A Sombra Do Príncipe 1 escrita por Peamaps


Capítulo 3
Capítulo 3




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 Peamaps 250112

Capítulo 3

*

Legolas estivera em seu quarto. As lágrimas que há pouco banharam seu rosto se secaram, deixando a pele sem elasticidade. Ele simplesmente ficara deitado ali, por horas. Desta vez deixaria de ver seus “primos” muito antes da partida deles.

Seu pai fizera de propósito. Legolas teria de passar a humilhação em encarar seus “primos” com um olho roxo ou se trancar ali e perder a aventura que Elladan propusera. Ele choramingou baixinho. A revolta crescendo no peito, tão lentamente quando a vida de um elfo é longa mas nunca parando. Ele sempre se perguntava o quanto mais poderia aguentar.

Uma batida leve na porta e Legolas ergueu a cabeça, pensando se imaginara o barulho.

Então a batida foi repetida, e mais forte. O príncipe foi até lá e abriu a porta.

O homem misterioso não esperara ser convidado. Mais forte do que Legolas, ele forçou um pouco para que a porta fosse aberta e fechou-a atrás de si. Legolas olhara-o assustado.

-Olá, VerdeFolha.

O homem ficou olhando para ele. Um brilho divertido no olhar e seus olhos desciam até os lábios do elfo para subir novamente e encará-lo nos olhos.

Ele não havia notado seu olho inchado, Legolas reparou. Então se afastou até onde a sombra se fazia à um canto e tentou esconder o rosto ali.

-Estel. - Ele respondeu. - O que faz aqui?

-Dizer que me perdi nos inúmeros corredores – sem iluminação alguma, devo adicionar – parece ser difícil de acreditar não é mesmo? Mas foi isso mesmo. E fico feliz que tenha encontrado seus aposentos mesmo assim.

-Não poderia esperar que eu aparecesse em um lugar... público?

-Eu esperei vê-lo no almoço. No jantar já vi que estava evitando seus visitantes. Coisa que meus irmãos me alertaram que você faria.

O príncipe ficou embaraçado. Ele imaginou que fosse notável mas ouvir assim que os filhos de Elrond comentaram sobre sua ausência era desconcertante.

Legolas ficou observando Estel sem dizer nada. Esperava que o humano desse a explicação sobre sua visita noturna à seu quarto, afinal aquilo era um absurdo. Seu pai sempre o proibira de estar sozinho com alguma mulher em seus aposentos, depois que todos fossem dormir e talvez aquilo não era um problema, mas mesmo assim... era estranho.

-Em que posso ajudá-lo. - Legolas indagou, ligeiramente irritado mas tentando disfarçar isso em sua expressão.

Estel deu um passo à frente e sem notar, o elfo foi um para trás, batendo com as costas na parede.

-Eu... não consigo parar de pensar em você, meu Príncipe.

Legolas não sabia o que responder, conseguindo apenas encarar Estel e boquiaberto. Ninguém jamais ousou chegar assim perto dele.

-Do...do que está falando? - Indagou sem fôlego.

Estel deu mais um passo e Legolas teve de fugir dali. Ele começou à andar para trás, tentando ganhar espaço entre o home que de repente, parecia ameaçador. Mas a forma como Estel adentrara mostrou que tipo de pessoa ele era e ele continuava se aproximando.

-Eu nunca vi tanta beleza... tanta pureza. - Estel esticou a mão.

Legolas pensou que o tremor em suas pernas iriam levá-lo ao chão mas isso não aconteceu. Ele continuou tentando se distanciar e o outro ainda o seguia, insistente, teimoso.

-Pare, por favor. - Ele disse apavorado.

Estel obedeceu mas agora ele possuía o olhar que Legolas finalmente entendeu do que se tratava. Era um brilho predador e ele se sentiu como uma caça, frágil e patética. A quem ele poderia pedir proteção?

Não deveria temer a ninguém de acordo com sua posição, mas Legolas jamais pode contar com o pai. Então ele se lembrou de Haldir.

-Você... gostaria de me conhecer melhor? - O homem perguntou.

-Acho melhor você sair daqui.

-Diga-me que não sentiu nada quando me viu.

-Não senti.

-Então porque ficou me encarando de volta?

-Eu? - Legolas riu. - Eu estava curioso. Jamais vi um humano antes.

-Eu preciso te conhecer melhor.

-Por favor, retire-se ou terei de chamar meu guarda...

-Ora Legolas, nós sabemos como ninguém aqui se importa com você.

