei, botão por botão.

— O que está fazendo? – Tadase protestou, mas não o impediu de continuar.

— Vou terminar a massagem em seus ombros, meu Rei – Nagihiko disse apenas, mantendo o semblante impassível de um servo obediente. Depois de terminar de abrir a camisa até o final, revelando o físico modesto e a pele pálida e delicada do garoto, ele rodeou a cadeira, colocando-se por trás.

 Afastou a gola da camisa e apertou os ombros suaves com carinho, aumentando a velocidade e a intensidade do seu toque à medida que Tadase reagia. Ele tremeu por inteiro ao sentir as mãos quentes e firmes de Nagihiko pressionando sua pele, de maneira tão aprazível. Deixou um fraco gemido escapar, enquanto fechava os olhos para apreciar melhor aquela sensação. Pequenos tremores se espalhavam por todo o seu corpo, cada vez que Nagihiko intensificava o toque. As mãos hábeis rodearam o pescoço delgado, descendo até o peito nu. Tadase ofegou, sobressaltando-se e levantou de rompante. Seu coração se agitava aos saltos, querendo pular para fora do peito, e ele tinha todo o corpo bambo.

— O que você pensa que estava fazendo, valete? Como ousa... tocar-me dessa forma t-tão... – ele tentou manter a pose solene, em vão. Afastou-se muitos passos, com as mãos hesitantes segurando a camisa aberta junto ao peito, até seus joelhos baterem na beira da suntuosa cama que se colocava no meio do aposento, e ele caiu sentado sobre ela. Seu rosto estava irremediavelmente ruborizado, e visivelmente chocado.

— Eu estava apenas fazendo uma massagem, meu Rei – Nagihiko rebateu, inocentemente, embora seu sorriso demonstrasse um pouco mais além de simples desatenção.

— Você... valete... já.. – ele pigarreou, disfarçando o embaraço – Você já realizou tais... massagens... com alguém além de mim?

— De maneira alguma. Eu sirvo apenas ao meu Rei, e a ninguém mais – ele disse, e Tadase levantou os olhos, notando que ele estava muito mais perto do que supunha. De fato, a ponta dos seus pés quase se tocavam nesse momento. Nagihiko inclinou-se na direção do rei, apoiando a mão ao lado dele, afastando a mecha loira que caia sobre seus olhos para o lado com a ponta dos dedos, e Tadase sentiu um rastro de calor espalhar-se pelo lugar onde ele tocou – Eu pertenço somente a você, meu Rei Hotori Tadase.

Ao dizer isso, foi surpreendido pelos braços do rei rodeando seu pescoço, e seus lábios ávidos o tomaram com vontade. Tadase entrelaçou as mãos naqueles cabelos que há muito queria tocar, e trouxe o valete para mais perto, até que ambos estivessem deitados sobre a cama. Foi retribuído com a mesma intensidade, enquanto Nagihiko passava as mãos ágeis por todo o corpo diminuto do soberano, afastando a camisa de seda para o lado. Tadase desceu uma das mãos para a gola do traje de Nagihiko, abrindo-a desajeitadamente, e atrapalhando-se com as fivelas, até que finalmente se viu livre delas, com o abdômen surpreendentemente vigoroso do jovem erguendo-se em frente aos seus olhos. Tocou seu tórax com as mãos inexperientes, vendo-o se arrepiar por completo.

Desceu as mãos pequenas até a cintura, empurrando a calça apertada do valete para baixo. Nagihiko ajudou, e se libertou das vestes incômodas. Os olhos carmesins do rei brilharam, ao vê-lo por inteiro, com apenas os trajes menores. Seu olhar imediatamente se desviou para as pernas, lisas e torneadas, e ali se demoraram, até que ele tomasse novamente os lábios do valete para si, sentindo a língua quente e aveludada explorando-o intensamente. Sua mente voou indistinta, perdendo a noção de tempo e espaço. Tudo o que sentia era o corpo do valete sobre o seu, e o calor que irradiava dele, incendiando o seu próprio corpo. Era algo completamente novo, e ele não sabia o que esperar.

Nagihiko se afastou subitamente, procurando por ar, e Tadase ofegante abriu minimamente os olhos, aspirando o perfume dos cabelos sedosos que tocavam sua face. O valete colocou a cabeça na curva do seu pescoço, provando a pele suave com a língua, cravando a boca ali logo depois. Tadase gemeu alto, abraçando o corpo do garoto com força e encolhendo as pernas, roçando-as com as dele. Nagihiko mordeu o lóbulo da sua orelha, e desceu as mãos pelo tórax do rei, concentrando-se em especial em seu peito, sentindo-o agitar-se e responder ao seu toque. Avançou com os lábios para o mesmo lugar, e Tadase soltou uma alta exclamação de deleite, sem conseguir se conter. Seu corpo pulsou por inteiro, em chamas, e ele não conseguia mais se situar. Tudo era calor, excitação, ele já não tinha mais razão ou qualquer indicação de onde estava. Sua mente girou milhares de vezes, nebulosa.

