Capítulo 7

Sasuke

Só percebi o problema na hora em que eu entrei no carro e Naruto, Shikamaru, Kiba e Shino entraram também. Olhei para os rostos sorridentes deles e fiquei em silêncio. Como o sorriso deles não desaparecia, perguntei.

    - Ok. Podem sair do meu carro agora. Eu tenho que voltar para casa.

Eles me olharam como se eu tivesse puxado uma peruca e revelado que era mulher. Naruto, sentado ao meu lado, abriu e fechou a boca, tornando a abri-la antes de falar:

    - Como pode dizer isso, teme! – Shikamaru se inclinou para frente e bateu no meu ombro.

    - Cara, hoje é quinta! É a noite dos rapazes! E essa semana é na sua casa.

    - Hm. – foi tudo o que consegui dizer. Esperava que Sakura já tivesse saído de lá ou ela teria que atender Neji, Gaara e Lee. Se ela tinha atendido, esperava que tivesse mantido a mentira. Afinal, eles tinham que ter a mesma informação que o pessoal do trabalho.

Fui dirigindo rápido com os rapazes reclamando que eu era sem coração e ingrato com os amigos. Estacionei e subimos as escadas. Abri a porta e senti um cheiro bom de comida. E era bom mesmo. A televisão estava ligada e os três que eu esperava estavam comendo qualquer coisa na mesa.

    - Nossa que cheiro bom. – Naruto falou atrás de mim. Fechei a porta enquanto meus amigos se cumprimentavam. Passei os olhos pela casa, mas nem um sinal da Sakura.

    - Sasuke, - Gaara falou apontando a colher na minha direção – Por que não nos contou que estava noivo?

    - Hm. – Sabia que eles tinham encontrado com Sakura. E ela parecia que tinha passado o dia ali. Sua casa estava com um cheiro bom semelhante a da casa dela. Só não tinha um cheiro tão floral e ele a agradeceu por isso.

    - Hm nada. – Neji falou – Como você noiva com uma maravilha daquelas e não conta para a gente. O Lee aqui até ficou meio apaixonado.

Virei a cabeça na direção deles e arqueei uma sobrancelha. Naruto falou antes que eu tivesse chance.

    - Não acredito que vocês já a conheceram! Como ela é?

    - Senta aí, Naruto. Ela fez janta e está gostoso. – Gaara falou se levantando com o prato sujo. Eu estava recebendo informações demais para ordenar tudo com clareza – Tem que vê-la Naruto. Só vendo para entender. E sua sorte, Sasuke, é que o Chouji está doente. Você iria ficar sem janta se ele viesse.

Destampei a travessa e vi que tinha estrogonofe e arroz branco. Sakura tinha feito janta para mim. Tentei lembrar qual tinha sido a última mulher que cozinhara para mim sem segundas intenções. Só a minha mãe mesmo. Levantei os olhos da comida e percebi que todo mundo tinha parado de falar e olhava para mim.

    - Sasuke, você está sorrindo sozinho. – Naruto falou segurando o riso.

    - Não estou nada. – retruquei e forcei uma expressão séria – Por falar nisso, onde ela está? – perguntei tentando parecer indiferente.

    - No seu quarto. – Lee respondeu – Ela está falando com a sua mãe.

Praguejei baixinho e os deixei comendo enquanto entrava no quarto. Sakura estava sentada na janela olhando para fora com o telefone na orelha. Tinha certeza que ela estava evitando minha cama por causa das outras que já tinham passado ali. Ela ria e eu me peguei reparando no riso dela.

    - Com certeza. – ela respondeu alguma coisa e riu novamente – Vou gostar muito sim. Não. Sasuke não me contou, não. É uma promessa? – comecei a me perguntar sobre o que ela estava conversando com a minha mãe – Jura? Tem fotos? Eu não acredito que ele correu pelado no casamento.

A história veio limpa a minha memória e eu dei dois passos e arranquei o telefone das mãos dela enquanto a tirava da janela com o outro braço.

