Nemesis X: A Guerra Secreta escrita por Goldfield


Capítulo 7
Capítulo 6




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Capítulo 6

 

No rastro de Burke.

 

Sherry abriu os olhos extremamente agitada. Tentou freneticamente mover os braços e as pernas, porém estava tão fraca que não conseguia nem erguê-los, apesar de senti-los totalmente. Fora deitada sobre uma superfície gelada; uma provável mesa de exame ou coisa similar. A intensa luz branca da sala prejudicava sua visão, impelindo-a a manter as pálpebras quase cerradas devido ao incômodo. Num dado segundo, ouviu uma porta automática deslizando para dentro de uma parede, e logo depois passos. Com muito esforço, a promotora pôde erguer levemente a cabeça, sofrendo de forma imensa por não conseguir efetuar praticamente nenhum movimento. Percebeu, além de que trajava uma camisola hospitalar acinzentada, a presença no recinto branco do chão ao teto de um homem recém-chegado usando jaleco e máscara cirúrgica. Certamente um cientista.

         Onde... Onde eu estou?

         Não se preocupe, senhorita Birkin – falou o misterioso personagem. – Tudo ficará bem se não nos oferecer resistência. E, sob efeito do relaxante muscular, creio que mesmo se quiser não será capaz disso...

         Burke... – Sherry pronunciou o nome de seu inimigo numa entonação quase agonizante. – É você, não?

         Você é muito esperta, assim como seu pai – afirmou Josh, preparando uma seringa. – Espero que não se transforme num monstro como ele devido à substância mutante presente em sua corrente sangüínea...

         O X-Virus, não? – a jovem mordia os lábios de raiva. – É por isso que você me raptou, certo? Você o quer!

         Certamente, senhorita Birkin. Agora, se me permite, preciso de uma amostra...

A prisioneira sentiu uma picada no braço direito, e pouco depois viu a seringa que Burke segurava agora cheia de sangue seu. Ele deu-se ao trabalho de limpar o local da ejeção com um pedaço de algodão, e logo depois se retirou com o frasco. Se estivesse em condições, Sherry teria levantado e dado cabo dele sem pestanejar utilizando as artes marciais que aprimorara desde a missão na Sibéria, mas o oponente prevenira com sucesso tal pretensão. Infelizmente, a promotora estava sozinha, incomunicável e completamente à mercê de seus algozes. Não muito diferente de Claire Redfield, cuja busca ela prometera auxiliar com tanto afinco...

 

Chris deitou-se sem camisa na cama e suspirou, sentado junto ao encosto com um travesseiro amortecendo as costas. Jill, de camisola azul, caminhava inquieta pelo quarto de hotel em Washington, aparentemente muito aflita com algo. Percebendo isso, o marido perguntou:

         Algo errado, querida?

         Estou pensando no bebê... – ela murmurou, repousando numa cadeira enquanto passava as mãos pelos cabelos castanhos lisos. – Tomara que a babá esteja cuidando bem dele, acho que dei todas as instruções necessárias e...

         A Hilary é uma ótima babá! – afirmou Redfield, levantando-se da cama e seguindo até a esposa. – Não se preocupe, vai dar tudo certo!

         Eu sei que temos o dever de ajudar o Leon, mas tem sido difícil... Por mais que sejamos importantes na caçada a esses terroristas biológicos, somos uma família agora, Chris! Temos um filho e isso tem de ser levado em consideração!

O atirador de elite abraçou a mulher por trás, beijando-lhe delicadamente o pescoço. Apesar de tudo pelo que já haviam passado, o amor dos dois sempre permanecera firme, e agora não seria diferente. Acalmada por aquela sincera e terna demonstração de carinho, Valentine abaixou a cabeça e, com o olhar fixo no carpete, disse em voz baixa:

         Perdoe-me... Eu sei que você também está sofrendo, afinal... Claire...

