Obeshchanie escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
Obeshchanie


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo, leia a fic "Ano Novo" da AnaStrakovinch pra entender melhor essa aqui.



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"Se eu tinha de fazer uma promessa para o ano novo, que fosse a mais singela e comum de todas, a que muitos pedem e poucos alcançam: que se eu tivesse de morrer, que morresse por ela, ou com ela; que nossas mãos sempre se aqueçam juntas, [...] Que eu pudesse estar com ela todos os dias como se este fosse o último."

- Ano Novo, Ana Strakovinch

***

Meu pai estava morto. Caído no chão, sem vida, com os olhos iguais aos meus arregalados e o braço estendido em nossa direção, como se tentasse alcançar a mim e a minha mãe em seu último momento de vida. Segurei o soluço que subiu à minha garganta e permaneci estático, observando o corpo de Thomas Riddle enquanto minha mãe, depois de um momento em silêncio, começava a gritar. Ela não gritava por medo de ter o mesmo destino do marido... Não, ela gritava por estar vendo a única pessoa no mundo que a completava caída no chão, morta. Gritava por saber que nunca mais ouviria a voz de meu pai, que nunca mais iria ter a companhia dele.

Eu não consegui me forçar a entrar em um desespero tão aberto quanto o dela. Podia sentir o pânico crescer dentro de mim, lentamente tomando conta de todo o meu eu, mas tentava me manter consciente, por ela. O pânico podia me ter por inteiro assim que minha mãe estivesse em segurança, mas, naquele momento, ele não poderia me cegar, me incapacitar, como costumava fazer sempre que aparecia.

Enquanto tentava lutar para manter todas as memórias de meu pai longe de minha cabeça – elas pareciam ter voltado todas de uma vez só... As aulas de matemática quando eu era menor, as visitas que ele me fazia em Eton, o olhar sério que me dava sempre que falava da faculdade, o desgosto de quando voltei para casa... -, vi o vulto de Mary Riddle ir na direção de seu corpo, mas ela nunca conseguiu completar o curto trajeto, pois algo a atingiu e, no momento seguinte, tudo o que eu sabia era que os gritos de dor emocional se tornaram em gritos de dor física. Foi apenas nessa hora que consegui expulsar tudo o que me segurava imóvel e sem voz... Gritei, implorei, chorei, tudo isso já ajoelhado ao lado dela, que se contorcia no chão.

E então ela parou. Parou de se contorcer e de gritar, mas continuava chorando. Suspirei, aliviado, ao vê-la respirando fundo, voltando a si. Seus olhos encontraram os meus e, pela primeira vez, não sabia o que eles queriam me dizer... Estava feliz por não estar mais com dor? Estava triste por continuar viva? Antes que eu pudesse descobrir, virou o rosto para o lado, observando meu pai e soltando um soluço baixo e agoniado.

Já estava pronto para tocar-lhe o rosto e fazê-la desviar o olhar de lá, mas, antes que pudesse fazer tal coisa, outro clarão verde invadiu a sala e minha mãe não se moveu mais... Não moveu mais o peito com a respiração ruidosa, não soluçou, não tirou os olhos do rosto de meu pai.

Eu estava sozinho. Não havia mais papai me esperando com um olhar severo quando fazia algo errado e com um elogio inteligente quando merecia, não havia mais mamãe na varanda, sorrindo e pintando enquanto cantarolava as cantigas em outra língua complicada... Só havia Tom. Tom, perdido, desesperado, cego.

As palavras atiradas contra a minha pessoa com tanto ódio já não eram mais percebidas pelos meus ouvidos. Não prestava mais atenção nas ameaças e nas acusações... Sim, sim e sim, eu era tudo aquilo. Era um covarde, era um idiota, era um trouxa, era a razão de ele ter se tornado o que se tornou, era o culpado, era o assassino. Não havia com o que discutir, ele estava certo.

Segurei a mão de minha mãe, sentindo o resquício do calor com o qual já estava tão acostumado, e acariciei-a com os dedos, antes de apertá-la como se não quisesse deixá-la escapar. Eu não consegui morrer por ela, protegendo-a... Mas ainda poderia morrer com ela.

“Por favor...” murmurei, puxando do meu intimo o último fio de voz que parecia restar em mim, e olhei para ele. Os olhos frios tão parecidos com os meus e os de meu pai me encaravam com inconfundível desprezo. Bom, é claro que ele me desprezaria... Além de tudo do que ele me acusara, eu era a imagem da derrota naquele momento. Tremendo, gaguejando, chorando. Uma criança assustada com um sonho ruim. “Por... Por favor...”

Seu rosto se contorceu com o que parecia ser nojo. De certo achava que eu estava implorando por perdão. Por favor, não me mate. Por favor, não me dê o mesmo destino deles... Mal sabia ele que eu não poderia ter outro destino depois de ver o que acontecera com meus pais.

Respirei fundo, ouvindo o ruído estranho que minha respiração fazia devido ao choro, e murmurei mais um pedido simples, o qual, novamente, fora interpretado da maneira errada por ele... Mas percebi que ele iria cumpri-lo para mim. Antes que finalizasse a tarefa, olhei para meu pai e, depois, para minha mãe. Apertei a sua mão uma última vez, aquecendo-a com o calor da vida que ainda existia em mim, e fechei os olhos.

Pelo menos eu cumprira a minha promessa.


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Notas finais do capítulo

Eu ainda estou com todos os sentimentos de Reichenbach Fall...Ai eu decidi ir reler "Ano Novo" da Ana e pronto, saiu isso.
1- Obeshchanie: promessa, em russo. Também é o nome do quarto capítulo da fic da Ana.
2- "pintando enquanto cantarolava as cantigas em outra língua complicada...": russo.
Espero que tenham gostado... Eu gostei e não gostei. Não gosto de escrever essa cena. :|



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