Stalker escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Shinigami! Eu voltei para acabar com você.


Notas iniciais do capítulo

Não tenho muito o que dizer, acho divertida essa história, é isso.



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De cima do prédio mais alto de Karakura, dava-se para enxergar quase toda a área central, incluindo alguns bairros residenciais, e logo mais à frente, uma escola. Foi atraído até aquele local pelo poder espiritual que sentira assim que pisou os pés ali.

Não sabia exatamente o que havia acontecido e quanto tempo se passou. Só recordava-se de ter chegado ao fim, largado no chão, e em seguida uma mulher com uma ridícula trança na frente do corpo apareceu. Depois disso era apenas escuridão.

Ergueu o queixo, soltando um ruído agressivo pela boca, recordando-se da mulher estranha de tranças. Seu sorriso carismático e sem medo de chegar tão perto dele, como se naquele instante pudesse ser um perigo para qualquer coisa viva. Estava debilitado, na verdade quase morto. Mas não entregou os pontos assim tão facilmente. Apesar de que, uma hora, antes de ser atingido fatalmente, ele recuou. Não sabia por que motivo fizera aquela idiotice, mas recuou. E o que estava feito, está feito.

Enterrado no passado, bem esquecido. Pronto.

Depois que seu corpo foi curado, ele adormeceu e acordou sozinho na praia de Karakura. Deu por falta de sua espada assim que ergueu o corpo com certa dificuldade. Não conseguia ainda se mexer cem por cento. Mas aos poucos foi recuperando seus movimentos. E assim que pôde se sustentar em pé, saiu daquele lugar vazio, não antes de olhar para o mar. O barulho que água fazia ao chocar-se com as rochas era agradável.

Os grandes olhos azuis se abriram, afastando as lembranças, cruzou os braços na frente do corpo e deu um sorriso. Ele sentiu aqueles pontos de poder se movimentarem em grupo. Então estavam juntos, mas nenhum deles parecia ter aquela força que sentira há sabe-se lá quanto tempo atrás. Ficou tanto tempo apagado e sozinho que não sabia... e desde quando se importava com o tempo?

Ele deu alguns passos para trás e saiu rapidamente daquele prédio. Não estava em busca de lutas que não fosse aquela que ele realmente desejava terminar. E se Ichigo não o matou quando teve chance, azar o dele.

— Kurosaki-kun, você vai para casa? – Inoue perguntou, agarrada a alguns livros.

— Sim, mas antes vou passar numa loja. Quer vir comigo?

Orihime sentiu o rosto ferver e sacudiu a cabeça, dizendo que não poderia, pois ia trabalhar. Ela saiu correndo na frente, quase batendo num poste. Ichigo não falou nada, já estava acostumado com aquele jeito peculiar dela.

— Eu tenho que cuidar de algumas coisas antes de ir para casa também, nos vemos amanhã?

Ishida parou na calçada e estendeu para Ichigo um de seus cadernos, que ele pegava emprestado para copiar o que havia perdido. Já que agora era ele quem fazia um certo trabalhinho na cidade, e perdia as aulas. Ichigo então colaborava de outro jeito. Na escola.

— Até amanhã.

Sado também foi embora, acenando silencioso com a mão, e logo depois Ichigo viu-se sozinho no meio da calçada. Ele respirou fundo, sabia por que todos sumiam assim sem dar satisfações a ele. Era óbvio, mas mesmo que tivesse curiosidade em saber o que seus amigos andavam enfrentando, ele estava contente por eles ainda terem seus poderes e assim ficarem em segurança, de alguma forma.

OK! Chega de vivenciar o que ficou no passado. Ichigo estava aproveitando aquela nova fase para fazer coisas que mal tinha tempo. Estudar de verdade, ser mais presente com suas irmãs. Ir aos treinos de futebol, ler, ir ao cinema. Havia tantas coisas que ele queria fazer, e estava fazendo. Já que agora sobrava muito tempo ocioso na sua agenda. Além dele ter conseguido um emprego num restaurante nos finais de semana.

Mas hoje ele ia descansar. Pararia numa locadora de vídeos para alugar algum filme, e aproveitar a casa, pois seu pai e as meninas viajaram para visitarem algum parente distante, e só voltariam daqui uma semana. Como elas eram ótimas alunas, perder uma semana de aula não seria tão prejudicial.