— Fujis...saki-kun... aah... anh... – o gemido ecoou no quarto escuro, onde o garoto loiro dormia. Seus cobertores já tinham há muito caído da cama, por causa do sono agitado, mas ele não sentia nem um pouco de frio. Pelo contrário, sentia tanto calor que mal podia aguentar, enquanto respirava ofegante, com o pijama desajustado no corpo coberto de suor. Seus olhos abriram-se subitamente, sobressaltados e confusos. Ele sentou na cama repentinamente, sentindo-se estranho. As imagens do seu sonho ainda estavam vivas na memória. Ele não conseguia acreditar. Só então notou o volume aparente nas calças do pijama. Escondeu-o com o travesseiro, com o rosto escarlate e os olhos assustados. – N-não é possível...

Hesitante, ele se pôs de pé. Continuava trêmulo e vacilante, mal conseguindo andar, e com algum esforço, conseguiu chegar até o banheiro. Encheu a banheira com a água mais gelada que era possível, pedindo interiormente para que sua mãe não ouvisse o barulho. Como ele iria explicar essa situação para ela?! Ele não conseguia explicar nem para si mesmo!

Tremendo, ele se despiu rapidamente e entrou na banheira gelada. Ele sabia o que aquilo significava. Pelo menos em teoria, sim. Ele já havia tido aula de saúde na escola, já havia estudado o corpo humano e todas essas coisas. Era a primeira vez que sentia algo assim...? Não. Das outras vezes em que Nagihiko o tocara, embora não tão intensamente como no sonho, ele se sentiu da mesma maneira. O que era confuso para ele, era o motivo de tudo isso ter acontecido. E por que razão o personagem principal era sempre Nagihiko.

Isso era tão confuso e perturbador que Tadase tinha vontade de voltar para a cama e não acordar nunca mais. Ele teria feito exatamente isso, se não estivesse tão temeroso de que fosse sonhar coisas estranhas novamente.  Seu queixo tremeu, e seus dentes bateram, com a água absolutamente fria. Ele afundou o rosto na água, tentando recobrar a razão, deixando apenas os olhos de fora. Aaargh, o que raios estava acontecendo na sua cabeça e no seu corpo?! Seria algum tipo de doença? Ou todas as pessoas passavam por isso durante a puberdade?

Ele queria ter alguém para perguntar essas coisas, mas a única pessoa que passava na sua mente agora era Nagihiko, que tinha ótimos conselhos para todas as ocasiões. E era justamente a pessoa que Tadase menos queria que soubesse das coisas inexplicáveis que andavam acontecendo com ele.

-

— Aaaatchim!

— O que foi, Hotori-kun? – Amu indagou preocupada, ao ouvir o rei espirrando pela terceira vez só naquela manhã – Você está doente de novo?

— Não foi nada. Acho que fiquei apenas resfriado por ter tomado banho frio logo de manhã, daqui a pouco passa – Tadase respondeu rapidamente, agitando as mãos, nervoso. Seu rosto corou, relembrando do que havia passado, e ele se sentiu imediatamente culpado. Ele era uma pessoa horrível e suja, com pensamentos imorais na cabeça. Por causa disso, passou o dia inteiro evitando Nagihiko, sem trocar com ele mais do que um “bom dia” rápido na hora em que chegaram. Sempre que Tadase chegava perto dele, por um ou outro motivo, seu olhar teimava em se fixar ora nos lábios delicados e suaves, ora nas pernas lisas, parcialmente cobertas pela bermuda xadrez azul. Constrangido ao nível máximo, Tadase se obrigava a voltar a concentração para outros assuntos, tentando ignorar tanto quanto possível a presença do amigo, que parecia cada vez mais conscienciosa para ele.

— E por que motivo Tadase tomou banho gelado de manhã, hein? – Yaya indagou, agitando-se na cadeira e derrubando a pilha de livros a sua frente – Por acaso andou sonhando coisas que não devia e acabou em uma situação embaraçosa que exigia resfriamento imediato?

— D-do que está falando, Yuiki-san? – Tadase se surpreendeu com o raciocínio obscuramente perspicaz da mais jovem dos guardiões. Corou furiosamente, enquanto tentava disfarçar fingindo-se de desentendido – Eu não sei onde você está querendo chegar...

— Sabe sim! – ela o cutucou com o cotovelo, sorrindo sugestivamente. Estava um tanto surpresa por ter acertado em cheio. Não esperava uma atitude assim tão ousada do príncipe da inocência, mas aquilo era uma informação valiosa. Conteve sua língua para não perguntar se o sonho por acaso tinha algo a ver com certo valete de longos cabelos, por que se dissesse aquilo, Tadase teria um ataque cardíaco ou algo do tipo, certamente. Ela o interrogaria mais tarde... se bem que Tadase jamais diria algo relevante para alguém como ela, sem dúvidas.

