Antes de sair, ele mentiu mais uma vez para ela, já estava acostumado com isso. Ele mentia para protegê-la, mentia porque mandavam, mas na maioria das vezes, não porque queria. A verdade é que já era considerado o mestre na manipulação, sedução e mentira. Ainda mais se tratando dela. Dessa vez, o fizera para obedecer uma ordem, era importante, a agência estava correndo risco, se eles não conseguissem mudar a situação, todos morreriam, inclusive ela, então ele fez com que ela acreditasse.

Ela foi capturada durante a missão. Ele foi resgatá-la, e acabou sendo preso também, só que tudo fazia parte do plano. Eles queriam a informação que ele havia passado, que ela não sabia que era falsa. E apesar de ter

Ela estava machucada, e como ele queria se libertar ali mesmo e acabar com o homem que a havia ferido. Mas esse não era o plano, e muitas vezes ela saia machucada das missões, era a vida deles. Ele foi obrigado a aceitar isso. Mas no fundo, isso sempre o incomodava.
Ele foi levado para a sala de interrogatório, e eles começaram a usar os seus instrumentos. A dor era quase insuportável, mas ele estava preparado. Não ia entregar nada. Resistir era o seu trabalho.
Quando perceberam que ele não falaria, o levaram de volta. Ela estava lá, ele não precisava fazer nada, tudo estava caminhando do jeito que queria. Usou a situação. A tensão era verdadeira, e ele usou o momento. Disse umas verdades para variar. Falou sobre a tortura, o que ele sentia por ela, como ela era importante para ele. Eles podiam ser mortos a qualquer momento, e isso só ia ajudar a missão. Então ele foi verdadeiro, e disse o que queria falar há algum tempo.
Os torturadores voltaram, e ela cedeu por causa dele, passou a mentira adiante. A missão oculta, até mesmo dela, havia terminado, era hora dos dois fugirem. Quando foram deixados sozinhos, ele se libertou e em seguida ela. No meio da fuga, ela desconfiou. Descobriu e o confrontou. Então era tudo mentira, disse ela mais uma vez magoada (já havia feito isso diversas vezes). Ele nem respondeu. E ela foi atingida por um tiro, ficando inconsciente. Ela podia morrer, e se isso acontecesse, morreria sem saber o que ele sentia. Pior, morreria magoada por causa das mentiras dele. Ele tentava não demonstrar, mas tal ideia o perturbava tremendamente. Ela não podia morrer. Não podia. Ele não ia conseguir viver sem ela.
A missão havia terminado, os objetivos foram alcançados, todos estavam a salvo agora, menos ela, que era a única que realmente importava para ele. Ele a levou para agência, e ela recebeu todos os cuidados necessários. Mesmo assim, não acordou. Talvez fosse melhor, ela ficaria sonhando, não precisaria passar por nada daquilo novamente. Ficaria num lugar onde ele não poderia magoá-la. No fundo, era ele quem a feria com maior frequência. Ele não queria ficar longe dela, e não ficou. Ela precisava saber a verdade. Precisava saber... Quando todos foram embora, ele se aproximou dela. A tocou com carinho e fez o que ele não tinha costume, disse algo totalmente verdadeiro: Nem tudo era mentira.
Em seguida a beijou. Ela se mexeu, estava bem. Talvez tivesse escutado, mas não era isso o que importava realmente. Ele tinha dito o que sentia e ela estava viva, ainda teria chances para descobrir essa verdade.
Para não sofrer mais, ele evitava conservar qualquer esperança, mas ela sempre despertava a esperança nele, era algo que ele não conseguia conter, e o fato de ela continuar viva, mantinha acesa a chama da vida nele. Naquele momento, ela, o que ele sentia por ela, era a única parte dele que ainda vivia.