Ichigo foi até a locadora e escolheu um filme de terror para ver. Na volta para casa, parou num mercadinho e comprou pipoca, refrigerante e chicletes. No meio do caminho, encontrou-se com Tatsuki, que olhava para cima de um prédio. Ela parou ali porque teve a sensação de estar sendo vigiada. Arrepiou-se toda quando contou a Ichigo que simplesmente sentiu um vento frio, e algo como se alguém tocasse o ombro dela.

O ruivo a tranquilizou, não deveria ser nada demais. Claro, porque não foi ele quem sentiu o arrepio aterrorizante.

— Quer ir lá em casa ver um filme? Todos estão ocupados, então vou acabar ficando sozinho.

— Desculpe, mas eu prometi a minha mãe que iria com ela comprar roupas. – a garota cruzou os braços, fazendo uma careta. Sua mãe queria que ela comprasse roupas bonitas, saias e coisas rosas, como as meninas da idade dela fazia. Não era de seu gosto, mas dizer isso para a mãe não seria o suficiente.

— Boa sorte. – Ichigo sorriu, e virou-se, continuando o caminho que fazia.

Do alto daquele prédio que Tatsuki tanto olhava, estava ele.

Num movimento rápido, atirou-se da cobertura do prédio e foi parar na calçada, fazendo uma pose de combate, mas sem sua espada na frente do corpo, o que já era muito ridículo, mas enfrentaria o jovem que vinha em sua direção.

— Shinigami! Eu voltei para acabar com você. — Grimmjow inflou o peito, gritando sua ameaça com toda a força que tinha em seus pulmões. No entanto, Ichigo não fez nada. O rapaz agachou-se na calçada e começou a mexer nos cadarços do tênis que estavam desamarrados.

Grimmjow piscou os olhos, arqueando as sobrancelhas de forma violenta e gritou novamente para que Ichigo não o ignorasse, eles deveriam lutar até a morte, ali.

Kurosaki Ichigo continuou amarrando os cadarços, e em seguida levantou-se. Pegando a sacola da locadora de vídeos que estava no chão. Ele olhou para os lados, não havia ninguém ali, era uma rua bem tranquila, e naquele horário, todos deveriam estar trabalhando ainda, porque acabou pegando um atalho para casa e gostava de ir pelos cantos mais vazios de Karakura.

— O que você pensa que esta fazendo shinigami?— Grimmjow gritou. — Por acaso esta com medo de lutar comigo? — O ex-espada continuou berrando coisas diversas para Ichigo, que passou ao lado dele sem dar atenção. – É porque estou sem espada? Eu não preciso dela para chutar sua bunda.

Não é que Ichigo não estava nem aí por ver Grimmjow na sua frente, ameaçando-o. É que Ichigo não conseguia vê-lo. Ele já não tinha mais poder para isso. Assim como fora com Rukia, aos poucos seu poder foi se esvaindo, ate que chegou o dia em que ela desapareceu de suas vistas.

Porém, Grimmjow não conhecia aquele detalhe. E ele já estava muito puto com a forma que Ichigo o tratava, com aquele desprezo.

Ele então ameaçou quebrar o pescoço do ruivo, avançando em cima dele, e foi aí que percebeu que havia algo errado. Aquele Shinigami foi até o Hueco Mundo, podia fugir com aquela mulher, mas ficou para lutar. Ele lutaria mesmo que fosse para morrer.

Viu Ichigo caminhar devagar pela calçada até uma distância onde considerou muito longe, ele então o seguiu.

Seguiu até a casa do rapaz.

Parou na frente da casa, olhando em volta. Ali era ainda mais 'parado' que onde haviam se encontrado, ou pelo menos ele havia o encontrado. Ichigo já estava entrando pela porta. Grimmjow adiantou-se e passou pelo rapaz, que arregalou os olhos sentindo um arrepio subir a espinha, e a porta balançar sozinha. Na verdade Grimmjow deu um soquinho nela, para que não fosse fechada antes dele entrar.

