Speak Now. escrita por Jones


Capítulo 1
Speak now or forever hold your peace.




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James Potter In memoriam & Seok Wai-Li Chang
Lilian Evans Potter In memoriam & Kar Wai- Li Chang

Convidam para a cerimônia religiosa do casamento de seus filhos

Harry James Potter e Cho Chang

A realizar-se no décimo terceiro dia do mês de junho do ano de dois mil e três às seis e meia da noite no Salão de Festas Primrose - Heaven’s Place, Bristol, Inglaterra.

– Quem é o desgraçado que convida e desconvida a ex., para o próprio casamento? – Eu perguntei para Hermione. – Fala para o seu amigo que eu não vou nem passar perto de Bristol no dia do casamento dele, que é para ele ser feliz com a noivinha asiática dele.

Mentira.

Eu poderia dizer que ela é uma vadia. Ela é uma vadia. Pronto, desabafei. Mas é meio feio chamar as pessoas assim.

Ela é uma moça que está se casando com o cara pelo qual eu claramente ainda sou apaixonada. Ela é uma ridícula idiota. Acho que eu me sinto melhor xingando aquela Xing Ling. Vaca. Pronto, parei.

Ontem a Luna disse que eu tinha que fazer algo se ele me faz falta, disse com aquela voz pacata “por que você simplesmente não diz a ele o que sente?”. Como se eu tivesse tempo para isso, ele vai se casar hoje. A resposta da Luna para isso foi algo como “diz amanhã no casamento.”. Eu ri, claro que não podia fazer isso. Por mais que eu a odiasse, não ia estragar o dia mais feliz da vida dela. E claro que a Luna tinha uma resposta na ponta da língua “ah, é verdade... Mas não é como se você ligasse, ou é?”.

Eu não ligava, e era por isso que eu estava ali tomando dois shots de tequila para ver se a coragem surgia. Considerei sair do jeito que estava, mas mais assustador que tentar roubar o noivo, era tentar roubar o noivo de pijama.

Achei um vestido vermelho que me deixaria gostosa até se eu fosse rejeitada. Sem contar que o vermelho transmitia uma mensagem que no momento é “vim destruir a festa de vocês, e eu não ligo; meu nome é Gina e eu sou gostosa.”. A última parte é só para aumentar a autoestima de alguém visivelmente perturbada.

Alguém que tinha que fazer alguma coisa.

Harry não podia casar com Cho Chang. Ele não podia nem ter voltado com ela e isso foi minha culpa. Eu aceito a responsabilidade. O entreguei de mão beijada em uma bandeja de prata nas mãos da perua. O motivo pelo qual terminamos era simples: ele me pediu em casamento, eu disse ‘não’ porque eu ainda não estava pronta para largar o quadribol e ele disse que não queria que eu largasse, eu disse que eu não queria me casar com ele e passar meses fora. E depois de todos esses ‘eu disse, ele disse’ a gente terminou.

Agora, um ano depois, ele está prestes a se casar com Cho Chang, a primeira garota que ele gostou e a garota que ele beijou pela primeira vez. Como eu poderia competir com isso?

Ele te ama. Repeti para mim mesma. Isso deve bastar.

Aparatei em no vilarejo bruxo de Heaven’s Place em Bristol. Estava claramente perdida, nunca estive em Bristol, Cho Chang morar ali era o maior de todos os motivos para nem passar perto, aliás.

– O senhor pode me explicar como chegar ao Primrose? – Perguntei educada demais para os meus padrões. – Por favor?

– A senhorita veio para o casamento da menina Chang? – A feição dele era de censura. – Imagine, moro aqui há anos, vi a menininha crescer e eles nem me convidaram para o casamento!

– Imagine o senhor que o noivo dela me convidou para o casamento e a noiva dele me desconvidou. – Eu confessei para o velhinho que me guiava para o salão de festas. Qualquer inimigo de Cho Chang era meu melhor amigo. – Aí eu vim aqui estragar o casamento.