Tadase espirrou mais uma vez, aproveitando-se dessa chance para se desvencilhar das insinuações da Ás, e limpou o nariz no lencinho branco que trazia o bolso.

— Você está doente de novo, Hotori-kun? – Nagihiko surgiu do lado de dentro, trazendo a bandeja de chá, que foi logo atacada por Rima e Yaya. Ele contornou a mesa, após largar a bandeja, e sentou na cadeira vaga ao lado de Tadase. Tocou a testa dele com a palma da mão, com uma expressão preocupada – Você está com um pouco de febre, eu acho. Não quer ir para casa mais cedo?

— E-eu estou bem! – Tadase argumentou, com o rosto atingindo o tom escarlate. O toque de Nagihiko era tão agradável e confortante... assim como no sonho... Com a lembrança, Tadase se afastou rapidamente, arrastando a cadeira para longe do valete. Não poderia encará-lo de frente, com esses pensamentos impuros rondando sua mente.

— Quem sabe se você tomar um pouco de chá quente... – ele serviu chá na xícara de Tadase, vendo-o tomar um longo gole, como se quisesse se acalmar por algum motivo.

— Obrigado – o loiro disse apenas, após isso.

Nagihiko se recolheu, servindo a sua própria xícara. Tadase estava certamente mais contido e reservado, e isso poderia ser algum ressentimento restante das ações impensadas dele. Ele poderia ter ficado traumatizado ou algo assim. Mas isso não se justificava, pois, enquanto eles estavam no hotel, e mesmo depois de ter voltado para casa, Tadase permaneceu agindo da mesma forma que sempre fizera, e talvez (isso poderia ser uma divagação puramente fantasiosa por parte do valete) eles até estivessem mais próximos depois daquelas conversas na fonte termal... Quem sabe Tadase só percebeu agora o que as atitudes do valete significavam, e por isso estava se afastando. Havia a chance de ele ter notado as reais intenções de Nagihiko, depois de analisar com calma as situações, e por esse motivo, estava sendo mais cauteloso... Haviam infinitas possibilidades, e Nagihiko decidiu não pensar muito mais tempo nelas. Tadase devia estar cansado, e era só isso. Eles eram amigos de novo, e era nisso que o valete queria se concentrar. Olhou ao redor, tentando achar outra coisa para focar o pensamento.

— Ei, Rima-chan! Não beba tão rápido, vai acabar se engasgando! – Nagihiko repreendeu Rima - E não vai sobrar chá pra ninguém nesse ritmo.

— Eu não deveria receber ordens de um valete! Eu sou uma Rainha, esqueceu? Eu posso tomar quanto chá eu quiser! – Rima rebateu, com o olhar de indiferença que já era habitual. Mas logo depois disso, ela sorriu infimamente, com uma intimidade inédita, e foi igualmente retribuída por Nagihiko, que tomou o cuidado de deixar o bule de chá afastado da garota.

Tadase olhou de um para o outro, incomodado. Algo naquela imagem o deixava seriamente perturbado. Desde quanto eles eram tão companheiros? Será que no fim das contas, Nagihiko estava enganado, e realmente sentia alguma coisa pela Rainha? Era possível que nem ele mesmo tivesse percebido isso, mas...

“Será possível que alguém se apaixone por outra pessoa sem perceber?” – Tadase pensava consigo mesmo, desviando o olhar para não ver mais a cena – “Acho que não... uma pessoa tem que ser muito idiota para não perceber que está apaixonada, pelo menos é o que eu acho...”.

Eles ainda estavam no período de recesso, mas as provas atrasadas de Nagihiko e Tadase teriam que ser realizadas, e eles marcaram a data para o dia de hoje. Ainda havia algumas tarefas burocráticas dos guardiões pendentes, e por esse motivo, Amu veio especialmente para ajudar Tadase, já que teoricamente, essa era a função do Rei. Yaya veio por que obviamente havia muita coisa a ser observada, e ela queria presenciar em primeira mão o “desenvolvimento da relação”. Rima apareceu apenas pelo chá. E assim todos os guardiões estavam reunidos, naquela manhã fria e sem nuvens no céu. As provas seriam aplicadas durante a tarde, e os dois estavam aproveitando o tempo extra para estudar mais um pouco.

— Yoo! – pouco tempo depois, alguém surgiu na entrada. Era o ex-valete, Souma Kukai. – A Yaya me contou que vocês estariam aqui hoje, então eu passei pra dar uma olhadinha nos meus kouhais queridos. E então, novidades?!

— Nada mesmo – Rima respondeu por todos, mordendo um dos biscoitos trazidos por Nagihiko.

