O café da manhã indagável ainda não tinha sido suficiente para arruinar o dia de Hermione, afinal ela sabia que aquilo tinha sido apenas um pequeno aperitivo antes do grande prato principal. E por isso que a castanha não achou estranho quando sentiu aquele tapa estalar friamente em seu rosto.

Giny havia resolvido explicar para sua mãe o fator de que a mãe de seu noivo comentar pelo telefone sobre dois anjos de cristal e ela apenas entrar um. E isso, é claro, havia dado a Molly o direito de abrir bruscamente a porta do quarto de Hermione, enquanto esta se vestia para sair.

Hermione agora a encarava com fúria, tão perfeitamente expressa em seu olha cor chocolate, mas contida na sua expressão e em nas palavras pronunciadas.

–Fiz alguma coisa de errado, titia? – embora ela não pudesse deixar que essas saíssem carregadas de seu costumeiro cinismo.

–E VOCÊ AINDA PERGUNTA? – Molly indagou furiosamente.

–Claro, uma vez que a senhora simplesmente entrou no meu quarto e me bateu, sem nem ao menos dar qualquer tipo de explicação.

–Anjo de cristal, ouvir isso lhe significa algo?

Hermione deu um sorrisinho de lado. Aquilo deixava as coisas tediosamente claras.

–Ah! Então é por isso. – desdenhou, embora a ardência em seu rosto suplicasse por palavras mais duras. – Eu pensei que havia resolvido tudo com Giny ontem, pelo que vejo não, já que ela achou necessário correr para seus braços.

Hermione sabia que seu olhar frio e contraditoriamente ardente em ódio, fazia sua tia tremer, na verdade qualquer ser dentro daquela magnifica casa, por isso não lhe foi estranho quando viu sua tia recuar um passo, quando a fitou com maior intensidade.

–Ela veio até mim, pois lhe pedi explicação sobre o fato de que a senhora Malfoy me presenteou com dois anjos de cristais e apenas um foi entregue. E diante o ocorrido de ontem, não via outro comportamento, senão o que tomei.

–Claro que não. – ironizou Hermione. – É perfeitamente aceitável o comportamento da senhora, titia. Afinal, o que é uma conversa diante de um tapa?

Hermione viu com prazer Molly engolir em seco aquelas palavras. E completamente sem jeito recuou mais dois passos. A observou, enquanto a mulher olhava o quarto.

–Vejo que estava se arrumando para sair. – e voltou a olhar para a castanha.

–Sim. – disse Hermione firme, com segundas intenções atrás daquela simples palavra.

–Bem, então acho melhor deixar que termine de se arrumar. Pois sempre é bom ficar algum tempo sem sua presença. – e deu-lhe as costas.

Hermione ficou a olhando se retirar, deixando que aquele sentimento destrutivo, que há anos vinha nutrindo, corroesse dentro de si. Qual fortificara sua decisão naquele dia ensolarado. Um dia perfeito e lindo depois de uma tempestade...

Hermione estava preparada para entrar em ação, estava diferente dos dias anteriores. Para ser exata, de qualquer outro. Havia saído com aquela ideia martelando em sua mente, desde que decidira que iria até aquele lugar, e por isso que antes de chegar ali comprara e se vestira com aquela roupa. Os cabelos solto e repleto de cachos dava o detalhe final.

Varreu o local com seu olhar, buscando-o.

Tudo aquilo desde o inicio era apenas uma diversão para Hermione, ir até aquele lugar e encontrar-se com o noivo de sua prima, o belo e importante Draco Malfoy. Entretanto a castanha não podia e nem conseguia negar para si, que esse fato lhe deixava feliz. A única coisa dentre tantas obscuridade pela qual foi forçada a fazer parte, que realmente a fazia se sentir bem.

Caminhou firmemente quando o avistou sentado num dos bancos da praça da universidade. Draco Malfoy trabalhava na universidade na aérea de humanas, como assistente do coordenador do curso de direito. E apesar estar formato em direito e ter a licença de exercer sua profissão, ele ainda não trabalhava como advogado, apenas se mantinha naquele trabalho, que segundo seu querido tio, Artur Weasley, era sem futuro.

