Nemesis X: A Guerra Secreta escrita por Goldfield


Capítulo 15
Capítulo 14




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Capítulo 14

 

Nemesis X.

 

Chris dirigia o carro de volta pela estrada que ligava a prisão federal a Washington, quieto e compenetrado. Jill também não pronunciava palavra alguma, nem ao menos voltando a cabeça para o marido. A conversa com Spencer os abalara de um modo que não conseguiriam explicar muito bem. Saber da existência de uma conspiração envolvendo um membro perdido da cruel família Ashford, ainda por cima com um insano plano de dominação mundial...

A babá que cuidava do pequeno Barry ligara há pouco. Tudo se encontrava bem em Filadélfia, pois a cidade não fora um dos alvos primários dos T-00. Mesmo com a mensagem repleta de alívio, os pais da criança não conseguiram se tranqüilizar... Havia algo de angustiante no ar, como se algo horrível estivesse prestes a acontecer.

O casal deixou seu confuso transe quando o rádio do veículo emitiu um apito. Redfield pressionou um pequeno botão no aparelho e falou em voz alta, para que suas palavras pudessem ser captadas pelos microfones instalados no interior do transporte:

         O que é, Bruce?

         Vocês não vão acreditar... – McGivern parecia bastante eufórico. – Os Tyrants estão explodindo! Simplesmente estão explodindo pelo mundo afora!

         Como assim? – estranhou Valentine, já que a notícia era no mínimo esquisita.

         Eles estão se autodestruindo por algum meio... Talvez quem estiver controlando-os deve ter desistido do plano!

Os dois ex-membros do S.T.A.R.S. lembraram-se de uma das frases de Spencer: “Eu duvido que todos sob seu comando concordem com esse ponto de vista...”. Será que algum dos comandados de Arnold Ashford resolvera desbancá-lo de sua posição, colocando seus intentos a perder? Ou não passava de algum tipo de falha no possível sistema que controlava aqueles Tyrants?

         OK, acho que compreendemos – respondeu Chris. – No entanto, permaneçam em alerta. Ainda pode existir alguma ameaça à espreita!

         Entendido! – Bruce encerrou a comunicação.

E Redfield não fazia idéia do quanto estava correto em sua colocação: mal o chiado no rádio se encerrou, Jill avistou algo no céu, um pouco à frente de onde se encontravam: um grande helicóptero de carga, sem qualquer identificação. Sentiram de súbito um mau pressentimento: de alguma forma, sabiam que não se tratava de uma aeronave amiga. Isso ficou claro quando um compartimento na parte inferior desta foi aberto e, após segundos de gigantesca tensão, Chris sem saber se freava o carro ou se acelerava ainda mais e a esposa sentindo-se zonza devido ao nervosismo, uma cápsula laranja de cerca de três metros de altura foi despejada sobre a estrada. A queda foi rápida, o pesado artefato afundando e rachando parte do asfalto ao seu redor logo que se cravou no solo. Uma espessa cortina de poeira foi erguida, alguns pássaros desavisados nas árvores próximas voando para longe...

O irmão de Claire por fim venceu a indecisão e agiu, afundando um dos pés no freio do carro. Os pneus cantaram, o cinto de segurança comprimindo o tórax de Valentine graças à inércia. Ela por um momento achou que ia vomitar. O motor do veículo emitiu sons que lembravam rugidos: estava fervendo, talvez fundido. Só depois de verificar tanto a si quanto à amada, temendo ferimentos graves e ficando aliviado ao constatar que não os possuíam, Redfield olhou para frente... Para o que quer que houvesse adiante...

Era mesmo uma cápsula, sem dúvida alguma. Permaneceu do mesmo jeito por alguns instantes, imóvel, imutável... Até que foi ouvido um sutil som, porém incrivelmente aterrador... Uma espécie de abertura surgiu no inusitado meio de transporte, parte da carapaça deslizando para cima... Liberando fumaça, uma espécie de vapor, de provável origem criogênica... O casulo fora rompido!

Chris e Jill, petrificados, olhos fixos na cena, corações pulsando a ponto de estourarem seus peitos, instintivamente esticaram os braços... Unindo suas mãos. Um movimento involuntário, mas de grande significado. Eles se protegeriam, eles escapariam daquele perigo. Amavam-se mais do que tudo, e se viessem a morrer, morreriam unidos.

