Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 11
Capítulo 11 - Holy Night


Notas iniciais do capítulo

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Holy Night - Kugimiya Rie e Kitamura Eri



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Nagihiko continuou a andar por entre os corredores, confuso e perdido. Parou em frente a uma arara, sentindo o calor do ar condicionado descongelar suas orelhas, e continuou a vagar sem destino na enorme loja de departamentos. Precisava encontrar o quanto antes um presente para o amigo secreto da festa de Natal dos guardiões, essa noite.

Claro que ele deveria ter comprado esse presente há dias atrás, com calma e tempo de sobra, mas a doença de Tadase, e as provas às quais ele não compareceu acabaram estragando todo o seu cronograma. Primeiro, ele teve que negociar com Tsukasa, o diretor, para remarcar uma data para a prova. Por sorte, Tadase também tinha um ou outro teste atrasado, que ele perdeu por causa da gripe, então Tsukasa foi um pouco mais brando e permitiu que Nagihiko fizesse suas provas nesse mesmo dia. Nagihiko poderia aproveitar o Natal, e logo após o ano novo, ele e Tadase teriam que se apresentar para fazerem as provas atrasadas. Era incrível o quando a posição de guardião podia favorecer um aluno.

Olhou mais uma vez para os manequins espalhados pelo lugar. Precisava de algo que fosse impessoal e pudesse servir para qualquer um, pois, segundo as regras do amigo secreto de Yaya, eles só saberiam de quem o presente seria na hora de entregá-lo. Assim ficava mais divertido, ela disse. Era óbvio que estava planejando algo, mas quem liga? Nagihiko ligava. Ele já estava saturado com as maluquices de Yaya, e parecia que ela não pararia até que alguém colocasse um ponto final na sua animação anormalmente excessiva.

Ele havia tentado pegá-la aquele dia na escola. Foi correndo, sorrateiramente, até a sala dela, e quando chegou lá, a professora disse que Yaya saiu mais cedo por causa de uma dor de cabeça. Dor de cabeça? Desde quando bebês metidos como ela tem dor de cabeça? Estava óbvio que Yaya sabia que ele estava vindo e fugiu a tempo. Aquela baixinha sortuda! Nagihiko ainda ia ter sua reparação, ela não perdia por esperar. Talvez ele desse ovos de codorna para Yaya, já que ela parecia gostar tanto deles.

Ele pensou em comprar algo que a deixasse constrangida, e entregar a ela no Natal, mas era difícil imaginar qualquer coisa capaz de deixar Yaya constrangida... ainda pensando profundamente no assunto, Nagihiko continuou andando, enquanto sentia os olhares das vendedoras queimando as suas costas. Ele estava na loja há muito tempo e não havia comprado nada! Sentia-se como um criminoso, vigiado daquela forma.

Continuou a andar, olhando para os bichos de pelúcia, e reparou do outro lado a seção de acessórios. Andou até lá, sem motivação alguma, quando algo prendeu sua atenção. Era um cachecol, comprido e liso, vermelho vivo. A imagem de Tadase encheu a mente de Nagihiko, imediatamente. Aquele cachecol combinava muito com ele! Nagihiko podia até mesmo ver o contraste do vermelho na sua pele branca, destacando seus olhos. Era a cor que as bochechas dele ficavam, na maior parte do tempo...

Ergueu a mão, tocando a superfície macia e quente. Era perfeito. Nagihiko pegou-o, sem pensar duas vezes. Iria dar esse cachecol para Tadase, essa noite, e compraria qualquer outra coisa para o amigo secreto.

Com a vestimenta na mão, ele continuou a olhar para as outras coisas, pensando no que poderia comprar, quando sentiu um toque leve em seu ombro.

— Fujisaki-kun! – Tadase o cumprimentou, com um caloroso sorriso. Nagihiko sentiu-se vacilar, com o coração acelerado, diante do garoto. Lá estava ele, sorridente e perfeitamente recuperado, escorado sobre o ombro de Nagihiko como se nunca tivesse protagonizado uma constrangedora cena em seu próprio quarto, febril e seminu, atacando um valete quase indefeso.

Tadase não se lembrava de nada do que havia feito ou dito durante seu delírio, salvo alguns pequenos detalhes da visita de Nagihiko, e era assim que ele iria mantê-lo. Utau prometeu que guardaria segredo, e as ameaças subjetivas convenceram Yaya de manter sua boca fechada.

— Oi, Hotori-kun. Que surpresa... – Nagihiko tentou desvencilhar-se do toque acolhedor de Tadase, a fim de manter a coerência dos pensamentos.

— Nee, Fujisaki-kun já comprou o presente do amigo secreto? – Tadase indagou, com os olhos no cachecol. Nagihiko engoliu em seco, apertando a mão em volta do tecido como um reflexo.

— Eto... é sim... eu vou comprar esse... – Nagihiko se obrigou a dizer. Como iria dizer que estava pensando em presenteá-lo com ele, assim, do nada? Pra falar a verdade, Nagihiko começava a perceber que não teria nem mesmo coragem para entregar o presente, à noite...

— Você não está com frio? – Tadase indagou, vendo que Nagihiko usava apenas um sobretudo marrom por cima do uniforme da escola – Suas mãos estão geladas! – exclamou, tocando os dedos do garoto.

— Eu estou bem – Nagihiko esquivou-se do toque, sentindo-se curiosamente mais aquecido – Eu perdi minhas luvas na escola, fiquem sem.

— Aah, entendo... Eu ainda não sei o que vou comprar... – Tadase ponderou, colocando um dedo sobre o queixo e olhando ao redor. Olhou novamente para Nagihiko, sorrindo brilhantemente – O que você acha, Fujisaki-kun?

— Eu não sei... – Nagihiko olhou também ao redor, apenas para não ficar fitando o loiro tão fixamente. A presença dele era inebriante, e desviava a sua mente dos pensamentos claros, tornando-os embaçados. Aos poucos sua vontade ia tomando voz, e as lembranças daquela manhã invadiam seus sentidos.

— Parece que nós dois deixamos para a última hora... – Tadase observou, enquanto olhava algumas araras, em busca de algo. Nagihiko não pode deixar de notar o quando ele estava animado. Tadase realmente amava o Natal, não é? Desde que eles eram pequenos, ele sempre ficava animado, esperando pelo Papai Noel... — Eu... estou atrapalhando você, não é? – Tadase riu sem graça ao notar o olhar insistente do valete, desculpando-se – Bom, eu vou deixar você ir, e irei procurar algo por mim mesmo. E também, será mais divertido se ninguém souber os presentes dos outros! Nós nos vemos mais tarde! – e dizendo isso, ele sumiu no próximo corredor, correndo como uma criança por entre as prateleiras.

