Nemesis X: A Guerra Secreta escrita por Goldfield


Capítulo 11
Capítulo 10




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Capítulo 10

 

Dia T.

 

Depois de finalmente ter recebido alta do hospital, Claire Redfield vagava pelas pacatas ruas de Heaven Coast em busca da oficina onde Steve trabalhava como mecânico. Percorrendo as vias repletas de casas brancas idênticas umas às outras, céu azul sempre límpido, a jovem chegou à rua Clinton, pelo menos segundo uma placa numa esquina. Não teve de andar muitos metros para encontrar o estabelecimento, situado num prédio velho e sujo que não combinava em nada com o resto da vizinhança.

Claire entrou tímida na oficina, seu interior estava mais escuro que o lado de fora, porém era possível ver tudo com nitidez. Havia no centro do lugar um carro suspenso debaixo do qual um homem trabalhava arduamente utilizando uma série de ferramentas. A recém-chegada de início pensou ser Steve, porém assim que ouviu passos o funcionário saiu de baixo do veículo e ela viu que na verdade era outra pessoa, porém reconheceu seu rosto sério e o bigode inconfundível depois de vê-los em fotos... A irmã de Chris limpou a garganta e disse, ao mesmo tempo em que o indivíduo limpava com um pano as mãos sujas de graxa:

         Olá.

         Boa tarde, senhorita, o que deseja?

         Estou procurando um rapaz chamado Steve, creio que ele trabalha aqui, não?

         Sim, ele está lá nos fundos, espere aí que irei chamá-lo. A propósito, qual é o seu nome?

         Claire, Claire Redfield.

         OK. Sou Enrico Marini, dono desta oficina!

Um dos antigos integrantes do S.T.A.R.S. de Raccoon City, amigo de seu irmão. Isso apenas confirmou as suspeitas da moça. Mais um morto que voltara à vida sem aparentemente não ter lembrança alguma de quem era no passado. Aquilo tudo era realmente assustador, e por isso mesmo Claire precisava de esclarecimentos.

Logo Burnside surgiu, usando camiseta sem manga, bermuda e sandálias folgadas. Seu semblante se encheu de alegria assim que viu Redfield, correndo até ela e abraçando-a enquanto falava:

         Claire, que bom que veio até aqui!

         Eu não poderia deixar de vir te ver! – sorriu a jovem. – E então, como está?

         Ando muito bem, e você? Deu tudo certo no hospital?

         Sim, deu sim...

Ficaram calados e relativamente sérios até que ela se pronunciou:

         Steve, eu preciso te contar uma coisa... Talvez você não acredite em mim, é provável até que me ache uma louca, porém não posso mais esconder isso de você, por mais que não se lembre!

         Você está me assustando, Claire! – riu o garoto sem entender nada.

         Ouça, seja lá quem fez isso, apagaram sua memória e a de toda essa gente! Nós estivemos juntos numa ilha chamada Rockfort e depois na Antártida combatendo uma empresa chamada Umbrella! Ela matou sua família, obrigou-o a atirar em seu próprio pai! Tivemos de vencer zumbis e outras aberrações até aquela maldita Alexia capturar você e usá-lo como cobaia! Você morreu nos meus braços, Steve, não se recorda nem disso?

         Desculpe-me, Claire, mas acho que você está vendo filmes de ficção científica demais...

         Por favor, tente acreditar em mim! – a esposa de Leon tinha os olhos cheios d’água. – Eu não sei quem criou esta ilha e como ressuscitou todos vocês, entretanto estão sendo manipulados! Steve, por favor...

         Eu sinto muito, Claire. Você ainda precisa de ajuda!

Assustado, o rapaz afastou-se da visitante e deu as costas para ela, voltando até os fundos do local. Desnorteada, Claire caiu de joelhos e começou a chorar, perguntando-se quando aquele devaneio confuso e doentio chegaria ao seu ponto final. Onde estaria na verdade? Que lugar era aquele, por que aquelas pessoas estavam vivas e tão estranhas? Será que por alguma circunstância havia mesmo enlouquecido?

         Talvez eu tenha as respostas que busca, Claire! – afirmou uma voz masculina desconhecida.

A jovem ergueu a cabeça, virando-a para a entrada da oficina. Em meio à luz vespertina havia um vulto humano que, caminhando em sua direção, assumiu detalhes. Tratava-se de um homem loiro de cabelos compridos, sobretudo marrom e botas pretas. As feições de seu rosto eram terrivelmente familiares para Claire, todavia ela não conseguia se lembrar ao certo onde as vira antes.