Jill sentiu o rosto do amado tomar apoio em seu ombro. Chris geralmente conseguia esconder bem suas emoções, porém o seqüestro da irmã fora-lhe um penoso golpe. Ele dificilmente choraria, era de sua natureza ser assim, mas a esposa sabia que por dentro o ex-S.T.A.R.S. estava dilacerado. Jurara uma vez protegê-la, sempre voltar para ela, e tinha de cumprir suas palavras. Mais um pouco de trabalho e eles chegariam a Burke, conseqüentemente encontrando Claire. O irmão mais velho então moveria céus e terra para fazer justiça. Arriscaria-se a tudo por isso.

 

Claire vagava pelos quase vazios corredores do hospital que lhe eram tão estranhos. Ainda não recebera alta, mas o doutor Hursh permitira que ela deixasse um pouco o quarto para dar uma volta, alegando que o ar fresco lhe faria bem. Circulando pelo prédio, ela concluiu que possuía apenas um andar, e que a maioria das janelas dava para jardins agradáveis e bem-cuidados. Em determinados momentos cruzava com outros pacientes, desde crianças até idosos, e felizmente não reconheceu em nenhum alguma pessoa falecida. Isso a deixou mais tranqüila.

Isso duraria pouco, porém...

Depois de passar por um grupo de enfermeiros que conversavam descontraídos, a irmã de Chris se aproximou da porta de um dos leitos. Junto a ela, um rapaz no final da adolescência ajudava uma senhora, provavelmente alguma avó ou tia, a caminhar rumo ao corredor. Apesar do evidente sofrimento da idosa, o jovem parecia muito feliz em ampará-la, e executava cada gesto com carinho e atenção inquestionáveis. Só então Claire fitou o rosto dele... E sentiu-se petrificada.

Era inconcebível. O cabelo castanho claro, a franja, o mesmo porte de menino rebelde e ingênuo... Como aquilo podia ser real? O pior de tudo é que ele aparentemente não havia envelhecido! Fazia mais de uma década, mas ele ainda conservava seus dezessete anos de idade! Que lugar doentio era aquele que brincava tanto com a sanidade de Claire? Como aquilo tudo que via podia ser explicado?

Bem, talvez não pudesse. Mesmo extremamente confusa e atordoada, a moça resolveu forjar uma aproximação. Não conseguindo conter seu fascínio e descrença, porém, a jovem andou até o rapaz com uma expressão maravilhada e passos incertos, como se estivesse diante de uma entidade sobrenatural. Ele ficou assustado quando as mãos dela começaram a tatear-lhe o corpo de cima a baixo; Claire realmente queria ter certeza de que não estava sonhando. E, fitando aquele par de olhos que ela pensou nunca mais voltar a admirar, aquele brilho jovial que tanto a encantava, ela indagou, quase sem voz:

         Steve?

Surpreso e sem entender nada, o garoto abriu um sorriso e concordou com a cabeça.

 

Alfa e Burke observavam através do vidro. Dentro do laboratório, os cientistas, trajando máscara e vestes cirúrgicas, realizavam uma seqüência de testes com o protótipo, que havia sido retirado de sua câmara e deitado inconsciente sobre uma mesa de operação. Por meio de um sistema interno de comunicação, o doutor Mason fornecia informações sobre os resultados:

         X-Virus administrado às três horas e quarenta e um minutos, estabilidade satisfatória. Taxas de degeneração celular são mínimas.

Os assistentes do pesquisador injetavam seringas de substâncias inibidoras e estimulantes, alternadamente, na corrente sangüínea do mutante. Tudo corria bem; o vírus e o parasita interagiam da maneira desejada. O grande problema aparentemente fora sanado. Todavia, deixar a cobaia mais forte e perigosa teria seu preço...

         Infecção atingiu nível cem por cento, intervenção foi um sucesso. Batimentos cardíacos estão normais e...

Mason foi interrompido pelo grito de susto de um dos auxiliares. Subitamente, o protótipo abriu os olhos, revelando as pupilas totalmente cinzentas.