    - Oi mãe. Chega de histórias de infância. – apertei Sakura contra o meu peito para que ela não tentasse pegar o telefone de volta.

    - Sasuke, me solta! Eu quero saber o resto da história. – ela disse ao mesmo tempo em que a minha mãe dizia.

    - Oi querido! Estou tão empolgada com ela. Sakura é tão agradável. Falei com ela que trocamos o almoço do domingo por um dia inteiro aqui em casa. Quero que cheguem cedo. Ela disse que vai te convencer.

    - Eu me pergunto o que a senhora usou para convencê-la. – eu falei olhando para Sakura que ria.

    - Ela me prometeu contar suas histórias constrangedoras. – Sakura falou rindo e eu a puxei ainda mais da janela.

    - Nada de mais. – minha mãe respondeu – E não se atrase! Estou louca para ver a Sakura novamente. Beijos, querido.

    - Até domingo então, mãe. – respondi e joguei o telefone sobre a cama. Sakura sorria quando falou:

    - Entrou mesmo no casamento nu e segurando um sapo?

    - Culpe o maldito do meu irmão que me enganou. Ele disse que noivas tinham que receber um sapo de presente ou morriam. Eu era inocente. – eu disse e então mudei completamente de assunto – Trouxe o seu anel.

Peguei a pequena caixinha do casaco e estendi para ela. Sakura pegou o objeto com uma expressão incerta. Ela tirou o anel da caixinha e experimentou no dedo.

    - É linda. – ela disse – Vou começar a usar por causa dos seus amigos. – ela falou e olhou algo sobre o meu ombro. Não entendi a expressão que ela fez, mas Sakura se jogou nos meus braços e me apertou com força. Ela falou um pouco mais alto – Obrigada, Sasuke. É lindo demais! Eu te amo!

Foi estranho ouvir aquela frase dela. Não sei explicar bem o que senti naquele momento. Foi tudo tão rápido. Em um momento ela dizia isso e no outro se erguia e me dava um selinho. E eu nem lembro o que estava pensando naquela hora porque a segurei pela cintura e pela nuca e a beijei como um homem deve beijar uma mulher. Senti a surpresa inicial dela, mas logo o corpo dela foi ficando mais macio e ela também pôs a mão no meu pescoço.

A boca dela tinha um gosto doce e me lembrava sobremesa. E ela tinha um cheiro bom, o melhor que eu tinha sentido o dia todo. A abracei mais forte e aprofundei o beijo. Quando nos separamos em busca de ar, mordisquei o lábio inferior dela e percebi que ela estava muito corada e ofegante. Foi uma sensação estranha. Fiquei sem saber como agir em seguida, o que me deixou confuso. Eu nunca ficava sem saber o que fazer com uma garota. Era sempre eu que estava no controle e eram sempre elas que ficavam perdidas depois do beijo.

Ouvi um barulho atrás de mim e isso serviu como desculpa. Virei apenas para dar de cara com todos os meus amigos caídos um em cima do outro. Até Neji e Shino que eram quietos estavam ali, provavelmente nos espiando. Naruto levantou muito cara de pau e arrancou a mão de Sakura do meu ombro. Ele beijou os dedos dela e disse sorridente:

    - Você deve ser a famosa Sakura. Muito prazer em conhecê-la. Eu sou o melhor amigo do mal educado do seu noivo.

    - Hm. – eu disse estreitando os olhos para ele. Ouvi Sakura sorrir e vi que o efeito devastador daquele sorriso tinha atingido a todos, mas Naruto e Lee em especial. Fiz uma careta.

    - Prazer. – ela falou com voz doce, muito mais simpática do que quando falava comigo – Eu sou a Sakura mesmo. Vocês são....

    - Naruto. – o loiro falou fazendo uma reverência. Aquilo me irritou.

    - Pára de ser idiota, Naruto. Não precisa disso tudo. – não entendi os olhares que os rapazes trocaram e nem estava muito preocupado também – Vamos para a sala. È estranho ver o meu quarto lotado de homens.