         Quem é você? – ela inquiriu, mais confusa a cada segundo.

         É incrível como você não consegue identificar o sangue das mesmas pessoas a quem deu cabo junto com seu querido irmão... – disse ele rindo. – Mas não vim aqui para me apresentar, e sim para explicar o que está vivendo!

         Então você está por trás disto tudo? – ela ergueu-se cheia de fúria.

         Estou por trás de mais coisas do que imagina. Esclarecendo melhor, estamos na “Doma”, Claire, uma ilha isolada utilizada para experiências biológicas. Todas essas pessoas que deveriam estar mortas são clones de seus originais.

         Clones? Mas como foi possível criar clones de tantas pessoas?

         No caso de Raccoon, lembre-se de que boa parte da população da cidade estava empregada na Umbrella e a empresa sempre exigiu exames de sangue antes da admissão. Além de ser uma maneira de descobrir indivíduos com DNA adequado para se tornarem Tyrants, todas as amostras foram guardadas para possível uso futuro. Foi a partir delas que esses clones foram desenvolvidos. Quanto a seu amiguinho Steve, lembre-se de que ele estava preso na Ilha Rockfort e uma certa quantidade de seu sangue foi coletada à força. Como vê, acabou também se mostrando muito útil!

         Seu monstro! Seres humanos não são ratos de laboratório que você pode utilizar como cobaias desse jeito!

         É aí que você se engana, minha menina!

Empregando força sobre-humana, Alfa desferiu um soco contra o rosto de Claire que por pouco não a fez desmaiar. Com a bochecha sangrando, sendo que logo incharia, caiu sentada no chão e, soluçando, ouviu seu algoz explanar:

         Todos os seres humanos compõem uma espécie selvagem e belicosa cuja existência tem só um objetivo: buscar novas justificativas para matarem uns aos outros. Seja um fanático bradando que seu deus é melhor que o alheio, um idealista assassino cravando de balas cidadãos de visão política oposta à sua, ou um amante rejeitado que busca vingança matando a antiga companheira a sangue frio. O destino da raça humana é se autodestruir, levando consigo o planeta inteiro no processo.

         Você também é um ser humano! – os sentimentos de medo e ódio de Redfield se uniam numa enorme repulsa àquele sujeito loiro.

         Sim, porém eu consegui me livrar de meus instintos mais primitivos. Afastei-me de todas as religiões, seguindo apenas as leis da ciência, únicas para todos. Nunca me filiei a nenhuma corrente política, nem de esquerda ou de direita, escapando assim dos extremismos ideológicos. Jamais amei alguém a não ser a mim mesmo, evitando que sentimentos descontrolados fizessem com que eu perdesse minha noção de certo e errado. E quero agora propagar esse meu modo de vida por toda a Terra!

         Como vai fazer isso? Criando mais clones de inocentes e transformando-os em soldados seus?

         Farei isso por meio de clones sim, mas eles são um pouco diferentes dos presentes nesta ilha... – sorriu Alfa. – Bem, tenho que ir, Claire. O tempo urge e tenho uma revolução para comandar!

O loiro retirou-se calmamente, deixando para trás uma jovem à beira de um ataque de nervos. Desesperada, Claire mergulhou em intenso pranto, debatendo-se sobre o chão. Os dois mecânicos a ignoravam, como se não a vissem mais ali. Tinha de sair daquele inferno pintado de céu de algum jeito, ou acabaria morrendo de tanta revolta!

 

No piso do banheiro vazio, o corpo de Josh Burke ainda jazia inerte, uma poça de sangue ao redor de onde repousava sua cabeça baleada. A porta do recinto se abriu e um guarda, que junto com seus colegas procurava pelo comandante há algum tempo, espantou-se ao ver seu cadáver no chão. Desajeitado devido ao espanto, apanhou o rádio de seu cinto e comunicou aos companheiros:

         Tragam uma equipe de limpeza até aqui, encontrei o senhor Burke, morto!

         Você tem certeza? – indagou uma voz incrédula pelo aparelho.

         Absoluta!