         Algo saiu errado! – a voz do doutor assumiu tom de puro terror.

O experimento começou a mexer-se rapidamente. Estendendo um dos braços, de imediato perfurou com o punho o estômago de um cientista ao seu lado. Tendo a parte inferior do jaleco pintada de rubro, veio ao chão tendo espasmos e com a boca liberando golfadas de sangue. Os outros pesquisadores recuaram, ao mesmo tempo em que o mutante se sentava sobre a mesa, fitando todos os presentes como um exímio caçador. O soldado perfeito.

Mason correu até a porta do laboratório, digitando freneticamente o código de acesso no painel numérico. Porém, nenhuma das três combinações que tinha conhecimento surtiu efeito e, ao perceber Burke e Alfa sorrindo do lado de fora, constatou que havia sido trancado ali dentro com a criatura. Uma fatal armadilha. Mesmo sabendo ser inútil, sacou uma pistola 9mm. Não morreria sem resistir.

Nisso, um dos geneticistas saltara sobre o monstro brandindo um bisturi, tentando golpeá-lo no pescoço. A espessa pele pastosa do protótipo resistiu à lâmina como se ela fosse feita de papel, e em resposta ao ataque, o especialista foi apanhado pelo inimigo. Este, usando apenas as mãos, separou-lhe a cabeça do resto do corpo. Tingido pelo profuso sangue do adversário, o mutante se voltou para os demais humanos.

Outro pesquisador, agarrado aos berros pelo oponente, teve o corpo dobrado ao meio como se não passasse de uma tira de papelão. Urrando, a cobaia atirou a massa de carne retorcida contra uma parede do recinto, logo depois perseguindo a mulher que fazia parte do grupo. Desnorteada, ela tentou se esconder rastejando para debaixo de uma mesa, porém foi pega pelas pernas, puxada para cima e a arremessada rumo ao teto da sala. Batendo mortalmente a cabeça, despencou em cima do piso já sem vida.

Restara somente Mason. Gritando de fúria, o chefe da equipe começou a disparar com a pistola na direção da aberração que ajudara a criar. Apesar de atingida pelas balas, ela em nada se abalou ou feriu. Notando a aproximação do carrasco e não desejando ter uma morte dolorosa, o cientista traído por Burke colocou o cano da arma dentro da própria boca e puxou o gatilho. Teve o cérebro atravessado pelo projétil e tombou de barriga para cima, enquanto o assassino, no ápice de seu descontrole, procurava mais vítimas. Ao enxergar os dois homens através do vidro, começou a bater compulsivamente nele tentando rompê-lo, mas as camadas reforçadas de blindagem salvaram a vida da dupla. Rindo, Josh retirou um pequeno controle remoto do bolso e pressionou um botão. Isso fez com que uma nuvem de gás amarelado tomasse o laboratório e, afetado pelo composto químico, o mutante perdeu as forças e logo caiu desmaiado.

         Fantástico! – disse Alfa, braços cruzados. – Finalmente conseguimos!

         Sim, como pode ver o poder de Nemesis X é espantoso... – murmurou Burke. – Vou ordenar a Hunk que mande seus soldados limparem essa sujeira e removerem o protótipo, então poderemos analisar os efeitos da simbiose em longo prazo! Enquanto isso, será possível cuidar de outros assuntos...

O superior voltou a sorrir. Sabia do que o comandado estava falando...

 

Bryan estava deveras agitado. Leon pensou em oferecer-lhe um copo d’água ou algo do tipo para que se acalmasse, mas logo achou que seria em vão. Sabia como ninguém o sofrimento pelo qual passava um homem privado da mulher amada. Com os braços apoiados em sua mesa, tornou a perguntar a Jessen:

         Você tem certeza disso?

         Sim, senhor Kennedy. Sherry não volta para casa há dois dias! Ela desapareceu subitamente logo após ter deixado este prédio, de acordo com o que vocês me informaram!