– Qual é a história? – O senhor me perguntou enquanto me guiava pelas ruelas parecidas de Heaven’s Place.

– Ele era meu namorado e agora ele está se casando com ela. – Eu resumi a história, e ele sorriu me reprovando. – O senhor não me entenda mal! Eu não sou o tipo de garota que interrompe o casamento alheio, mas ele não deveria se casar com a garota errada.

– Eu entendi... Você gosta de uma grande entrada. – Ele disse rindo e alguns dentes faltavam, não pude deixar de observar.

– Não, não, não! Eu só vim interromper um casamento. – Me justifiquei, mesmo que isso não soasse muito como uma justificativa.

– Você pode falar com ele antes do casamento... Assim você não humilha tanto a menina Chang. – O idoso disse sabiamente. – O Primrose fica no fim da próxima rua, agora vá lá e acabe com esse casamento!

Ok, ele estava certo. Olhei para o meu relógio, faltavam vinte e cinco minutos para o casamento começar, então equilibrei meu salto altíssimo pelos ladrilhos daquelas ruas estreitas. Se eu ia levar um fora, ia ser um fora com estilo, não mocoronga de sapatilha.

Resolvi seguir o conselho do amigo idoso: dizem que os mais velhos são mais sábios. E apesar de humilhar a Xing Ling ser uma ideia muito atraente, o tiro poderia sair pela culatra e aí, já era né? Eu vou ser a ruiva sensação de vestido vermelho e sapatos Manolo Blahnik que foi rejeitada.

Então ali eu estava, nos fundos do salão Primrose, me escondendo enquanto procurava por Harry em alguma daquelas janelas de vidros tão transparentes que pareciam inexistentes.

Movi-me com tanta destreza que James Bond ficaria com inveja, tenho certeza que ninguém no interior daqueles quartos poderia notar a presença de uma ruiva com graves danos cerebrais em um vestido de grife trouxa. Eu sei que eu já falei do meu vestido, mas é a única coisa que eu tenho ao meu favor.

É claro que Cho era mais alta, tinha o corpo mais curvilíneo e eu não acredito que ela já tenha acordado um dia e dito “nossa, como eu odeio o meu cabelo!”, infelizmente eu tinha uma adversaria tão bonita quanto uma veela. Se Harry fosse escolher por beleza de repente eu não seria a escolha dele, apesar de eu estar incrível nesse vestido vermelho. Mas Harry não era nem um pouco superficial e eu sei que a Chang é bem inteligente, joga quabribol bem e é toda falsamente afetuosa em relação a ele.

Encontrei a janela de Cho e evitei gargalhar quando vi seu vestido. Se tem algo que não valorizava o corpo de ninguém é um vestido de noiva em forma de bolo. Aquele vestido devia ter tantas anáguas, tule e sei lá mais o que, que eu não conseguia parar de rir vendo as camadas de Cho Chang. Eu não gostava dela, mas estava com pena. Parecia um bolo de casamento, com todos aqueles laços azuis e franzidos que mais lembravam glacês. Me diverti por dois minutos vendo-a gritar com uma menina asiática inocente que mais me lembrava um Gremlin – sim, eu gosto de filmes trouxas. – e uma outra menina que eu reconheci, mas não lembro o nome dela, só lembro de chama-la de dedo-duro. Odeio esse tipo de gente, então era bem feito que Xing Ling gritasse com ela.

Por mais divertido que fosse observá-la desesperada naquele quartinho – provavelmente constatou que seu vestido é horrível – gritando com as damas de honra, segui em frente. Na próxima janela estavam os pais, imagino, e mais umas pessoas que pareciam ser da mesma família. Todos com o nariz mais empinado que pipa em dia de ventania e vestindo aquele tom horroroso de pastel, ou bege...

Não sei. Horroroso.

Nem é porque eu vim para detestar tudo sobre esse casamento, mas eles estavam ridículos.

Decidi que era hora de invadir quando encontrei o próximo cômodo vazio e com a janela aberta. Já tinha passado pelos dois quartos do horror mesmo, então se alguém me visse seria alguém conhecido, e com sorte seria Harry.