Nagihiko ficou para trás, sem tempo nem mesmo de protestar. Queria ter dito a ele para ficar. Ele não se importava com qual era a maneira mais divertida de trocar presentes, ou seja lá o que fosse... ele só queria ficar mais um pouco ao lado de Tadase.

Suspirando conformado, ele se encaminhou para o caixa, onde uma garota pouco mais velha, de cabelo castanho e sorriso simpático o atendeu.

— Você quer embalar para presente? – ela indagou, depois que Nagihiko pagou. Ele apenas acenou com a cabeça como resposta – Ah, eu tenho certeza de que sua namorada vai ficar muito feliz com esse presente de Natal! – adicionou, especulando.

Nagihiko ofegou, corando imediatamente. A imagem de Tadase recebendo aquele presente o atingiu diretamente, causando reações diversas. Ele pegou a caixa de presente, delicadamente decorada em tons de branco e dourado, com as mãos trêmulas, e evitou trocar olhares com a caixa, afastando-se rapidamente. Ainda ouviu a risada baixa dela, enquanto comentava com as colegas sobre o garoto fofo que estava comprando um presente para a namorada.

Namorada? Não! Era errado pensar assim... mas Nagihiko não pode evitar. Durante todo o caminho de volta, com as orelhas regelando-se ao vento, e as botas afundando na neve fofa, Nagihiko imaginou como seria sua vida se ele tivesse Tadase como seu namorado.

-

— Yeeey! Agora a Yaya pode finalmente aproveitar sua festa de Natal! Cadê os presentes?? – a Ás cantarolou, enquanto dançava e pulava por entre as pessoas.

Por causa do frio e da neve que caia sem parar do lado de fora, os guardiões tiveram que mudar o local da festa. Estavam agora mudando todas as coisas que estavam no Royal Garden para dentro de uma das salas de aula, cedida de boa vontade por Tsukasa-san.

— Não, Yaya – Amu a cortou tão rápido quanto possível, subindo em uma mesa, com decorações verdes e vermelhas nos braços – A senhorita vai pegar essas decorações e colocar elas nas paredes. E depois, vai até a cozinha buscar toda aquela comida. A ideia de fazer uma festa foi sua, então trate de ajudar.

— Mas... a Yaya é só um bebê! – ela protestou, balançando os braços – E já foi bem cansativo ter a ideia, a Yaya tem que aproveitar!

— Só um bebê... tá bom...– Nagihiko resmungou baixo para que ninguém o ouvisse, enquanto tentava montar aquela árvore enorme, que a ás insistiu em trazer para dentro. Ainda não havia esquecido as ações da ruivinha, e mesmo que fosse o tipo de pessoa que não guarda rancor, ele ainda esperava pela oportunidade de deixá-la tão sem graça quanto fosse possível, e talvez assim ela aprendesse a guardar as suas infindáveis ideias para si mesma.

Kukai, o valete vagal, estava ali também, colocando os adornos em cima do quadro-negro. Nagihiko perguntava-se se ele havia feito algum amigo da sua faixa etária na nova escola... Que tipo de ginasial gasta seu tempo livre com alunos do elementar, depois de tudo? Bom, o fato era que Kukai estava sempre disposto a ser um penetra nas festas do Seiyo Elementary, não importando a ocasião.

Os Shugo Charas estavam preparando sua própria festa de Natal, e não permitiram que nenhum dos guardiões vissem seus preparativos. Estavam agora sabe-se lá aonde, comemorando o Natal a sua própria maneira.

Sendo obrigada por uma Amu coberta por enfeites de Natal, Yaya pôs-se a ajudar, arrumando as classes de forma que elas formassem uma mesa única, onde seria posta a comida em breve. Algumas decorações foram colocadas sobre ela, e também uma toalha branca e comprida, que arrastava no chão. Logo Rima surgiu, com uma bandeja nas mãos, sendo seguida por Tadase, que trazia outra. Eles as colocaram sobre a mesa, e depois de algumas viagens, todo tipo de comida natalina estava posta sobre ela.

— Você precisa de ajuda, Fujisaki-kun? – Tadase indagou, olhando para o valete, que estava no alto de uma classe, terminando de colocar as decorações nos galhos.

— Só falta a estrela. – ele respondeu, olhando ao redor – Você a viu?

— Está aqui! – Tadase retirou a brilhante estrela dourada de dentro de uma caixa, e a balançou no ar, na direção de Nagihiko. – Será que... será que eu posso colocá-la? – ele indagou baixinho, para que apenas Nagihiko o escutasse.

— É claro que pode! – riu da vontade quase infantil do garoto, estendendo sua mão – Só não deixa a Yaya ver. – acrescentou, lembrando que era um tipo de tradição entre os guardiões que a mais nova colocasse a estrela no topo da árvore.

Tadase segurou a mão que Nagihiko o ofereceu, e escalou a classe, tomando cuidado com a estrela, firme em sua outra mão. A superfície da mesa era de fato muito estreita, e por pouco os dois garotos não caberiam juntos, mas a árvore ainda era ainda mais alta que ambos, que ficaram encobertos por seus galhos e não seriam pegos pela Ás, que estava nesse momento tentando pegar alguns dos biscoitos natalinos sem ser notada.

— Me desculpe – Tadase sussurrou, tentando ficar de pé sem vacilar. Inevitavelmente, teve que tocar no valete, que tentava a todo custo não pensar na proximidade em que se encontravam. Segurou na manga do casaco de Nagihiko, tentando apoiar-se em algo, e para isso, teve que se aproximar mais ainda. Sentia a respiração irregular dele tocando-o no alto da cabeça, bagunçando seus fios.

— Coloque logo, Hotori – Nagihiko expirou, impaciente. Tadase imaginou que era por causa de Yaya, mas na verdade, era o próprio quem causava as reações adversas em Nagihiko, e por esse motivo, o mais racional seria tê-lo afastado o quanto antes.