Ichigo olhou com atenção o lado de fora, não ventava. Balançou a cabeça, era paranoia, talvez estivesse impressionado pelo que Tatsuki falou. Que aliás, era Grimmjow quem deixara a jovem naquele estado.

Ichigo foi na cozinha fazer a pipoca, mas achou que ainda estava cedo para ver o filme de terror, então foi tomar um banho e trocar aquela roupa do colégio. Ele parou nas escadas, e olhou a sala silenciosa, piscou lentamente, sentia-se observado, mas era bobagem também. Subiu batendo o pé na madeira da escada e alcançou o topo, virando a esquerda para ir pro seu quarto.

Ainda parado perto da porta da sala, Grimmjow olhou atentamente aquele espaço. Era um lugar estranho ao que estava acostumado. Obviamente que no Hueco mundo não existiam locais como aquele. Ele caminhou pela sala, e foi até uma estante com livros e fotografias de Ichigo com duas pirralhinhas, e um homem com uma mulher que tinha os mesmos olhos do morango.

Grimmjow ouviu um barulho estranho vindo do segundo andar e foi subir as escadas, ainda curioso com tudo o que aparecia na sua frente. Ele viu um corredor com algumas portas, apenas uma estava aberta, ele sentiu o cheiro de Ichigo ao entrar naquela porta aberta.

Olhou com uma cara de tédio para o quarto, avançando para dentro do cômodo até a escrivaninha, onde tinha alguns papéis, mais livros e na parede um mural com fotos de pessoas com Ichigo, incluindo duas que ele já havia visto. Orihime e Rukia.

— Idiota.— Ele sentou na cama, e deu uns pulinhos, bagunçando os lençóis e desarrumando as roupas de escola que Ichigo tirou para o banho. Depois ouviu a voz de Ichigo tomar conta do banheiro até o quarto, ele estava cantando? Grimmjow se levantou e saiu do quarto, abrindo devagar a porta do banheiro, de onde vinha a cantoria. Era algo estranho, ele não sabia o que era aquele barulho, só sabia que o ruivo era muito desafinado, seja o que for que ele estivesse fazendo. Era melhor parar.

O banheiro estava com aquele vapor de água quente. Desnecessário porque não fazia frio. Mas Ichigo gostava de banhos escaldantes. Grimmjow passou a mão no espelho de frente a pia e pode se enxergar ali. Ele mexeu também no armário, era curioso mesmo. Encontrou várias coisas que não sabia pra que servia.

— Dream dream oikosu sa real world … – Grimmjow girou os olhos, ouvindo Ichigo cantar debaixo do chuveiro. Continuou abrindo algumas gavetas, tirando pentes e escovas de cabelo do lugar. – Scream scream netsujou sakebu voice... – Ele pegou um pote de creme, e abriu a tampa, cheirando o conteúdo, sentiu o aroma de morango. Mas que original. – Heart heart hajirau your smile … – Ergueu uma das pernas e pisou em cima da tampa do vaso sanitário, apoiando o resto do corpo no joelho, enquanto via a sombra de Ichigo se mexer embaixo da água, e cantar. – Stay beautiful... Scream scream ho ho … Heart heart.

Grimmjow pegou a toalha pendurada e jogou pra dentro do box, fazendo Ichigo parar de cantar, levando um susto no mesmo instante. Ele soltou um palavrão, abrindo de uma vez a divisória acrílica escura, perguntando quem estava lá.

— Sou eu, seu babaca. – ele riu, mas parou para analisar as formas do rapaz. – Nada mal shinigami. Nada mal. – Grimmjow deu uma risada bem espertinha, enquanto Ichigo fechava de novo a porta do box e terminava o banho.

Ele saiu do box, e começou a se secar em cima do tapetinho. Olhou confuso para o espelho, tinha uma marca de mão ali, mas ele não passou a mão no espelho, sempre fazia isso, mas não fez. Tinha certeza. Secou as costas, e os braços, abaixando o corpo para secar as pernas.

Grimmjow estava parado atrás dele, encostado na parede. O banheiro não era muito grande, mas o suficiente para Ichigo se mexer bastante enquanto secava a panturrilha.