– Gina? O que você está fazendo aqui? – Não era Harry, e eu respirei fundo de alívio quando descobri de quem era a voz. – Não! Você não... Você vai fazer isso mesmo?

– Não sei do que você está falando, George. – Eu disse me virando lentamente. – Vim assistir ao casamento de um grande amigo.

– Grande amigo? – Ele perguntou sorrindo, havia uma nota de excitação na voz dele. – Quando eu acordei hoje pensei “que droga, tenho que ir ao casamento do Harry, casamentos são chatos!”. Ainda bem que não ignorei a voz na minha cabeça que dizia “ah, mas algo de interessante vai acontecer naquele casamento, leve pipoca.”.

George tirou um pequeno pacote de pipocas do bolso e eu não queria, mas ri.

– Se você quiser eu te mando uma mensagem na hora do ‘Fale agora, ou cale-se para sempre!’ – George se ofereceu, sorrindo animado. – Porque se você vai estragar o casamento tem que estragar direito.

– Não sei do que você está falando. – Falei rindo e ele fez careta. – E pretendo tentar acabar com o casamento antes que ele comece.

– Não seja tão chata! – George me deu um tapa fraco no braço. – Grandes entradas, palavras emocionadas... Espetáculos da vida!

– A vida não é um reality show, George. – Eu disse me esgueirando pelo corredor. Talvez minha família esteja vendo muita coisa naquele aparelho trouxa que meu pai ganhou de Harry. – Agora me diz em qual dessas mil portas Harry se esconde.

– Infelizmente eu não sei, vim procurar Ron porque Hermione implorou que eu o entregasse o lenço. – George girou os olhos. – Tenho que contar a Angelina que você vai estragar o casamento, ela vai ficar tão feliz... Angie não esquece os adversários de quadribol, odeia tanto a Chang que me assusta.

– Tá louco? Você não pode sair espalhando que eu estou aqui, não é? – Eu disse baixinho enquanto procurava frestas com indícios de Harry. – Vá para seu lugar e torça para que não haja casamento.

– Ok, chefe. – Ele disse rindo. – Se nada der certo, tem umas cortinas extravagantes que são perfeitas para esconderijo.

– Anotado. – Eu disse e ele me beijou a testa. – Obrigada.

– De nada. – Ele sorriu. – Agora vá lá e acabe com esse casamento!

Quantas vezes eu vou escutar isso hoje?

Enquanto olhava pelas frestas, escapava das pessoas que esbarravam em mim com enormes arranjos de flores e banquetes para o salão ao lado. Isso não parecia nem um pouco com a visão de casamento de Harry, ele queria um casamento simples... De preferência lá no quintal com grandes tendas e comida caseira, poucos convidados e música ao vivo. Para que ele pudesse dançar comigo ao som de suas músicas favoritas.

Assim seria o casamento dele se ele estivesse se casando comigo. Esse é o casamento dela.

Me escondi atrás de uma coluna de gesso e olhei a hora, faltavam dez minutos. Em alguns minutos Harry viria todo elegante em um smoking acompanhado pelo meu irmão e Neville Longbottom, os padrinhos. Tinha que me apressar se queria encontrá-lo sozinho. Mas eu não sabia aonde ir. Sabia onde não ir, as primeiras portinhas onde tinha a noiva-bolo e na porta seguinte o grupo musical ‘os pastéis chineses’.

Eu gosto dos chineses, menos aqueles ali.

– Gina? Gina! – Hermione me surpreendeu, ou assustou, escolha a melhor palavra.

– Miragem. – Respondi agitando as mãos em frente ao meu rosto e caprichando na voz grave. – Você nunca me viu aqui.

– Deixe de bobagem. – Hermione sussurrou enquanto me empurrava para trás de uma cortina. – O que você está fazendo aqui?

– Não é óbvio? – Eu perguntei para a pessoa mais inteligente que eu conheço. – Você não me vai dizer que prefere Chang a mim, ou vai?

