Segui o seiji por um corredor cheio de admins. Aparentemente a notícia de que o irmão do Guitar_David havia hegado à base havia se espalhado, porque todos que me viam cochichavam alguma coisa ou acenavam discretamente pra mim. Alguns eu conhecia, outros nunca tinha visto.

— Para onde estamos indo? — Perguntei.

— Já vai saber. — Eu odeio quando falam isso pra mim.

     Andamos mais um pouco até chegarmos nos "alojamentos" dos admins. Diferente dos quartos de visita, chamar o "Alojamento" de "alojamento" era forma de dizer, porque parecia mais um hotel. Era enorme. Bem decorado, com tudo que alguém pudesse querer. Os quartos eram na verdade suítes, e pareciam ser realmente grandes.

— Agora sei porque ele adorava vir pra cá... — Falei

     Seiji sorriu.

— Tem que ter alguma vantagem em ser admin, não acha?

— Eeeaah... — Falei.

     Em poucos instantes chegamos ao quarto que era do meu irmão. Seiji pegou uma chave do bolso e abriu a porta.

— Acho que não vai ter como dissuadí-lo dessa idéia, então... Melhor que conte com nossa ajuda.

     Entramos no quarto. Era a cara do David. Guitarras, Fotos nossas, etc. Seiji foi até o armário e o abriu. de lá, tirou uma carta e me entregou.

— David me entregou essa carta da última vez que esteve aqui. Disse que se algo acontecesse a ele, que eu entregasse a você.

     Peguei a carta e olhei. Estava escrito "Para meu mano" no envelope. Sem dúvidas, era a letra dele. Tinha certeza, porque tive alguma dificuldade para entender a caligrafia horrível dele. Estava datada de um mês atrás. Abri o envelope e comecei a ler em voz alta.

     "Caro Tyras,

             Se está lendo essa carta, significa que eu morri/sumi/etc. Gostaria de dizer isso pessoalmente, mas parece que neste momento tenho algo melhor para fazer. Sendo assim, vou falar tudo aqui. E, se possível, leia isto para que o Seiji e a Raphaell Wch possam ouvir também."

— Vou chamá-la. — Falou Seiji.

      Em poucos minutos, Seiji voltou com a Raphaell Wch.

— Continua.

             "Como você já deve esperar, estou deixando tudo que é meu para você, incluindo minha DelBlade, caso esteja com ela. E também, o recomendo para ser meu sucessor como admin. No momento que escrevo essa coisa, você está em um nível tão alto quanto meu quando comecei. Sendo assim, tenho certeza de que não terá nenhum problema.
              Aproveito que o Seiji e a Raphaell estão aí e agradeço a eles por tudo que fizeram por mim. Sempre me apoiaram e me deram força, quando ninguém mais estava do meu lado. São muito mais que amigos pra mim, e agradeço. E como último pedido, peço que tornem Tyras um Admin. Me responsabilizo por ele, indico ele para o cargo e todo o blá blá blá formal."

      Seiji e Raphaell abaixaram a cabeça, emocionados.

             "E você, meu irmão, sempre me apoiou também, e me ajudou a superar várias dificuldades. Sempre teve garra e força de vontade que o levou a sempre conseguir aquilo que queria. Nunca se esqueça que sua determinação o faz capaz de absolutamente qualquer coisa. E mesmo que eu não esteja com você, estarei lhe ajudando.
             No armário do meu alojamento você encontrará a Navi, uma versão mais nova da Cyndel. Tenho certeza de que ela irá lhe ajudar bastante. Você sempre reclamava que a Cyndel não lhe obedecia, então resolvi fazer uma "Cyndel" para você. Assim como a Cyndel, Navi só obedecerá a você... Isso se você a conquistá-la. Ela tem várias melhorias, que eu tenho certeza que você não tardará a descobrir.
             Como eu disse antes, tudo que era meu é seu agora, inclusive o arsenal. Você sempre quis usar aquelas coisas, e agora vai ter chance. Só tome cuidado com a Gatling bangun, o gatilho emperra as vezes. E o Rocket Launcher demora um pouco a lançar o míssel, então, cuidado.
            
