Nemesis X: A Guerra Secreta escrita por Goldfield


Capítulo 13
Capítulo 12




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Capítulo 12

 

Visita ou interrogatório?

 

O carro de Chris e Jill deixou a área urbana de Washington, já ganhando uma das estradas que seguiam pelo estado da Virgínia, uma abundante floresta de pinheiros de ambos os lados. Aquela região aparentava total calma, contrastando com o pânico abundante nas maiores cidades do mundo naquele momento. Alguns motoristas fugiam desesperados para o interior, porém, no geral, o tráfego era leve.

Sobre uma elevação, poucos quilômetros adiante, já era possível ver a prisão federal de segurança máxima na qual estava encarcerado, há quase cinco anos, Ozwell E. Spencer, um dos antigos homens por trás da Umbrella e, de acordo com seu julgamento, arquiteto de inúmeros crimes contra a humanidade, sendo que o mais grave fora a responsabilidade principal pelo incidente biológico ocorrido em Raccoon City.

         Estamos indo para a toca do leão... – murmurou Valentine.

         Não se preocupe, querida! – sorriu Redfield, manobrando o veículo numa curva da pista. – Esse leão está enjaulado e devidamente amansado já há algum tempo...

A filha de Dick Valentine não conseguiu ficar mais tranqüila ao ouvir isso. De certa forma acreditava que aquele encontro com Spencer marcaria suas vidas para sempre...

 

Departamento de Perigo Biológico.

O clima continuava tenso dentro do prédio, as sentinelas se alternando entre as janelas e portas. Um T-00 em sua segunda forma fora avistado numa das ruas próximas, destroçando viaturas policiais com suas garras assassinas. Mesmo com essa verdadeira guerra do lado de fora, Bruce McGivern sentou-se num corredor e, ligando seu laptop, procurou inteirar-se das notícias através da Internet: dezenas de outras cidades eram vitimadas pelo ataque dos Tyrants, confirmando os rumores.

Estava a percorrer atônito as diversas páginas dos sites jornalísticos, quando surgiu uma janela na tela do computador informando que o agente recebera um e-mail de prioridade alta. Intrigado, abriu sua caixa de entrada e seus olhos brilharam assim que leram o nome da remetente: “F. Ling”. O assunto da mensagem, “Nós descobrimos”.

         Eu sabia que você não ia nos deixar na mão, garota! – riu Bruce.

Acessou a correspondência eletrônica, averiguando seu conteúdo durante dois ou três minutos. Tratava-se das conclusões tiradas a partir do interrogatório de um sobrevivente da tripulação do C-130 derrubado pela Força Aérea chinesa... Uma das aeronaves responsáveis pelas “remessas” de mutantes ao redor do mundo.

Terminando de ler o texto redigido por Fong Ling, McGivern ergueu lentamente a cabeça enquanto murmurava, sua cabeça repleta de perguntas insistentes:

         Burke... E Alfa?

 

O carro guiado por Chris aproximou-se da guarita de entrada da prisão, o vigia exigindo que os recém-chegados se identificassem, como de praxe. O irmão de Claire mostrou seu cartão de identificação do Departamento de Perigo Biológico, e assim que o guarda assimilou a informação, exclamou, um tanto quanto perdido:

         Departamento de Perigo Biológico? Vocês não deviam estar lá em Washington, cuidando do que está ocorrendo?

Olhando melhor para dentro do posto de vigília, Redfield percebeu, sobre uma bancada, uma pequena TV que exibia um noticiário retratando o caos provocado pelos Tyrants ao redor do planeta. Deu um suspiro, olhou para frente por alguns segundos e então respondeu:

         Nós estamos cuidando... À nossa maneira!

O funcionário assentiu com a cabeça, meio desconfiado, e liberou a cancela, permitindo que o veículo avançasse. Depois de estacionar dentro dos muros da cadeia, o casal deixou o transporte e caminhou até uma porta protegida por dois homens fortemente armados. Mostraram seus cartões novamente, e eles permitiram que ganhassem o interior do local.