Um pé deu o primeiro passo para fora do invólucro, coberto por uma bota preta. Valentine imediatamente se lembrou de um dos piores inimigos que tivera de confrontar durante sua fuga em Raccoon City: Nemesis. Já não bastava a experiência na Sibéria pouco tempo antes? Será que ela teria de enfrentar mais uma vez aquela criatura horrenda?

O ser monstruoso saiu por completo de dentro do cilindro: seu corpo era totalmente revestido por um traje negro, exceto a cabeça. Uma grossa armadura da mesma cor protegia-lhe o tronco sem, entretanto, lhe prejudicar os movimentos. As poucas partes expostas de sua pele revelavam um tecido pastoso, repleto de costuras...

O rosto. Seu rosto... Conforme o mutante caminhava lentamente rumo ao carro, reduzindo cada vez mais a distância de poucos metros que o separava dele,  Jill e Chris puderam examinar com atenção os perturbadores contornos faciais do oponente... Os olhos eram de um cinza dominante, entristecedor... E mesmo com os remendos e cicatrizes, mesmo com a distorção causada pelos maléficos experimentos, aquele semblante era absurdamente familiar para o casal... Este, assim que comprovou a primeira impressão que tivera, achou aquela situação repugnante, desumana, hedionda, sádica ao extremo.

Os dois amantes apertaram ainda mais as mãos... A criatura chegando mais e mais perto...

 

O grupo fugitivo, guiado por Ada, adentrou a sala de estratégia que Arnold antes utilizara para coordenar seus ataques pelo mundo. Os operadores já haviam debandado: a última coisa que queriam era perder suas vidas na iminente explosão. E em meio aos prisioneiros libertos a opinião era a mesma.

         O que estamos fazendo aqui, não devemos procurar uma saída? – indagou Krauser, impaciente.

         Acalme-se... – pediu Wong com voz suave, sentando-se diante de um dos computadores ligados. – Segundo a Red Queen, a contagem terminaria em dez minutos e, pelos meus cálculos, ainda temos cerca de quatro!

         E o que há de interessante aqui? – quis saber Carlos, debruçando-se sobre a bancada com os monitores.

         Os idiotas que estavam aqui saíram correndo sem nem mesmo efetuar log-off do sistema! Vejam, tudo está ativado e acessível a qualquer usuário! É a chance de obtermos todos os dados sobre as operações realizadas por Burke e seu manda-chuva nos últimos anos! Deve haver também arquivos secretos da Umbrella neste sistema, coisas que sobreviveram à queda da empresa! Não acham se tratar de informação importante?

Todos olhavam atônitos para a espiã, enquanto ela apanhava um DVD virgem presente perto de um dos computadores e, inserindo-o na máquina diante de si, preparava-se para gravar nele todo o banco de dados daquele complexo, o famigerado histórico da Red Queen. A tarefa começou a ser executada, a barra de progresso na tela indicando que levaria um minuto para que a operação fosse concluída, enquanto os nomes dos arquivos gravados surgiam tão rápido quanto desapareciam:

 

Gravando...

 

magnum_virus.dat

nikki_lee.dat

b-virus.dat

viktor_valentine.dat

atlantis_project.dat

 

         Um minuto? – Jack estava inconformado. – Acha que temos tanto tempo disponível assim?

         Se quiser, pode ir à frente, meu caro... – disse a espiã, sorrindo astuta enquanto digitava no teclado. – Duvido que conseguirá ir muito longe sem mim!

Ninguém disse mais nada, esperando silenciosos enquanto a oriental concluía seu trabalho. Sherry, por sua vez, olhava para as paredes e o teto, mas sua mente não se encontrava ali... E sim perdida em lembranças, devaneios... Esperança.

 

Ele continuava a se aproximar.

Chris e Jill demoraram a perceber a arma que trazia às costas: uma grande metralhadora giratória. Tomados pelo horror, também notaram outros detalhes macabros como os tubos enfiados atrás de seu pescoço, os espasmos em seus membros... Mas o pior continuava sendo a face, aquele rosto conhecido do qual agora teriam de escapar... Ou então destruí-lo.