Tadase esticou-se, ficando na ponta dos pés para alcançar o topo da árvore. Colocou a língua para fora, fazendo força, na esperança tola de que o ato o deixasse mais alto por mágica. Estendeu ainda mais o braço, a centímetros de distância do seu objetivo. Nagihiko podia ver que aquilo acabaria com um rei fraturado sobre destroços de uma árvore de natal, e sem pensar duas vezes, segurou a cintura de Tadase com firmeza. O loiro ofegou, ao sentir o toque. As mãos de Nagihiko eram cálidas e familiares, e logo Tadase foi tomado pelo sentimento de segurança que sempre o invadia quando estava na companhia do valete. Finalmente conseguiu encaixar a estrela no galho, suspirando aliviado ao vê-la resplandecer em seu lugar, mas ao soltá-la, seu pé foi mais para frente, deslizando para o vazio.

Nagihiko o abraçou com força contra seu corpo, como reflexo, trazendo-o para tão perto quanto era possível. Os dois fecharam os olhos, esperando pela queda eminente. Nagihiko conseguia sentir claramente o perfume de morango do cabelo de Tadase, invadindo seus sentidos e os confundindo. A classe balançou para um lado e outro, e ele apertou ainda mais o abraço em torno do loiro, o sentindo segurar seu braço com os dedos finos.

Um grito agudo e animado, seguido de um barulho de flash e um clarão. Não era o que eles esperavam. Onde estavam o baque, o chão, a dor... ? Hesitante, Tadase abriu seus olhos. Nagihiko fez o mesmo. Logo abaixo, Yaya pulava freneticamente, balançando uma câmera nas mãos, enquanto sorria abobalhada.

— Kyaaaaa! Eu não acredito que vi isso! É o melhor presente de Natal que a Yaya podia ter ganho!

— O que você está fazendo aí, Yaya? – a voz de Amu se sobrepôs, imperativamente.

— Nada não, Amu-chii – Yaya fitou disfarçadamente os dois, sorrindo matreira. Nagihiko já havia soltado Tadase, mas ambos ainda estavam muito perto um do outro – Yaya está apenas tirando fotos.

Nagihiko pulou do alto da classe, ajudando Tadase a descer. Yaya sorriu mais ainda, tirando outra foto.

— Yaya! Pare com isso! – ele sibilou, tentando não chamar atenção.

— Está tudo bem, Fujisaki-kun – Tadase intercedeu, enquanto Yaya aproveitava para tirar mais algumas fotos – São só fotos. Hoje é um dia de festa, então nós temos que fazer boas lembranças.

— M-mas... ela tirou... – Nagihiko corou, sem conseguir argumentar contra Tadase – Aquilo...

— A Yaya só tirou uma foto de uma linda cena de amor! – ela entoou, chegando perto dos dois – Vocês com certeza avançaram muito depois do evento “Dodói do Tada-kun! Eu o curarei com meu amor!”...

— De onde raios veio esse nome? – Nagihiko sentiu uma gota descer pelo seu cenho, enquanto fitava incrédulo a animada garota – E mais, eu não quero mais ouvi-la falando sobre isso! Utau estava completamente bêbada, não sabe o que viu! Foi tudo uma fantasia dela!

— Pelo que a Yaya viu naquele vídeo, era outra pessoa que estava bêbada... E você parecia estar gostando muito também...

— V-vídeo...? – Nagihiko arregalou os olhos, em choque, enquanto Yaya percebia que tinha falado besteira.

— Sobre o que vocês estão falando? – Tadase indagou, visivelmente boiando na conversa.

— Não é nada, Hotori! – Nagihiko tentou contornar a situação, tranquilizando o loiro que nada entendia –  E você, Yaya, tenho certeza de que Amu precisa da sua ajuda em algo! E eu ainda não esqueci o que você fez... – acrescentou, em tom de ameaça. Yaya engoliu em seco, afastando-se rapidamente, antes que sobrasse para ela.

Nagihiko e Tadase a seguiram, recomeçando a ajudar com os preparativos. As comidas foram arrumadas devidamente, Kukai encheu balões, Rima espalhou confetes, e Amu terminou de amarrar as fitas vermelhas. Chocolate quente foi preparado, espalhando um delicioso aroma na sala. Um boneco de neve de plástico em tamanho real vindo de algum lugar foi colocado ao lado da árvore de Natal, guardando os presentes. Algumas almofadas foram espalhadas pelo local, bem como colchonetes e cobertores, considerando o quanto estava frio lá fora. Tsukasa foi quem os arrumou, e isso fez com que os guardiões se perguntassem se ele realmente morava na escola, como diziam os rumores.

— Então... nós já podemos começar? – Amu perguntou, juntando as mãos animadas.

— Não! – Yaya protestou, para surpresa de todos os presentes. Não era ela quem mais estava ansiosa para o início da comemoração? – Ainda faltam os meus convidados.

— Convidados? – Kukai indagou, intrigado. Ele pensava que era o único convidado de fora. Mal disse isso, e a porta foi arrastada, revelando as figuras de sempre.

Utau acenou para Yaya, e elas se abraçaram como duas amigas de infância. Yaya sussurrou algo como “Tenho material novo para te mostrar” sem que ninguém a ouvisse no ouvido da loira, que sorriu com expectativa, antes de se separar.

Atrás dela, vinha Ikuto, usando uma enorme roupa de Papai Noel, com a barba branca fora do rosto e o gorro pendendo para um lado da cabeça. E logo depois, surgiu Kairi, que cumprimentou polidamente a todos, corando levemente ao fitar Amu ao longe, que sorriu gentil para ele.

— Agora podemos começar – Rima verbalizou o óbvio, servindo-se de chocolate quente, um pouco desapontada pela falta de chá. Todos se serviram de alguma coisa, começando aos poucos a conversarem, até que algo chamou a atenção.

— Eei! Olhem só! – Kukai apontou para a janela, animado. Eles se aproximaram da janela, procurando enxergar o que Kukai via. Um manto branco se estendia por toda a quadra de esportes, deixando-a completamente coberta. Acima disso, a única coisa visível eram os galhos das árvores, retorcidos e secos, ao longe. A névoa impedia uma visão mais ampla, e os flocos de neve caiam lentamente, acumulando-se ainda mais sobre o terreno.

Sem perder tempo, Kukai saiu correndo porta a fora, sendo seguido de perto por Ikuto. Logo era possível visualizar as figuras, uma completamente vermelha e outra envolta no pesado casaco de inverno verde escuro, jogando bolas de neve um no outro.

— G-guerra de neve... – Rima pronunciou indistinta, segurando com força sua caneca fumegante. Corando muito, ela deixou a caneca de lado e saiu correndo. Logo se juntou aos outros, vestindo seu sobretudo marrom-claro. Tropeçou e caiu de cara na neve antes de chegar até lá, e quando se levantou, foi saudada com uma grande bolada, que explodiu em sua face. A risada de Ikuto ecoou no vazio branco, e como resposta, foi atingido por uma pequena, mas veloz bola na altura do estômago, atirada pela Rainha.