Logo que informaram qual criminoso desejavam visitar, os dois ex-combatentes do S.T.A.R.S. passaram a ser guiados por um carcereiro. Os corredores eram metálicos, frios, vazios. Compunham o que parecia ser um labirinto, talvez para dificultar a fuga dos detentos, todos considerados de extrema periculosidade. Depois de andarem muitos metros, pararam diante de uma porta reforçada. O guarda inseriu seu cartão de segurança, códigos, teve a retina e impressões digitais verificadas, e por fim o caminho foi aberto.

A dupla de visitantes adentrou a cela...

 

Bruce sentou-se sobre uma mesa, acabando por derrubar acidentalmente algumas pastas no chão. Ninguém se preocupou em recolhê-las: o momento não era apropriado. Enquanto quase todos os membros do Departamento montavam guarda junto às janelas daquele andar, Kevin e Rebecca se aproximaram de McGivern, o primeiro indagando:

         Então Burke trabalha para alguém? Ele não é o último homem por trás de tudo isso?

         Sim, de acordo com as informações fornecidas por Fong Ling... – confirmou o sobrevivente da infecção no cruzeiro “Spencer Rain”. – O indivíduo atende pelo codinome “Alfa”... Parece que apenas Burke conhece sua verdadeira identidade.

         Quem ele pode ser? – Chambers não conseguia pensar em nenhum possível suspeito.

Ninguém ali poderia solucionar tal mistério... Ainda.

 

Dentro da cela monocromática, que parecia até ser confortável demais para um prisioneiro de ações tão repugnantes, a figura deste era por fora a de um velhinho aparentemente inofensivo, que remetia até a um avô sereno quase no final de sua vida: a face enrugada e com uma permanente expressão tristonha, os cabelos muito brancos repartidos entre os dois lados da cabeça, havendo no meio uma careca desgastada...

         Spencer! – Chris pronunciou o nome quase num resmungo.

Ele estava sentado sobre sua cama acolchoada, lençol e travesseiro brancos. Havia também um pequeno banheiro anexo ao cárcere, aparentemente limpo e bem-cuidado. Ozwell, trajando uniforme prisional laranja, encontrava-se até então perdido em seus pensamentos, e ergueu os olhos para fitar os recém-chegados assim que ouviu a voz de Redfield. Demonstrou surpresa com a visita, abrindo a boca ligeiramente num gesto de assombro. Só foi falar algo depois de terem se passado alguns instantes de mútua contemplação:

         Eis algo que eu não esperava!

         Será que não esperava mesmo? – cogitou Jill, erguendo uma das sobrancelhas de forma astuta.

O detento sorriu de modo sutil. Chris voltou-se para o carcereiro, que ainda se encontrava de pé junto à porta da sala, e fez um gesto para que ele se retirasse. Assim o fez, selando novamente o lugar, o som da pesada porta sendo trancada ecoando por toda a prisão.

 

Hunk patrulhava os corredores do Setor “C” do complexo de pesquisas subterrâneo, a antiga “Colméia”. Um local que resistira à destruição de Raccoon City, e que agora abrigava a realização das ambições de outras pessoas. Enquanto cruzava uma porta, o “Sr. Morte” recebeu um comunicado via rádio:

         Aqui é Alfa. Dê uma olhada no Setor “B”. Burke não é visto já há algum tempo, e isso me traz suspeitas...

         Vou verificar imediatamente, senhor! – a voz do combatente era abafada pela máscara.

         Os prisioneiros estão seguros?

         Sim!

         Então prossiga com a ordem.

Seguindo em frente, Hunk subiu por alguns lances de escadas e adentrou o setor em questão... Apenas para deparar-se com um corredor repleto de cadáveres de guardas e cientistas, alguns com membros decepados ou torcidos, quase todos tendo em seus semblantes estampado o horror e a surpresa. O chão estava todo coberto de sangue, as solas das botas do soldado tornando-se vermelhas conforme andava.

         Mas o que... – oscilou, olhando confuso ao redor.

         Eu fiz isso! – a voz veio subitamente de trás de Hunk.