Enquanto andava para sala, puxando Sakura pela mão, notei que não tinham deixado muita comida para mim. Aqueles gulosos de uma figa.

    - Ah, você deve estar com fome. – Sakura falou atrás de mim e se desvencilhou da minha mão. Ela passou por mim e sumiu para dentro da cozinha.

Ouvi alguns risinhos e comentários incertos atrás de mim. Virei e cruzei os braços encarando os meus amigos com o cenho franzido.

    - Não adianta fazer essa cara para a gente não. – Naruto falou sorrindo como se soubesse de uma piada secreta.

    - Escondendo o ouro dos amigos, né. – Kiba falou e eu tive vontade de bater nele – Pena que o Sai não pôde vir também. Ele iria citar alguma coisa de um livro qualquer.

    - Ela disse que vocês noivaram na segunda. – Gaara falou e sentou na beirada do sofá – Só que eu me lembro que você estava solteiro no domingo a noite.

    - Bem lembrado. – Shikamaru falou e todos se acomodaram no meu sofá e nas minhas cadeiras.

    - Aliás, aquele banho que você levou foi o melhor. – Naruto falou rindo.

    - Foi ela. – eu praticamente grunhi a frase. Eles olharam para mim, primeiro duvidando e depois caindo na gargalhada. Bufei e depois ouvi Sakura falar atrás de mim.

    - Prontinho. – me virei e a vi trazer uma bandeja. Pisquei umas três vezes antes de entender que ela estava colocando a mesa para mim. Tinha um prato preparado com estrogonofe, arroz e batatas fritas, além de um copo e uma garrafa de cerveja e um potinho com alguma coisa amarela.

    - Tem doce também? – Gaara perguntou olhando para a minha comida e eu o fuzilei com os olhos.

    - Vocês querem? – Sakura perguntou – É mousse de maracujá. – diante da cara de cachorros famintos ela voltou para a cozinha para trazer mais. Sentei-me à mesa gostando da sensação de ter comida boa e pronta feita especialmente para mim.

    - Sasuke, onde você conseguiu essa maravilha? – Kiba perguntou acompanhando o movimento de Sakura na cozinha assim como Lee.

    - Ela entende até de luta. – Neji contou para os outros. Comi em silêncio enquanto ouvia os três propagandearem as qualidades de Sakura. Linda, inteligente, simpática, divertida, boa cozinheira e outra infinidade de elogios. Ela voltou com a bandeja lotada de potes de doces. Eles agradeceram e disseram que era a melhor coisa que já tinham provado. Sakura ficou vermelha e então deu aquele sorriso radiante. Malditos puxa sacos. E por que ela estava rindo para eles mesmo?

    - Eita. - Gaara falou colocando uma colherada na boca – Sakura, não se zangue.

    - Por quê? – ela perguntou se aproximando dele por trás do sofá. Gaara jogou a cabeça para trás e apontou com a colher para a televisão. Era alguma luta que estava passando? – O Guilhotina ganhou.

    - Ah, não! Espera! Tá de brincadeira! – Sakura se inclinou inconsciente sobre o sofá e eu percebi que meus amigos fizeram o mesmo para olhar os seios dela. Levantei e a puxei para trás pelos ombros. Tinha que defender a virtude da minha “noiva” daquele bando de homens tarados – Como é que o Kiko foi perder?

    - Quem diabos é Kiko? E quem é Guilhotina? – perguntei confuso. Avistei Naruto roubando batatas fritas do meu prato e fiz sinal para ele parar.

    - Kiko estava com a vantagem. Iria ganhar no terceiro round, mas aí ele acertou um soco e o Guilhotina fingiu que ia cair. Quando ele abaixou o golpe, o Guilhotina fez o golpe especial da tesoura e o levou direto para o chão. – Lee explicou e Sakura prestava muita atenção nele. Vi Gaara avaliar o bumbum da minha “noiva” e o fuzilei com os olhos me colocando entre ele e ela. Ele sorriu sem graça e, diante da minha cara feia, voltou a olhar para TV. Passei os olhos por Sakura. Por que ela tinha que estar com aquele short curto e com aquela camiseta cavada?