Assim, todos se juntaram à batalha, um de cada vez.

Nagihiko jogou uma grande bola nas costas de Tadase, que observava a bagunça distraído. Ele riu, retribuindo com outra, e os dois passaram a se perseguir mutuamente, rindo com vontade. Kukai e Ikuto prepararam fortes de neve, um oposto ao outro. Eles estavam levando a guerra a sério. Yaya se juntou a Ikuto, acertando a cabeça de Kukai sempre que tinha a chance, e Rima escondeu-se com Kukai, arrastando Utau junto com ela. Kairi, ajeitando os óculos com estilo, preparou-se para atirar sua munição antecipadamente preparada, e não errou nenhuma das vezes em que jogou, sempre acertando a face do inimigo em cheio. Amu jogava suas bolas de neve arbitrariamente e logo o controle foi perdido, com as bolas voando para todos os lados. Já não se sabia quem estava do lado de quem, e os fortes foram completamente destruídos. As bolas voavam para todos os lados, atingindo os mais variados alvos. Depois de um tempo correndo, Tadase cansou, caindo no chão. Nagihiko parou ao seu lado, apoiando-se nos joelhos e respirando com dificuldade.

— Está bem, Hotori-kun? – indagou, ofegante. Os gritos de guerra, as risadas e os resmungos, bem como o ruído do impacto da neve batendo ecoava por todo o espaço.

— Estou sim – respondeu, sorrindo com a preocupação do amigo – ... ei, Fujisaki-kun? Você se lembra de quando éramos novatos, lá na primeira série? – Nagihiko sentou ao lado de Tadase, e este continuou a falar – Durante o nosso primeiro inverno como alunos da academia Seiyo... nós dois estávamos entediados... e você sugeriu que viéssemos até a escola quando ela estava fechada. Era uma tarde de neve como essa. Tudo estava completamente branco, e nós dois invadimos a escola!

— Eu me lembro disso... – Nagihiko murmurou, recordando – Foi difícil pular a cerca com aquela saia...

Tadase riu da recordação, se lembrando de como Nagihiko, que era Nadeshiko na época, ficou irritado com a saia. Estava quase a tirando ali mesmo, quando finalmente conseguiu pular, e depois, ajudou Tadase a subir, já que este não tinha o mínimo talento para a delinquência.

— Nós dois viemos até essa mesma quadra, que estava coberta de neve, e ficamos aqui até anoitecer... Nós fizemos anjos de neve, corremos e jogamos bolas um no outro, e depois, fizemos um enorme boneco de neve, bem ali.

— Eu me lembro de tudo isso... – Nagihiko sorriu, acalentando-se com a memória. Era tudo bem mais simples há anos atrás, mas era fácil perceber agora que ele já possuía sentimentos especiais por Tadase, mesmo naquela época. Havia proposto brincar na escola, naquele dia, por que Tadase caiu no chão e ralou o joelho, e estava prestes a debulhar-se em lágrimas. Ele não gostava de vê-lo chorando...

— Sabe... – Tadase sussurrou, sentando-se e abraçando as próprias pernas, enquanto inclinava o rosto na direção de Nagihiko. Seu rosto exibia o mais lindo sorriso, com os olhos brilhando e o rosto corado por causa do frio – Aquela é uma das recordações mais lindas que eu tenho. E você estava nela, Fujisaki-kun. Estava em todas as minhas melhores memórias, na verdade. Muito obrigado por isso.

— Hotori-kun... – Nagihiko sorriu sem jeito, com o rosto vermelho como maçãs maduras - Você não precisa me agradecer. Você também, está presente em todas as minhas memórias mais preciosas.

— Eu sinto falta daquela época, quando tudo parecia ser mais... fácil.  – Tadase divagou, vendo a guerra desenrolar-se a sua frente. Estavam todos muito agitados, e o por do Sol tornava-se evidente, mesmo com o céu completamente nublado. - Eu lembro que naquela tarde, enquanto nós brincávamos aqui, sem nenhuma preocupação, apenas querendo que fosse divertido, era como se só existíssemos nós dois naquele mundo inteiramente branco. Aquela sensação... eu não consigo descrevê-la...

 — Eu entendo o que quer dizer, Hotori-kun, não há necessidade de tentar descrever...

Os dois entreolharam-se, dividindo a lembrança. Era como se estivessem revivendo-a nesse exato momento. As risadas despreocupadas e infantis... o barulho dos pés correndo no mesmo ritmo... as mãos pequenas afundando-se na neve. Sem que percebessem, eles já sorriam, partilhando o mesmo sentimento nostálgico. Nagihiko sentiu seu peito inflar, aquecendo-se. Talvez, estivesse se apaixonando ainda mais por Tadase, que sorria docemente, naquele instante. Já era noite, e era difícil distinguir as feições um do outro no breu, mas por algum motivo, era como se ambos estivessem se enxergando perfeitamente, naquele ínfimo segundo em que seus olhares se encontraram de verdade, por completo.

Zunindo, um vulto branco passou na frente dos olhos de Nagihiko, acertando em cheio o rosto do loiro, que cambaleou para trás.

— Ei! Vocês dois, parem de flertarem e venham até aqui lutar! – Ikuto gritou, jogando outra bola de neve para cima e para baixo na mão. Preparou-se para arremessá-la, como um jogador de baseball profissional, porém alguém foi mais rápido e o atingiu em cheio no meio da cara, fazendo-o cair sentado na neve fofa.

— Como ousa atingir a mim, o Grande Rei, dessa forma, gato ladrão? Eu irei derrotá-lo, com a força do meu exército! - Tadase ria megalomaniacamente, com outra bola preparada na mão esquerda e uma pequena coroa brilhando na cabeça. Talvez os Shugo Charas estivessem assistindo a tudo de algum lugar, e Kiseki certamente não aguentou ver seu dono sendo atingido dessa forma.

Logo depois, fones de ouvido surgiram no pescoço de Nagihiko, que levantou num salto, sorrindo de canto. Ele juntou um monte de neve, fez uma bola grande como uma de basquete, segurando-a com ambas as mãos, e avançou correndo a frente. Tadase ficou atrás, observando a tudo com as mãos na cintura e um sorriso presunçoso, como se fosse mesmo o comandante de um enorme exército, que na verdade, consistia-se de apenas Nagihiko.

