Stalker escrita por Kori Hime


Capítulo 3
Medo de morrer? Jamais!


Notas iniciais do capítulo

Nossa demorei demais para atualizar, proximo é final porque nao posso mais alongar as fanfics =X



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Grimmjow ouviu a voz de Ichigo procurando-o pela casa. Não achava que era necessário contar ao Kurosaki, aquilo que ouvira de Urahara. Não era da conta dele afinal. Assim que secou o rosto com uma toalha pendurada no gancho da parede, abriu a porta e encontrou Ichigo pronto para bater na porta.

— Precisa de alguma coisa? – O ruivo perguntou, tentando parece educado. Não que ele não fosse, mas era difícil lidar com alguém que sempre está com cinco pedras na mão pronto para atirá-las na sua cabeça ou fazer você engolir. Ou milhões de alternativas possíveis.

Grimmjow ainda ouvia a voz de Urahara em sua cabeça, dizendo que ele iria desaparecer. Sua existência logo mais não seria um problema para os shinigamis e seus aliados. Não seria mais nada.

— Não. – Grimmjow saiu do banheiro e foi para o quarto de Ichigo, como se já estivesse se sentindo em casa, ou aprendendo como era sentir-se assim a vontade. – Cade as outras pessoas que moram aqui? As das fotos?

— Viajaram, voltam daqui cinco dias.

Silêncio.

Grimmjow começou a mexer nas coisas da escrivaninha e Ichigo não se incomodou, era estranho, sim. Porque geralmente ele não gostava que mexessem em nada, ou tirasse do lugar como era o que estava acontecendo no momento.

Grimmjow rabiscou as canetas no bloco de notas, os papéis revirados, o laptop fora ligado sem querer, e ele sentou na cadeira de rodinhas, mexendo no aparelho.

— Você já viu um desses? – era como falar com um extraterrestre. Não houve resposta, mas Ichigo insistiu. – Eu uso mais para fazer trabalhos. Não sou muito de navegar na internet. As vezes fico conversando com pessoas que moram em outros países, claro que é difícil porque eu não falo tão bem outra língua, mas da para me virar.

Grimmjow franziu a testa e olhou para o ruivo.

Ah. Claro. Era como falar mesmo com uma pessoa que definitivamente não deveria saber o que eram outros países, uma vida normal, uma conversa sem ameaças. Ele se lembrou da época em que Renji visitava mais frequentemente Karakura.

— E o que conversam?

— Sobre várias coisas. – Ichigo tomou a liberdade de conectar-se ao chat. – Você pode conversar o que quiser, desde que a outra pessoa também queira o mesmo.

— E isso serve para que? – Grimmjow arqueou a sobrancelha, quando Ichigo se curvou para frente, e ocupou um espaço da escrivaninha ao lado dele.

— Conhecer pessoas novas, culturas novas. Sabe?

Talvez não.

— Ontem a noite... – Grimmjow começou, mas Ichigo parecia querer adivinhar o que ele queria falar, atrapalhando-o.

— O Alphonso veio aqui. Você o viu? Ele é meu chefe. – Ichigo costumava falar muito quando ficava ansioso. – Aquele filme nem era assim tão bom. Você assistiu? Tem alguns filmes de terror e suspense que eu gosto de ver...

Era tanta informação, tantas perguntas. Grimmjow se cansou de todas elas. Ele se levantou e andou um pouco pelo quarto com as mãos enfiadas nos bolsos do moletom. Ichigo arrumou a mesa, porque ele era bem organizado mesmo. Não gostava de ver as coisas fora do lugar.

— Eu vou morrer. – Grimmjow falou de uma vez. – Aquele seu amigo la não precisa se preocupar, porque logo eu não vou mais estar aqui.

Aquelas palavras tinham um peso enorme em sua voz. Quem imaginava vê-lo entregando sua vida assim, sem lutar?

Obviamente o Kurosaki fez uma avalanche de perguntas, e Grimmjow desejou morrer naquele instante para não ouvir mais a voz dele tagarelando diversas coisas no seu ouvido.