– Você teve um ano inteiro para dizer a Harry o que sentia e escolheu o dia do casamento dele? Gina, isso é loucura, pode dar tudo errado. – Me sacudia pelos ombros. – Apesar de eu achar que ele não ama Cho Chang porque nunca se esqueceu de você.

– Você está vendo? – Eu disse empolgada. – É por isso que eu estou aqui, eu não posso deixa-lo se casar sem que antes ele me veja... Eu não posso cruzar os braços e esperar que ele cometa o maior erro da vida dele ou se não for o maior, um erro. E bem, se não for um erro, o azar é meu.

Fico quieta quando ouço passos em nossa direção, olho para os meus pés e vejo que o salto e a ponta do meu lindo sapato estão aparecendo. Devem ser os seguranças ou a noiva-bolo.

– O que vocês estão fazendo aí? – Ron quis saber e eu respirei aliviada.

– Gin veio obstruir o casamento. – Hermione resumiu meu discurso.

– Ah, por Merlin! Alguém tinha que fazer isso! Obstruir é interromper né? – Ron sacudiu os braços, empolgado. – E aí, vai invadir no ‘Fale agora ou cale-se para sempre’? Imagine a cara de raiva da Noiva Cadáver! Ah, essa eu pago para ver!

– Não! Eu quero falar com ele antes do casamento, a sós. – Eu disse nervosa, faltavam cinco minutos. – Onde ele está, Ronald?

– Já era, Gin. – O rosto de Ron se retorceu em uma careta. – Ele já está lá fora, prestes a entrar na cerimônia. E eu deveria estar lá.

E agora?

Assisti Ron correr em direção ao salão principal, onde aconteceria o casamento. Hermione apertou minha mão de leve e sorriu, como se me consolasse.

Mas isso ainda não tinha acabado.

Então a vi sorrir novamente, esse sorriso dizia algo mais confortante. Era um “Agora vá lá garota, e acabe com esse casamento!”. Ninguém deve gostar dessa Xing Ling mesmo, né?

Entrei naquele salão pelas portas do fundo, do fundo do pequeno altar, ou seja, se alguém me visse passando pelas cortinas eu seria expulsa no ato, já que eu mesma escutei que a noiva neurótica não queria me ver nem por um decreto. Mas eu não estava com medo, se ela não me queria lá nem pintada de ouro, devia ser porque ela estava com medo.

Eu digo isso, porque se fosse eu no lugar dela, a convidava para sentar no primeiro banco. Mas esses pensamentos cruéis que me trouxeram aqui. Mentira, o motivo da nossa separação foi o medo de me casar. Bem, agora eu já tinha visto em Cho Chang tudo o que eu não queria fazer em um casamento, como por exemplo, vir fantasiada de bolo. Não resisto.

Harry entrou sorridente naquele corredor e eu desistiria do plano se tudo fosse como parece ser. Mas eu conheço um sorriso de felicidade de Harry e aquele não parecia nem um pouco com o sorriso que ele exibia quando brincava com Teddy ou quando joga quadribol, ou após me beijar... Será que ele sorria quando a beijava?

Meus pensamentos se apagam quando ouço a marcha fúnebre... Quer dizer, nupcial. Mas que porcaria de marcha, hein? Um casamento seria bem mais interessante se substituíssem essa musica chata por uma com letra e de repente um ritmo mais legal.

Mas ok, estou aqui só para colocar defeito e destruir o casamento. Vou destruir essa porra. Quero ver aquela moça me impedir.

Aquela música chata estava tocando, eu vi os padrinhos entrarem acompanhados das damas de honra ridiculamente vestidas. Era a verdade, cruel, mas ainda sim a verdade: aquele casamento estava mais feio e brega que o aniversário de 95 anos da tia Muriel. E olha que metade das pessoas estavam vestidas de caipiras.

Pensando bem, se eu tivesse êxito no meu plano, eu estaria ajudando Chang: ela teria a oportunidade de organizar um casamento e não uma festa a fantasia.