Ikuto levantava-se naquele instante, tirando o gelo da cara, e antes de conseguir perceber qualquer coisa, viu Nagihiko levantar-se a sua frente, pulando como se fosse dar uma enterrada, e acertando sua cabeça, a cesta.

— Acho melhor darmos essa Guerra por encerrada – Rima ponderou, ao visualizar a imagem do Papai Noel desfalecido no meio da neve, com as roupas desajustadas no corpo magro e a língua de fora. Era como uma versão bêbada e acabada do Bom Velhinho, algo triste de se ver.

— Waaaa! – Yaya avançou, com a mão fechada na frente da boca como se segurasse um microfone – Os vencedores da Primeiríssima Batalha de Neve da Escola Seiyo são Tadase e Nagi!!! – ela levantou a mão de Nagihiko para cima, e este piscou um dos olhos, sorrindo para Tadase.

— Nada mais do que o esperado do meu fiel Valete – Tadase anunciou, aproximando-se orgulhosamente. – Agora, espero que tenham preparado um troféu equivalente à grandeza da minha vitória, já que... – ele não completou sua frase, pois a coroa sobre sua cabeça evaporou-se tão rápido quanto tinha aparecido, bem como os fones de ouvido de Nagihiko.

— Vamos subir logo, está escuro e frio aqui! – Utau disse, encolhendo-se no seu casaco, e a proposta foi bem aceita por todos.

 Eles retornaram ao calor da sala de aula, com Tadase repetindo inúmeras desculpas pelo seu comportamento rude. Ikuto teve de ser carregado por Kukai e Kairi, já que se encontrava levemente nocauteado, mas tão logo foi jogado sobre as almofadas, e recebeu um pouco de chocolate quente, se recuperou.

Todos se acomodaram, comendo e conversando assuntos triviais e variados.

— Nós podemos começar a troca de presentes agora? – Yaya agitou-se, impaciente.

— Já? Mas acabou de anoitecer! Não é melhor esperar ficar mais tarde? – Amu disse.

— Nos países ocidentais, onde o Natal é uma comemoração religiosa, a troca de presentes é feita exatamente à meia-noite... – Kairi provavelmente continuaria a falar por mais tempo, se não tivesse percebido o olhar ameaçador que a pequena Ás lançava diretamente para ele naquele momento.

— Bom, então vamos lá! Eu também quero ver meu presente! – Kukai bradou, com a boca cheia de panettone.

— Como nós vamos fazer? – Nagihiko indagou.

— A Yaya preparou os papeizinhos com nomes antes – ela disse, sorrindo de uma maneira estranha. Ela e Utau trocaram olhares suspeitos, que passaram despercebidos, e então ela continuou a falar – Você pega o nome e dá seu presente para essa pessoa. E se pegar seu próprio nome, então você fica com o presente, entenderam?

Todos assentiram, pegando seus presentes e voltando a se sentar no círculo formado pelas almofadas. Yaya pegou a toca de Ikuto, que estava quase dormindo sobre a almofada, e colocou papéis que estavam no bolso do seu casaco nela, agitando ligeiramente. Abriu o saco, passando direto por Nagihiko e Tadase, que eram os primeiros, e estendendo-o para Rima, sentada logo depois. Ela agitou a mão no gorro e pegou um papel amassado, abrindo-o.

— Kairi – ela leu em voz alta, entregando um pacote amarelo para o moreno, que estava do outro lado. Ele sorriu sem graça, desamarrando a fita branca que o prendia. Dentro do pacote, estava um DVD de comédia, com duas pessoas fazendo o Bala-balance na capa.

— Obrigado – Kairi disse sem emoção alguma na voz, ajeitando os óculos.

— De nada – ela respondeu com presunção, dando mais um gole no chocolate quente – Você precisava mesmo de um desses. Não tem nenhum senso de humor.

Kairi não reagiu ao comentário, e então Yaya avançou até ele.

— Sua vez, Iinchou! – Yaya disse, tentando animar o ambiente novamente. Kairi remexeu o gorro, tirando outro papel.

— Kukai – Kairi disse, e sem perder tempo, entregou uma caixa de presente verde e branca ao garoto, que sorriu, apressando-se em pegá-la e abri-la.

— Ah! É um livro... – Kukai falou, sem disfarçar o desânimo na voz.

— Este é o Livro dos Cinco Anéis, escrito por Miyamoto Musashi, em 1645. É um texto sobre Kenjutsu e Artes marciais de modo geral, e também é considerado um tratado clássico sobre estratégia militar do Japão – Kairi pronunciou distintamente, com orgulho sobrepujando a voz.

— Ah... que legal – Kukai murmurou, sem convencer ninguém.  – Agora é minha vez. – Deixou o livro de lado, preparando-se para pegar um papel – Amu!

Amu sorriu, aproximando-se do valete, que estendeu a ela uma pequena caixinha. Ela abriu, revelando dois pedaços de papel ainda menores.

— São ingressos para um jogo de futebol... – ela falou.

— Sim! Nos melhores lugares do estádio! – Kukai bradou, animando-se – E é claro que eu serei o acompanhante – ele anunciou, pegando o outro ingresso sem hesitar.

— Muito obrigada! Eu adorei, tenho certeza de que a Ran vai ficar muito animada... – Amu agradeceu, guardando o outro ingresso antes que Kukai o tomasse também – Agora sou eu – ela pegou um papel, examinando-o. – Ikuto... – sibilou, com um muxoxo.

Contrariada, ela estendeu o presente cuidadosamente embrulhado para Ikuto, recuando antes que ele tivesse a chance de tocá-la. Ele abriu-o, sorrindo presunçosamente. Era um pequeno estojo, quadrado, todo preto com alguns chaveiros e adornos variados no seu entorno.

— É para guardar o seu Shugo Tama – ela explicou, mostrando o seu próprio, vermelho e preto.

— Muito obrigado, Amu-chan! – ele sorriu, pulando sobre Amu e a abraçando com força! – você comprou isso pensando em mim, não foi? Yoru vai ficar gostar de ter um lugar para dormir! Agora nós dois combinamos...

— Me solta – Amu se esforçou em desgrudar o garoto, que enfim cedeu e a soltou, voltando ao seu lugar.

— Sua vez, Ikuto – Yaya mostrou o gorro, e Ikuto colocou a mão no seu interior, tirando um papel.