    - Poxa. – ela fez beicinho e eu vi Lee ficar vermelho e a encarar com a boca aberta. Segurei Sakura pelos ombros puxando a para o meu lado, tentando desviar os olhos de Lee – Acabei de perder cinqüenta contos.

    - Como você perdeu cinqüenta contos? – perguntei.

    - Achei – ela disse apontando para a TV – que aquele IDIOTA sabia lutar. Aposto que o padeiro deve estar rindo de orelha a orelha agora.

    - O padeiro? – ouvi Shikamaru perguntar com um sorriso no rosto.

    - Você aposta resultado de lutas com o padeiro? – eu perguntei incrédulo.

    - Ele começou a lutar quando era novo, mas teve um problema no labirinto e foi afastado. Aí ele pensa que entende de lutas. – Sakura me explicava – Geralmente eu ganho. – ela suspirou – Logo agora que a gente elevou o montante.... Tsc. Vou para casa trabalhar e tentar juntar dinheiro para pagá-lo.

Ela se soltou dos meus braços e caminhou para o bar, juntando os papéis sobre o balcão. Depois ela se virou para sair. Eu a segui e parei com o cotovelo apoiado no batente da porta acima da cabeça dela.

    - Obrigado pela comida. – eu disse e ela retribuiu com um belo sorriso – Ignore esses idiotas.

    - Eles são legais, mas cuidado porque estão roubando a sua comida. – ela se aproximou de mim e sussurrou em meu ouvido – Tem mais escondido no forno, mas está sem as batatas. - Eu ri e ela piscou para mim – Sua empregada estava mesmo de caso com o 2A. Eu mesma vi. Mandei ela embora como você disse.

    - Vou contratar outra. – eu disse, observando como os olhos de Sakura eram verdes.

    - Se quiser, eu arrumo a sua casa pelo mesmo preço mensal. – ela me deu um sorriso estilo “promoção-compre-já”.

    - Ok. Pode começar amanhã? – perguntei.

    - Claro. Passo aqui às cinco e não vou paquerar o vizinho do 2A. – nós rimos e ficamos em silêncio olhando um nos olhos do outro – Espero que se divirta com seus amigos. Boa noite, Sasuke.

Inclinei-me para frente esperando ganhar outro beijo. Ela sorriu de canto e beijou a minha testa. Sorri derrotado e desejei a ela boa noite. Esperei ela entrar no apartamento ao lado e voltei para dentro. Todos estavam me espionando, mas as cabeças sumiram em poucos instantes. Quando cheguei a sala, vi meu prato vazio e balancei a cabeça.

    - Cara. Eu aprovo. – Naruto falou e tentou limpar um pouco de estrogonofe do canto da boca discretamente.

    - E não é que você está noivo mesmo. – Shikamaru falou como se fosse a coisa mais estranha que eu já fizera.

    - Quem diria, o garanhão Uchiha Sasuke noivo de uma beldade que pensa. – Neji falou contrariando a sua personalidade reservada.

    - Não mudem de assunto. – eu disse – Vocês detonaram a minha janta. Sabem quanto tempo faz que ninguém faz janta para mim?

Eu perguntei e eles tiveram pelo menos a decência de se mostrarem envergonhados. Fiz com que eles limpassem a mesa e lavassem os pratos. Então nos sentamos para jogar nosso joguinho de cartas. Depois que eles se foram eu me sentei no sofá e pensei em tudo o que tinha acontecido aquele dia. Sakura estava fazendo a parte dela e eu teria que arrumar um noivo de verdade para ela cedo ou tarde. Depois levantei e encontrei um prato separado no forno com um bilhete que dizia: “não deixe eles roubarem esse aqui”. Sorri sozinho enquanto pensava na vizinha do 4B.