— Urahara! Vou falar com ele. Deve haver algum modo.

— Porque você esta tão preocupado com isso? Não é você quem vai desaparecer.

— Eu sei. Mas eu não quero que mais ninguém desapareça na minha frente.

— Sei. Vai gostar até de ver isso, com certeza. – riu debochado.

— Não vou. – disse sincero. Mas sinceridade não era assim uma qualidade que parecia ser muito apreciada por Grimmjow, muito menos piedade, amizade ou qualquer sentimento que o deixasse vulnerável.

— Vou embora. Não tem porque ficar aqui. – Grimmjow olhou pela janela, depois para suas mãos. Aquelas mão poderiam parecer normais, porém, por dentro, ele sentia as forças sumirem cada vez mais.

— E para onde você vai?

— Não sei, qualquer lugar. Vou voltar para onde eu apareci.

— A praia? Mas vai ficar vagando na praia até quando?

— Sei lá shinigami. Até eu morrer? – Saiu do quarto e desceu as escadas rapidamente, abrindo a porta. Ichigo foi atras dele, pedindo para que não fosse embora, e que poderia ficar ali quanto tempo fosse necessário até descobrirem uma maneira de resolver o problema, que aparentemente não tinha solução.

Ichigo parou na escada e pediu mais uma vez para ele ficar.

Talvez essa coisa de tá próximo a desaparecer tenha mexido com Grimmjow. Porque ele parou diante da porta. Olhou para fora, não havia nada lá para ele. Um mundo desconhecido, mas logo tudo iria acabar não é? Então porque não saía de uma vez?

Sentiu-se totalmente ridículo. Estava agindo como se fosse outra pessoa. Desde quando sentia medo de alguma coisa?

Ele olhou para Ichigo, e um sorriso totalmente sedutor apareceu em seus lábios. Ichigo arrepiou-se, recuando um degrau da escada. Segurou no corrimão, e concentrou-se em olhar apenas para os olhos azuis, o que não era a melhor forma de manter um equilíbrio.

Sim, as coisas estavam mesmo avançando.

Eles passaram a noite inteira acordados, conversando. Ou pelo menos Ichigo tentando a todo custo fugir de discussões desnecessárias, sarcasmo, e aqueles malditos olhos azuis que desconcertava-o juntamente com o ódio gratuito. Grimmjow parecia trazer à tona qualquer instabilidade emocional após uma discussão. E ele não estava mesmo ali para brigar, não uma luta como tiveram antes. Ichigo se perguntava se seu desejo por sangue, matar e destruir ainda estavam ali dentro. Ou, as coisas haviam mudado. Mas ele não quis saber.

O filme que passava na televisão acabou, mas eles sequer prestavam atenção no televisor. Ichigo resolveu fazer um chá, e Grimmjow foi para a cozinha. Ele ficou olhando-o pegar a chaleira para ferver a água e organizar as canecas e erva.

Grimmjow não sentia fome nem sede. Queria dormir. Sentia-se cansado. Uma exaustão fora do normal, seja lá o que fosse normal nessas circunstâncias. E depois do chá, ele foi dormir.

Grimmjow acordou apenas no dia seguinte, a tarde. Ichigo achou muito estranho e por isso ligou para Urahara, para saber detalhadamente o que estava acontecendo.

— Ele esta perdendo as forças. Não sei quanto tempo resta, mas logo não vai mais fazer parte desse mundo. – Kisuke estava bem sério quando falou ao telefone, e Ichigo apreensivo. – Sugiro que aproveite o tempo que tem. Acho que não tem muito na verdade.

Isso pareceu ser o suficiente para deixá-lo agora apavorado.

— Deve ter uma maneira.

— Desculpe, Kurosaki-kun. Mas não tenho como ajudar.

Não havia nada a ser feito. E se por acaso ele pedisse para que tentassem encontrar alguma solução em...