— Você poderia ajudar o Tadase e o Nagihiko com os estudos, eles terão provas mais tarde – Amu sugeriu.

— Ah, é, eu poderia ajudar, não é? – Kukai riu sem graça.

— Aposto como esse valete vagal nem mesmo se lembra do que estudou ano passado – Rima comentou, bebericando seu chá – Realmente não sei como ele passou de ano. Deve ter algo a ver com as vantagens de ser um guardião, eu presumo.

— Não fale assim, Rima-chan! – Nagihiko novamente a censurou, e a rainha se recolheu. Tadase sentiu de novo aquele desconforto no peito ao ver Nagihiko tratando Rima com tanta familiaridade.

— Bom, eu estarei aqui para o que precisarem! – Kukai bradou com confiança, sentando no lugar ao lado Yaya e pegando um biscoito – Afinal, eu sou o Onii-san, não sou? – ele riu com vontade, e Tadase teve um rápido lampejo de pensamento.

 Kukai era mais velho, e certamente, mais experiente. Tinha irmãos mais velhos também, o que com certeza era um ponto de vantagem. Ele talvez pudesse ajudar Tadase com esses pensamentos estranhos, e poderia esclarecer se era algo comum ou se acontecia somente com ele. Mesmo que fosse embaraçoso falar desse assunto, se Tadase escondesse as partes mais constrangedoras, poderia tratar logo desse problema.

— Ano nee, Souma-kun... – Tadase chamou discretamente, sem querer chamar atenção, mas falhando miseravelmente, considerando que havia uma Yaya de ouvidos em pé entre eles – Você pode ficar aqui mais um pouco depois que todos saírem? Eu gostaria de falar com você antes de ir fazer a prova.

— Tudo bem! – Kukai concordou de boa vontade, sem hesitar. Tadase sorriu, grato, e voltou a estudar em seu livro. Yaya sorriu sombriamente, fitando Tadase como um gato olha para uma pomba roliça, antes de pular para pegá-la. Essa conversa era certamente a chance de conseguir as respostas de que precisava.

Depois de algumas horas de estudo, chá, bolos e conversa jogada fora, estava quase na hora da prova. Tsukasa e Nikaido já deviam estar os esperando. Nagihiko se levantou, recolhendo os livros, enquanto as garotas se arrumavam para voltar para casa.

— É melhor nós irmos subindo para a sala, não é, Hotori-kun? – Nagihiko chamou, colocando a pasta nos ombros.

— Não é bom abusar da boa vontade dos professores e se atrasar novamente. – Rima comentou, com descaso.

— Vocês deviam descansar um pouco na sala de aula, depois de passar tanto tempo estudando.... – Amu observou, apoiando a bolsa nas costas.

— Você pode ir na frente, Fujisaki-kun, eu ainda tenho algumas coisas para resolver aqui, e depois vou. – Tadase disse para Nagihiko, arrumando os livros em pilhas organizadas para depois coloca-los no lugar.

Nagihiko assentiu e deu as costas, não sem antes lançar um olhar apreensivo na direção do loiro. Rima e Amu o acompanharam até a porta. Yaya havia evaporado, e certamente já tinha corrido para casa antes que dessem a ela mais trabalho para fazer. Assim que os três sumiram pela entrada do Royal Garden, Kukai, ainda sentado, se virou na direção do rei, apoiando a cabeça na mão, com interesse evidente.

— E então, do que você precisa, Tadase? – indagou, sorrindo voluntariosamente.

Tadase suspirou, encabulado, com seu rosto ruborizando imediatamente. Sentou novamente, na cadeira logo a frente de Kukai, e cruzou as mãos sobre a mesa, agitando os dedos de maneira nervosa. Respirou fundo mais uma vez, antes de começar.

— Eu pensei que você poderia me ajudar com alguns assuntos, Souma-kun, considerando que é mais velho, e já está no ginasial... – Tadase iniciou, desejando que um buraco abrisse no meio do Royal Garden para que ele pudesse se esconder e não sair nunca mais.

— Que tipo de assunto? – Kukai tornou a perguntar, curioso em saber que tipo de problemas eram sérios o bastante para afligir o gentil e determinado Rei de Seiyo.

— Assuntos... pessoais... – Tadase não sabia bem como definir os seus dilemas, e optou por ser o mais sucinto possível – Recentemente... eu venho tendo certos... impulsos... Não sei bem como defini-los... Eu venho sonhando com coisas estranhas e então...

— Tadase! – Kukai se sobressaltou, quase caindo da cadeira – Você está falando... desse tipo de coisa que eu estou pensando? – ele sussurrou como se conspirasse, encarando Tadase com o tipo de olhar que somente os garotos são capazes de entender. O loiro apenas confirmou com a cabeça, sentindo o rosto queimar diante da confissão. Kukai abriu a boca em espanto. – Eu não posso acreditar nisso! Você sente esse tipo de coisa! Então você é mesmo um garoto, Hotori! Quero dizer, você é de fato um garoto humano!