Desculpa, não resisti.

Ela flutuava pelo corredor como se fosse uma candidata à Miss Inglaterra 2003. Sorria e acenava, mas se eu tivesse um tomate podre eu jogava naquele vestido-bolo dela, cobertura nova. Hmm. Muitos olhavam para ela emocionados, outros com bom senso torciam o nariz para aquele vestido feio de doer, ou pela escolha da noiva, não é?

Olho para sua mão direita onde ela exibia o anel de noivado.
Não era o anel da mãe de Harry, não era o anel que ele me ofereceu e eu aceitei feliz, mas depois devolvi. Sou a definição de indecisão, procure nos dicionários.

Momento flashback para ilustrar a situação:

“- Gina, você quer se casar comigo? – Harry me perguntou com as mãos suadas, eu podia ouvir as batidas aceleradas do coração dele. – Eu não sou bom em esperar e eu já esperei muito tempo para ficar com você, muito tempo para poder vê-la novamente. Eu só não quero esperar muito para tê-la todos os dias ao meu lado. Quero sonhar com você e estar contigo quando eu abrir os olhos... Eu quero fazer isso direito, eu quero me casar com você.

– Harry... Eu... Nossa! De verdade... Nem sei o que dizer! – Foi tudo o que eu consegui falar.

– “Sim”. – Ele disse sorrindo, era para ser um sorriso brincalhão, mas eu podia ver ondas de nervosismo. – Ou “não”, você pode escolher.

Ele estava ali me mostrando o anel que encontrou em Gringotes. O anel da mãe dele, o anel que o pai dele deu para a mãe dele. E eu estava ali pensando que aquele levíssimo anel pesaria quilos no meu dedo.”

Mas ele sorria tão docemente que eu disse sim. E ele me beijou, me abraçou e começou a fazer planos. Quando eu disse que eu não mudaria os meus planos a casa caiu e ele falou que estava tudo bem, mas eu tive que pirar, devolver o anel e perder o noivo.

Ele gostaria que fosse eu. Ele gostaria que fosse eu a pessoa a flutuar pelo corredor com um vestido mais bonito. Eu sei que ele gostaria... Certo?

E aí está, pela primeira vez eu estava com inveja de Cho Chang e isso não era legal. Ela estava prestes a se casar com o cara dos sonhos. O cara dos meus sonhos. O meu cara.

Meu plano era impedir o casamento, meu plano sempre foi impedir o casamento. Mas ela parecia tão feliz de braços dados ao pai dela enquanto caminhava em direção a um temeroso Harry, eu não posso destruir a vida de uma pessoa assim.

Ele não é a pessoa certa para ela. É tudo o que eu tenho me obrigado a pensar. Ele era certo para mim, por mais arrogante e egoísta que isso pudesse soar... Isso vai ajudá-la a encontrar o verdadeiro amor, alguém que ela ame de verdade e que a ame na mesma intensidade. Alguém para que valha a pena ficar sem graça, alguém para que valha a pena perder a fala, alguém para que valha a pena ficar sem ação... Alguém para que valha a pena escrever poemas constrangedores.

Eu não quero dar uma de criança chorona, mas se era minha culpa que eu não tinha o Harry, era minha culpa se ele estava se casando com outra garota.

Era minha culpa e eu precisava consertar. Eu o amo tanto.

Meu plano era impedir o casamento, meu plano sempre foi impedir o casamento. Meu plano é impedir o casamento... Ou tentar, não é? O único custo é minha cara no chão, mas é um risco que eu preciso correr. Eu o amo.

Me perdi nos devaneios de como faria para impedir aquele casamento de forma sutil. Pensei até em jogar uma bolinha de papel no cabelo de Harry... E se eu aparatasse na casa dele e encontrasse a capa da invisibilidade? Eu poderia falar com ele lá na frente e ninguém me veria, a parte ruim é que eles me ouviriam.