— Yaya – ele leu, olhando ao redor – Quem é Yaya? É você? – ele apontou para Kukai, estendendo o presente para ele.

— Não! – Yaya jogou o gorro vermelho no chão, agarrando o embrulho de Ikuto com voracidade – A Yaya está aqui! Bem aqui! – Ela sentou no chão, bem no meio da roda, e começou a rasgar o pacote, espalhando papel vermelho pra todo lado. O presente era um tipo de kit, que consistia em uma roupa de maid, nekomimi, algemas e chicote.

Yaya corou, olhando imediatamente para Nagihiko e Tadase, e então desviando o olhar.

— Não acho que uma pirralha como você tenha uso pra isso – Ikuto explicou, enquanto comia mais de qualquer coisa que estivesse por perto – mas nunca se sabe... e a loja tava fazendo uma liquidação para os clientes mais antigos, eu tinha que aproveitar...

— Fujisaki-kun... – Tadase cochichou para Nagihiko, sem chamar atenção – Para que servem aquelas coisas? Algema e... chicote? É para prender alguém?

— Anh... isso é... – Nagihiko perdeu-se, sem saber o que dizer. As perguntas de Tadase sempre o pegavam de surpresa – É melhor ficar sem saber, Hotori. E pelo amor de Deus não procure no Google.

— OK...  – Tadase conformou-se, assistindo a tudo com curiosidade no olhar.

 — É a vez da Yaya! – a garota pegou um papel na touca – Utau-chii! É você! Ainda bem! – ela animou-se, estendendo um embrulho para a loira – Seria muito chato se alguém como o Iinchou pegasse e não soubesse aproveitar.

Como Kairi não pareceu se ofender com o comentário, Utau abriu rapidamente o presente, sorrindo resplandecentemente ao vê-lo. Era um álbum de fotos, todas tiradas por Yaya. A capa do álbum trazia a famosa foto de Tadase vestindo um uniforme feminino, com Nagihiko despindo Kukai ao fundo. Utau tomou o cuidado de não deixar ninguém ver, afinal, isso poderia causar uma confusão, e seu precioso presente seria tirado dela antes que tivesse a oportunidade de apreciá-lo. Apenas uma pequena olhada já deu a ela uma ideia. Havia muitas fotos constrangedoras de todos, e mais uma seção especial, com fotos de Tadase e Nagihiko juntos. Desde quando Yaya preparava aquilo? Ela era mesmo uma gênia!

—Minha vez – Utau pegou seu papel, escondendo o álbum na bolsa antes – Rima! – ela bradou, entregando seu pacote pra a garota, que apreciava em silêncio o chocolate quente.

Ela abriu cuidadosamente o presente, olhando-o.

— O q-que é isso... – ela corou até a raiz dos cabelos, folheando o livro que Utau a deu. Era um mangá yaoi, com muitas cenas de Lemon.

— É uma obra de arte – Utau inflou o peito, com orgulho. Yaya concordou com veemência.

Rima continuou a examinar seu presente, com ávido interesse, enquanto bebericava sua bebida.

— Interessante... – ela balbuciou, ainda corada, começando a leitura.

— Eu posso ver...? – Tadase indagou timidamente, ao lado de Rima.

— Não! – Nagihiko o impediu, puxando a almofada de Tadase para um pouco mais longe da Rainha.

— Será que falta alguém? – Yaya bradou, como em um discurso ensaiado – Eu acho que nós fechamos o círculo, já que a Rima-tan foi quem começou...

— Eu ainda não fui... – Tadase disse, incerto. Yaya sorriu, mexendo insistentemente na touca, antes de estendê-la para o garoto. Tadase pegou um papel, e mesmo que fosse óbvio quem ele havia pego, ele ainda leu em voz alta, sorridente – Nagihiko. É para você, Fujisaki-kun...

Ele entregou o presente para Nagihiko, que não pode evitar enrubescer, ao pegá-lo. Colocou o seu próprio presente nas mãos do rei, sorrindo de volta.

— E esse é para você... – disse, vacilante.

Os olhos de Tadase brilharam, quando ele começou a desamarrar o laço do presente. Nagihiko fez o mesmo.

Dentro da caixa de presente entregue por Tadase, estava um par de luvas roxas, impecáveis e aparentemente muito quentes. Nagihiko sentiu seu coração tremer, ao vê-las. Será que... Tadase também as comprou pensando nele?

Tadase tirava o cachecol vermelho de dentro da caixa, sorrindo como uma criança que ganha um brinquedo. Imediatamente enrolou-o em volta do pescoço, escondendo parte do rosto corado no tecido.

— Muito Obrigado, Fujisaki-kun! Eu adorei! Nunca mais vou tirá-lo! – ele disse, contente. Yaya e Utau conteram seus impulsos, segurando-se para não gritarem ali mesmo. Yaya se recuperou antes, preparando a câmera e começando a tirar fotos sem hesitar.

— Obrigado também, Hotori-kun. São perfeitas! Exatamente o que eu precisava – Nagihiko sorriu gentilmente.

— Agora já chega disso! – Amu bradou, interrompendo – É melhor comermos, antes que o Ikuto e o Kukai acabem com a comida. – notou o valete sorrateiramente aproximando-se da mesa – E a Rima com o chocolate quente – acrescentou, observando Rima servir sua quinta caneca.

Todos começaram a comer, enquanto Yaya cantava músicas natalinas num inglês enrolado, e Ikuto a acompanhava como segunda voz. Utau tirou de sua bolsa algumas toucas de Papai Noel, e chifres de rena, e as distribuiu entre todos, para entrarem no clima, ela explicou.

Do nada, Rima começou a fazer o bala-balance, arrastando Kukai para acompanhá-la.

— Ela ficou bêbada com o chocolate quente – Amu observou, com uma gota descendo pela cabeça.

— Está completamente embriagada – Nagihiko concordou.

— Eu não acho que chocolate possa causar esses efeitos... – Tadase comentou.

Nagihiko o fitou sugestivamente, relembrando e preferindo guardar suas observações para si mesmo. Utau escondeu a risada com a mão, enquanto Yaya gargalhava em altos brados, sem se conter nem um pouco.

— Vamos lá, Iinchou! – Rima bradou, com os olhos semi-cerrados – Você tem que aprender a fazer isso, se quiser ser engraçado.

Kairi apenas ajeitou os óculos em resposta, pegando mais biscoitos da mesa e voltando a sentar. Rima então, começou a dançar, balançando a tiara de Rena na sua cabeça. Tirou os calçados, deslizando só de meia pelo piso de madeira.