Tadase resolveu ignorar o último comentário, imaginando quando exatamente começava a parte em que Kukai o ajudaria.

— Então... o que você acha?

— Bem... como eu posso dizer... – Kukai colocou a mão no queixo, com uma expressão que sugeria pensamento profundo, mas que também podia significar dor de barriga ou algo do gênero – Nesses seus sonhos... o que acontece exatamente?

— Eu prefiro não entrar em detalhes. – Tadase disse rapidamente, desviando o olhar. Kukai assentiu, muito concentrado.

— E há alguma pessoa que apareça recorrentemente? Ah! Você por acaso... andou sonhando com a Hinamori?! – Kukai bradou alto, como se houvesse matado a charada.

— O que? Oh, não! Claro que não! – Tadase negou veementemente, muito surpreso. Só então percebeu que há muito sua mente não se concentravam naquela em que ele pensava estar apaixonado. Na verdade, ele nem lembrava qual havia sido a última vez em que Amu havia sido alvo dos seus pensamentos.

— Ué, não é a Amu? – o ex-valete ponderou, desatinado – Você se apaixonou por outra garota nesse meio tempo que eu fiquei fora, Tadase?

Tadase não lembrava exatamente do momento em que havia contado a Kukai sobre sua suposta paixão por Amu, mas era um fato consumado que as notícias corriam rápido entre os guardiões, principalmente quando havia certa ás envolvida.

— Não é a Hinamori-san, mas... se apaixonar...? – só então ele parou para analisar as palavras de Kukai, e essas em especial chamaram sua atenção – Por que você diz isso?

— Anh? Eu pensei que alguém como você... bem... deveria estar gostando muito de uma pessoa para ter esse tipo de reação, não é? – Kukai respondeu, com convicção.

Tadase começou a pensar nessa questão, mas sua reflexão foi abruptamente interrompida por um alto estrondo de uma porta se abrindo. De dentro da sala de arquivos, surgiu uma Yaya esbaforida, que correu na direção dos dois como se sua vida dependesse disso.

— Aaaah! Kukai, você não sabe de nada! Deixa que a Yaya cuida disso! – ela gritou, agitada, apontando para si mesma com confiança.

— Yuiki-san! O que está fazendo aqui? – Tadase constrangeu-se com a presença da garota. Ela ouviu todas as confissões vergonhosas dele!

— Você não tinha ido para casa, Yaya? – Kukai indagou, intrigado.

— A Yaya precisava ouvir o que você tinha de tão importante para falar, é claro! – ela falou apenas, como se fosse algo evidente – Mas esse Kukai não vai ajudar em nada, nem adianta pedir conselhos pra ele! A Yaya sim, sabe exatamente o que está acontecendo no coraçãozinho pamonha desse rei – ela sorriu, piscando um olho, enquanto cutucava com o indicador o peito de Tadase, que corou, em confusão.

— S-sabe? – Tadase balbuciou, descrente.

— Como assim, Yaya? – Kukai bradou, pasmado.

— A Yaya sabe! – ela riu – Mas não vai dizer! Não tem graça se você não descobrir sozinho!

— Anh... eu... – Tadase se embaralhou, ainda mais confuso e em dúvida do que estava no começo do dia.

— Cooom o que você sonhooou, hein, Tadaaaseee? – Yaya choramingou, querendo a todo custo saber a verdade. Ela só interferiu dessa maneira por que percebeu que a conversa com Kukai não estava indo para lugar algum, e sentiu que deveria agir logo se queria mesmo mais detalhes.

— Ah, bem... – Tadase relembrou do sonho, e decidiu eliminar quaisquer detalhes comprometedores – Eu sonhei que era um Rei de verdade... algo assim. E vocês todos eram membros da minha corte.

— Waaa! A Yaya também aparecia no seu sonho?! – ela se animou, pulando no mesmo lugar, com expectativa.

— Sim, e ficava dizendo coisas estranhas que nem você faz normalmente. Eu não entendi nada. – Tadase intrigou-se, forçando a memória – Dizia algo sobre limonadas... e falava coisas como ike e sume.... é acho que era isso... Eu já ouvi você e a Utau falando sobre isso antes, o que significa?

— É uke e seme! – Yaya corrigiu – E eu acho que você já deveria estar sabendo o conceito disso há muito tempo!

— Então me explique, por favor, Yuiki-san – Tadase pediu, inocentemente suplicante.

— Hmmm... – Yaya colocou a mão no queixo, pensativa. Se ela dissesse qualquer coisa a mais que corrompesse a inocência imaculada do doce Tadase-kun, Nagihiko a esfolaria viva! – Entre dois garotos... Seme é aquele que protege, e Uke é quem é protegido. É, acho que isso explica razoavelmente bem....

