O Cara Da Porta Ao Lado escrita por EstherBSS


Capítulo 2
Capítulo 2 - Sasuke




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Capítulo 2


Sasuke


    - Achei que ela precisasse falar com você. – ouvi meu pai falar. Voltei para a sala e me servi de uma bebida no bar.

    - Eu posso falar com ela daqui a pouco. Ela mora aqui do lado. – disse virando o copo.

Minha mãe olhou para a bebida em minhas mãos com o cenho franzido. Pressenti uma repreensão, mas ela estava contente demais com a minha “noiva” para falar qualquer coisa. Depois que eles viram a minha vizinha maluca, a visita deles parecia sem sentido e percebi que eles haviam notado esse fato.

Mesmo morando sozinho, eu não tinha conseguido fugir das vontades dos meus pais. Tinha me tornado policial do FBI por causa do meu pai que se sentia obrigado a empurrar o filho para a mesma carreira que ele seguira. Até que nem era tão ruim e eu gostava da adrenalina do trabalho. O problema era que agora o meu pai estava me empurrando para um caso mais sério e eu sabia que a intenção dele era garantir para mim um posto elevado lá dentro.

Já a minha mãe o acompanhava para me lembrar que eu já tinha 27 anos e que mesmo assim, ela não conseguia enxergar netos quando via o meu futuro. Os dois sempre me lembravam discretamente do quão incrível era o meu irmão recém casado e com uma carreira promissora na divisão de narcóticos.

Os dois só foram embora depois que eu prometi ao meu pai participar do caso que ele queria. Quando a porta se fechou, servi mais um copo e me preparei para lidar com a confusão que eu mesmo tinha criado. Suspirei cansado e saí para o corredor. Parei em frente ao 4B observando os vasinhos de planta decorados que enfeitavam a entrada. Bati na porta e esperei que ela viesse abri-la. Resisti à vontade de me esconder com medo de outro balde de boas vindas. Ela abriu uma fresta da porta que continuava fechada com a corrente de segurança. Quando viu que era eu, ela disse “hm” e abriu a porta.

Passei por ela e tomei um choque de aconchego ao ver o apartamento dela. Tudo lá era extremamente do tipo casa-de-moça-de-família. Tinha plantinhas bem cuidadas na janela e em outros lugares, tapetes bordados, panos de artesanato e um cheiro de casa limpa que fez eu me sentir culpado por invadir aquele santuário de moça inocente.

    - Pode começar a falar. – ela disse atrás de mim.

Virei e risquei o adjetivo inocente firmemente da minha cabeça ao ver a faca que ela segurava e apontava em minha direção. Ela apontou o sofá e eu me sentei tenso sabendo que seria difícil explicar. Ela puxou uma cadeira e se sentou na minha frente largando a faca sobre a mesa.

    - Então, - ela começou – sabia que você fez eu perder minha prova hoje?

Aquilo trouxe uma pontada de culpa ao me lembrar do que fizera pela manhã. Ignorei o sentimento e me lembrei do que ela fizera na noite anterior. Meus amigos ririam de mim até o final da vida.

    - Meu carpete ainda está azul. – eu disse em minha defesa.

    - Meu chão também está rosado, mas eu não fiz você perder seis meses de trabalho duro e noites mal dormidas.

Ela disse e eu relancei os olhos para entrada vendo que o chão estava mesmo rosado. A culpa veio de novo e um pouco mais forte. Passei as mãos no cabelo e tentei fazer um olhar de cachorro pidão. Deve ter funcionado porque ela pareceu relaxar só um pouco.

    - Olha, - eu disse e esfreguei as mãos no joelho. Fazia tempo que eu me sentia tão nervoso assim com uma mulher – nós começamos da maneira errada. Eu acho que a gente podia tentar recomeçar de um jeito mais ameno.

    - Por que seus pais acham que eu sou sua noiva? – ela perguntou direta e eu percebi que começar de novo seria difícil.

    - Talvez porque eu tenha deixado eles pensarem assim. – disse dando de ombros e a olhei nos olhos. Ela desviou os olhos, como eu esperava, e isso me deu um pouco de esperança – Eu tenho uma proposta para você.