Rou to ichi de tsukure, tsukure, tsukure. Rou to ichi de tsukure, My Fair Lady ela cantava, girando num balé meia-boca. Yaya a acompanhou, segurando suas mãos, e as duas giraram juntas.

— Rima-chii está muito mais divertida. – Yaya exclamou, entusiasmada.

— É por causa das fadas do chocolate. – Rima balbuciou, caindo sentada no chão.

Yaya riu, enquanto a rainha se arrastava para uma almofada próxima, esticando-se logo depois para tentar pegar mais uma caneca de chocolate quente.

— Sem chocolate para você, Rainha – Kairi pronunciou, afastando o líquido da pequena loira, que apenas fez um beicinho de birra, bufando.

— Está começando a ficar frio aqui – Utau observou, depois de um tempo.

— Tsukasa-san deixou cobertores – Tadase indicou, aproximando-se para pegar um.

Yaya e Utau entreolharam-se, e seus pensamentos fujoshis se conectaram. Ambas tiveram a mesma ideia, ao mesmo tempo, sem precisar falar absolutamente nada. Yaya foi mais rápida, chegando aos cobertores antes de Tadase.

Ela os distribuiu, jogando um para cada um dos presentes, até que só restasse dois deles. Ninguém reparou quando ela jogou um dos cobertores pela porta, fechando-a logo em seguida.

— Esse aqui é meu – Yaya abraçou o edredon rosa – Então você vai ter que dividir esse com alguém – ela empurrou o azul-escuro para Tadase – Quem ficou sem? – ela perguntou, olhando fixamente para Nagihiko.

— Acho que foi o Fujisaki! – Utau anunciou, enquanto se enrolava no seu cobertor e sentava na almofada.

— Que surpresa... – Ikuto resmungou, sarcasticamente – Quanta sutileza, vocês duas.

— Ssshhh! – Utau deu um tapa nas costas de Ikuto, que se calou, e se enrolou no seu cobertor também, deitando preguiçosamente como um gato na sua almofada.

Tadase pegou o cobertor nas mãos e sentou ao lado de Nagihiko, enrolando o cobertor ao redor do corpo dos dois e fechando na frente, segurando as duas pontas entre as mãos. Nagihiko ficou um pouco sem ação, tentando não parecer muito entusiasmado, embora seu coração batesse tão rápido que era difícil até de ouvir seus pensamentos. Cobriu a cabeça de Tadase com o cobertor, vendo-o se encolher, ainda com o cachecol no pescoço, e sorrir. Sem outra opção, Nagihiko sorriu de volta. Estava muito quentinho e confortável ali.

— E agora, o que nós vamos fazer? – Rima indagou, enrolada em seu cobertor como uma lagarta no casulo.

— Não sei – Amu não tirava os olhos de Nagihiko e Tadase, fitando-os com tanta atenção que poderia perfurar uma parede. Encolheu-se no seu cobertor também, visivelmente incomodada.

— Que tal um jogo...? – Kukai sugeriu.

— Alguém trouxe UNO? – Ikuto indagou, com apenas os olhos para fora do cobertor.

— Eu sei de um jogo! – Yaya clamou repentinamente, tirando alguma coisa da bolsa de Utau, que não pareceu se importar nem um pouco de ter seus pertences revirados. Ikuto riu sonoramente, disfarçando logo depois.

— O que é isso? – Amu indagou, tentando ler a embalagem que Yaya trazia nas mãos.

— É Pocky! – Utau esclareceu – Aquele palito doce, você sabe! Nós podemos jogar o pocky game, que tal?

— Que tipo de jogo é esse? – Kairi perguntou, intrigado.

— Bom... é bem simples... – Yaya começou a explicar – Nós giramos uma garrafa ou algo do tipo... podemos jogar jo-ken-po também, e então, duas pessoas são escolhidas, e cada uma morde uma ponta do pocky, e vai comendo, até que ele quebre, ou... até que termine, entenderam? Se desistir antes do pocky acabar, perde.

Todos assentiram, alguns mais assustados do que outros.

— Como vamos fazer para escolher as pessoas? – Rima inquiriu.

Yaya pegou uma das velas de plástico que faziam parte da decoração da mesa, e colocou no meio do círculo.

— Nós giramos isso. Duas vezes, para ficar mais variado. O lado que essa parte que imita a chama apontar vai ser o escolhido. E então gira de novo, para saber com quem ele vai jogar.

— Parece perigoso... – Kukai comentou, entre empolgado e temeroso.

— Vamos começar? – Utau desafiou.

Ninguém teve tempo de argumentar. Yaya voltou ao seu lugar, com o cobertor sobre a cabeça e girou a vela.

Ela rodopiou, e parou apontando para Ikuto. Ele sorriu, esticando o braço para fora do cobertor e girando novamente a vela. Todos pararam de respirar apreensivos, esperando que ela parasse. O objeto girou, girou, girou e então, encarou diretamente o ex-valete, Sanjou Kairi.

— Como? – ele elevou a voz pela primeira vez, indignado – Isso não pode! Eu sou um garoto!

— Não há nada nas regras que impeça isso – Utau disse sombriamente, alargando um sorriso como o do Gato de Chesire. Mal podia conter-se, abrindo o pacote de doces com um único movimento.

Kairi engoliu em seco. Ikuto se aproximou, sem tirar o cobertor do corpo.

— V-você vai m-mesmo...? – Kairi gaguejou, corando. Antes que pudesse argumentar, Ikuto pegou um palito e colocou na boca dele, mordendo a outra ponta. Kairi arregalou os olhos, assustado, enquanto Ikuto se aproximava cada vez mais e mais, comendo com vontade. O ex-valete nem mesmo pode morder também o doce, pois sem perder tempo, Ikuto tomou seus lábios, segurando sua cabeça para o alto. Kairi agitou os braços, tentando se desvencilhar, mas Ikuto era obviamente mais forte. Invadiu o menor com a língua, fazendo com que ele emitisse gemidos involuntários. Ikuto não perdeu o controle nem por um segundo, quando finalmente se afastou, com um olhar aborrecido.

— Não foi como eu imaginei – murmurou bocejando, voltando a deitar.

Kairi desfaleceu, com os óculos tortos caindo do rosto, o olhar fixo e sem brilho, lembrando um pouco as crianças que perdiam seus ovos do coração. Todos o encararam, atônitos, exceto Yaya, que fazia sua câmera trabalhar sem descanso, e Utau, que parecia prestes a ter uma síncope de tanta excitação.