— Ah! Eu entendi! – Tadase sorriu radiante, enquanto Kukai ainda se esforçava para acompanhar a conversa.

— Agora vamos! – ela jogou a mochila de Tadase nos braços dele, e o empurrou na direção do corredor de saída – Você tem que ir fazer a prova, e o Nagi está te esperando. Não faça ele esperar por muito tempo, Tadase! – ela piscou um dos olhos, sorrindo diante da sua metáfora perfeita.

— Ei, Yaya... – Kukai chamou, assim que Tadase sumiu pela entrada do Royal Garden em direção aos prédios das salas de aula.

— O que?

— Você pode me explicar o que está acontecendo com o Hotori? – indagou, fatalmente curioso. Yaya riu.

— Eu até posso. Mas não sei se um garoto como você entenderia...

— Aaah! Vamos lá Yaya, conta pra mim! – Kukai implorou.

— Certo... como eu posso dizer isso... é melhor nós sentarmos! – ela se acomodou no degrau da escada que levava até a mesa de reuniões dos guardiões, e Kukai fez o mesmo.

— Agora me conta tudo!

— Tá bom! Olha só, presta atenção. O Tadase está apaixonado por uma pessoa, e ainda não percebeu isso, por que ele é um grande pamonha, que não enxerga um palmo diante do nariz. E, por sorte, essa pessoa é apaixonada por ele há muito muuuuito tempo. Mas essa pessoa tem medo de se declarar abertamente, e por isso fica se escondendo. E desse jeito, os dois nunca vão ficar juntos de uma vez! É por isso que a Yaya tá tentando dar um empurrãozinho.

— Acho que entendi... mas por que essa pessoa não se confessa logo de uma vez? Ia ser muito mais fácil...

— Bem... tem alguns obstáculos no caminho, que atrapalham tudo. – Yaya contou - Primeiro, ele é um grande amigo do Tadase, e tem medo de estragar a amizade deles. E segundo... – ela hesitou, avaliando a reação do ex-valete. Era melhor dizer tudo de uma vez. – Ele é um garoto. É o Nagi. O Nagi ama o Tadase. É isso.

Kukai encarava Yaya, absorto. Seu olhar estava fixo e vazio, sua boca fazia um “o” perfeito, e era possível ouvir as engrenagens do seu cérebro rangendo. Ao fundo, planetas e constelações giravam, movendo-se lentamente.

— O Fujisaki... ele e o Tadase... mas eles dois... eles dois... – Kukai balbuciou incrédulo, e então fitou Yaya seriamente – Isso é mesmo possível?

— Claro que é! Não há barreiras para o verdadeiro amor! Não me diga que você tem preconceito com isso, Kukai! – Yaya bradou, espantada.

— O que? Não, é claro que não! – Kukai sorriu, bagunçando os cabelos da nuca – Eles dois são meus amigos, e eu só quero que sejam felizes. Eu só estou um pouco surpreso... quer dizer, nunca passou pela minha cabeça algo assim... mas agora que você disse, tudo faz mais sentido... Na noite do Natal, o beijo dos dois, e a reação deles... A maneira como o Fujisaki está sempre cuidando do Tadase...  e também eu sempre achei que o Tadase combinava muito com a Nadeshiko, eles fazem um casal perfeito e...

— Nadeshiko? O que a Naddy tem a ver com isso?

— Naddy? Eu falei da Naddy? – Kukai titubeou, completamente desorientado –  Quer dizer, a Nadeshiko é irmã do Nagi, eles se parecem muito, foi isso que eu quis dizer, hehehe...

— Ah, sei.... aposto como a Naddy vai ficar do nosso lado, quando souber! Isso se o Nagi já não contou pra ela nee, eles parecem ser tão unidos.

— Ah, você não imagina o quanto...

— Waa! Vamos indo logo embora, a Yaya quer fazer alguma coisa divertida! Vamos até o fliperama! – a ás pulou para cima, saltitando na direção da saída. Kukai apenas suspirou, seguindo a garota hiperativa. Ele estava saturado com tantas informações simultâneas, e precisava de um tempo para absorver tudo. O que provavelmente não teria, considerando a animação de Yaya, que pulava logo a frente.

-

A noite caiu rapidamente na cidade, descolorindo o céu que aos poucos ficava mais e mais nublado. As esparsas estrelas que despontavam no horizonte logo ficavam encobertas pelas densas e escuras que se juntavam rapidamente. O vento frio e cortante soprou, uivando em saudação à Lua escondida que brilhava tenuamente.

— Acho que vai chover – Nagihiko comentou despreocupadamente, enquanto olhava para cima. Seu passo era calmo, sem pressa ou urgência.