O soldado no sanitário desligou, passando então a examinar o morto mais de perto. Era difícil crer que um líder tão severo e ardiloso como Burke tombara tão facilmente. Provavelmente tivera uma arma disparada dentro da boca, levando em conta a forma como a parte de trás do crânio fora parcialmente destruída. Balançando a cabeça em sinal de descrença, o vigia se assustou imensamente quando notou um leve movimento numa das mãos do morto. Afastou-se muito temeroso, enquanto via os espasmos no cadáver se intensificarem. E logo, por mais incrível que possa parecer, Josh abriu os olhos, ergueu o tronco e permaneceu sentado sobre o piso, gemendo como se houvesse apenas se recuperado de um desmaio.

         Se-se-senhor! – gaguejou o guarda, tremendo como diante de um fantasma. – O senhor está bem?

         Sim, meu rapaz... Na verdade eu nunca me senti tão... Bem!

A resposta de Burke foi lânguida e sinistra, sua voz soando de modo estranho devido ao buraco que tinha na nuca. Ergueu-se completamente e caminhou até o comandado, que permaneceu parado de tanto terror. Aquilo era simplesmente inconcebível! Como alguém poderia voltar à vida mesmo depois de ter o cérebro danificado? Nem as aberrações da Umbrella eram capazes disso!

E, num movimento súbito e inesperado, Josh agarrou o soldado pelo pescoço usando uma mão, e somente com ela ergueu-o do chão demonstrando incrível força. Seus dedos exerciam enorme pressão sobre o pescoço do vigia que, deixando de respirar e com os olhos lacrimejando, teve sumariamente seu pescoço quebrado num estalo. Burke soltou a massa sem vida e, olhando-a, murmurou impiedoso:

         Às vezes, meu rapaz, nós temos de nos render aos clichês...

Em seguida, rindo, saiu pela porta do banheiro.

 

Sala de estratégia. Alfa entrava nela novamente, vindo de um dos corredores após alguns minutos de ausência. Dos pontos vermelhos no planisfério digital partiam agora linhas múltiplas que terminavam em grandes cidades do planeta, várias delas capitais. Desviando momentaneamente os olhos do computador, um dos operadores informou ao superior:

         Senhor, a última base, na Argélia, concluiu os preparativos!

         Estão todos a postos? – perguntou o loiro, inexpressivo.

         Sim senhor.

         Muito bem. Dêem a ordem de ataque.

Todos obedeceram. O verdadeiro espetáculo finalmente estreava.

 

Nascia o sol na costa leste dos EUA.

Em Washington, Chris e Jill chegaram cedo ao prédio do Departamento. Na noite anterior, haviam debatido muito sobre Burke e concluíram que a melhor forma de saber mais sobre ele, seus planos e talvez até encontrá-lo fosse interrogar Ozwell E. Spencer, um dos antigos fundadores da Umbrella, encarcerado numa prisão especial na Virgínia desde 2004. Tendo tal idéia em mente, ansiavam por apresentá-la a Leon, porém não o encontraram em parte alguma do edifício. Intrigados, foram perguntar a respeito do secretário a Bruce McGivern:

         Onde o Leon está? – exclamou Valentine. – Não o encontramos na sala dele nem em parte alguma!

         Olhem, ele pediu para não avisar vocês ainda, queria que tomassem conhecimento somente depois de vinte e quatro horas que permanecesse sem estabelecer contato, mas...

         Fale, Bruce! – Redfield ficava nervoso.

         Ele foi até a área de Raccoon City procurar o esconderijo de Burke, e não se comunica há mais de doze horas! Eu não sei ao certo o que houve e...

         Raccoon... – murmurou a mulher, pensativa. – Um lugar inóspito e livre de suspeitas, como não pensamos nisso antes! Precisamos ir até lá salvar Leon, Chris! Quem sabe que apuros ele pode estar passando?

         Ark já foi atrás dele, contra minha vontade... – revelou McGivern. – Acho que vocês seriam mais úteis por aqui no momento, principalmente se ele conseguir falar conosco e passar informações.

         Ele tem razão, Jill! – concordou Chris. – Além disso, interrogando Spencer poderemos saber mais coisas!

         Spencer? Vocês estão mesmo dispostos a confrontar de novo aquele velho esnobe?

         Não temos muita escolha, Bruce... – Jill afirmou num suspiro. – Além do mais, uma visita não fará nada de mal a nenhum dos lados, creio eu...

