Nemesis X: A Guerra Secreta escrita por Goldfield
Capítulo 12
Visita ou interrogatório?
O carro de Chris e Jill deixou a área urbana de Washington, já ganhando uma das estradas que seguiam pelo estado da Virgínia, uma abundante floresta de pinheiros de ambos os lados. Aquela região aparentava total calma, contrastando com o pânico abundante nas maiores cidades do mundo naquele momento. Alguns motoristas fugiam desesperados para o interior, porém, no geral, o tráfego era leve.
Sobre uma elevação, poucos quilômetros adiante, já era possível ver a prisão federal de segurança máxima na qual estava encarcerado, há quase cinco anos, Ozwell E. Spencer, um dos antigos homens por trás da Umbrella e, de acordo com seu julgamento, arquiteto de inúmeros crimes contra a humanidade, sendo que o mais grave fora a responsabilidade principal pelo incidente biológico ocorrido em Raccoon City.
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A filha de Dick Valentine não conseguiu ficar mais tranqüila ao ouvir isso. De certa forma acreditava que aquele encontro com Spencer marcaria suas vidas para sempre...
Departamento de Perigo Biológico.
O clima continuava tenso dentro do prédio, as sentinelas se alternando entre as janelas e portas. Um T-00 em sua segunda forma fora avistado numa das ruas próximas, destroçando viaturas policiais com suas garras assassinas. Mesmo com essa verdadeira guerra do lado de fora, Bruce McGivern sentou-se num corredor e, ligando seu laptop, procurou inteirar-se das notícias através da Internet: dezenas de outras cidades eram vitimadas pelo ataque dos Tyrants, confirmando os rumores.
Estava a percorrer atônito as diversas páginas dos sites jornalísticos, quando surgiu uma janela na tela do computador informando que o agente recebera um e-mail de prioridade alta. Intrigado, abriu sua caixa de entrada e seus olhos brilharam assim que leram o nome da remetente: “F. Ling”. O assunto da mensagem, “Nós descobrimos”.
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Acessou a correspondência eletrônica, averiguando seu conteúdo durante dois ou três minutos. Tratava-se das conclusões tiradas a partir do interrogatório de um sobrevivente da tripulação do C-130 derrubado pela Força Aérea chinesa... Uma das aeronaves responsáveis pelas “remessas” de mutantes ao redor do mundo.
Terminando de ler o texto redigido por Fong Ling, McGivern ergueu lentamente a cabeça enquanto murmurava, sua cabeça repleta de perguntas insistentes:
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O carro guiado por Chris aproximou-se da guarita de entrada da prisão, o vigia exigindo que os recém-chegados se identificassem, como de praxe. O irmão de Claire mostrou seu cartão de identificação do Departamento de Perigo Biológico, e assim que o guarda assimilou a informação, exclamou, um tanto quanto perdido:
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Olhando melhor para dentro do posto de vigília, Redfield percebeu, sobre uma bancada, uma pequena TV que exibia um noticiário retratando o caos provocado pelos Tyrants ao redor do planeta. Deu um suspiro, olhou para frente por alguns segundos e então respondeu:
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O funcionário assentiu com a cabeça, meio desconfiado, e liberou a cancela, permitindo que o veículo avançasse. Depois de estacionar dentro dos muros da cadeia, o casal deixou o transporte e caminhou até uma porta protegida por dois homens fortemente armados. Mostraram seus cartões novamente, e eles permitiram que ganhassem o interior do local.
Logo que informaram qual criminoso desejavam visitar, os dois ex-combatentes do S.T.A.R.S. passaram a ser guiados por um carcereiro. Os corredores eram metálicos, frios, vazios. Compunham o que parecia ser um labirinto, talvez para dificultar a fuga dos detentos, todos considerados de extrema periculosidade. Depois de andarem muitos metros, pararam diante de uma porta reforçada. O guarda inseriu seu cartão de segurança, códigos, teve a retina e impressões digitais verificadas, e por fim o caminho foi aberto.