    - Proposta? – os olhos dela voltaram aos meus e brilharam com algo que eu não pude identificar – Não vou me casar com você.
    - Eu não quero casar com você. – respondi sério e ela inclinou a cabeça um pouco para o lado me analisando – Eu quero que os meus pais pensem que eu quero casar com você.

    - Hm. – ela respondeu – E por que você acha que eu iria querer te ajudar?

Respirei fundo. Não era muito diferente de um interrogatório. Era como quando ele propunha um acordo com os bandidos para que aceitassem confessar. Só precisava mostrar que era ele que estava no comando e ter uma ou duas informações de reserva. Tinha sido boa idéia investigar as pessoas do prédio afinal.

    - Você ainda quer arrumar um marido? – perguntei me recostando no sofá e apreciando as emoções que cruzavam o rosto dela. Sabia que ela tinha reconhecido a fala de uma de suas amigas. Há alguns meses uma das amigas dela tinha bebido e começado a gritar sobre a nulidade que era a vida amorosa de Sakura. Como só havia uma parede entre os dois apartamentos, eu acabei ouvindo muita coisa interessante. Eu a ouvi praguejar algo como “maldita Ino”. Sorri internamente e me recostei ainda mais no sofá. Como ela não falava nada, tive que pressioná-la mais um pouco – Eu posso te ajudar a encontrar alguém. Te ensino o que falar e como agir perto dele. Te mostro como deixá-lo apaixonado e você continua fingindo ser minha noiva perto dos meus pais.

    - Por que eu aceitaria isso? – ela perguntou cruzando os braços – Posso não estar tão desesperada quanto você pensa.

Ela disse firme, mas ele tinha experiência suficiente para conseguir identificar os sinais da mentira. Ela estava muito desesperada e ela também estava muito interessada na proposta dele.

    - O que você tem a perder? – eu perguntei dando de ombros.

    - Você mora aqui há quatro anos. Em todo esse tempo nunca nos dissemos nada além de um olá ocasional. Aí eu falo com você por cinco minutos e já perdi o semestre e fui confundida com a sua noiva. – ela já estava na defensiva e eu sabia que já tinha ganhado. Só faltava fazê-la perceber isso.

    - Primeiro que você começou me dando um banho de água azul na frente dos meus amigos. Segundo, você que deve ter acordado tarde porque eu te esperei desde às seis. Terceiro, foi você que invadiu o meu apartamento. Aliás, é sério que foi pela janela? Isso é invasão de domicílio até onde eu me lembro.

Ela percebeu que eu tinha vencido e eu percebi que ela percebeu. Vi que ela respirou fundo e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Ela estava pensativa e eu esperei até que ela falasse.

    - Ok. Digamos que eu aceite isso. – ela me olhou desconfiada – O que você espera da sua “noiva”?

    - Espero que ela vá na casa dos meus pais e haja como uma mulher apaixonada. – disse sem perder tempo – Também espero que ela se apresente aos outros como minha noiva e que me acompanhe em alguns eventos. Um beijinho perto dos outros não faria mal também não.

Ela ficou um pouco vermelha e eu me segurei para não rir.

    - E o que você faria por mim? – ela perguntou incerta.

    - Aquilo que eu já falei. Vou te ajudar a achar um otá... digo, um bom pretende que queira algo sério e te mostrarei o que você tem que fazer para conquistá-lo. – ela mordeu o lábio pensando. Ela era prudente, percebi. Não se metia em confusão e costumava pensar muito antes de tomar uma decisão – E então? Qual a sua resposta? Você concorda?

Ela soltou o ar lentamente e acenou com a cabeça, concordando. Permiti que um sorriso de canto aparecesse. Combinamos que começaríamos no dia seguinte. Ela me disse que eu tinha que ir lá depois das cinco porque era a hora em que ela chegava. Concordei e, depois de fechado o acordo, voltei ao meu apartamento. Ela era mais esperta do que eu pensara a princípio. Tinha exigido outros pequenos detalhes. Nada de compromissos em cima da hora e a sexta era só dela. Concordei não vendo nada demais no pedido e comecei a pensar no meu trabalho.