O rapaz loiro fez uma careta e voltou-se para a tela de um computador, ao mesmo tempo em que o casal de ex-S.T.A.R.S. seguia até suas mesas para pegar o que precisavam e então rumar até a prisão onde Spencer cumpria pena. Não tinham idéia da grande balbúrdia que teria palco nas horas subseqüentes...

 

Paris, França.

Era um dia agradável na capital francesa. Na avenida Champs-Élysses, perto do majestoso Arco do Triunfo, um casal estava sentado numa mesa do lado de fora de um dos melhores cafés da cidade, muito freqüentado por turistas. Ela usava uma blusa roxa, saia verde e sapatos de salto alto pretos nos pés. Ele trajava um suéter laranja, calça jeans e calçava um par de tênis esportivos. A diferença nas roupas refletia o contraste também existente entre suas mentes naquele momento.

         Eu simplesmente não acredito que você vai começar de novo com esse papo de “queria proteger você, por isso não podia te contar nada!” – resmungou a moça, nervosa.

         Ora, você também me enganou o tempo todo, precisa admitir isso! – retrucou o rapaz, socando a mesa. – Olha, nós resolvemos fazer essa viagem até aqui para tentar uma reconciliação, mas a todo momento você retorna ao mesmo assunto, Jane! Ou eu deveria dizer Rachel?

         Ah, falou Mike Graven, o maior agente do Serviço Secreto vivo!

         Cale essa matraca, “Senhorita FBI”!

Nisso, a discussão foi bruscamente interrompida pelas pessoas nas mesas próximas, que de repente se ergueram boquiabertas apontando para o céu. Alguns garçons fizeram o mesmo. Rachel Robinson e Mike Graven, testemunhas do incidente biológico ocorrido em São Francisco meses antes e agentes do governo dos EUA que agora tentavam reatar seu namoro, também voltaram as cabeças para cima, muito intrigados...

O que viram? Aproximadamente dez ou doze aviões de carga C-130 voando alto sobre a metrópole, liberando, através de seus compartimentos traseiros, uma série de cápsulas cilíndricas na cor laranja. Conforme despencavam rumo ao solo, pára-quedas eram abertos em cada uma para diminuir a velocidade da queda. Um súbito frio percorreu as espinhas do turbulento casal conforme os artefatos se aproximavam do chão, bem na parte central da cidade...

 

Xangai, China.

Noite. Na zona industrial da cidade, um furgão encontrava-se parado num beco entre dois armazéns. Apesar de por fora aparentar ser um veículo ordinário, por dentro era equipado com um avançado aparato de informática e comunicações, possuindo diversos aparelhos e monitores ligados. Sentado numa cadeira giratória de frente para o equipamento, uma lata de refrigerante aberta sobre uma bancada, um rapaz loiro de cabelos ligeiramente arrepiados, tendo um fone preso à cabeça, estava em contato permanente com sua parceira:

         Regina, você me ouve?

         Alto e claro! – a voz feminina veio através do comunicador junto com uma certa estática.

         Onde você está?

         Já me infiltrei no galpão, e a negociação entre as duas gangues já começou!

         Certo, fique de olho para quando as amostras entrarem em cena! E cuidado para não arranjar problemas!

         Eu já aprendi a me cuidar sozinha, Dylan. Desligo!

Dentro do armazém, Regina, agente de belo corpo e cabelos ruivos, estava sentada de costas para uma pilha de caixas de madeira. Vestia um traje tático completo e tinha em mãos uma pistola Socom calibre 45 personalizada. De seu esconderijo, ela podia ouvir o diálogo em chinês entre os representantes dos dois grupos criminosos que negociavam as amostras de DNA dos dinossauros resultantes do incidente na Ilha Íbis. O legado do insano doutor Kirk, que agora poderia cair novamente em mãos erradas.

Após alguns minutos a conversa entre as gangues ficou tensa, evoluindo para uma discussão. Pelo pouco que Regina conseguia compreender de mandarim, o desentendimento dava-se por causa do preço cobrado por um dos lados. A agitação cresceu e a jovem preparou-se para intervir, seu dedo colado ao gatilho da arma... Quando um estrondo abalou todo o lugar.