Senti meu celular vibrar, era uma mensagem de George e eu o vi sorrir em minha direção.

“É agora. Sai de trás dessa cortina, maninha.”

Em uma fração de segundo, eu escutei o padre – ou pastor, ou rabino, ou celebrante... Não prestei atenção de verdade. – dizer “Se alguém se opõe a união desse casal em sagrado matrimônio, fale agora ou cale-se para sempre”. Houve um silêncio, as pessoas estavam olhando para o casal como se aquilo fosse um absurdo, com a exceção dos poucos que sorriam em direção à porta, como se esperassem que eu aparecesse... Como se torcessem para que eu aparecesse.

Essa é sua última chance. Pensei e simplesmente apareci. Ninguém teria nem notado a minha presença não fosse os que insistiam em olhar para a porta, não fosse o sorriso do meu pai na minha direção... Não fosse a pequena comemoração ridícula de Rony, não fossem os olhos vibrantes de Hermione. Não fosse o meio sorriso pretensioso de Luna que dizia ‘fui eu que dei a ideia...’. Não fossem os olhos confusos de Harry e agora a feição zangada de Xing Ling.

Então eu estava ali, com as mãos trêmulas... Ignorando todos os olhares horrorizados em minha direção porque eu só conseguia olhar para ele.

Por um segundo achei que aquilo daria certo, por um segundo eu achei que ele largaria tudo por mim. Por um segundo eu achei que ficar em pé ali na frente de todo mundo era o bastante. Mas eu tinha o humilhado quando disse ‘não’, quando devolvi aquele anel que ele guardara para mim... Eu o tinha humilhado e agora seus olhos me diziam “tarde demais”.

As lágrimas que embaçavam minha vista ameaçavam cair. Eu não poderia suportar aquilo. O que eu vim fazer aqui? Eu sabia que ia terminar assim. Ele não te ama mais, não da mesma maneira que você o ama, alguns danos são irreparáveis.

Irreparáveis.

Ele me olhava com expectativa e eu pensei em abrir a boca algumas vezes, mas não conseguia emitir som algum. As pessoas me olhavam impacientes, a essa altura achei que já estaria expulsa. Eu queria dizer tanta coisa, queria pedir para que ele não se casasse, para que ele ficasse comigo... Porque pertencíamos um ao outro. Eu era dele, como não fui de mais ninguém, como não seria de mais ninguém. Dele.

– Não diga ‘sim’. – Foi tudo o que consegui dizer, e não foi muito mais alto que um sussurro. – Por favor.

– Por quê? – Harry me perguntou depois de algum tempo me olhando. – Você não deveria estar aqui.

Ele me disse naquele tom seco, e eu fiquei com raiva ao ver o rosto presunçoso e o sorriso triunfante de Cho Chang.

– Nem você. – Eu tive coragem de dizer em alto e bom som. – Você não quer se casar com alguém vestida de bolo, você não a quer.

Parte dos convidados riu, como se partilhassem da mesma piada e Chang cruzou os braços, esperando que Harry fizesse alguma coisa para defendê-la da minha suposta ofensa. Só ofendi aquele vestido ridículo, apesar de querer arrancar aquele sorriso idiota do rosto daquela mulher.

– Por que agora, Gina? – Harry praticamente suplicou por uma resposta coerente. – Por que hoje, no dia do meu casamento? Você teve um ano...

Infelizmente eu não sabia o que dizer. Mas eu precisava dizer algo

– Você tem razão. – Eu disse finalmente. – Eu não tenho o direito de estar aqui, afinal eu fui desconvidada pelos pastéis chineses... Mas eu só quero dizer uma coisa antes de ir, talvez duas.

Todos olharam para mim com expectativas que eu fizesse o discurso mais romântico que eles já escutaram. Talvez assim, a família da noiva parasse de me olhar com raiva. Mentira, tenho certeza que se eles pudessem já tinham me matado... Será que eles fazem parte de alguma máfia? Será que ao fim desse relato serei acusada de xenofobia?