Não conseguiam compreender como aquilo era possível, como aquela pessoa havia sido convertida num Nemesis, numa máquina de matar. Teria a Umbrella ou Arnold Ashford feito algum tipo de experiência com o cadáver encontrado na Amazônia? Haviam sido inescrupulosos a tal ponto? Ou o teriam clonado a partir de uma amostra de DNA? De qualquer forma, o casal sabia que aquilo fora orquestrado especialmente para eles. Era uma espécie de vingança pessoal, uma forma de traumatizar os que sempre combateram o risco de incidentes biológicos... Estava ali, na frente deles. A artimanha final do último dos Ashfords.

O Nemesis tinha a aparência de Barry Burton. Isso se não fosse o próprio. O companheiro fiel, o pai de família, o colega morto por Wesker... O bravo combatente com cujo nome Redfield e Valentine haviam batizado seu filho. Fora convertido agora num monstro, um assassino impiedoso. O que eles poderiam fazer? Haveria opção?

         Saia do carro, Jill! – gritou Chris, já abrindo a porta. – Saia do carro agora!

A voz dele pareceu despertar o inimigo, que retirou a metralhadora das costas. Posicionou-a na altura da cintura e, sem demonstrar ódio, remorso ou qualquer outra emoção, disparou uma longa rajada contra o veículo. Os vidros e faróis se estilhaçaram, os pneus murcharam, as poltronas se transformando em montes irreconhecíveis de espuma... Até que o tanque de gasolina se incendiou, e todo o carro foi pelos ares.

A carcaça saltou e depois voltou a tocar o chão, dominada pelo fogo. Nemesis X ficou alguns segundos parado, admirando sua ação, sempre inexpressivo. Percebera que os dois ocupantes do alvo haviam pulado cada um para um lado, buscando agora abrigo na floresta, porém fingiu não notar. Era parte de seu método de intimidação. Parte de seu programa. Quando achasse ser o momento certo, ele partiria no encalço deles...

 

A luta prosseguia, incessante, sangrenta.

Arnold golpeava o oponente com fúria, queria varrer completamente sua existência. Josh escapava rápido dos músculos do adversário, esquivando-se, abaixando-se. Liquido vermelho respingava, portas eram amassadas, vidros eram quebrados... As luzes de alerta piscavam sem cessar, e a Red Queen, cujos sensores se concentravam no embate entre os dois mutantes, anunciou friamente:

         Faltam três minutos para a incineração! Pessoas não-infectadas devem se dirigir imediatamente até as saídas de emergência!

 

O grupo de Ada Wong subia por mais escadas, quase tropeçando nos degraus... A tensão só aumentava. A espiã trazia consigo o DVD que acabara de gravar na sala de estratégia: os segredos de Arnold Ashford eram agora seus. Só precisavam sair dali. E tinham pouco tempo.

         Para onde estamos indo, afinal? – indagou Krauser. – Para a superfície?

         Eu acho que nem ela sabe direito... – murmurou Coen.

 

O casal Redfield mal respirava com medo de que o monstro ouvisse o som, mesmo sendo tão baixo.

Chris se encontrava apoiado de costas junto ao tronco de uma árvore, sendo que sua mulher também buscava refúgio atrás de uma outra, a alguns metros de distância. Mesmo com o grande ímpeto que um tinha de proteger o outro, eles sabiam que permanecer juntos não seria a melhor estratégia naquela situação extrema.

Quem diria... O velho Barry Burton, do qual sentiam tantas saudades, transformado em uma... Aberração!

         Jill... – chamou Chris num sussurro, temendo a aproximação da ameaça.

         Sim?

         O que você tem?

         Uma Beretta com apenas um pente de munição... Foi tudo que consegui pegar antes de saltar do carro... E você?

         Apenas uma faca...

Seguiu-se o silêncio, os únicos sons provindo da fauna da floresta e do ligeiro crepitar das chamas na carcaça do carro em que antes se encontravam. Não ouviam mais nada, muito menos passos... Será que aquele Nemesis conseguia ser furtivo a tal ponto? Ou o mutante não os conseguira rastrear?