             Eu lhe desejo muita sorte, meu irmão. Que Deus esteja com você.
                                                            Guitar_David.
           PS.: Diga ao Seiji que..."

      Olhei para Seiji e Raphaell. Lágrimas desciam pelos rostos dos dois. Sabendo o que David havia escrito em seguida, parei de ler.

— O que ele disse no P.S.? — Perguntou Raphaell.

— Hã... er... Acho melhor não.

— Não se preocupe conosco, Tyras. Já aguentamos muita coisa. Embora estejamos abalados... Queremos ouvir as últimas palavras dele. Principalmente se forem dirigidas a mim — Disse Seiji.

      Ele falou com determinação. Não pude recusar.

           "PS.: Diga ao Seiji que ele ainda me deve 500 n¢, e que agora ele deve pagar a você."

      Nós 3 ficamos em silêncio por alguns minutos. Assim era o David. Nem na sua carta-testamento ele perdia a chance de fazer piada. Depois, Seiji pigarreou.

— Se importa se acertamos isso depois?

— Não, não, de forma alguma. — Respondi.

— Bem... — Falou Raphaell. — Se é um pedido do Lâmina... Não podemos recusar. Bem-vindo ao time, Tyras.

      Ela me entregou uma camisa de manda preta, com o símbolo do Nyah. Era a camisa usada pela Brigada de Combate dos Admins, a divisão da qual meu Irmão fazia parte.

— Obrigado.

      Seiji sorriu e me deu a DelBlade que havia usado no treino.

— Fique com essa aqui também. Ele me falou que você luta muito bem com duas armas.

— M... Mas pensei que só era permitido uma DelBlade por admin!

      Ele fez cara de pouco caso.

— Fui eu que criei essa regra, então posso criar também a exceção.

      Sorri.

— Obrigado, senhor.

— Bem, agora vamos deixá-lo só, para que possa se preparar. Está um caos lá fora. Melhor se prevenir contra tudo.

— Sim, senhor.

      Os dois saíram. Eu tranquei a porta e fui ao armário. Lá, dentro de uma caixa, estava uma espécie de pulseira tecnológica, um fone de ouvido minúsculo, vários sensores para serem instalados no meu corpo e um óculos escuros. Era a Navi.

      Meu irmão havia criado, a alguns anos, uma unidade móvel de processamento inteligente, para ajudá-lo no serviço. Ela contava com scanners, câmeras, sensores de todos os tipos e um diferencial: A capacidade de pensar e tomar decisões. Era quase humana. Sendo assim, deu o nome de sua irmã de sangue, que morreu num ataque NyahBag anos antes: Cyndel. Cyndel obedecia só e somente só a ele, embora eu fosse extremamente educado. Isso foi uma precaução dele, para evitar que ela caísse em mãos erradas. Na verdade, poucas pessoas sabiam sequer que ela existia, já que seus sensores eram escondidos no uniforme do meu irmão, e ela só falava através do fone de ouvido dele e dos auto-falantes instalados em casa. A central de Navi ficava no subterrâneo da nossa casa, pois era bem maior que a da Navi, devido a tecnologia da época. Agora, sem o David, ela provavelmente havia se auto-desligado.

      Mas agora eu tinha a Navi.

      Levei algum tempo para conectar tudo aquilo ao meu corpo. Sorte que eram interligados entre se através de redes sem fio de curta distância, ou então ia ser bem pior. Depois de me "conectar", liguei o aparelho, que nunca mais poderia ser desligado, a menos que fosse destruído. o sistema demorou um pouco a ligar, mas logo ouvi uma voz feminina no meu ouvido.

— Unidade de auxílio inteligente Navi operacional. Escaneando DNA do usuário...

      Senti um pelo do meu braço ser arrancado sem cerimônia.

— DNA bate com o padrão autorizado. Usuário Tyras Identificado. Boa tarde, Senhor Tyras. Deseja verificar as funcionalidades principais agora?

      Sorri.

— Sim, mas primeiro, gostaria que não me chamasse de senhor. Sou jovem demais pra isso. E também, gostaria que esquecesse as formalidades. Serei seu amigo, se permitir é claro, mas nunca serei um chefe ou dono.

      Navi demorou um pouco a responder.