Juntei as minhas coisas e cheguei ao escritório quarenta minutos depois. A assistente me deu uma piscada assim que passei. Sorri para ela involuntariamente. Ela era bonita e vinha me paquerando desde que conseguira o emprego. Shikamaru me viu assim que cruzei a porta. Vi o olhar de alívio dele e um mau pressentimento passou por mim.

    - Que bom que você chegou. – ele disse me entregado uma pasta.

    - Problemas? – perguntei colocando minha bolsa na mesa e pegando a pasta.

    - Acharam o corpo. – ele disse e eu abri a pasta me deparando com as fotos do corpo nu da mulher. Estava em uma sarjeta comum de rua com alguns cortes na pele.

    - Quem achou? – perguntei e vi Shikamaru levantar. Segui-o sabendo que ele iria para o necrotério.

    - O dono da padaria. – quando ele disse isso eu parei de andar.
   
    - Está me dizendo que o corpo da mulher acusada da tentativa de homicídio foi encontrado na sarjeta da suposta “vítima”?

    - Estranho, né?

Entramos no necrotério da polícia e pedi para Tsunade me mostrar o corpo. Ela puxou a gaveta e puxou o lençol mostrando o corpo mutilado da mulher.

    - Os ferimentos – ela falou – foram feitos por uma arma sem ponta, mas pressionada com força o suficiente para penetrar no corpo. Essas marcas aqui indicam que a arma era comprida, talvez uns trinta centímetros, e que tinha uma cerra em uma das laterais.

    - Isso soa como... – comecei a dizer, mas ela terminou a frase por mim.

    - Uma faca de pão, daquela grande. Não há sinais de violações e ela não parece ter sofrido muito para morrer. O que é estranho considerando que uma faca sem ponta dói bem mais para perfurar.

    - Esse caso vai acabar comigo. – Shikamaru falou e eu o vi esfregar os olhos cansados – Nada disso faz sentido.

    - Na verdade faz. – eu disse – E isso é que é estranho. O Sr Koen não parece ser do tipo vingativo, mas tudo parece apontar para ele.

    - Mas quem poderia incriminar a vítima? – Tsunade perguntou.

    - O verdadeiro assassino. – eu disse.

Alguém apareceu na porta e nos disse que o chefe queria nos ver. Eu e Shikamaru nos entreolhamos prevendo algo ruim. Massageei a nuca. Aquele dia estava sendo difícil. E eu estava certo. O chefe queria que explicássemos porque ainda não havíamos prendido ninguém. Reclamou que a imprensa estava em cima e que era para a gente começar a mostrar serviço.

Passei o dia tentando achar pistas que me levassem ao assassino. Quando deu a hora, juntei minhas coisas e voltei para casa. Peguei a correspondência e percebi que Sakura já tinha chegado. Caminhei para o meu apartamento e a primeira coisa que fiz foi sentar no bar e beber. Estava lá aproveitando minha solidão e a minha bebida quando o telefone tocou. Vi o número no visor e suspirei:

    - Oi, mãe. Tudo bem com a senhora?

    - Sasuke, querido, demorou a chegar de novo? Agora que você tem uma noiva, deve voltar mais cedo para dar atenção a ela. – minha mãe falou do outro lado da linha.

    - Culpe o papai. É o caso que ele queria que eu assumisse.

    - Não seja bobo, querido. – ouvi minha mãe rir – Ah, por falar nisso, porque não me contou que sua noiva gostava de cozinhar?

    - Ela gosta? – deixei escapar surpreso. Quando a minha mãe tinha falado com ela?

    - Não me diga que ela nunca cozinhou para você? Talvez seja um castigo por você sempre chegar tão tarde. – minha mãe voltou a rir.

    - Quando a senhora falou com ela? – perguntei tentando parecer calmo.

    - Hoje de tarde. Liguei para ela para convidá-la para o almoço de domingo. – minha mãe falou e eu podia afirmar que ela estava empolgada.

    - Ai, céus. – eu disse passando a mão no rosto. Como a minha mãe tinha arrumado o telefone da Sakura? Pensando bem, eu nem queria saber.