Jill, Chris e Rebecca também se encontravam na sala. Os revezes pareciam nunca terminar. Primeiro Claire, agora Sherry. Mais um rapto, mais uma pessoa querida em mãos perigosas. Haveria sido novamente Burke? Tendo praticamente certeza disso, Leon transformou os pensamentos de todos os presentes em palavras:

         Qual interesse os seqüestradores poderiam ter em Sherry?

         Todos nós sabemos... – Rebecca murmurou desanimada. – Ela possui um vírus raro em seu corpo... Um sombrio legado de seu pai e da Umbrella. Burke seria sensato se tentasse apoderar-se dele!

         Sensato? – Bryan sobressaltou-se, quase partindo para cima da doutora. – Você chama o insano que seqüestrou minha namorada de sensato?

         Calma, amigo! – Redfield interveio. – Nós faremos tudo ao nosso alcance para resgatarmos Sherry e minha irmã! Pode confiar! Foi para enfrentar loucos como Burke que este Departamento foi criado! Assim como ela sobreviveu à Sibéria, Birkin vai sair dessa, Bryan!

Um pouco menos exaltado, Jessen sentou-se numa cadeira e esfregou o rosto. Vinham sendo dias de cão para ele, mal conseguia dormir, e uma aflição intensa se abatia sobre seu coração praticamente o tempo todo. Por enquanto, teria mesmo de confiar em Leon e seus comandados. Não obstante, eram os melhores no que faziam.

 

O rapaz estava incomodado. Aquela misteriosa jovem o seguia há vários minutos pelos corredores do hospital de Heaven Coast. Ele percebeu que ela tentava disfarçar, porém não se saía bem nisso. Por algum motivo causara forte impressão naquela mulher, deixando-a meio que fascinada. Tinha curiosidade em saber a razão, mas não poderia descartar a possibilidade de ela não passar de uma louca.

Cada vez mais irritado, num dado instante o adolescente não conseguiu mais se conter e, virando-se para trás, exclamou nervoso:

         Mas o que é que você quer?

Com os olhos banhados em lágrimas, Claire aproximou-se e disse timidamente, contemplando-o de forma fixa, enorme emoção:

         Apenas ter certeza de que é real... De carne e osso...

Steve não conseguia entender. De onde aquela moça o conhecia? Seria alguma ex-namorada ou “ficante” da qual não se lembrava? Nunca tinha visto aquele rosto, apesar de belo e dotado de linhas tão suaves. Pensou em dizer algo rude para livrar-se dela, porém algo o impedia. Aquela jovem lhe exercia intensa atração, seu coração acelerava quando ela o fitava nos olhos. Um pouco mais calmo, ele perguntou:

         Qual é o seu nome?

         Não se lembra de mim, não? – ela suspirou, desconsolada. – Deus, este lugar é tão estranho!

         Seu nome? – Steve insistiu, dando um sorrisinho.

         Claire! Claire Redfield!

O garoto examinou-a dos pés à cabeça. Era realmente maravilhosa. Não deveria desperdiçar a chance de conhecer melhor uma jovem tão bonita quanto aquela, ainda mais sendo mais velha. E ela demonstrava ter algum tipo de interesse nele. Um interesse forte.

         Pela sua camisola, acredito que esteja internada aqui, certo? – indagou, divertido.

         Sim, mas acredito que o doutor me dará alta em pouco tempo...

         Bem, quando sair daqui, procure por uma oficina mecânica na rua Clinton. Eu trabalho lá. Indo me visitar, talvez eu convença meu chefe a me dar uma folga, aí poderemos tomar um milk-shake, se quiser...

         Eu, eu... Adoraria, Steve!

         Legal! Não deixe de aparecer por lá... Vai poder me explicar como sabe meu nome!

Os dois riram por um momento, sendo que Claire o fez de maneira um tanto tensa e hesitante. Em seguida Steve começou a se distanciar pelo corredor, justificando-se:

         Acho que minha avó terminou de medir a pressão, tenho de levá-la para casa... Até breve!