Por um momento o elfo parou, petrificado. Então lentamente, voltou à caminhar para trás. O homem novamente o perseguiu.

-Do que está falando?

-Por que acha que Lorde Elrond sempre se convida para vir aqui? Está claro que seu pai não quer visitantes. Ele se preocupa com você, assim como Elladan.

-Elladan?

-Nós viemos para te ajudar.

-Nós?

-Eu não acho que você seja tratado como um príncipe aqui. - Estel se aproximara. - Senão você não teria isto aqui, - e sua mão flutuou por sobre o soco que Legolas levara no olho.

O príncipe estremeceu mas não se movia mais. Estel não tocou seu machucado, mas descendo a mão, encostou no rosto pálido e macio. Legolas não conseguiu deixar de sentir um calor cobrir o local por onde a mão de Estel tocava, e fechou os olhos.

Assim como tudo começou, na mesma rapidez tudo acabou. Legolas sentiu a falta de contato quando Estel se afastou de repente e só então notou que segurava a respiração.

O homem já estava à porta. Um sorriso divertido dançando em seus lábios:

-Não tenha medo de pedir ajuda. Se você pensava que estava sozinho no mundo, agora sabe que minha família está ao seu lado. A questão é: o que você fará agora que sabe disso?

Legolas sorriu de volta, timidamente.

-Estou ansioso para nosso acampamento. Se amanhã você não aceitar, então virei aqui arrancar-lhe de seu quarto.

-E quem disse que você conseguiria me arrastar daqui humano? Eu sou um elfo, lembra-se?

-Com essa magreza, qualquer um é mais forte que você. - Estel gargalhou. - Mas eu não viria sozinho é claro. Elladan tem reclamado o dia inteiro sobre sua ausência; meus irmãos viriam comigo.

Legolas riu e a porta foi fechada. Estel pareceu aproveitar até o último espaço de fresta aberta na porta para observá-lo.

Quando a porta se fechou, ele levou a mão branca ao próprio rosto. Quando sua palma encostou aonde Estel havia lhe tocado, ele fechou os olhos.

*

Ele não contou à Haldir sobre o que acontecera. Ele sentira seu guarda cobrir-lhe durante a madrugada, pois tinha o costume de chutar os lençóis enquanto dormia, e Haldir, de levantar-se para cuidar dele. De tão extasiado que estava com o fato de que alguém finalmente se interessara por ele, Legolas acordara logo. O som que somente o elfo poderia ouvir de Haldir entrando em seu quarto sendo o suficiente para acordá-lo. Mas por mais que contasse tudo à seu guarda, ele não conseguiu compartilhar aquilo. Algo no fundo dele dizia-lhe que aquilo, de alguma forma, não estava certo e pela primeira vez ele e Haldir se separaram por uma parede de segredo.

Pela manhã ele despertou por causa dos raios de Anor que ofuscavam-lhe a vista. Ele virou o rosto depressa e finalmente conseguiu abrir seus olhos.

A primeira coisa que lhe passou na mente foi o que teria de encarar hoje, caso considerasse sair com seus amigos de Rivendell para a prometida aventura. Arwen ficaria preocupada com seu estado. Como elfo ele estava se curando rápido, e talvez em um ou dois dias não haveria mais evidências; Elladan e Elrohir certamente não preocupariam a irmã contando sobre o que viram e até Estel o vira. Quase todos sabiam sobre sua humilhante desgraça. Certamente, se isso chegasse aos ouvidos de seu pai, Elrond e seus queridos filhos jamais poderiam pisar em Mirkwood novamente. Seu pai era orgulhoso demais e ele ouvira dizer que Elrond era um justiceiro, e iria encher os ouvidos de Thranduil com um belo sermão.

Quando tudo ficara ainda mais complicado?

Legolas foi tomar um banho e quando retornou, com vapor saindo até de sua pele, ele encontrou a roupa para o dia sobre a cama, colocada com cuidado e uma mesinha com rodas ao lado dela com o generoso café da manhã. A criada deve ter entrado sem que ele notasse, como ela fazia muitas vezes. Ele nem se lamentou mais que até quem deveria trabalhar exclusivamente para ele, não queria lhe falar; todos temiam o rei e era só ele que importava.

Ele comeu sem entusiasmo. Seu olhar muito distante dali. Thranduil lhe enviara um bom sustento para que ele não precisasse mais sair caso sentisse fome mais tarde. O próprio rei não queria que os outros soubessem do que realmente se passava entre pai e filho, ao mesmo tempo que sabia que Legolas jamais ousava sair quando os sinais de abuso eram aparentes.