Mas eu não tinha o melhor dos discursos.

Eu só tinha o meu amor. O amor que eu cultivo desde os onze anos por ele. Um amor que foi de platônico a real quando eu tinha perdido as esperanças, um amor que sobreviveu a pior das guerras, um amor genuíno... O meu amor.

Eu não tinha mais que procurar o que dizer, eu sabia o que ia dizer, por mais humilhante que fosse. Eu ri nervosa antes de encontrar as palavras, tenho certeza que Cho e a máfia tinham interpretado minha risada como chacota, porque alguns deles se levantaram. Mas Harry entendeu que era uma risada nervosa. Ele me conhecia.

“Teus olhos são verdes como sapinhos cozidos, teus cabelos, negros como um quadro de aula. Queria que tu fosses meu, garoto divino, herói que venceu o malvado Lorde das Trevas. ” – Eu disse antes que perdesse a coragem, de olhos fechados.

Pude ouvir a risada de George à distância. Seguida pela de mais alguns muitos: depois de todos esses anos a cena se repetia, aliás, não se repetia, porque dessa vez eu declamei aquele poema constrangedor por livre e espontânea vontade. Sorri esperando que Harry entendesse que aquilo era uma prova que meu sentimento por ele nunca mudaria. Que eu faria milhões de poemas ridículos se fosse necessário.

Mas nada parecia ter mudado.

Eu estava ali, com um vestido lindo – que agora era de fato minha única vantagem – com as mãos suadas e os joelhos a ponto de cederem. Mas eu estava feliz, tinha feito o que eu podia. Nem no inferno eu diria o que eu precisava dizer a Harry na frente de todos, era entre ele e eu. Mas ele merecia a vingança, merecia que eu me envergonhasse.

Agora estávamos empatados.

Sequei as lágrimas que quiseram cair, sorri para Harry e desejei para que ele fosse feliz. Ia sair dali com o máximo de dignidade possível – o que não era muito depois do poema, eu reconheço. – então girei meu corpo lentamente, acenando pesarosamente para os que simpatizavam com minha situação. Deixei que eles vissem o meu vestido lindo e meus sapatos Manolo Blahnik azuis aveludados, para que todos vissem que até quando eu levo um fora saio espetacular.

Eu era a jogadora sensação de quadribol, eleita a melhor artilheira do mundo por três anos seguidos, campeã da copa mundial de quadribol pela Inglaterra. E estou aqui me engrandecendo porque levei um fora. Mas é o que dizem, sorte no jogo... Azar na porra do amor.

Me permiti chorar quando saí do salão Primrose.

As lágrimas da derrota não eram salgadas, eram amargas, mas eu ficaria bem sabendo que eu tinha tentado. Eu definitivamente não era o tipo de garota que chorava o tempo inteiro. Eu também não era o tipo de garota que invadia casamentos, mas hoje é o dia do incomum.

Amanhã serei chacota dos jornais, mas hoje me permitirei ser chacota de mim mesma. Só de mim mesma.

Tinha alguns minutos para chorar a vontade nas escadas do Primrose, então coloquei minha cabeça entre os joelhos e esperei a enxurrada de lágrimas, eu sabia que cedo ou tarde elas viriam.

– Você ainda quer que eu seja seu, garota divina? – Levantei a cabeça ao ouvir a voz rouca que bem conhecia. Não conseguia ler sua expressão, só me levantei de assalto e quase o derrubei no meu abraço. – Se acalme, tenho algumas condições e coisas a dizer antes.

Eu o olhei surpresa, mas a essa altura, por mais humilhante que isso possa soar, ele já deveria saber que eu faria qualquer coisa. Tudo o que ele fez foi me arrastar para trás do salão Primrose. Eu não conseguia parar de sorrir e ele ainda tinha aquela feição séria e isso estava começando a me assustar.