Sorrindo, estranhamente sorrindo, colocou-se diante dele. Draco que até então lia alguns papeis totalmente concentrado, fitou-a surpreso, quando ela tocou-lhe a mão.

A surpresa no olhar azul, Hermione traduzia como não sendo ocorrente por ela estar ali, e sim pelo fato dela estar vestida daquela forma. A mulher não estava com suas costumeiras roupas sóbrias e convencionais demais, embora, é claro, quando queria abusava demasiado de roupas insinuantes. O que não era o caso daquela tarde quente. O vestido claro, numa agradável mistura de azul bebe com lilás, de decote em ‘u’ com renda e de tamanho médio, levemente rodado; era distinto demais de qualquer outra coisa que Hermione um dia vestira. E deliciosamente isso se refletia no olhar de Draco, que pasmo levantou-se.

–Hermione? – indagou incerto.

Aquela incerteza, que a castanha constantemente buscava em qualquer um que provocava, lhe agradou completamente, quando a ouviu sair dos lábios de Draco. Sorriu abertamente, algo que ela estava buscando fazer naquele dia. Na noite anterior, logo após o acontecimento com os anjos de cristais, Hermione sentiu a necessidade de fazer uma visita ao noivo da prima, embora a ideia ainda lhe fosse incerta, já que achava que também tivesse uma grande parcela de culpa no acontecimento. O que sentenciou sua visita a Draco, foi o acontecimento de mais cedo. Caso, só caso sua dia Molly, a bondosa senhora Weasley não tivesse agido como ágil, Hermione teria ido a outro lugar para se encontrar com outra pessoa. Como as coisas eram irônicas.

–Estou tão diferente assim? – perguntou sorrindo.

Draco ainda a olhava surpreso. Teria ela atingindo-o completamente?

Ela o viu sacudir a cabeça e dar seu sorriso de deboche, o mesmo de sempre e em seguida voltou a se sentar.

–Achei que nunca mais colocaria o pé neste lugar.

–E porque deveria nunca mais vim até aqui?

Draco a encarou sério.

–Aconteceu alguma coisa? Algo de errado?

Duas pessoas e uma mesma pergunta. Algo de errado. A primeira quem a fez não lhe deixou tão desarmada e necessitada de um forte abraço e chorar, enquanto dizia que não suportava mais aquilo, como a segunda que a pronunciou a fez se sentir. A mulher que não gostava se mostrar frágil, parecia perdida diante aquela pergunta. Fugiu do olhar acinzentado e olhou inquieta outro ponto.

Você não é assim. As palavras brotaram dentro de si, dando-lhe força. Você, definitivamente, não é assim. Respirou fundo e voltou a olhá-lo, ao mesmo tempo em que ele se levantava. A precária armadura que acabara de vestir foi despida com a atitude dele.

O forte abraço fora dado.

Hermione só precisava aceitar aquele abraço e afundar seu rosto no peito dele e chorar. Simplesmente isso, e deixar com que aquela carga terrivelmente pesada saísse de cima de si. Embora pudesse ser encarado como um simples gesto, algo natural; para alguém repleto de angustia, ódio, magoas e dor, aquilo era inaceitável. Eram muitos que vibrariam em dê-la tão fraca, para ela se deixar levar por aquilo.

Friamente, como a vida vinha lhe ensinando, ela o afastou. Naquele instante ela o encarou com um desdém que intimamente a feriu.

–Acho que realmente fiquei diferente com essa roupa, não é? Já que até me abraçando você está. – disse com sarcasmo.

Draco suspirou diante as palavras dela e a olhou com impaciência.

–Já lhe disse, e acho que definitivamente não poderei cansar de repetir; Você é uma pessoa que nunca mudará, sempre será esse alguém cheio de magoa, agarrada nessa patética ideia de que o mundo ao seu redor precisa, necessita, de sua frieza.

Dito isso ele lhe deu as costas, pegando os papeis que outrora deixara no banco.

–Tenha um ótimo dia, Granger.

Antes que ele saísse, Hermione segurou a mão dele, o impedindo.

–O que você está fazendo?!!

Draco olhou em direção a voz, Hermione continuou parada, delineando um infectuoso sorriso em seus lábios sutilmente pintado de rosa. Sentindo-se vitoriosa...