Mas hoje era diferente.

Ele sentia-se inquieto, com vontade de sair. Talvez seja porque está perto da maioridade, mas algo borbulhava dentro dele.

Legolas também não queria perder a oportunidade de passar agradáveis momentos com os gêmeos e Arwen. Se ele pudesse sair do palácio sem ser visto...

Houve uma batida de leve na porta mas não esperaram sua resposta, e ela se abriu. Era Haldir, que sempre podia entrar sem sequer avisar mas que gostava de manter o respeito à seu príncipe.

-Bom dia Las. - Ele entrou.

-Olá.

-Como você está se sentindo?

Haldir sentou-se na cama ao lado dele, e conferiu a marca em seu rosto, tocando-o delicadamente com a ponta dos dedos.

-Não se preocupe. Não dói mais. - Legolas mordeu mais um pedaço de pão.

-Ainda está feio. Mas me alegra saber que a dor passou.

-A pior dor jamais é física. - Legolas abaixou os olhos e tristemente, conferiu o que mais havia para comer.

Haldir acariciou suas costas, penalizado.

-O que quer fazer hoje? - Indagou.

Legolas encarou-o para estudar sua reação:

-Estava pensando em... ir acampar.

-Mas já? Eles vão ver... Eles vão saber.

O príncipe desviou o olhar:

-Ontem eu fui visitado pelo humano.

-Que huma... O que? Por que?

-Ele... bem isso não é importante. E depois disso eu fui falar com Elladan e Elrohir.

-Então eles te viram...Las, não sei por que você fez isso mas espero que saiba o que está fazendo.

-Eu os conheço há muito tempo. Tenho certeza que Elladan e Elrohir não vão fazer alarde. Eu pedi segredo a eles.

-Então tudo bem mas... e o humano?

-Eu não sei mas Elladan vai falar com ele.

-Você arrisca Las.

-Eu estou cansado. Exausto mesmo.

-Vejo que já se preparou para o dia. - Haldir suspirou. Não iria insistir no assunto.

Legolas voltou os olhos azuis para seu guarda. Havia súplica neles e até aquele dia, Haldir nunca soube negar-lhe nada quando ele fazia isso:

-Eu preciso ir. Eu... quero ir. Sei que nunca desejo nada, mas hoje é diferente.

-Claro, eu entendo. - Haldir disse derrotado. - Mas eu vou com você.

-Claro que você vai. - Legolas riu. - E como é que você iria passar algum tempo com Arwen se não fosse?

-De onde você tirou essa ideia? - Haldir riu, embora estivesse cansado que Legolas sempre insinuasse coisas.

-Você sempre pergunta dela, pensa que eu não notei?

-É para você. Acho que ela é uma ótima escolha para você. - Haldir fingiu-se estar mais indignado do que estava.

-Sei, sei... para mim.

Legolas notou que Haldir já tinha sua espada na cintura, arco e flechas às costas quando saíram. Algumas vezes ele não se preparava e eles tinham de ir aos aposentos de Haldir para se prepararem para o dia. Desta vez eles não precisaram.

Chegando à porta pesada, Legolas bateu. Um sorridente Elladan abriu a porta.

-Ele está aqui Ro!

Legolas entrou, Elladan sorriu para Haldir e eles viram Elrohir afiando sua espada, sentado na cama à esquerda.

-Que bom Legolas. Sábia escolha.

-Eu preciso sair daqui. Respirar um ar puro.

-Em Rivendell há muito mais ar puro do que aqui. - Elladan disse fechando a porta. - Dol Guldur fica aqui tão perto, poluindo tudo. Lá, você encontraria mais paz.

-Eu já disse. - Legolas sentou-se sem cuidado próximo ao gêmeo, propositalmente fazendo a espada de Elrohir cair de seu colo. - Eu vou fugir mas não agora.

-Vai fugir? - Haldir finalmente falou.

Legolas esquecera-se de contar a ele e olhou-o preocupado.

-É Haldir, lembra-se que falávamos nisso?

Haldir consentiu mas pensando em falar com Legolas quando estivessem à sós. Ele tentava manter a aparência de serviçal e mestre na frente de outras pessoas.

-Relaxe Haldir. Por favor, somos nós. - Elrohir estudava-o. - Fale o que você quer falar.

-Eu... com sua licença. Eu acho que esta não é uma boa hora. - E então olhou para Legolas.

-Fique tranquilo. Nós vamos planejar isso direito. Hoje será uma ótima oportunidade para isso. Elladan e sua família precisam ter ido embora para que meu pai não desconfie deles. Vamos deixar passar algum tempo.