Ouvindo também o engatilhar de uma arma, o responsável pela segurança das instalações imediatamente levantou os braços. Sabia que a pistola estava apontada para sua cabeça. E havia reconhecido o indivíduo de imediato...

         Burke, o que está havendo?

Josh suava excessivamente. Tinha os dedos manchados de líquido rubro. Proveniente daqueles que assassinara.

         O tempo todo você tinha o X-Virus em seu corpo... Teria me poupado tanto trabalho, seu maldito! – exclamou ele.

         Para virar um rato de laboratório nas suas mãos? – ironizou Hunk. – Preferi manter o segredo. E como descobriu, se me permite perguntar?

         Eu posso sentir... Afinal, agora esse vírus também corre nas minhas veias!

Com um poderoso soco na nuca, fruto de sua força agora aprimorada, Burke fez seu comandado desmaiar. Não podia perder tempo com ele, pois ainda tinha muito que fazer...

 

Spencer levantou-se devagar da cama, indagando:

         A que lhes devo a nobre visita?

         Poupe-me do sarcasmo! – rosnou Chris. – Por sua culpa, perdemos muitos amigos, sem contar todas as outras vidas que foram interrompidas devido a seus atos! A mansão, Raccoon City, os demais incidentes virais...

         Ora, se quer culpar alguém, senhor Redfield, não escolheu a melhor pessoa! – Ozwell riu deliciosamente. – O homem que devia estar aqui preso no meu lugar se encontra neste momento a alguns quilômetros daqui, numa certa residência de cor branca, ocupando um cargo para o qual foi eleito pelo próprio povo! Vocês sabem muito bem que o governo dos Estados Unidos da América sempre foi meu maior cliente! Para quem vocês acham que interessava desenvolver soldados aprimorados como aqueles que estão destruindo tudo lá fora neste momento?

O casal estranhou um pouco essa última questão levantada pelo velho, já que não havia TV ou qualquer outro elo com o mundo externo dentro daquela cela para que Spencer pudesse ter conhecimento do curso dos eventos. Depois de dar alguns passos de volta à cama, na qual se sentou cansado, o antigo homem por trás da Umbrella completou:

         Além do mais, esta prisão não combina com alguém como eu, que pertence à nobreza britânica...

         Você acha que usar o mundo como uma imensa cobaia é nobre? – Chris enfurecia-se mais a cada minuto.

         Calma, amor... – Jill viu que eles não estavam chegando a lugar algum daquela maneira.

         Os ânimos estão exaltados! – sorriu Spencer. – Afinal, o que querem?

         Certificar-nos de quem está por trás disso tudo, e o que pretende!

O idoso soltou um suspiro de enfado. Parecia bastante desapontado.

         Tanto tempo sem nos vermos e vocês vêm perguntar sobre outra pessoa?

Ele os estava provocando, e tentavam ao máximo se conter para não perderem a cabeça. Não seria nada propício naquele momento tão delicado.

         Pois bem, eu vou colaborar... – concordou o prisioneiro por fim. – Afinal, a pessoa em questão é meu inimigo...

 

Os corredores do Setor “A” do complexo de pesquisas estavam estranhamente quietos e vazios. Leon e Ark avançavam às cegas pelo verdadeiro labirinto de salas e ambientes, procurando desesperadamente por Claire Redfield.

Kennedy ficava mais angustiado a cada lugar que examinavam e não encontravam nenhuma pista do paradeiro de sua mulher. Thompson tentava elaborar um mapa das instalações em sua mente, para facilitar saber quais locais já haviam vistoriado e quais ainda não... Até que pararam diante de uma grande porta metálica possuindo o símbolo de perigo biológico. Ainda não haviam acessado o que existia atrás dela.

         “Área de Testes: Projeto Heaven” – leu Leon em voz alta. – O que pode ser isso?

         Temos de encontrar uma maneira de chegar ao outro lado e descobrir! – concluiu Ark.

Os dois levaram as mãos à cintura, observando o enorme obstáculo que os impedia de prosseguir... Como driblá-lo?