         Irônico, não acha? – o irmão de Claire sorriu. – Estamos tão equipados quanto quando nos vimos presos na casa de Spencer!

         Não conseguiremos nem ferir aquela coisa assim... E confesso que não sei se eu ao menos seria capaz...

O marido de Valentine expôs o rosto para fora do esconderijo para poder lançar-lhe um firme olhar, dizendo pausadamente e com relativa gravidade:

         Querida, aquele não é mais o Barry... Barry Burton morreu bravamente em ação em meados de 2004. Aquilo é apenas um joguete do desgraçado do Ashford. Uma tentativa de nos abalar.

Ele tinha razão. Arnold venceria daquela maneira. Teriam de ser fortes e resistir, a qualquer custo. Lutar para aniquilar aquele Nemesis... Nemesis X, a arma biológica perfeita concebida pelos herdeiros da Umbrella.

VAPT!

Súbito, algo surgiu, estralando feito um chicote. Difícil de identificar no início, mas possuía uma coloração roxa. Eram como cipós, cabos... Tentáculos, os tentáculos do monstro! Estendidos por quase cinco metros, pareciam debater-se entre as árvores à procura da presa, até que a encontraram. Jill teve o pescoço envolvido com força por eles, como se fossem serpentes famintas. Comprimiam violentamente sua garganta e, arfando enquanto tentava em vão se livrar deles com as mãos, Valentine se deu conta de que não conseguia mais respirar.

         Jill, Jill! – gritou Chris, partindo desesperado em socorro da esposa.

Redfield apanhou sua faca, correndo na direção do mutante e seus temíveis tentáculos. Mesmo tendo se aproximado mais, Nemesis X continuava prendendo o pescoço de Jill à distância, os prolongamentos de seu braço esticados como se ele não desejasse manchar-se com o sangue de sua vítima. A mulher tentava sacar a Beretta e disparar contra o algoz, porém não tinha forças... Sua visão começava a ficar opaca enquanto fitava o rosto frio de seu agressor, tendo a triste sensação de que estava sendo morta pelo próprio amigo Barry.

Chris investiu, golpeando com a faca os tentáculos assassinos. Todavia, a lâmina não conseguiu nem cortá-los superficialmente: eram incrivelmente resistentes. O atordoado marido tentou de novo, e de novo, mas o esforço era inútil. Não conseguiria rompê-los, e Jill, sem ar, já estava prestes a perder a consciência.

Sem outra opção, Redfield avançou na direção do inimigo em si, brandindo a faca para nele cravá-la... Porém, com seu braço livre, Nemesis X também o apanhou pelo pescoço, erguendo-o do chão e efetuando tamanha pressão com os dedos que os ossos logo abaixo da cabeça de Chris estalaram, quase a ponto de quebrarem.

         J-Ji-Jill... – chamou ele, voz sumida e sufocada, um dos braços se levantando na direção da amada, mas incapaz de livrá-la da morte certa, e muito menos livrar a si mesmo.

Parecia ser o fim para os dois.

 

A escadaria terminava numa espécie de guarita totalmente fechada, já na superfície. A estrutura fora construída depois da destruição de Raccoon, sem dúvida. O grupo deduziu que a saída para o exterior consista na grande porta de metal reforçado que ali havia. Além dela, porém, existiam algumas outras salas anexas a serem exploradas.

Carlos e Sherry correram para uma delas, na esperança de encontrarem algo que os salvasse, e se encheram de alívio assim que adentraram uma espécie de vestuário no qual, pendurados junto às paredes, havia cerca de dez trajes de proteção contra radiação.

         Pessoal, venham ver isto! – chamou o brasileiro.

Os demais também entraram e todos começaram a se vestir com as roupas que faziam parte do passaporte para fora dali. Instantes depois caminharam até a saída ainda fechada, parando diante dela sem que ninguém operasse o painel logo ao lado com o intuito de abri-la. Krauser se manifestou:

         OK, estamos a salvo da radiação, mas e quanto aos mutantes lá fora? Se tentarmos fugir a pé, seremos massacrados antes de chegarmos aos limites da cidade!

         E prefere ficar aqui para morrer na explosão? – mais uma vez, era Ada quem expunha a gravidade das circunstâncias.