-Então você vai acampar conosco hoje? - Elladan sorriu.

-Vou. Oh não, - Legolas exclamou de repente. - Esqueci minhas...

Sorrindo, Haldir mostrou-lhe o que trouxera com ele. O belo arco de Legolas.

-Não sei o que faria sem você. - Legolas agarrou sua arma, agradecido.

A porta se abriu neste instante e Estel entrou por ela. Seus olhos cinzentos percorreu o cômodo, pousando por sobre Legolas:

-Ora, ora, o que temos aqui? - Ele disse divertido.

-Legolas irá com a gente. Vamos mostrar a ele como é que se sobrevive na natureza. - Elrohir disse apontando a espada que o loiro derrubara.

-Isso eu já sei. - Legolas empinou o nariz em tom brincalhão.

-Ah mas você não sabe como nós. - Estel se aproximou.

O sorriso de Legolas se esvaiu. O humano tinha aquele olhar estranho para cima dele. Era tão intenso que ele não sabia se ele estava zangado ou algo parecido. Ele abaixou a cabeça.

-Então vamos. - Elladan apressou-os. - Tome Las.

Uma belíssima espada voou pelo quarto e Legolas teve de ser rápido para segurá-la.

-Eu já tenho...

-Não. Hoje você andará com uma espada. Me dê seu arco. Eu vou treinar com ele.

Ele olhou para Haldir que deu-lhe um aceno de cabeça aprovador.

-Você também Haldir. - Elrohir se aproximou. - Tome, está afiada para você. - E entregou sua belíssima espada. - Eu fico com seu arco. - Deixe sua espada aqui mesmo, depois você leva.

-Pode ser perigoso. - Haldir disse cauteloso. - Nós estamos mais acostumados com o arco e a flecha... - Ele hesitou mas aquilo era sério e ele tinha de falar. - Legolas jamais ficou por muito tempo na floresta, quanto mais à noite.

-Se algo acontecer, nós podemos trocar de volta. Além do mais, sabemos usar a arma de vocês. Não tão bem quanto um elfo de Mirkwood, mas bom o bastante. - Elladan garantiu. - Eu vou sair e se não encontrar ninguém venho para debaixo desta janela e imito um pássaro.

Então saiu do quarto e minutos depois eles ouviram um pássaro piar muito perto dali. Legolas se levantou mas Elrohir o reteve.

-Este é um pássaro de verdade. Elladan imita o azulão.

Conforme aquele que mais conhecia Elladan dissera, eles ouviram o canto logo em seguida.

-Vamos, - disse o gêmeo.

Eles correram pelos corredores. Legolas sentia o terror em seu coração em ser visto por alguém que contasse à seu pai ou pior, pelo próprio rei. Ao mesmo tempo a situação o enchia de vigor. Aquela era a primeira vez que ele se rebelava e havia um gosto picante nisso. Ele sorriu consigo mesmo e se deliciou ao sentir o sol banhar-lhe.

Eles continuaram depressa até os estábulos. Legolas beijou seu cavalo e murmurou algumas palavras de conforto para ele. O belo animal era branco e o mais majestoso de todos ali. Todos os outros elfos e humano saltaram para cima de suas montarias com a prática de anos de experiência.

O vento acariciava Legolas conforme ele fazia seu cavalo aumentar a velocidade. A liberdade era sedutora e ele não queria que ele parasse de galopar jamais. Ele fechou os olhos e jogou a cabeça ligeiramente para trás, deliciando-se com o momento. Ele tinha um leve sorriso nos lábios e quando abriu seus olhos, surpreendeu-se em ver Haldir logo à seu lado.

-Ora, vejo que está se divertindo!

Legolas enrubesceu e prestou atenção à frente. Haldir estava quase rindo dele.

Eles seguiram sem parar por algum tempo. Então os ouvidos de Elladan, Elrohir e Haldir – todos elfos e de audição aguçada - captaram o som de cascos e eles diminuíram a velocidade no mesmo instante. Legolas não entendera o que os retinha por algum tempo, desacostumado como era a estar solto na natureza, mas em breve ele ouviu também. Estel não deveria ter escutado mas confiava plenamente nos irmãos para parar também.

Todos viraram seus cavalos para encarar a ameaça. Alguém galopava exatamente em direção a eles. Elladan e Elrohir prepararam suas flechas. Seja quem fosse que estivesse chegando, não teria nem chance de ameaçar-lhes.

310112


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura!



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