 

Chris e Jill cruzaram os braços, impacientes. Spencer tinha personalidade e atitudes difíceis de aturar. Ele devia encarar tudo aquilo como um jogo, envolvendo poder ou o que quer que fosse. E tinha essa visão desde muitas décadas antes... Desde quando o vírus Progenitor fora descoberto.

         Bem, como devem saber, eu tive que lutar para ser a pessoa de maior posição e influência dentro da Umbrella... – disse Ozwell. – Outras duas facções, antes minhas aliadas, começaram a disputar espaço comigo logo que começamos a fazer progresso nas pesquisas. Uma era representada por James Marcus, que eu consegui após algum tempo tirar do caminho... A outra, que persistiu por um maior período, era representada pela linhagem dos Ashfords...

A família Ashford. Chris a conhecia muito bem, pois tivera que enfrentar dois de seus mais doentios membros durante o incidente na Ilha Rockfort e na Antártida, final de 1998. Uma experiência perturbadora, para dizer o mínimo. Com isso, voltou a se lembrar mais uma vez de sua irmã Claire, torcendo para que em breve fosse resgatada.

         Senhor Redfield, acredito que conheça a bela e trágica história dos gêmeos Ashford, os últimos de sua linhagem – afirmou Spencer. – O doutor Alexander Ashford, procurando resgatar os tempos áureos de seus ancestrais, depositou toda a sua esperança em dois bebês geneticamente modificados... Sendo que a mulher, Alexia, era a própria inteligência em pessoa. Essa prole seria, ao ver de Alexander, a chave para que tomasse controle da Umbrella. Até o nome da mãe de aluguel que pariu as crianças era Verônica, o mesmo da fundadora da família Ashford!

         Alexia era a insanidade em pessoa também... – falou Chris, lembrando-se da batalha final que travara contra a monstruosa jovem. – Onde quer chegar?

         Alexander era um homem precavido, mais do que aparentava. É verdade que não pôde conter a ira dos filhos quando estes descobriram que eram fruto de uma experiência e transformaram-no num monstro por vingança, mas... Ele sempre teve um segredo que superou seus erros.

         Você sabe qual é? – indagou Valentine, envolvida pelo relato.

         Sim, e vou ser bem direto: a experiência de Alexander resultou em três crianças, e não duas. Nasceram trigêmeos.

Um silêncio inviolável dominou a cela por um ou dois minutos, Chris e Jill não conseguindo assimilar a última informação com facilidade. Seria mesmo verdade? Ou Spencer estaria blefando para ocultar seu possível envolvimento com os acontecimentos? Os dois integrantes do Departamento permaneceram encarando o velho durante esse tempo, sendo que ele continuou agindo com extrema naturalidade. Até que Redfield voltou a se manifestar:

         Tem certeza disso?

         Absoluta. Eu também fiquei espantado quando descobri, foi somente há pouco tempo. Porém, sim, há mesmo um terceiro Ashford. Alexia e Alfred, logo depois que nasceram, tiveram uma vida pública. Conviveram com outras pessoas, estudaram em conhecidas universidades. Já esse terceiro bebê foi ocultado por Alexander, que usou de todos os meios para que ninguém jamais suspeitasse de sua existência. A criança, do sexo masculino, cresceu em alguns dos maiores orfanatos e colégios internos da Europa. Desde cedo manifestou uma inteligência superior até à de Alexia. Porém, teve sempre uma vida reclusa e discreta, mesmo depois de ter atingido a idade adulta. E isso, meus caros, foi decisivo para seu bem.

         Por quê? – inquiriu Chris.

         Em 2004, a Umbrella caiu. Tudo estava perdido. Mas esse terceiro Ashford, estando isolado e sem ninguém ter conhecimento de sua existência, não foi afetado, assistindo de camarote aos acontecimentos. Caberia a ele, agora, reerguer a Umbrella e tornar grande novamente o nome de sua família. Quando foi entregue pequeno ao primeiro orfanato onde viveu, Alexander deu instruções aos responsáveis para que, quando o menino completasse 18 anos, recebesse de presente um microfilme contendo todas as informações a respeito de seu nascimento, Umbrella e os Ashfords. Anos depois, pouco depois de a empresa ter falido, o rapaz iniciou as ações para glorificar sua linhagem...

