Nemesis X: A Guerra Secreta escrita por Goldfield
Capítulo 13
Derrocada.
Leon e Ark apontaram suas armas, mas o indivíduo, mesmo estando de mãos vazias, não demonstrou preocupação. Muito pelo contrário: deu uma demorada risada, zombando dos dois inimigos. Eles achavam que poderiam detê-lo com meras balas!
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Eles não faziam idéia de seu poder, da força de seu ímpeto. Aqueles intrusos ousaram invadir seu complexo e pagariam com a vida. Assassinaria-os com suas próprias mãos. Deu um passo na direção dos oponentes, estes estando prontos para revidar pressionando os gatilhos... A tensão era nítida e intensa.
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As cabeças se voltaram para o ponto no corredor de onde viera a voz. Depararam-se com Josh Burke, extremamente pálido, corpo e vestes ensopados de suor e o buraco em sua nuca estando bem perceptível, sendo que era possível enxergar através da abertura quando abria a boca. Uma visão bizarra.
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De fato, até mesmo Ashford, rígido e quase sempre inexpressivo, demonstrava leve assombro diante do estado de Burke. Leon compreendia menos ainda a situação, porém tinha uma teoria... A qual Josh logo confirmou:
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Em seguida, num gesto de vitória, Josh tirou de um dos bolsos um pequeno controle remoto. Arnold franziu as sobrancelhas, Ark e Leon também fitando intrigados o pequeno artefato... Será que...
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A astúcia de Burke era tremenda. Ele passara para trás a tão inteligente criação de Alexander Ashford. Era ele quem estava no comando agora, quem assumia as rédeas. Nascera para isso, e sempre lutara para tal. Por quaisquer meios. Completou sua revelação dizendo:
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Click!
Paris.
Os helicópteros de ataque franceses estavam com os T-00 em suas miras, os pilotos prontos para lançarem mísseis. Blanc, Graven e Robinson, junto com alguns civis desnorteados, não sabiam para que lado correr. E sentiram-se ainda mais acuados quando toda a avenida estremeceu com o peso de uma coluna de tanques de combate que se aproximava.
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Súbito, veio a primeira explosão. O grupo se abaixou por instinto, pensando que algum dos veículos havia disparado. Os militares também ficaram assustados, já que nenhuma de suas unidades investira! Seguiu-se outro estrondo, e outro... Até que todos perceberam, para seu grande espanto... Que os mutantes estavam se autodestruindo!
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Sim. Aparentemente sem explicação, os gigantes de verde eram subitamente consumidos por bolas de fogo, um a um... Geradas a partir de seus próprios corpos. Seguiram-se mais explosões, chamas se erguendo dos cadáveres... E logo todos os Tyrants na cidade haviam sido eliminados.
Xangai.
O furgão dirigido por Dylan seguia a toda velocidade pelas ruas centrais. Na traseira, Regina, abaixada de modo ao lança-granadas ficar apoiado sobre uma de suas pernas, disparava contra os T-00 que surgissem em seu campo de visão. O Exército do país já entrara em cena e fazia o possível para liquidar as criaturas... Quando elas começaram espontaneamente a explodir.
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Botsuana.
Sheva e Elena haviam encontrado dois caminhões da Cruz Vermelha, ou que pertenciam a ela somente como fachada, estacionados perto da aldeia. As duas jovens carregaram todos os doentes para as carretas, com o intuito de transportá-los para um local seguro. Quando as duas se sentaram nas cabines, prontas para irem embora... Cerca de uma dezena de monstros carecas, iguais ao que haviam enfrentado na estrada, surgiram no alto de uma elevação logo à frente.
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A saída seria dirigir o mais rápido possível para longe dali... Todavia, uma gentil obra do destino tranqüilizou as moças: sem causa aparente, os terríveis mutantes começaram a explodir, a evaporar em meio a nuvens de fogo!
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Washington.
Do alto do último andar do Departamento de Perigo Biológico, os combatentes e funcionários assistiam com júbilo à destruição dos Tyrants nas ruas como que por mágica. Misteriosas explosões consumiam seus corpos, aniquilando totalmente a ameaça que representavam. Quem estaria por trás daquilo?
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Arnold não acreditava. Seu plano, seu projeto... Tanto tempo de preparativos, cuidados, espera... Arruinados pelo maldito Vincent Goldman. Josh Burke. Um maldito traidor. Fora derrotado por alguém que estivera o tempo todo sob seu próprio comando. Mas nunca era tarde demais... Ainda poderia reparar seu erro... Aniquilando-o.
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Dizendo isso, agarrou seu sobretudo com as mãos e rasgou-o ao meio sem exercer muita força, o tecido partido vindo ao chão. Nu da cintura para cima, Arnold agora tinha à mostra seus músculos extremamente bem-delineados, que pareciam pulsar devido à raiva que sentia naquele momento. Josh, por sua vez, desatou mais uma vez a rir, enquanto começava a suar com ainda mais intensidade... Súbito, seu braço direito começou a ter espasmos... E, num processo grotesco, parte do membro pareceu ser virado do avesso, o tecido muscular ficando à mostra enquanto seus dedos desapareciam, dando lugar a quatro afiadas garras feitas de osso.