— É mesmo. Que bom que conseguimos terminar todas as provas a tempo – Tadase observou, sorrindo logo depois para Nagihiko, que retribuiu.

Os dois apreciaram mutuamente a atmosfera agradável da presença um do outro, sentindo-se em paz. Eles haviam concluído todas as provas, e saíram-se razoavelmente bem em todas elas. Tadase se esforçou para manter os pensamentos claros e livres de qualquer interferência. Resolveu não pensar mais em seus sonhos, ou nas conversas confusas com Kukai e Yaya. Ele só queria aproveitar o momento de tranquilidade daquela volta para casa. Ter Nagihiko ao seu lado, mais do que qualquer outra coisa, proporcionava segurança e bem estar. Era confortável, simples... Tadase sentia que não precisava de mais nada além disso. Encolheu-se, afundando até o nariz no cachecol vermelho que trazia ao redor do pescoço, presente de Natal de Nagihiko. Seu rosto se aqueceu naquele calor afável, que era tão familiar. Ele gostava disso.

Nagihiko sorriu minimamente, apreciando os restos de por do sol que sumiam ao longe. Ele se sentia bem consigo mesmo, pela primeira vez em muito tempo. Talvez fosse aquela impressão de dever cumprido por ter terminado suas tarefas, ou então a sensação de renovação que acompanhava cada início de ano. Ou então, o que era mais provável, o fato de estar agora voltando para casa na companhia da única pessoa do mundo por quem ele ansiava, e em que seu pensamento se focava o tempo todo. Apenas o fato de ter Tadase por perto, de poder conversar normalmente com ele, mesmo com aquela esmagadora sensação de culpa espreitando lá no fundo, era surpreendentemente agradável.

— Agora você vai poder entrar no time de basquete, não é, Fujisaki-kun? – Tadase pronunciou, com sua voz alta e clara no silêncio da rua.

— Sim. Eu preciso esperar os resultados, mas acho que fui bem, e então, só preciso preencher minha inscrição e fazer os testes, assim que começarem as aulas. Eu mal posso esperar. E eu devo tudo isso a você, Hotori-kun – ele disse, fazendo Tadase corar e esconder-se por baixo do cachecol – Se não fosse por sua ajuda nos estudos, eu não teria conseguido. Muito obrigado.

— Você não precisa me agradecer, Fujisaki-kun – Tadase se apressou em dizer, nervoso – Isso é apenas o esperado. Eu estou retribuindo toda a sua gentileza, afinal, você está sempre cuidando de mim. – ele sorriu, sinceramente grato – Eu acho que... você é meu seme... – Tadase sussurrou, baixando o olhar enquanto sorria, com o rosto ruborizado.

Nagihiko estancou, com expressão de choque. Seu coração acelerou imediatamente, e ele sentiu que estava prestes a ter um infarto. Havia mesmo ouvido direito?

— O-o que você d-disse? – gaguejou, em estado de pavor.

— Que você é meu seme. E eu sou seu uke. – Disse à ele, inocentemente – É... pelo menos acho que era isso mesmo... – ponderou, colocando o dedo indicador no queixo.

— Quem foi que disse isso à você, Hotori? – Nagihiko inquiriu, avançando com aflição na direção do loiro, embora já tivesse uma ideia da resposta.

— Foi a Yuiki-san... – Tadase respondeu, hesitante.

— Claro que foi! – Nagihiko proferiu irritado, com os olhos flamejantes. O que aquela garota avoada pensava que estava fazendo?! Ela realmente achava que dizer essas coisas para Tadase ia mesmo ajudar em alguma coisa? Isso só faria Tadase ficar mais assustado do que... espera um momento...  – Hotori-kun... – ele disse lentamente, analisando a reação de Tadase – Você está falando isso com tanta naturalidade... Não está com raiva, ou com medo?

— Claro que não! Por que eu estaria? – Tadase indagou, displicentemente – Seme é o mesmo que protetor, e como você está sempre me protegendo, eu pensei que... oh, não! Eu estou ofendendo você dizendo essas coisas, não estou? Me desculpe, Fujisaki-kun!

Nagihiko entendeu rapidamente o que ocorria. Tadase nem mesmo fazia ideia do que estava falando. Respirou aliviado, sorrindo novamente.

— Eu não estou ofendido, Hotori-kun. – Nagihiko o tranquilizou, e os dois voltaram a andar – Eu estou até mesmo um pouco feliz com o que você disse... – coçou o rosto, constrangido.

— Mesmo? – Tadase se surpreendeu.

— Mas eu sugiro que você não saia falando essas coisas abertamente. Pode causar algumas confusões... – Nagihiko o alertou, admirando-se da ingenuidade do seu Rei. Ele definitivamente era um perigo para si mesmo.

— Tudo bem... – o loiro sorriu, exultante.