Ao fim do tremor, seguido por gritos e sons de desmoronamento, além de ter gerado uma intensa nuvem de poeira, Regina finalmente ergueu-se de trás de seu refúgio. Deparou-se com um enorme buraco no teto, com telhas e tábuas ainda despencando da estrutura em meio a vigas retorcidas, e uma grande cápsula alaranjada afundada cerca de meio metro no chão de concreto do galpão. Os bandidos estavam dispersos pelo local, alguns mortos, outros desacordados, e os ainda conscientes fitavam apavorados o misterioso objeto que rompera através do telhado. Se olhassem para cima naquele momento, através da abertura, teriam avistado aviões de carga despejando mais daqueles recipientes sobre toda a cidade...

A ruiva, trêmula e atordoada, apenas apontou instintivamente a pistola na direção do artefato, sua presença sendo ignorada pelos demais, enquanto esperavam o que aconteceria em seguida... Sim, nenhum deles achava que já havia terminado...

 

Um improvisado aeroporto no interior de Botsuana.

Um pequeno avião pousou e taxiou pela pista de terra. Perto dali, uma bela jovem local aguardava a saída dos ocupantes de dentro da aeronave, sentada junto ao volante de um jipe. Pouco depois, uma outra moça desembarcou e correu radiante até o veículo onde estava sua amiga. A recém-chegada, natural do Quênia, usava vestes brancas mínimas, tinha várias argolas coloridas pelo corpo e cabelo cinza curto, apesar da pouca idade. Descalça e trazendo uma bolsa ornamentada presa ao ombro, ela pulou para dentro do jipe e deu um caloroso abraço em sua velha conhecida.

         Como é bom te ver mais uma vez, Sheva, depois de tanto tempo! – exclamou.

         Também estou muito feliz por ter vindo aqui me visitar e ajudar nos trabalhos do acampamento, Elena!

Elena era uma animada e amável garota que, mestre na luta conhecida como capoeira, vivia participando de torneios e embates ao redor do mundo. Já sua amiga de longa data, Sheva Alomar, era uma ex-combatente de guerrilha que agora ajudava seu povo servindo como enfermeira na Cruz Vermelha. Felizes por poderem botar o assunto em dia, as duas partiram dali no jipe rumo a uma estrada asfaltada, a motorista não se esquecendo da espingarda calibre 12 que apanhara na aldeia e que agora trazia na parte de trás do veículo... De certa forma, ela tinha certeza de que faria uso dela muito em breve.

 

Subúrbios de Washington, D.C.

Os raios solares matinais entravam através das janelas do dormitório, uma leve brisa agitando as cortinas de pano branco. Na cama, dois corpos encontravam-se parcialmente cobertos por um lençol da mesma cor. Um homem e uma mulher. Esta subitamente despertou, movendo-se preguiçosamente sobre o móvel. Sentou-se, esticou os braços, bocejou... E, olhando ao redor, visão ainda embaçada pelo sono, assustou-se ao constatar onde se encontrava, ficando ainda mais aturdida ao reconhecer o indivíduo ao seu lado...

Saltou para fora da cama, fazendo com que o lençol deslizasse para o carpete. Trajava apenas lingerie, sua bela forma física à mostra. Quase tropeçando pelo quarto afora, ela começou a procurar desesperadamente por suas roupas, tomada por um misto de surpresa e indignação. Devido à toda a agitação, o homem também acordou, sentando-se junto ao travesseiro, peito nu. E, olhando a moça de cabelos ruivos andar para lá e para cá, perguntou numa expressão de extrema sonolência e um meio-sorriso:

         O que há, Becca?

         O que foi que aconteceu? – ela replicou, nervosa.

         Como assim? – indagou Kevin Ryman, passando uma das mãos pela face.

         O que houve entre a gente?

         Espere aí... Vai me dizer que você não se lembra de nada?

Chambers desejou encolher até o tamanho de um inseto para poder escapar imediatamente por alguma fresta ou buraco daquele recinto. Sua vergonha era enorme. Tendo o semblante tomado por forte rubor, ela virou-se de costas para o ex-policial, seguindo até uma das janelas. Morrendo de medo da explicação que poderia ouvir, ela tomou coragem e perguntou ao colega:

         Não, eu não me lembro. O que diabos aconteceu?

         Bem, nós bebemos lá no bar... Acho que você acabou exagerando nas cervejas, ficou alegre demais... Aí nós começamos a falar de relacionamentos passados, rolou um clima... Você começou a me beijar no carro mesmo, então eu a trouxe até aqui...

         E?

         Como assim, “e”?

         O que foi que nós fizemos aqui, Kevin?

         Hum... Jogar Banco Imobiliário é que não foi...