— Shinigami, não é uma boa ideia fazer isso na minha frente.— Grimmjow pôs a mão no queixo, olhando atentamente o corpo do menor. Ele parecia ter crescido mais? Talvez sim. Também parecia mais forte. — Quer saber? Você está bem demais pra quem vai morrer...

Ele ameaçou, mas isso não queria dizer que realmente iria matar Ichigo. Não do jeito de nunca mais respirar, poderia matar de outro jeito.

— Droga, quem andou mexendo nas minhas coisas? – As gavetas estavam todas reviradas, e Ichigo era muito cuidadoso com seus pertences, deixava tudo muito bem organizado. E não poderia ser o Kon, porque sua irmã mais nova o levou para a viagem.

Ichigo pegou o pote de creme, e achou estranho porque aquele não era o dele. Não usava creme de morango. Era muito estranho isso. Mas foi Karin quem deve ter trocado sem querer.

Depois de enrolar a toalha em volta da cintura, e pentear os cabelos, que estavam um pouco maiores desde que Grimmjow o vira, Ichigo foi para o quarto trocar de roupa. Lá ele teve mais surpresas, estava tudo desarrumado, fora do lugar.

Ichigo ficou no meio do quarto, com a mão na cintura, sem entender nada.

— Gostou do presentinho que te dei? Shinigami. – Grimmjow gargalhava escorado na porta do quarto, enquanto o Kurosaki arrumava aquela zona.

Já estava de noite, quando Ichigo terminou de fazer alguns deveres da escola, ele organizou a escrivaninha, abriu a última gaveta pegando o seu distintivo de shinigami substituto. Ficou olhando para o objeto por um longo tempo. E Grimmjow estava deitado na cama, entediado já em vê-lo estudar alguma coisa que nem tinha ideia do que fosse.

Quando percebeu que Ichigo estava muito calado, ele abriu os olhos, e sentou-se na cama para era melhor o que era que ele tanto encarava.

— O que se faz nessa merda? Você vai ficar com a bunda colada nessa cadeira o resto da vida? Que saco. – Grimmjow coçou a barriga e bocejou, desanimado.

Ichigo se levantou, e pegou o celular. Grimmjow observou os movimentos dele, andava de um lado para o outro no quarto, passando a mão livre nos cabelos já secos.

O ex-espada deu uma olhada pela janela, sentindo uma vibração diferente, não era o poder de nenhuma daquelas pessoas que sentiu anteriormente, era como um aviso.

Ichigo ainda falava no telefone com o pai dele, e Grimmjow ignorou a conversa melosa. Ele ajoelhou-se na cama olhando o lado de fora, tinha um homem do outro lado da rua com uma caixa na mão. Ele atravessou a rua e parou diante a casa de Ichigo. Não demorou muito pra campainha soar e o ruivo ir atender.

Grimmjow não gostou daquilo. Ele foi junto com Ichigo e ficou parado de pé na escada, fazendo uma pose de cara malvado, rangendo os dentes, como se a visita fosse vê-lo daquele jeito.

— Alphonso-san. – Ichigo estava aparentemente constrangido com a visita de seu chefe, mas não era como se Grimmjow fosse perceber isso. Ele ainda estava rosnando na escada.

— Ichigo-kun, já disse que pode me chamar de Al, como todos me chamam.

Alphonso era dono do restaurante em que Ichigo trabalhava aos finais de semana, que era quando o local estava mais movimentado e precisava de uma ajudinha extra.

— Mas eu acho melhor te chamar de Alphonso, me sinto mais a vontade.

— Você que sabe. – Al, sacudiu os ombros, mostrando a caixa que havia trazido. – Eu fiz um montão de trufas, e lembrei que você gosta, então estava passando por aqui...

Da escada, Grimmjow fuzilava o moreno com sotaque engraçado. Ele desceu os degraus e posicionou-se atrás de Ichigo, estufando o peito como se fosse um segurança particular.

— Obrigado Alphonso-san. Mas não precisava se preocupar. – Ichigo pegou a caixa de trufas das mãos de Al, e ficou olhando-o, como se estivesse esquecido onde estava sua educação sem nem convidá-lo para entrar.

— Vai ficar olhando ele com essa cara de idiota? — Grimmjow grunhiu, nervoso.

— Posso entrar?

— Claro que não. – Grimmjow rosnou.