Espera. Ichigo respirou fundo. Estava indo longe demais. Quem poderia ajudá-lo? O capitão Mayuri? Era capaz dele dissecar Grimmjow. Abri-lo todo e fazer experimentos malucos. Ou quem sabe coisas piores. Não conseguia pensar em nada pior que isso na verdade.

Grimmjow desceu as escadas, estava vestindo apenas a calça do moletom, sem camisa. Ichigo perguntou se ele sentia-se bem, e se queria comer alguma coisa, porque tomou café há algumas horas, aliás, já estava passando da hora de almoçar.

— Eu como qualquer coisa. – Os cabelos bagunçados estavam ainda mais desgrenhados. Ele tinha um sono muito instável, Ichigo percebeu mas não disse nada. Só que ficava preocupado, porque ele se mexia muito e fazia uns sons estranhos, além de ter tirado a roupa completamente, alegando sentir muito calor com aquelas peças.

Ok! Ichigo se encolheu todo debaixo do lençol. Grimmjow dormiu no colchonete ao lado de sua cama, no chão. Ele achou melhor assim, ao invés de deixá-lo largado pela casa. Mas pensando melhor, depois de vê-lo arrancar a roupa, era bom se tivesse deixado ele ali, e ido dormir no quarto de seu pai.

— Vou fazer algo rapidinho, dai podemos ir na praia.

— Porque?

— Não quer ir? Você disse ontem.

— Eu não to falando disso. – Moveu as mãos no ar. – Quero saber porque esta fazendo tudo isso? Deixando eu dormir aqui, fazendo comida, me levando para os lugares. Onde quer chegar?

Ajudar, era somente isso que ele queria fazer. Sentia-se culpado de alguma forma, pelo o que estava acontecendo. Era bobagem, mas ele se sentia assim.

— Se quiser, posso falar com o Urahara. – Ele já sabia que não havia solução, mas não queria acreditar que aquela era a única solução.

— Eu não quero nada, nada de ninguém. Não preciso de ajuda. – Rosnou, zangado. Estava se sentindo um otário por ainda permanecer naquela casa. Ou melhor, por deixá-la em pé. Deveria destruir tudo o que passasse na sua frente. Mas no fundo sabia que não poderia causar tal estrago. Isso lhe causava mais dor que qualquer outra coisa.

Mas a maior questão era o porque de Ichigo bancar o bom moço com ele.

— Já vi pessoas sumirem na minha frente, e eu não gostei da sensação. Eu não quero que mais ninguém desapareça. Nem você, nem ninguém.

Grimmjow gargalhou, aquela gargalhada medonha. Para Ichigo, era apenas um louco rindo descontrolado de seu final fatídico. Certo! Aquilo arrepiava, mas não tanto quando aquele sorriso de antes. Aquele de canto, que fazia ele tremer e perder a noção do perigo.

— Já que você está todo arrependido pelo que fez, eu vou deixa me levar la naquela tal praia.

— Eu não esto arrependido de nada. – Queixou-se, estreitando os olhos, mas já era tarde, quando ele deu por si, Grimmjow já estava perto demais.

— Quem você quer enganar shinigami? – Seus grandes olhos azuis pareciam faiscar, e aquele sorriso a qual Ichigo temia, desmanchou-se nos lábios dele.

Sentiu-se acuado naquele instante. Perdido, era a verdade. Estavam tão perto e...

Ichigo afastou-se, fugindo mesmo. E Grimmjow ficou lá parado, rindo como um demente da falta de coragem do ruivo.

Passado o susto, Ichigo pediu meia hora para preparar as coisas e saírem, só havia passado quinze minutos e o ex-espada estava reclamando da demora. O ruivo gritou da cozinha que sentasse e esperasse de uma vez enquanto ele preparava a comida para levar.

— Eu não estou com fome.

— Mas eu sim. – Ichigo apareceu na porta, com uma fatia de pão em uma mão e não outra uma faca que servia para passar o patê. A campainha tocou e Ichigo não foi rápido o suficiente para ir até a sala e abrir a porta, antes que Grimmjow o fizesse.

Tarde demais.

Alphonso estava lá, com uma sacola na mão, que pelo cheiro agradável, deveria ser o almoço.