         Até breve! – a irmã de Chris acenou de modo perplexo, enquanto via o garoto que amava e julgara morto ir embora como um sonho impossível que chega ao fim.

Claire sorriu. Apesar de tudo, ela sabia que ainda não era o final. E, incentivada por essa estimulante certeza, voltou para o quarto.

 

Prédio do FBI, Washington.

O imponente saguão do edifício está praticamente vazio, apesar do eventual movimento de pessoas, em sua maioria trajando terno, entrando e saindo. No chão é possível admirar o imponente emblema da organização gravado sobre o piso em grande tamanho, as palavras “Fidelidade”, “Bravura” e “Integridade” ressaltando o trabalho de seus integrantes.

Atrás de um balcão de mármore, uma recepcionista bem vestida e usando crachá está distraída num computador, quando alguém se aproxima. Voltando a cabeça, a mulher vê um recém-chegado homem moreno vestindo uniforme azul encostar-se à fria superfície de pedra. Ele também usava um crachá, no qual havia, além de seu nome e foto, o nome de uma suposta empresa chamada “Columbia Computers”.

         Boa tarde, posso ajudá-lo? – perguntou gentilmente a funcionária.

         Sim, senhorita – respondeu o sujeito, inglês carregado de sotaque latino. – Vim aqui para restaurar os “backups” do diretor do bureau!

         Como? – a jovem franziu as sobrancelhas.

         Você não soube? Algum desastrado apagou os arquivos pessoais do seu diretor! O “Tetris” dele foi excluído! Você não imagina como ele ficou zangado, telefonou para nossa empresa exigindo que restaurássemos o joguinho, incluindo o placar de pontuações! O cara se gaba por ter alcançado os cem mil pontos...

         Tetris? Do diretor? Tem certeza disso? Ninguém me disse nada!

         Bem, um homem na posição dele não costuma falar sobre seus passatempos...

         Eu preciso verificar na agenda... Talvez comunicá-lo em seu gabinete!

         E correr o risco de revelar a ele que mais alguém tomou conhecimento do Tetris dele? Acredite, esta é uma operação sigilosa, senhorita. E você tampouco vai encontrar algo agendado...

Enquanto conversavam, uma mulher de óculos escuros, casaco, chapéu e sapatos de salto alto, todos pretos, cruzava discretamente o saguão, dirigindo-se até um dos elevadores. Ela entrou num deles e sumiu, ao mesmo tempo em que a recepcionista indagava ao visitante, confusa:

         E como você vai restaurar esses backups?

         É uma tarefa muito simples, tenho tudo gravado em CDs aqui comigo, posso fazer isso através do próprio terminal de computador que você está usando, pois vocês possuem uma rede interna!

A funcionária ainda estava desconfiada, mas aquele latino parecia ser honesto, além de bastante atraente... Assentindo com a cabeça, ela levantou-se de sua cadeira, dando espaço para que o técnico passasse pelo balcão e se acomodasse diante da máquina.

         Isto não vai levar muito tempo... – murmurou ele, fazendo exercícios com os dedos antes de começar a clicar e digitar.

 

A figura feminina se esgueirava pelos corredores do prédio. Rápida, furtiva, sem atrair olhares alheios. Ela era uma espiã, habituada a esse tipo de trabalho. Já lidara com o FBI no passado e tinha experiência. Após cruzar um corredor e passar por dois agentes federais que nem notaram sua presença, parou diante da porta que procurava. Era feita de vidro, e olhando através dela, pôde visualizar uma espécie de sala de monitoramento de informações repleta de computadores enfileirados, sendo que apenas três terminais, distantes uns dos outros, eram utilizados no momento. Perfeito. Empurrando a maçaneta silenciosamente, Ada ganhou o recinto.