A dupla de visitantes adentrou a cela...
Bruce sentou-se sobre uma mesa, acabando por derrubar acidentalmente algumas pastas no chão. Ninguém se preocupou em recolhê-las: o momento não era apropriado. Enquanto quase todos os membros do Departamento montavam guarda junto às janelas daquele andar, Kevin e Rebecca se aproximaram de McGivern, o primeiro indagando:
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Ninguém ali poderia solucionar tal mistério... Ainda.
Dentro da cela monocromática, que parecia até ser confortável demais para um prisioneiro de ações tão repugnantes, a figura deste era por fora a de um velhinho aparentemente inofensivo, que remetia até a um avô sereno quase no final de sua vida: a face enrugada e com uma permanente expressão tristonha, os cabelos muito brancos repartidos entre os dois lados da cabeça, havendo no meio uma careca desgastada...
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Ele estava sentado sobre sua cama acolchoada, lençol e travesseiro brancos. Havia também um pequeno banheiro anexo ao cárcere, aparentemente limpo e bem-cuidado. Ozwell, trajando uniforme prisional laranja, encontrava-se até então perdido em seus pensamentos, e ergueu os olhos para fitar os recém-chegados assim que ouviu a voz de Redfield. Demonstrou surpresa com a visita, abrindo a boca ligeiramente num gesto de assombro. Só foi falar algo depois de terem se passado alguns instantes de mútua contemplação:
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O detento sorriu de modo sutil. Chris voltou-se para o carcereiro, que ainda se encontrava de pé junto à porta da sala, e fez um gesto para que ele se retirasse. Assim o fez, selando novamente o lugar, o som da pesada porta sendo trancada ecoando por toda a prisão.
Hunk patrulhava os corredores do Setor “C” do complexo de pesquisas subterrâneo, a antiga “Colméia”. Um local que resistira à destruição de Raccoon City, e que agora abrigava a realização das ambições de outras pessoas. Enquanto cruzava uma porta, o “Sr. Morte” recebeu um comunicado via rádio:
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Seguindo em frente, Hunk subiu por alguns lances de escadas e adentrou o setor em questão... Apenas para deparar-se com um corredor repleto de cadáveres de guardas e cientistas, alguns com membros decepados ou torcidos, quase todos tendo em seus semblantes estampado o horror e a surpresa. O chão estava todo coberto de sangue, as solas das botas do soldado tornando-se vermelhas conforme andava.
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Ouvindo também o engatilhar de uma arma, o responsável pela segurança das instalações imediatamente levantou os braços. Sabia que a pistola estava apontada para sua cabeça. E havia reconhecido o indivíduo de imediato...
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Josh suava excessivamente. Tinha os dedos manchados de líquido rubro. Proveniente daqueles que assassinara.
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Com um poderoso soco na nuca, fruto de sua força agora aprimorada, Burke fez seu comandado desmaiar. Não podia perder tempo com ele, pois ainda tinha muito que fazer...
Spencer levantou-se devagar da cama, indagando:
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O casal estranhou um pouco essa última questão levantada pelo velho, já que não havia TV ou qualquer outro elo com o mundo externo dentro daquela cela para que Spencer pudesse ter conhecimento do curso dos eventos. Depois de dar alguns passos de volta à cama, na qual se sentou cansado, o antigo homem por trás da Umbrella completou:
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O idoso soltou um suspiro de enfado. Parecia bastante desapontado.
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Ele os estava provocando, e tentavam ao máximo se conter para não perderem a cabeça. Não seria nada propício naquele momento tão delicado.
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Os corredores do Setor “A” do complexo de pesquisas estavam estranhamente quietos e vazios. Leon e Ark avançavam às cegas pelo verdadeiro labirinto de salas e ambientes, procurando desesperadamente por Claire Redfield.