Jack não prosseguiu com seu argumento, cabendo a Billy andar até os controles da porta e ativá-la depois de acionar algumas alavancas. O pesado obstáculo foi removido lentamente, fazendo todo o lugar tremer conforme subia até o teto, desaparecendo por completo do caminho. Lá fora, a paisagem pós-apocalíptica de Raccoon City mais uma vez fazia-se ver. Separado dela por uma improvisada cerca feita de entulho, havia um rústico heliporto logo à frente da guarita, certamente utilizado para facilitar o acesso ao complexo subterrâneo por seus funcionários. Aqui e ali existiam placas informando que aquela era uma área restrita sob controle do governo dos EUA... Mal sabiam os figurões das atividades ilegais realizadas bem debaixo de seus narizes... Ou será que sabiam?

Entretanto, os fugitivos nem perceberam esse fato curioso, rumando de imediato para um helicóptero soviético Mil Mi-26 ali pousado, provável resquício dos tempos em que Sergei Vladimir e Nicholai Zinoviev eram nomes dotados de grande poder dentro da Umbrella. Ao longe e ao redor, os berros estridentes dos Hunters podiam ser ouvidos. Já que a sorte sorrira mais uma vez aos sobreviventes, tinham a obrigação de escapar dali o mais breve possível.

         Eu piloto! – exclamou Oliveira, que já tinha experiência com aquele tipo de transporte.

Ninguém se opôs, todos embarcando na grande aeronave. Dentro havia várias caixas e engradados de metal contendo o símbolo de perigo biológico, nenhum dos ocupantes desejando descobrir o que havia dentro delas. Enquanto Carlos se dirigia até a cabine de pilotagem, Sherry, antes que a porta do helicóptero se fechasse, olhou uma última vez para fora, notando a presença no heliporto de um pesado veículo terrestre blindado, oito rodas, procedência militar. Será que também estava sendo usado pelos guardas das instalações... Ou por mais alguém que resolvera infiltrar-se nelas?

 

O embate selvagem tinha continuidade nos corredores salpicados de rubro do complexo. Os dois gladiadores mutantes estavam praticamente destruídos, acabados. Ashford tinha boa parte das vísceras expostas através de cortes profundos causados pelas garras de Burke, e este, por sua vez, tinha quase metade dos ossos do corpo quebrados, alguns até visíveis em fraturas grotescas. Trocaram mais golpes, feriram-se mais, rolaram pelo chão... Até que Josh, num movimento rápido, finalmente derrubou o adversário, abaixando-se sobre seu tórax e encostando a ponta das garras em seu pescoço.

         Eu venci, Arnold!

         Nunca se vence um Ashford, seu cão traidor! – murmurou o loiro, ofegante e suado. – Eu nunca morrerei por suas mãos!

De fato.

Seguiu-se uma intensa explosão de luz, e os joelhos de Burke, que estavam apoiados sobre o oponente, queimaram. Ele ergueu-se por reflexo, enquanto observava, para seu espanto, o corpo de Ashford se converter num amontoado de cinzas fumegantes, logo após ser consumido por uma estranha corrente de energia azulada. Depois ergueu os olhos. Logo adiante, no corredor, havia um corpo feminino trajando o uniforme negro dos soldados do complexo, o emblema da Umbrella costurado nos ombros e um capacete cobrindo-lhe por completo a cabeça. Segurava, com ambas as mãos, um “Linear Launcher”, a poderosa arma de impulsos eletromagnéticos criada pela empresa como último recurso de contenção para experiências descontroladas.

Parte das pernas de Josh estavam carbonizadas devido ao contato com o corpo que se desintegrara, mas ele não sentia mais dor. De pé, cambaleante, tudo que ele sentia naquele derradeiro momento era dúvida.

         E você, é? – ele perguntou naturalmente, como se estivesse recebendo alguém para o chá.

A mulher incógnita retirou o capacete, atirando-o ao chão. A peça rolou até os pés de Burke, sujando-se com as cinzas de Arnold pelo caminho. Ele apanhou o artefato com as mãos antes de voltar a fitar a personagem, como se não tivesse pressa em identificá-la... Quando finalmente o fez, admirou seus belos e sedosos cabelos castanhos, o rosto jovial de uma linda moça que acabara de deixar a adolescência. Sim, ele sabia quem era ela! Como a esqueceria?