– Primeiramente, você não tinha o direito de aparecer aqui e tentar bagunçar tudo o que eu tinha tentado construir. Eu tentei te esquecer, sabia? Mas você... Você é impossível! – Ele desabafou, enquanto me imprensava na parede, a verdade é que o hálito de menta dele me distraía de qualquer coisa que ele poderia estar dizendo, mas eu me concentrei ao máximo. – Você não podia vir aqui no fim da partida e tentar virar o jogo. É com pessoas que você está lidando! Eu a abandonei por você, lá, no altar sozinha com apenas um pedido de desculpas.

Eu sorri, foi involuntário, e nem foi porque a Cho Chang tinha se dado mal, apesar de isso ser gratificante. Sorri porque ele tinha a abandonado por mim, sorri porque ele nunca conseguiu me esquecer... Sorri porque estava feliz.

– Não sorria. – Harry disse implacável. – Foi crueldade. É crueldade como você bagunça todos os meus sentimentos, é crueldade a maneira com a qual você faz questão de colocar detalhes seus na minha vida que fazem a tarefa de te esquecer impossível... Eu... Eu...

– Eu te amo. – Eu finalmente encontrei a abertura necessária. – Eu sempre te amei e sempre vou te amar. Acho que isso é motivo suficiente para invadir casamentos e me humilhar publicamente.

Harry sorriu verdadeiramente pela primeira vez no dia e isso aqueceu meu coração de certa maneira que eu não pude manter meus lábios longe dos dele por muito tempo. E ele retribuiu meu beijo de maneira avassaladora, me apertando contra aquela parede sem janelas, ainda bem, vai que a Xing Ling resolvesse dar uma olhada pela janela.

– Hey, hey. – Harry disse antes que eu recuperasse o fôlego. – Eu disse que tinha condições.

– Manda. – Eu disse fazendo careta.

– Você não vai me fazer ir a liquidações com você. – Harry bufou e eu ri. – É sério, eu não quero carregar sacolas e ser o único cara da loja.

– Feito. – Eu sorri. – Mas não reclame se outro cara se oferecer para carregar minhas sacolas.

– Quando você se tornou esse ser? – Ele brincou, e eu continuei rindo. – Então diminua a frequência às liquidações.

– Ok. – Eu respondi já com os dedos entre os cabelos dele.

– Você não vai esperar eu quase chegar aos finalmentes para me livrar de um problema. – Harry suspirou. – Porque eu quase me casei com a Cho hoje e por pouco você não fez nada. Ainda bem que você apareceu na hora do ‘fale agora’.

– Ás vezes a coragem só surge no finalzinho. Não foi minha culpa. – Eu me justifiquei impaciente, queria mais um beijo. – Foi como quando você me beijou na frente de todo mundo pela primeira vez.

– Uma coisa não tem nada a ver com a outra. – Harry franziu a testa. – De qualquer maneira, tem mais duas condições. A primeira é: quando eu te pedir em casamento você não vai inventar desculpas para recusar.

– Viciado em casamentos, mal saiu de um... – Eu tentei brincar, mas ele tinha os olhos verdes estreitos. – Você sabe que eu vou dizer sim, senão não teria nem vindo te buscar.

– Ótimo. – Ele disse me dando um selinho, que eu quis logo transformar em algo a mais, mas o sem graça me interrompeu, sério – A última condição é a mais importante.

– Jura? – Eu disse ironicamente.

– Você vai ter que repetir o poema dos sapinhos nos nossos votos de casamento, e nas bodas... Para sempre! – Tinha um brilho maldoso nos olhos dele.

– Ok. – eu disse relutante. – Agora você me leva para casa?

– Eu te levaria para casa mesmo se você dissesse não para cada uma das condições. – Ele me deu a mão. – Estrela do quadribol e péssima negociante.

Eu bati de leve no braço dele e ele me beijou novamente antes de aparatarmos no meu apartamento. Estava com tantas saudades dele que ele poderia rasgar meu vestido lindo se quisesse. Eu tentaria consertar no dia seguinte.

– Eu te amo. – Ele me disse quando paramos para respirar.

– Nunca deixei de amar. – Eu respondi sorrindo.


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