— Ichigo-kun. Desculpe, eu não sabia que estava com visita. – O moreno estava parado na porta da sala, e Grimmjow bem no meio como se fosse um segurança, impedindo a entrada dele na casa.

— Oi, Alphonso-san. – O ruivo conseguiu um espaço entre Grimmjow e a porta, mas só dava para ver sua cabeça e os cabelos arrepiados.

— Não vai me apresentar seu amigo? – Al sorriu gentilmente, com os olhos fechados.

— Eu não sou amigo dele. – Grimmjow respondeu sem paciência.

— Não liga para ele, é meu... primo Grimmjow. – Ichigo passou por debaixo do braço de Grimmjow, e pode finalmente cumprimentar Al de forma adequada. Mas um pouco desconfortável com Grimmjow atrás dele, e seus olhos o fuzilando.

— Primo?

— Sim. Chegou ontem a noite. – Ichigo achou melhor não dar muitos detalhes, porque poderia acabar exagerando na mentira. – Ele veio passar uns dias aqui em casa. Não é? Grimmjow!

— É. – Respondeu, sem tirar os olhos raivosos da direção de Alphonso que estendeu a mão para cumprimentá-los. Mas Grimmjow sequer moveu-se ficou olhando para a mão dele estendida no ar e depois deu de ombros.

— Eu achei adequado trazer o almoço, já que você esta sozinho em casa. – Al estendeu a mão e entregou a sacola para Ichigo. – Quer dizer, agora não esta mais sozinho.

— Ele esta comigo. – Grimmjow cruzou os braço.

— Obrigado pela gentileza. Eu estava fazendo uns pães com patê para levar até a praia. Vamos dar um passeio por lá para Grimmjow conhecer o local.

— Que ótimo. Se eu estivesse livre, iria com vocês, mas tenho várias coisas para resolver no restaurante.

Grimmjow já estava pronto para dar uma bela resposta, mas Ichigo pediu para ele levar a sacola até a cozinha. Ele não ia, é lógico, não aceitaria ordens. Ichigo suplicou com os olhos para que ele fosse, e não estragasse nada. Porque, afinal, Al era seu chefe. E também não queria que ninguém ficasse comentando sobre o que acontecia em sua casa, como se Alphonso fosse esse tipo de pessoa. Nem em sonhos.

— Acho melhor eu ir, não quero atrapalhar o passeio de vocês. – Al percebeu a situação constrangedora que Ichigo estava passando, e decidiu colaborar um pouquinho. Ele se despediu e foi embora.

— Precisava falar assim com ele?

— Esse cara é muito folgado. – Grimmjow gritou, como se Alphonso pudesse ouvir do carro, já distante dali. Ichigo empurrou ele para dentro de casa, e fechou a porta, antes que alguém os visse.

— Você não pode agir assim com as pessoas, elas não são suas inimigas.

— Mas eu não gostei dele.

— Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas não podemos ser mal educados com as pessoas só por isso.

— Que coisa chata!

— Grimmjow é importante, você precisa se adaptar a esse mundo. É diferente, não estamos em uma batalha.

Grimmjow virou irritado. – Eu vou morrer! E você preocupado com o que os outros vão dizer? Foda-se eles. Não tenho que agradar nenhum merda.

Ele subiu as escadas e bateu a porta do quarto com violência. Ichigo levou um susto, e depois passou a mão no pescoço. Talvez o passeio deles tenha sido adiado naquele dia.

Grimmjow andou de um lado para o outro, sentia ódio. Sentia tanta raiva. Não pela visita de Alphonso, era o tipo de pessoa que nem fedia, ao seu ver. Mas as palavras de Ichigo transformaram-se dentro de si. Viver, adaptar-se nessa realidade! Como?

Ele iria morrer, deixar de existir nesse mundo e o que seria depois disso?

Pior, o que era isso?

Medo. Grimmjow estava com medo de morrer. Ele não queria morrer. Não agora, não sem lutar. Entregar-se assim como um covarde.


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