Rebecca tinha vontade de agredi-lo, esganá-lo! Como aquilo poderia ter acontecido? Era simplesmente impossível de conceber! Os dois haviam... Passado uma noite juntos! Em que condições ela seria capaz de continuar trabalhando junto com ele no Departamento? Ela ainda não decidira o que fazer, quando algo do lado de fora do prédio chamou-lhe a atenção. Fitando através da janela, ela observou uma série de cápsulas laranjas cilíndricas serem lançadas de aviões sobre a capital norte-americana.

         Mas o que é isso?

         Isso o quê?

Ryman se aproximou para ver também, e deduziu imediatamente do que se tratava assim que contemplou os invólucros em queda. De repente, as noites de terror em Raccoon City invadiram-lhe de novo a mente e, trêmulo, ele disse à atônita jovem:

         Temos de ir até o Departamento... Agora!

 

No prédio do Departamento, seus integrantes também já haviam notado o pitoresco evento. Chris e Jill seguiam até o estacionamento, de onde partiriam de carro até a prisão em que Ozwell E. Spencer cumpria pena, quando o tumulto nas ruas teve início.  A chuva de cápsulas dava-se em pontos-chave da cidade, e assim que as primeiras se abriram...

Os colossos ambulantes principiaram a semear destruição por onde passavam: destruíam automóveis, abriam verdadeiras crateras e rombos no asfalto e no concreto... O casal Redfield voltou correndo para o interior do Departamento, onde todos estavam alvoroçados. Coube a Bruce, na ausência do secretário, dar as ordens necessárias:

         Pessoal, desçam até o arsenal e armem-se com o que puderem! Repito: armem-se com o que puderem! Essas coisas não cairão tão facilmente, então precisaremos de armamento pesado!

Aquele, sem dúvida alguma, seria um dia de intensa luta. E já havia começado muito bem...

 

Paris.

Os “passageiros” das cápsulas eram grandes figuras humanóides carecas e pálidas, de mais de dois metros de altura e corpos artificiais cobertos por um sobretudo verde, mãos revestidas por luvas negras e pés calçando botas da mesma tonalidade. Dezenas, talvez centenas. Brinquedos da Umbrella. Tyrants. Supersoldados que praticamente tornavam real o mito de Hércules. E haviam sido condicionados para apenas uma meta: destruir o máximo de coisas que conseguissem.

O pânico tomou conta da área ao redor do Arco do Triunfo. Os parisienses e turistas fugiam desesperados enquanto as armas biológicas transformavam carros em amontoados de metal retorcido apenas com poucos golpes, derrubavam paredes e muros como se fossem feitos de isopor e dilaceravam cruelmente as pessoas que tentavam bravamente resistir àquele ímpeto exterminador. Mike e Rachel viram-se desorientados em meio à confusão, tendo suas armas de fogo em punho, mesmo sabendo que elas não bastariam para derrubar aqueles mutantes. Precisariam, no mínimo, de um dispositivo antitanque.

         E agora? – gritou a moça, esbarrando num casal de idosos que logo se escondeu num beco próximo.

         Não podemos dar cabo dessas coisas com o que temos, por enquanto teremos de dar no pé! – Graven era bem realista.

Foi quando, junto a uma calçada, avistaram um policial de jaqueta ao lado de sua motocicleta de trabalho, apontando uma pistola calibre 45 para os T-00 que se aproximavam a passos lentos e pesados. Sua aparência lembrava muito a de um ator conhecido, Mike logo percebeu, porém não conseguiu se lembrar do nome... Era um que havia atuado no filme “Ronin”...

         O que são essas coisas? – inquiriu, sem compreender a situação, o homem da lei francês.

         Soldados geneticamente fabricados para fazer essa bagunça toda! – explicou resumidamente o agente do Serviço Secreto, observando um dos Tyrants arrebentar um hidrante e conseqüentemente liberando um grande jato d’água para cima. – Como se chama, policial?

         Jacques Blanc!

         Acho que teremos de agir juntos para escapar desta, senhor Blanc! – exclamou Rachel.

E os monstros vindos do céu continuavam em seu trajeto de brutalidade e caos.

 

Nota: A partir deste capítulo, a história conta com a participação especial de alguns personagens de outros jogos da Capcom. São eles:

 

Dylan e Regina – Dino Crisis.

Elena – Street Fighter 3.

Jacques Blanc – Onimusha 3.

 

Continua...


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