Deu alguns passos muito discretos e sentou-se na frente de um dos aparelhos, ligando-o ao pressionar levemente um botão no HD. A máquina foi carregada e surgiu uma tela de “log-in”, exigindo nome de usuário e senha. Dentro da rede interna do FBI, cada agente possuía uma conta própria onde podia armazenar seus arquivos e fazer o que bem entendesse. O objetivo de Wong era acessar uma delas. Talvez a mais importante. Se tudo corresse conforme o planejado, o “Firewall” do sistema seria desativado temporariamente logo que Carlos inserisse um dos CDs no terminal da recepção. Ada teria cinco minutos para encontrar o que queria e então enviar a si própria via e-mail. Uma missão quase impossível.

Mas ela era Ada Wong.

Retirou os óculos escuros e, rapidamente, começou a digitar:

 

NOME: Ernest Adams

SENHA:

 

Qual seria a senha? Ada conhecia o misterioso agente Adams o suficiente para tentar alguns palpites... Primeiramente, tentou “Biocom”.

 

SENHA INCORRETA.

 

Não... Talvez algo mais pessoal. Adams era um homem de cicatrizes visíveis e invisíveis. Mordendo os lábios, Wong tentou “Judy Williams”. A falecida namorada do agente.

 

SENHA INCORRETA.

 

Era a última chance de Ada. Se houvesse três inserções incorretas de senha, em qualquer terminal, o sistema seria bloqueado e um alarme silencioso, ativado. Sorrindo de leve, a espiã concluiu que não conhecia tão bem o coração de Ernest... Digitou uma nova palavra, certa de que agora funcionaria... “Rosemary”.

 

SENHA CORRETA.

 

Ótimo! A tela de log-in cedeu lugar à área de trabalho da conta de Adams, com um papel de parede possuindo o símbolo do FBI num fundo branco. A intrusa começou a percorrer com os olhos as várias pastas referentes aos diferentes casos do agente federal. Existiam coisas extremamente interessantes e informações muito valiosas ali, mas o tempo era curto e Ada não podia se desviar de seu objetivo. Resoluta, clicou na pasta “Josh Burke”.

 

(Clique neste link para visualizar o desktop do agente Adams: http://www.flickr.com/photos/28120192@N05/2626141474/sizes/o/in/set-72157605908162815/)

 

Surgiu uma infinidade de arquivos, desde depoimentos até mapas e diários transcritos. Wong selecionou tudo, reunindo as evidências num arquivo compactado, que tratou de enviar para seu e-mail falso. Os minutos corriam velozmente, e logo o Firewall seria reativado. Uma barra de progresso surgiu na tela, indicando a anexação do conteúdo. O pior era que aquilo levaria dois ou três minutos.

Impaciente, Ada tentou dissimular seu nervosismo. Os demais operadores na sala nem haviam percebido sua chegada, atentos às telas de seus computadores. Depois de instantes de intensa angústia e temor em relação a um irreparável fracasso, a tarefa foi concluída e a descendente de orientais mandou o e-mail com um clique. Em seguida fez log-out, desligou o PC e deixou o local tão sorrateira como antes...

 

A recepcionista observava intrigada o trabalho de Carlos no terminal do saguão. Aproximadamente cinco minutos depois de ter começado, o sul-americano retirou o último CD, informando à jovem:

         Pronto, todos os arquivos foram restaurados! Seu chefe ficará contente!

         Você é mesmo bom nisso – sorriu a funcionária, passando uma das mãos pelos cabelos loiros. – Eu vivo tendo problemas com meu computador de casa, talvez uma hora dessas você quisesse... Dar uma olhada nele...

         Eu adoraria, senhorita – sorriu Oliveira, levantando-se. – Foi um prazer! Agora preciso ir, parece que o Secretário de Defesa acidentalmente apagou o “Arkanoid” de seu computador!

A moça deu uma risadinha e observou o simpático técnico de informática sair do prédio, sendo que ele quase esbarrou numa agente ruiva perto da porta. Encantada com o latino, a recepcionista, aos suspiros, voltou ao trabalho no PC do balcão, e nem viu quando a mulher de roupas e chapéu negros de antes passou novamente pelo hall, deixando também o edifício...

 

Continua...


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