Não sei, eu estou sozinho e não tem nada para te oferecer.

— É, cai fora.— Grimmjow riu vitorioso.

— Eu posso fazer algo pra gente comer. Qual é Ichigo? Tá com medo de mim?

Alphonso entrou, pedindo licença, tirou os sapatos e foi para a cozinha, ele já conhecia muito bem a casa. Ichigo o seguiu, levando a caixa de trufas, e Grimmjow socou o ar, querendo acertar a cabeça daquele estranho de voz engraçada.

Grimmjow foi lá para a cozinha e bufou, olhando a cena patética de Alphonso colocar um avental com babadinho rosa.

— Você tá saindo com esse cara? Tá de brincadeira né?

Ichigo encostou-se na pia, rindo de Al. Ele ficava mesmo horrível com o avental de sua irmã amarrado na cintura. E Grimmjow, emburrado.

— Vou fazer um frango, eu vi que tem todos os ingredientes que preciso na geladeira. Você poderia conseguir uma garrafa de vinho. Que tal? – Al deu uma piscada de olho, que causou náuseas em Grimmjow.

— Você se esquece de que eu não tenho idade para beber? – Ichigo foi até a geladeira e pegou duas latinhas de refrigerante, jogando uma para Al. Ele abriu a outra e tomou um gole.

— Certo. Certo. – Al se rendeu ao refrigerante e passou a cortar os legumes, verduras e o frango. – Não tem mistério em cozinhar, sabe. Eu gosto de misturar aquilo que meu paladar aprova. Vou fazendo umas experiências, até conseguir o sabor ideal.

Ichigo parecia interessado na conversa de Al. Ele sequer sabia fritar um ovo, trabalhava como ajudante de garçom no restaurante, e estava aprendendo muita coisa nos últimos meses.

— Fala sério, que conversa é essa?— Grimmjow olhou os legumes bem cortados em cima da pia, os outros dois estavam no fogão, fritando a cebola e acrescentando outros temperos. – Pra que serve isso?— Ele bateu a mão nas batatas e cenouras cortadas, que caíram, esparramando-se no chão. – Ops.

Alphonso imediatamente ajudou Ichigo a juntar tudo o que caiu no chão, lavando logo em seguida. O frango estava fritando na panela e Al pediu para o ruivo dar uma misturada. Grimmjow foi atrás e acidentalmente, virou a panela.

— Mas que merda. – Ichigo reclamou. Ele já estava de saco cheio daquelas brincadeirinhas. Porque com certeza só poderia ser uma pessoa. Ou duas. – Al, eu vou ali em cima ver uma coisa e já venho. Fica à vontade ai.

— Tudo bem. – Alphonso deu um sorriso muito animado por Ichigo tê-lo chamado de Al. Achava que esse dia não ia chegar nunca. Não que ele estivesse esperando por... ah! Ele estava sim esperando. Não visitava seus empregados no meio da tarde com trufas na mão, não se não tivesse algum interesse maior. O que já estava mais do que óbvio, apenas Ichigo fingia não entender.

Enquanto Al divagava na cozinha, Grimmjow subiu as escadas atrás de Ichigo e entrou no quarto do ruivo. Ele estava lá falando com um tal de Renji e uma Rukia.

— Vocês vieram aqui pra me deixar maluco? – Ichigo olhou ao redor do quarto, estava sozinho, não sentia nenhuma presença espiritual. Era a parte mais difícil. – Eu não to de brincadeira, se querem brincar comigo, melhor parar.

— Você é louco?— Grimmjow encostou-se na porta do guarda roupa, e cruzou os braços. — Tá falando com quem? Eu não tô vendo ninguém aqui.

— Rukia! Renji. Se vocês estão ai, me deem um sinal, qualquer coisa. – Ichigo ficou olhando para o vazio do quarto, e nada aconteceu. Grimmjow bocejou. – Certo. Seja lá quem for, eu quero que vá embora.

Ichigo saiu do quarto, batendo o pé, parecendo irritado. Grimmjow nem olhou, deitou na cama e fechou os olhos com as mãos atrás da cabeça. A cama não era assim tão grande, mas dava pra ele ficar ali confortável. Não que tivesse muitos confortos no Hueco Mundo, mas isso não importava agora.