Kennedy ficava mais angustiado a cada lugar que examinavam e não encontravam nenhuma pista do paradeiro de sua mulher. Thompson tentava elaborar um mapa das instalações em sua mente, para facilitar saber quais locais já haviam vistoriado e quais ainda não... Até que pararam diante de uma grande porta metálica possuindo o símbolo de perigo biológico. Ainda não haviam acessado o que existia atrás dela.
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Os dois levaram as mãos à cintura, observando o enorme obstáculo que os impedia de prosseguir... Como driblá-lo?
Chris e Jill cruzaram os braços, impacientes. Spencer tinha personalidade e atitudes difíceis de aturar. Ele devia encarar tudo aquilo como um jogo, envolvendo poder ou o que quer que fosse. E tinha essa visão desde muitas décadas antes... Desde quando o vírus Progenitor fora descoberto.
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A família Ashford. Chris a conhecia muito bem, pois tivera que enfrentar dois de seus mais doentios membros durante o incidente na Ilha Rockfort e na Antártida, final de 1998. Uma experiência perturbadora, para dizer o mínimo. Com isso, voltou a se lembrar mais uma vez de sua irmã Claire, torcendo para que em breve fosse resgatada.
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Um silêncio inviolável dominou a cela por um ou dois minutos, Chris e Jill não conseguindo assimilar a última informação com facilidade. Seria mesmo verdade? Ou Spencer estaria blefando para ocultar seu possível envolvimento com os acontecimentos? Os dois integrantes do Departamento permaneceram encarando o velho durante esse tempo, sendo que ele continuou agindo com extrema naturalidade. Até que Redfield voltou a se manifestar:
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Spencer fez uma pausa, tornando a se erguer da cama. Circulou pelo cárcere, como se ainda procurasse alguma saída dali, mesmo depois de tanto tempo, para então continuar:
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Chris quase o agrediu devido à insinuação, no entanto conseguiu se controlar. Spencer prosseguiu:
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Fora um verdadeiro bombardeio de revelações. Chris e Jill se entreolharam, dando conta do quão pouco sabiam antes daquela longa conversa. Então existia mesmo mais um membro da família Ashford vivo, e com objetivos precisos e sanguinários.
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Spencer riu, gargalhou. A ignorância do casal o divertia imensamente. Como a informação era algo precioso! Agora ele estava compartilhando-a com aqueles que considerava seus inimigos, mas não tinha mesmo mais nada a perder... Só as caras de espanto dos dois já lhe valeriam alguma coisa...
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Era inacreditável. Até mesmo a operação na Sibéria na qual Chris e Jill estiveram envolvidos, aparentemente um acontecimento isolado, encontrava-se envolvida naquela imensa conspiração cujo pivô era o infame terceiro gêmeo Ashford. Assustador, esclarecedor, perturbador... Entretanto, o mais pitoresco era mesmo Spencer ter acesso a tantas informações sem sair de dentro da prisão!
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O velho deu um sorriso maléfico antes de abrir a boca para responder...
Ark havia tirado da mochila que trazia consigo um pequeno kit para lidar com equipamentos eletrônicos: tratava-se de uma espécie de tomada que foi acoplada ao painel ao lado da porta trancada, havendo na outra extremidade do fio algo como uma bateria e um pequeno controle remoto. Através daquele artifício, Thompson pretendia liberar uma alta corrente elétrica no mecanismo da entrada: isso poderia fazer com que ela se abrisse, ou então que não pudesse ser mais aberta. De qualquer modo, ele e Leon não tinham muita opção.
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Todavia, quando ia acioná-lo, Ark, assim como Leon, ouviu uma voz masculina afirmar em tom de zombaria:
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A dupla se voltou para o autor da fala: um homem alto e musculoso, cabelos loiros compridos, usando um sobretudo marrom e botas negras. Sua face extremamente alva, dotada de expressão imponente e cruel, fez ambos os intrusos estremecerem. Tiveram a impressão de que ele os estivera observando silenciosamente já há algum tempo, e apenas naquele instante decidira se revelar.
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Continua...
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