Spencer fez uma pausa, tornando a se erguer da cama. Circulou pelo cárcere, como se ainda procurasse alguma saída dali, mesmo depois de tanto tempo, para então continuar:

         Mas ele não conseguiria isso sozinho. Precisava de aliados. Passou a contratar antigos funcionários da Umbrella que conseguiram escapar impunes à sua derrocada, além de mercenários, e também resgatou o que pôde do legado da empresa. Entre eles estava Vincent Goldman, que mudou seu nome para Josh Burke... Pois bem. Juntos, o terceiro Ashford e Burke tinham dinheiro para poderem planejar. Todavia, faltavam recursos. Armas biológicas. Sendo que a mais importante sempre foi o X-Virus...

         A maldita criação de William Birkin... – murmurou Jill.

         Sim. Falar que a obra-prima de Birkin foi o G-Virus é uma afronta ao seu gênio de pesquisador. Era apenas uma fachada. Sua maior criação, que ele manteve secreta, foi justamente o X-Virus. Um vírus que pode garantir praticamente a imortalidade. O vírus que ele conseguiu criar a partir da cobaia Lisa Trevor, após anos de observação e experimentos. O vírus que ele testou em sua própria filha, inserindo-o no embrião, e que mais tarde também seria concedido a Albert Wesker, tornando-o mais que humano. Ada Wong, Hunk e Nicholai Zinoviev também foram agraciados com tal dádiva.

         Eu diria que na verdade é um fardo... – opinou Chris. – E é por isso que Sherry foi seqüestrada...

         Exatamente. O X-Virus está agora ativo em Sherry, já que, segundo as experiências, ele se manifesta somente após a “primeira morte”. No caso de Wesker, foi a investida do Tyrant no laboratório Arklay. Ada, quando se sacrificou em Raccoon City. Nicholai passou pelo mesmo ao ser atacado por zumbis... Já Hunk é um mistério!

         Wesker quis Sherry porque queria fazer experiências com o vírus, mas numa cobaia que não fosse ele mesmo – lembrou Valentine. – Wesker era um crápula...

         Se Wesker não tivesse morrido em 2004, o mundo estaria bem pior... Os vírus estariam circulando pelo mercado negro, eu, apesar de não ter sido preso, estaria morto... Até sua amada esposa poderia estar morta, senhor Redfield!

Chris quase o agrediu devido à insinuação, no entanto conseguiu se controlar. Spencer prosseguiu:

         Mas além do X-Virus e suas possíveis variantes, havia algo mais necessário para o arsenal... Mutantes, supersoldados que pudessem ser usados. É a partir daí que nosso querido terceiro Ashford começou a ficar megalomaníaco. Ao invés de intentar reerguer a Umbrella, ele passou a ambicionar vencer todos os governos do mundo, pela força. Iniciar uma guerra usando armas biológicas. Implantar em todos os lugares sua ideologia particular, seu modo de vida. Eu duvido que todos sob seu comando concordem com esse ponto de vista...

         Como ele conseguiu os Tyrants? – quis saber Redfield.

         Apenas um humano em um milhão possui uma estrutura genética adequada para se tornar um Tyrant. Uma dessas raríssimas pessoas era o coronel Sergei Vladimir, ex-militar soviético, uma lenda em combate. Nós éramos amigos, e a partir do DNA dele, os primeiros protótipos de Tyrants foram criados. Praticamente todas as variantes que vieram depois partiriam da mesma matriz, ou seja, Vladimir. Devido a esse trunfo, e também por assumir a chefia da U.B.C.S., o coronel cresceu muito dentro da Umbrella, tornando-se quase tão poderoso quanto eu... Ele chegou até a ter vários Tyrants sob sua posse e fez deles o que bem entendeu... Se me recordo bem, ele até tinha um como segurança pessoal, chamando-o de “Ivan”...

         E? – insistiu Valentine.