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Berrando, Ashford partiu para cima do inimigo e, a golpes violentos, os dois iniciaram uma luta encarniçada, logo desaparecendo numa curva do corredor, apesar dos sons do combate ainda poderem ser ouvidos. Leon e Ark ainda estavam atônitos e sem reação diante da rapidez dos eventos, e por um momento acabaram se esquecendo da porta... Agora estavam livres para abri-la.
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Eles iam abrir aquela porta.
Claire Redfield caminhava desolada pelas ruas de Heaven Coast, com suas casinhas brancas e pessoas felizes. E essas mesmas pessoas agora pareciam ignorá-la completamente. Era como se ela não existisse. E ter descoberto que tudo aquilo não passava de um mundo artificial, um grande campo de testes biológicos, a deixava ainda mais deprimida. Até Steve... Não, aquele não era Steve, e sim apenas um clone criado com propósitos desumanos...
Tudo revelado por um homem cruel que lhe era terrivelmente familiar. Quem seria? Desolada, a irmã de Chris vasculhava os mais profundos arquivos de sua mente na tentativa de se lembrar. Até que... Rockfort... Os gêmeos... Será que? Não, não era possível!
Ao mesmo tempo em que teve esse pensamento, uma devastadora dor de cabeça imediatamente atingiu Claire, impossibilitando-a até de continuar de pé. Caindo de joelhos sobre o asfalto, mãos na testa, a jovem foi acometida de uma mistura de tontura, fraqueza e um irritante zumbido em seus ouvidos. Não sabia se continuava segurando a fronte ou se tampava as orelhas, tamanho era o incômodo que sofria. Seria algum efeito colateral do tempo que permanecera internada? Ou algum meio macabro do sujeito loiro manter desconhecida sua identidade?
Seus olhos fumegaram, seu corpo não respondia mais aos seus comandos, sua visão desapareceu, dando lugar a uma luz branca insuportável... Até que por fim tudo escureceu.
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A voz lhe era conhecida, e trouxe-lhe muita esperança, mesmo sem ainda poder enxergar nada. Era ele, Leon.
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Seu marido, seu amado. Era mesmo ele, não havia mais dúvidas. A moça esforçou-se, e com certo custo conseguiu erguer as pálpebras... A luz do ambiente afetou-a, ela tampou a visão com as mãos... Todo o seu corpo estava dormente, e doía em algumas partes.
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Ela abriu de novo os olhos, sua vista aos poucos ficando menos embaçada, e o rosto de Kennedy tornando-se mais nítido. Assim que ele se tornou distinguível o suficiente, a jovem abriu um lindo sorriso, fazendo com que Leon a abraçasse com força, erguendo-a da superfície à qual se encontrava encostada.
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Soltando-se gentilmente dos braços do esposo e erguendo-se de onde estava sentada, Redfield viu uma espécie de capacete com algum tipo de visor... Dotado de fios com uma espécie de receptores nas extremidades... E a julgar por alguns pontos de sua cabeça, mais precisamente nas têmporas, em que a pele apresentava resíduos de algum tipo de cola... Eles estiveram fixados à sua cabeça! Isso sem contar o grande número de computadores e equipamentos distribuídos pela sala...
Em seu braço havia marcas de agulha, e a presença de um suporte com algum tipo de soro fê-la entender que fora dessa maneira que sobrevivera presa ali sem comer nem beber. Ela estivera fora do mundo real, imersa em algum outro tipo de existência... Mas não da forma como o aterrador homem loiro lhe revelara antes.
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Como Claire estava fraca e ainda não recobrara todos os movimentos, fruto do tempo que permanecera imóvel na mesma posição, os dois rapazes a ajudaram a levantar-se e andar, cada um apoiando-a de um lado. Lentamente o trio deixou o local de testes, desejando não retornar ali nunca mais. Cruzaram a porta, em cuja tranca Ark causara um curto-circuito e que agora se abria para qualquer um que se aproximasse, e viram-se no corredor onde minutos atrás Arnold e Josh, ou Vincent, haviam iniciado uma batalha da qual apenas um sairia vivo. A julgar pelo silêncio predominante, eles já deviam estar a uma boa distância dali.
Mal deram alguns passos na direção que Leon se recordava levar até o trem subterrâneo, lâmpadas vermelhas de alerta surgiram piscando por todo o teto, simultaneamente uma voz menina anunciando, o aspecto infantil que possuía deixando crer que pertencia à “Red Queen”, o antigo sistema de segurança e armazenamento de dados da Umbrella:
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Durante a luta de Ashford e Burke, algum ferimento de um dos dois deveria ter pingado sangue no chão ou numa parede, provocando a ativação da contagem. A mensagem era agora repetida incessantemente. Não havia razão para interromper o processo, e além do mais, os três não faziam idéia de como fazê-lo. Seria melhor que aquelas instalações fossem varridas de uma vez por todas da face da Terra, levando junto os dois mutantes em conflito. Seria a punição que teriam, e certamente se encontravam alheios a ela, um preocupado apenas em destruir o outro...