— Então posso falar normalmente? — Perguntou.

— Com certeza!

— Obrigado! Quer ver o que eu posso fazer, então? — Falou, num tom visivelmente mais alegre.

      Sorri.

— Me surpreenda!

      Durante meia hora, Navi me mostrou como poderia calcular coordenadas, invadir computadores e qualquer coisa computadorizada, auxiliar minha mira, consultar qualquer coisa na rede, localizar qualquer lugar em mapas e uma infinidade de coisas mais. Ela, com certeza, salvaria minha vida incontáveis vezes. E também seria uma das minhas melhores amigas. Depois disso, fui ver como iria me vestir. Afinal, se ia deletar NyahBags, tinha que sair com estilo!
      Vasculhando o armário, encontrei um outro pacote, fechado. Havia algo desenhado nele, mas eu não compreendi. Enquanto tentava decifrar aquilo, Navi me chamou.

— Tyras, Isso é um código gráfico bidimensional.

      Entendi tudinho.

— Traduzindo...?

— Posso ler isso pra você. Está escrito: "Abre logo esse pacote, sua lesma!" Acredito que tenha sido seu irmão que deioxu isso.

— Conhece o senso de humor dele? — Perguntei.

— Isso e a caligrafia dele. Até pra um CGB ele tem uma caligrafia horrível.

      Caímos na risada. Depois de me recuperar, abri o pacote. Tinha um manto vermelho e um óculos escuros.

— Esse óculos é compativel com o meu sistema. — Navi me avisou. — E gostei do manto. Combina com a camisa preta.

— Se você diz...

      Olhei o manto e a camisa. Então peguei a DelBlade.

— O que vai fazer? — Perguntou Navi.

— Mudar um pouco o estilo...

(...)

      Todo mundo olhava para mim quando saí do quarto. Também, todos esperavam que eu saísse vestido como um admin normal, mas... não era bem assim que eu estava. Andei até alcançar a sala de Raphaell e Seiji. Um guarda que estava na porta me olhou de cima a baixo e falou, antes de entrar:

— Cara, a Raphaell vai te matar...

      Ele me anunciou para Seiji e Raphaell que mandaram eu entrar. O guarda saiu e me deu passagem. Entrei. Assim que os dois bateram os olhos em mim, tiveram reações, no mínimo, engraçadas. Seiji olhou pra mim com cara de quem não acreditava. E Raphaell olhava para mim alternando entre desespero, raiva, incredulidade e vontade de desmaiar.
      Eu havia rasgado as mangas e a frente da camisa de Admin, transformando ela numa jaqueta, que ficava por cima de uma blusa também preta. E por cima de tudo, o manto vermelho do meu irmão, também meio rasgado em baixo, parecendo chamas de cabeça para baixo. nas costas, as duas DelBlades. Na nova, gravei o nome "Fúria". Navi havia aprovado o visual.

— Mi... mi... minha camisa...! — Gaguejava Raphaell.

— Vim aqui apenas agradecer a ajuda de vocês e me despedir. Estou indo ajudar a base Livros. Ouvi uma das conversas pelo rádio e soube que estavam com problemas.

      Achei melhor não contar que tinha pedido a Navi para invadir a central de comunicações e procurar algo interessante. Afinal... eram apenas detalhes. Seiji olhou para mim e sorriu.

— Muito bem. Ia mandar alguém lá, mas já que você vai, leve o Duda e o Kant com você. Serão de grande ajuda.

— Sim, senhor.

— E sugiro que vá logo, antes que a Raphaell se recupere e mate você por "acabar" com a camisa que ela criou. Apesar de eu achar que ficou bem melhor assim...

      Nós dois rimos.

— Até logo, senhor.

— Boa sorte, "Fúria".

      Saí da sala. Duda e Kant, além de pvm123456 me esperavam.

— Até que enfim você... noosssa... — pvm me olhou de cima a baixo. — Mudança radical no visual hein?

— Eu sou o Duda e esse é o Kant. — Falou Duda. — É um prazer conhecê-lo.

— Com certeza é. Vamos. Acho que estou ouvindo a Raphaell tentando arrombar a porta.

      Os três olharam para mim.

— Explico no caminho.