         Vladimir ocultou centenas de Tyrants numa instalação secreta em algum lugar da Rússia. Eu mesmo nunca soube da localização exata, porém descobri que o local estava registrado num dos diários de Nicholai Zinoviev, membro da U.B.C.S. e bem próximo ao coronel. De alguma forma, Burke encontrou esse diário, removendo os Tyrants da Rússia para sua base central. Isso deve ter se dado há alguns meses. Foi assim que o terceiro Ashford conseguiu um exército titânico, que está lá fora neste momento. Eu creio que em breve o desgraçado irá contatar os governos vitimados, fazendo algum tipo de exigência ou ameaça... Combina bem com o feitio insolente daquela família...

Fora um verdadeiro bombardeio de revelações. Chris e Jill se entreolharam, dando conta do quão pouco sabiam antes daquela longa conversa. Então existia mesmo mais um membro da família Ashford vivo, e com objetivos precisos e sanguinários.

         Há algo mais que não sabemos? – perguntou Redfield.

         Sim, na verdade... Sobre Emanuel Deller.

         Como?

Spencer riu, gargalhou. A ignorância do casal o divertia imensamente. Como a informação era algo precioso! Agora ele estava compartilhando-a com aqueles que considerava seus inimigos, mas não tinha mesmo mais nada a perder... Só as caras de espanto dos dois já lhe valeriam alguma coisa...

         Deller sempre foi meu amigo – explicou o idoso. – Tivemos nossas desavenças e disputas, mas éramos companheiros, e compartilhávamos o ódio pelos Ashfords. Há cerca de um ano, trabalhando na Biocom, Emanuel descobriu que o terceiro Ashford estava fazendo dinheiro através da posse de mais da metade das ações da empresa. Foi então que ele resolveu iniciar uma infecção viral no complexo em que trabalhava na Sibéria. Se o incidente viesse a público, a Biocom estaria acabada, e por conseqüência as ações não valeriam mais nada. A fonte de capital do filho de Alexander estaria acabada! Deller achava que o maldito não era digno de estruturar uma nova Umbrella... Para ele, se alguém viesse a fazer isso, teria de ser eu. E Emanuel sabia que morreria desde o momento em que disseminou o T-Virus no lugar... Se não fosse morto pelos monstros, acabaria aniquilado por quem viesse conter o incidente...

Era inacreditável. Até mesmo a operação na Sibéria na qual Chris e Jill estiveram envolvidos, aparentemente um acontecimento isolado, encontrava-se envolvida naquela imensa conspiração cujo pivô era o infame terceiro gêmeo Ashford. Assustador, esclarecedor, perturbador... Entretanto, o mais pitoresco era mesmo Spencer ter acesso a tantas informações sem sair de dentro da prisão!

         Você sabe o nome desse terceiro Ashford? – inquiriu Valentine.

O velho deu um sorriso maléfico antes de abrir a boca para responder...

 

Ark havia tirado da mochila que trazia consigo um pequeno kit para lidar com equipamentos eletrônicos: tratava-se de uma espécie de tomada que foi acoplada ao painel ao lado da porta trancada, havendo na outra extremidade do fio algo como uma bateria e um pequeno controle remoto. Através daquele artifício, Thompson pretendia liberar uma alta corrente elétrica no mecanismo da entrada: isso poderia fazer com que ela se abrisse, ou então que não pudesse ser mais aberta. De qualquer modo, ele e Leon não tinham muita opção.

         Afaste-se, pode haver faíscas! – pediu o amigo de Kennedy, terminando de instalar o dispositivo.

Todavia, quando ia acioná-lo, Ark, assim como Leon, ouviu uma voz masculina afirmar em tom de zombaria:

         Eu poderia classificar esse ato como arrombamento!

A dupla se voltou para o autor da fala: um homem alto e musculoso, cabelos loiros compridos, usando um sobretudo marrom e botas negras. Sua face extremamente alva, dotada de expressão imponente e cruel, fez ambos os intrusos estremecerem. Tiveram a impressão de que ele os estivera observando silenciosamente já há algum tempo, e apenas naquele instante decidira se revelar.

         Deixem que eu me apresente! – disse, sorrindo. – Sou Arnold Ashford!

 

Continua...


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