— Eles fizeram mesmo... – Tadase sussurrou, surpreso pelo fato de acabar de presenciar um beijo entre dois garotos bem na sua frente. Nagihiko observou a reação do loiro, sentindo-se agitar-se por dentro, enquanto imaginava o que se passava pela cabeça do Rei nesse instante.

— Próximo! – Rima anunciou, ainda sob efeito do açúcar no cérebro, e girou a vela. Ela apontou para Ikuto, novamente.

— Eu sinto que serei muito requisitado esta noite… – Ikuto suspirou presunçoso, fingindo cansaço, enquanto girava novamente a falsa vela. Ela rodopiou, parando lentamente. Apontava para Rima.

A pequena loira olhou assustada para o garoto, que se desvencilhava do cobertor, e se aproximou dramaticamente. Todos prestavam atenção em seus movimentos, cuidadosamente calculados.

Ikuto ajoelhou-se a frente da garota, levantando-a com facilidade, para que ela ficasse no mesmo nível dele. Ligeiramente mais alta, Rima ofegou, recuando um passo, mas Ikuto foi mais rápido e a prendeu pela cintura. Ela corou furiosamente, parecendo estar prestes a desfalecer. Ikuto pegou o pocky que Utau estendia a ele, e colocou entre os lábios dos dois.

— Comece – ele sorriu de canto, segurando o palito entre os dentes. Rima cerrou os olhos com muita força, segurando os punhos, e deu uma pequena mordida, torcendo para que o pocky quebrasse. Ikuto avançou ainda mais, com os olhos fixos no rosto vermelho da garota.

Rima tremia compulsivamente, quase entrando em combustão. Ela não aguentou, e quebrou o pocky, virando o rosto com rispidez.

— Eei! Isso é trapaça! – Yaya protestou de olho no visor da câmera, sem parar de tirar fotos um único segundo.

Ikuto puxou Rima pelo braço, forçando-a a olhá-lo, e sem titubear, investiu contra ela, selando seus lábios. Ela parou de respirar, arregalando os olhos pasma, sentindo o coração acelerando perigosamente. Ikuto afastou-se, encarando-a diretamente, passando a língua pelos lábios. Rima caiu sentada, perdendo as forças nas pernas bambas, com as mãos sobre os lábios maculados.

— Agora sim – Ikuto confirmou, cobrindo-a novamente com o edredon laranja que ela usava antes, colocando-o sobre sua cabeça, e voltou ao seu lugar. Rima não moveu um músculo, paralisada com o choque.

— Ikuto! – Amu repreendeu, vendo a Rima apática deitando-se e enrolando-se no edredon, em posição fetal. Os olhos fixos não pareciam estar enxergando nada – Você deixou ela pior do que ela já estava! E o Kairi, olha só para ele! – ela apontou para o garoto que balbuciava coisas desconexas enquanto mirava o chão – Eu acho que você deveria parar de jogar agora mesmo! Pensando melhor, por que não paramos todos? Isso aqui é loucura!

— Eles não aguentaram isso tudo – ele apontou para si mesmo – Você está com ciuminho, Amu-chan?  - sorriu ironicamente - Que imaturo da sua parte! É só pedir, e você também pode ter o que eles tiveram!

Amu apenas bufou, cruzando os braços e virando o rosto.

— Vamos continuar! – Yaya bradou, com excessiva animação, girando a vela com a mão livre. Ela apontou para Kukai, que estava ocupado em acabar com todo o bolo de chocolate naquele momento.

—Certo, certo - Kukai resmungou, e girou a vela novamente. Parando lentamente, querendo fazer um suspense, a vela parou apontando para ninguém menos que a própria Yaya, que ainda estava ocupada com as fotos, e paralisou, com a visão da vela a apontar para ela.

— Y-yaya... – Kukai corou, surpreso – Se não quiser, nós podemos pular...

— Não mesmo! – Ikuto protestou – Vocês tem que continuar!

— Isso aí! Não tem nada que os impeça de terminarem isso! – Utau pegou um pocky e entregou para Kukai, que fitou constrangido a ás.

Hesitante, ele se aproximou de Yaya, sentando a frente dela, colocando o palito entre os seus lábios, e abocanhando o outro lado. Yaya ficou incrivelmente vermelha, fechando os olhos com força. Kukai segurou-a com cuidado pela cintura, os dois sentados no chão.

Nagihiko sorriu maquiavelicamente, causando um arrepio apreensivo em Tadase, que nunca havia visto essa expressão no amigo. Sem ser notado, Nagihiko pegou a câmera de Yaya, registrando todos os movimentos dos dois. Ela provaria do próprio veneno, agora.

Kukai mordeu um pedaço, esperando que Yaya fizesse o próximo movimento. Ela o fez, tremendo dos pés a cabeça, com o coração tão rápido quanto fosse possível. Kukai, inclinou a cabeça, aproximando mais uma mordida, e Yaya fez o mesmo. Seus narizes se tocaram, causando um formigamento na pele. O garoto colocou a mão no rosto quente da Ás, trazendo-o para mais perto, ao morder mais um pedaço. Yaya avançou mais um pouco, sentindo a respiração de Kukai, batendo em seu rosto. Kukai terminou com a distância que os separava, mordendo o último pedaço de pocky e selando seus lábios com os de Yaya. Ela arrepiou-se, com o coração batendo forte e alto, e apoiou a mão no peito do garoto, retribuindo ao beijo.

Os dois se afastaram, confusos, e não voltaram a se encarar. Kukai voltou ao seu lugar, vacilante. Ele tinha razão. Era um jogo perigoso. E a noite de Natal estava só começando.


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Notas finais do capítulo

Yooo~ Shiroyuki desuu~ de novo o/
Nyan~ o que acharam desse capítulo de Natal? Ele vai ser continuado pela Teffy-senpai, vocês não perdem por esperar, hohohoho~
Espero que tenham gostado desse gigante e empolgado capítulo -.- eu fiz de novo, gomen nee~
A música que a Rima canta durante seu delírio chocolatal é do anime Kuroshitsuji, cantada pelo personagem Drocell. Aqui está um link com a música, caso fiquem curiosos:
http://www.youtube.com/watch?v=snK01zScPQo
Essa música não saia da minha cabeça enquanto eu escrevia aquela parte, então acabou indo... a propósito, eu estou cantarolando ela nesse exato momento... que viciante!
Entãaaao, espero por reviews *u*
Obrigaada nyaa~♥