Havia um porém: e se existissem mais pessoas encarceradas naquele lugar? Infelizmente o complexo era grande demais, e eles não tinham tempo para procurar. Precisavam chegar ao trem o quanto antes.
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Dentro da cela no setor de detenção, os cinco prisioneiros também presenciaram o início da contagem para a autodestruição. O soldado que os vigiava demonstrou um pouco de surpresa, porém não se abalou, permanecendo em seu posto. Ele seguida suas ordens à risca, e se fora incumbido de guardar os detentos, então morreria cumprindo sua tarefa.
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Craft!
Birkin soltou um gritinho de susto. O homem estremeceu, olhar fixo em Krauser... Um olhar de descrença. Sangue escorreu de seus lábios fechados... Até que tombou de lado sobre o piso do corredor, o abdômen perfurado... O braço esquerdo do loiro fora convertido numa estranha garra vermelha que passara através das barras, e dela pingavam gotas vermelhas, despencando até seus pés.
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Logo depois Jack abaixou-se, estendendo o outro braço para revistar o uniforme do cadáver. Em poucos instantes, sua mão recuou para dentro do cárcere com um molho de chaves entre os dedos. Aquela que destrancava a cela certamente também estava entre elas.
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Nem era necessário que alguém levantasse a mão.
Leon, Claire e Ark chegaram à área de carregamento e descarregamento, onde o trem subterrâneo os aguardava intacto e vazio. Além de se sentir aliviada, a irmã de Chris foi tomada por um forte déjà vu, pois ela e o marido haviam usado um transporte idêntico àquele para fugirem de Raccoon City durante o terror causado pelo T-Virus na cidade. E pensar que naquela época nem pensavam que um dia acabariam se casando...
Thompson sentou-se com a moça num dos assentos do primeiro vagão, enquanto Kennedy se dirigia rapidamente até a cabine de controle, ativando novamente os painéis, alavancas e botões. Passou-se cerca de um minuto até que o trem, num solavanco, começasse a se mover pelos trilhos. Ainda tinham minutos de sobra até que ele atingisse a saída de emergência nos limites da cidade em ruínas, portanto estavam seguros. Enquanto observava pelas janelas uma das paredes do túnel repleto de curvas, Claire, apesar de aliviada, não conseguia se livrar da angustiante sensação de que deixava alguém para trás...
Sherry liderava os outros quatro fugitivos pelos corredores do complexo. Todos agora estavam armados, graças às pistolas e metralhadoras deixadas pelos soldados que Burke matara. Buscavam sem parar uma saída, qualquer meio de abandonar aquele maldito lugar condenado a ser soterrado para sempre embaixo da terra.
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Subiram por algumas escadas, a combinação da voz da Red Queen e das lâmpadas a piscar deixando-os mais atordoados a cada segundo, até que, ao passarem por um cruzamento de corredores viram, num deles, uma cena no mínimo curiosa.
Havia dois homens em luta. Não, não eram mais homens. Um era loiro, alto e de vigorosos músculos, com o peito nu e exibindo assim vários cortes que sofrera no tórax, sangue escorrendo cada vez que se mexia. Até seus longos cabelos dourados estavam sujos e empapados com o líquido vermelho. Já o oponente era familiar a todos: Josh Burke. Porém estava pálido como um fantasma, tinha a roupa toda rasgada e uma das mãos convertida num medonho conjunto de garras, estas estando manchadas de rubro assim como os vários ferimentos que acumulava pelo corpo mutante. Assemelhavam-se a dois cães raivosos em combate que só se largariam quando um dos dois fosse trucidado, totalmente arrasado. Um confronto realmente mortal.
Birkin fechou os punhos ao contemplar aquilo. Seus inimigos. Homens que haviam desejado usá-la como cobaia, como um ser que tinha utilidade apenas para a realização de experimentos. Assim como seu próprio pai agira. Era doloroso, repugnante, abominável. Ela teve vontade de fuzilá-los, esquartejá-los, rir enquanto os enviava de uma vez ao inferno. Seria sua vingança. Preparava-se para atacar, quando sentiu uma mão num de seus ombros. Era Ada. E, estranhamente, aquele toque da espiã lhe transmitiu uma incrível serenidade. Fez com que ela ouvisse a voz da razão: Sherry não precisaria arriscar sua vida para dar cabo daqueles crápulas. Eles se auto-exterminariam, já estavam envolvidos num embate que os levaria à derrocada... À plena derrocada...
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Ela acompanhou-os. Deter-se mais ali seria total perda de tempo.
Continua...
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