         Você! – Burke sorriu.

         Vincent... – a garota disse com fúria, quase gemendo. – Você matou meu irmão!

Lily Klein aproximou-se alguns passos, a arma apontada para o grande assassino da Ilha Sheena. Incidente horrendo do qual ela e o irmão haviam sido dois dos poucos sobreviventes. O intenso ímpeto de vingança era perceptível na fisionomia da jovem, em todos os seus movimentos. Ele matara Lott. Usara-o e se descartara dele covardemente. Agora ele pagaria. Pagaria muito caro, com sua deplorável vida.

         Então veio ter sua revanche justo agora? – Burke não perdia a pose. – Poderia ter vindo antes, assim eu sofreria mais!

         Eu o estou investigando há meses... Consegui me infiltrar neste laboratório sem que ao menos suspeitasse! Acha que a Red Queen ativou a autodestruição automaticamente? Depois de alguns episódios virais ocorridos pelo mundo, a Umbrella resolveu diminuir o poder de decisão embutido na inteligência artificial dela... Fui eu quem preparou este cenário, Vincent!

         Vejo que fez sua lição de casa...

Nisso, a Red Queen anunciou faltar apenas um minuto para a total incineração do complexo. Não haveria mais tempo para que ninguém o deixasse. Todos os que ainda se encontrassem nele estavam automaticamente condenados.

         Você não vai sair viva daqui, mas acredito que saiba muito bem disso... – falou Josh, despreocupado.

         É claro que sei. Planejei tudo minuciosamente. Depois que você foi responsável pela morte dos meus pais em Sheena, Lott era a única família que me restava. Até que você também o tirou de mim. Agora não tenho mais ninguém, tampouco alguma razão para continuar vivendo. Apenas minha vingança.

Burke riu. Riu insanamente. Ele realmente não esperava morrer daquela forma, porém achava a situação divertida. Como a vida era cheia de surpresas! A menininha desamparada da ilha que outrora comandara viera, anos depois, dar-lhe um fim definitivo, transformar-lhe em pó.

         OK, vamos em frente! – pediu ele, sem livrar-se do sorriso. – Vai ser rápido, de qualquer forma...

Com os olhos cheios d’água, Lily disparou o Linear Launcher... A carga de energia deslocou-se velozmente até o inimigo, propagando-se por todo o seu corpo. Em meio a um estranho cheiro que remetia a algo queimando e ao mesmo tempo ao ambiente esterilizado de um hospital, Josh Burke, antes Vincent Goldman, transformou-se num amontoado de cinzas, sem que gritasse, gemesse ou mesmo perdesse a expressão satisfeita em seu rosto doentio.

Em seguida, tendo as mãos trêmulas, Klein largou a arma e cerrou os punhos, mantendo a firmeza de suas intenções. Fitando vagamente as luzes vermelhas de alerta, ela baixou a cabeça, fixando os olhos nas próprias botas. Desse modo, quieta e um tanto serena, esperou até que a morte chegasse. Ela não se importava mais, já que sua vida na verdade já havia sido destruída mais de dez anos antes, quando ainda era uma inocente criança... Destruída pela Umbrella.

 

A explosão do complexo subterrâneo abalou ainda mais os já arruinados alicerces de Raccoon City, fazendo outros vários pontos da cidade afundarem no solo. Uma incrível quantidade de poeira se ergueu, a terra estremeceu. Os sismógrafos da Califórnia pensaram talvez se tratar de um terremoto, já que o impacto gerou vibrações a alguns quilômetros de distância de seu epicentro. Por fim a última mácula de uma corporação vil, a derradeira mancha de experiências desumanas conduzidas por pesquisadores malignos, era varrida dos destroços onde milhares de pessoas haviam sido exterminadas...

 

Nota: Como talvez puderam perceber, neste capítulo homenageei alguns ficwriters de Resident Evil que admiro muito. São eles, na ordem:

 

black_rose

Red Queen

The Licker-Crow

BloodCold

Raphael_Redfield

 

Continua...


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