    - Não precisa ser tímido, Sasuke. Eu quero que ela conheça a nossa família. Já convidei todo mundo. – eu também nem queria saber quem era todo mundo.

    - Domingo ela tem um compromisso. – tentei arrumar uma desculpa.

    - Ah, ela me disse. Mas eu a convenci de que você queria que ela fosse então não me decepcione. – eu precisava de mais uma bebida agora – Oh, seu irmão está chegando aqui. Vou falar com ele. Tchau querido!

Pela primeira vez, agradeci a ação do meu irmão. Bebi mais um copo e fui tomar banho. Deixei a água quente cair nas minhas costas tentando me acalmar. Minha mente passeava entre as pistas do crime e a minha vizinha maluca. Saí do Box e escolhi uma roupa confortável. Uma camisa larga e uma calça de ginástica velha. Respirei fundo e me dirigi para o apartamento ao lado.

Ela me deixou passar sem nenhum pergunta. Entrei e ela passou por mim indo em direção a uma mesa perto da cozinha. Tinha livros abertos até dizer chega e ela apontou uma cadeira.

    - Eu te ofereceria café, mas eu acabei com ele. – ela disse apontando a cafeteira vazia e uma xícara com os dizeres “eu não tenho vida para poder cuidar da sua” e um símbolo do curso de medicina.

    - Sabe que isso pode ser ambíguo, né? – eu perguntei apontando para a xícara.

    - Eu sei, mas foi uma amiga que me deu e ainda não achei uma desculpa plausível para quebrá-la. – ela disse e esfregou os olhos. Parecia cansada.

    - Foi a loura bêbada? – perguntei me referindo a mulher que me dera informações preciosas.

    - Essa mesmo. Ah, sua mãe me ligou. – Sakura falou pegando o lápis e escrevendo algo em um papel, notei que ela desenhava – Gostaria de saber como ela descobriu o meu número.

    - Eu também. Minha mãe é meio obcecada com a idéia de casamento então ela deve fazer qualquer coisa para se tornar sua amiga.

    - Ela é legal. Gostei dela. – Sakura falou enquanto desenhava. Apagou algo, talvez um traço imperfeito, e continuou a desenhar.

    - Sobre domingo, eu não faço questão que você vá. Foi um golpe da minha mãe.

    - Imaginei que fosse, mas não tinha certeza do que você queria então eu disse que sim. Posso desmarcar se você quiser.

    - Isso soaria estranho agora. – eu disse e apoiei os cotovelos na mesa. Ela me olhou e achei que era pela primeira vez. Sakura me observou com cuidado.

    - Você está cansado. – ela disse parando de fazer o desenho.

    - Você também. – mudei o foco da conversa e toquei a parte sob os olhos – Está cheia de olheiras.

Ela desviou os olhos para o desenho e corou levemente. Sorri porque tinha notado que ela não era tão imune assim aos meus encantos quanto queria que eu acreditasse.

    - A bruaca velha me deu uma nova chance. – diante do meu olhar zombeteiro ela explicou – Minha professora que não me deixou fazer a prova. Eu liguei e tive que implorar para fazer outra prova amanhã. Só que ela vai cobrar um outro capítulo então eu tenho que estudar. Olha.

Sakura virou o desenho na minha direção. Eu olhei, olhei e olhei e não entendi nada. Ela bufou da minha falta de conhecimento histológico e abriu um livro qualquer lá.

    - Isso é um coração. – ela disse impaciente.

    - Não. – eu respondi e desenhei um coraçãozinho na beirada da folha – Isso é um coração. Isso aqui que você fez é algo desconhecido que povoa a sua mente.

Vi que ela folheava o livro até achar algo que queria. Virou para mim e eu vi que o desenho dela parecia muito com o do livro.

    - Viu? – ela perguntou – Está igualzinho. - Respondi um “hm” qualquer e me espreguicei na cadeira.

    - A gente pode sair amanhã? – perguntei depois de um tempo.

    - Seus negócios ou meus negócios? – ela perguntou sem levantar os olhos do livro.

    - Seus negócios. Já está na hora de começar a procurar o seu príncipe encantado.


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