O vento cortou o ar, balançando as copas das árvores e arrastando tudo o que houvesse pela frente. Tadase e Nagihiko se encolheram em seus casacos, tremendo diante do frio que invadiu seus corpos. Depois do vento, uma fina camada de água congelada, densa como neblina, começou a cair.

— É melhor nos apressarmos, Hotori! – o valete começou a andar mais rápido, na direção por onde ficava a casa de Tadase, que ainda estava consideravelmente longe – Você já estava espirrando hoje de manhã, não quero que fique doente novamente!

— Espere, Fujisaki-kun – Tadase se esforçou em acompanhar o passo apressado do amigo – Está frio! – ele exclamou, segurando Nagihiko pela manga do casaco, e fazendo-o parar – Aqui, eu divido com você – ele disse sorridente, colocando parte do cachecol vermelho no entorno do pescoço delgado, e o ajeitando para que ficasse bem quentinho e confortável.

— Hotori-kun... você não precisa...

— Não diga nada! Olha só, o cachecol é grande o bastante para nós dois – ele apontou para si próprio, mostrando que estava devidamente agasalhado – E se andarmos bem perto um do outro, não haverá problema. – Tadase argumentou com sensatez – Eu quero poder cuidar de você também, Fujisaki-kun, me deixe fazer isso, por favor – pediu, olhando para Nagihiko com os olhos escarlates suplicantes e cintilantes como dois rubis.

— Nesse caso, vamos dividir também as luvas... – Nagihiko, obrigando-se a desviar o olhar para não fraquejar diante daquela expressão absolutamente adorável, tirou uma das luvas roxas que ganhara de presente, ficando com a outra. Tadase a vestiu prontamente, sentindo o calor da pele de Nagihiko, que permaneceu na luva, aquecer a sua mão. Olhou para ambas as mãos na frente dos olhos, uma com luva e outra sem.

— Assim fica desigual – ele notou, olhando para as próprias mãos e também para as de Nagihiko – Acho que se dermos as mãos, não haverá mais problemas...

— O que você está falando? – Nagihiko ofegou, corando. Seu coração não aguentaria muito mais desses sustos – Não diga essas coisas do nada!

— Mas é verdade! Olha só! – ele disse, segurando com força a mão descoberta de Nagihiko. Ele vacilou, ao sentir o toque de Tadase tão repentinamente – E se andarmos assim, o cachecol não vai escapar, também. Vamos lá, ainda falta bastante para chegar em casa!

Nagihiko fitou o gentil semblante de Tadase, desejando repentinamente abraçá-lo tão forte quanto pudesse. Pela primeira vez, nenhum pensamento de culpa ou da possibilidade de serem vistos por alguém passou pela sua cabeça. Ele só queria alimentar aquela pequena chama que se acendeu em seu peito e o aquecia gentilmente, por mais que houvesse aquela terrível realidade de que se arrependeria disso no futuro latejando incomodamente em algum lugar da sua consciência.

 Os dois desceram os braços, e começaram a andar, unidos pelo cachecol aconchegante e pelo toque das mãos. Nagihiko sentia que a mão fria de Tadase aos poucos ia se aquecendo, com o calor dele espalhando-se gentilmente pela palma da sua mão.

Tadase estava ruborizado, mas mantinha-se firme, olhando para frente. Girou os dedos, até que eles se entrelaçassem perfeitamente nos de Nagihiko, e apertou suavemente, apenas para sentir a presença dele mais perto. Sorriu para si mesmo, com o coração saltitante. Não se lembrava de já ter sentido nada parecido com essa felicidade que se expandia calidamente em seu peito.

Ambos continuaram a caminhar, em um passo cadenciado e brando. A Lua surgiu tímida por entre as nuvens escuras, iluminando os dois garotos, através da névoa congelante que se formou. Apesar de a temperatura continuar a cair cada vez mais, nenhum dos dois sentia frio algum.

— Eto... Fujisaki-kun? – Tadase chamou, com a voz suave.

— Sim? – Nagihiko se esforçou para falar. O nó que se formou na sua garganta era tão grande que ele sentia que se pronunciasse mais uma palavra sequer, começaria a chorar.

— Nós podemos ir pelo caminho mais longo?


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Notas finais do capítulo

Shiroyuki desu~
Aqui está o capítulo, espero realmente que gostem!! *u*
Confesso que a parte do sonho foi censurada, eu tinha escrito muito mais //leva tomatada na cara
Mas entendam, ainda é cedo pra essas coisas! E mais, eu fiquei morrendo de vergonha do que escrevi >///< Talvez num futuro próximo, eu tome coragem e escreva de novo...
Espero que tenham gostado mesmo assim, por que já foi bem difícil escrever só aquilo ali!!
O próximo é com a Teffy-senpai o/
Não esqueçam de deixar reviews, onegaai!!
Kisuu♥