Ele ficou deitado ali por um tempo, até ouvir um barulho estranho vindo lá de baixo. A curiosidade foi grande, então ele foi ver o que era.

Ichigo e Alphonso estavam sentados no sofá, com balde de pipoca, Grimmjow não conhecia aquilo, chegou pertinho deles e sentiu um cheiro diferente. Fez uma careta para a pipoca quando Al ofereceu para o ruivo mais um pouco e ele recusou, aumentando o volume da televisão, estavam assistindo o filme de terror que Ichigo havia alugado naquela tarde.

Grimmjow foi até a janela e abriu um pouco a cortina, já estava de noite. Ele achou estranho porque não parecia ter passado nem uma horinha lá na cama, e já estava de noite.

Como se o tempo estivesse passando mais rápido sem que ele sentisse.
Ele ouviu um grito vindo da televisão, e viu uma mulher ensanguentada. Aquilo chamou sua atenção. Ele foi pro sofá, era bem grande e havia um espaço entre Al e Ichigo, na certa alguém ali tava com medo de aproximação.

— Que coisa é essa?— Grimmjow estava meio largado no sofá. Ichigo estava segurando uma almofada, e esticava às vezes o braço pra alcançar o balde de pipoca. Alphonso parecia mais descontraído, então Grimmjow entendeu que a distância ali, vinha de Ichigo. Melhor pra ele.— Que porra esse cara tá fazendo? Se é pra matar faz direito.

Os comentários dele obviamente não eram ouvidos, mas ele não deixava de fazê-los.

— Eu não acredito que tô vendo esse babaca fazer isso, tá tudo errado, por que ele não torce logo o pescoço dessa vaca? Ela não para de gritar.

Al esticou o braço e passou por cima dos ombros de Grimmjow, ele fuzilou o moreno com seus olhos azuis e se não fosse Ichigo intervir, pausando o filme para ir buscar mais refrigerante, talvez Alphonso não ia conseguir ver o final do filme.

— Que horas são Ichigo?

— Já passa das oito. – Ichigo pegou as duas últimas latinhas de refrigerante da geladeira e deu uma delas para Al.

— Nossa! Mas já? Eu esqueci completamente o horário de jantar do restaurante. Preciso ir.

Al procurou o celular no bolso, ele deixou no modo silencioso, sem vibrar e esqueceu-se completamente dos compromissos, havia umas trezentas ligações perdidas. Ichigo não se sentiu obrigado a pedir para ele ficar mais um pouco, levou-o até a porta e agradeceu pelo jantar. Eles trocaram mais algumas palavras e então o Kurosaki fechou a porta, voltando ao sofá. Não sentia mais vontade de assistir o filme, mas apertou o play.

— Você é mais interessante lutando.— Grimmjow ocupou o lugar que era de Al, e esticou as pernas no sofá. Ichigo estava encolhido no cantinho, mas não porque sentia que o móvel estava todo preenchido por alguém.— Ou quando está pelado.

O resto do filme, Grimmjow roncou no sofá. Aquele filme era simplesmente um saco, e muito mal feito. E ele era um ótimo crítico, afinal, era praticamente um perito em assassinato.

Quando acordou já era manhã. Demorou um pouco para abrir os olhos e adaptar-se a claridade da sala. As cortinas estavam todas bem abertas, assim o sol iluminava o ambiente.

Grimmjow sentou-se no sofá, coçando os olhos, sentia-se cansado. Uma fadiga que era novidade, ele nunca havia se sentido daquela forma, ou dormido daquele jeito.

Ele ouviu um barulho vindo da cozinha e foi ver o que Ichigo estava fazendo.

— Melhor parar de cantar shinigami. Ou vai me dar dor de cabeça. – Ele se sentou de frente para Ichigo que servia algumas coisas no prato, em seguida tomava um chá.

Grimmjow fez pouco caso da cena, e ficou com cara de poucos amigos olhando o ruivo comer. Ele já estava saturado daquela situação. Tinha que dar um jeito de fazer Ichigo vê-lo, ouvi-lo. De qualquer forma. Para isso ia precisar de alguém que o visse.

Quem poderia ser?

 


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