Wally foi recuperando a visão e o medo não estava mais presente, já que a pessoa que quase o matou parecia ter consciência do ato e de quem ele era, pois após dizer seu nome, tacou a faca o mais longe possível e saiu de cima de si tão rápido que ele não pode nem aproveitar a situação se fosse uma heroína muito gata.

Quando ele permitiu os orbes esmeralda visualizar o ser a sua frente, impressionou-se com o cabelo longo num rabo de cavalo, costas viradas para ele enquanto ela fazia seu caminho elegantemente até o interruptor das luzes do lado da entrada do quarto.

Ele franziu o cenho e foi sentando-se a cama, esperando pela ordem de apagar o abajur, mas ela nada disse e Wally tinha certeza que estava ouvindo o barulho do fungar vindo dela. Porém, ela nada falou então o jovem simplesmente apagou a luminária assim que ela acendeu a luz, virando-se lentamente para mostrar uma mulher maravilhosa vestida num baby-doll, parada na porta do quarto, encarando-o com lágrimas teimosas na face.

E quando Wally alcançou a face dela, corar já não era mais uma palavra que cabia a ele. Ele respirou fundo, arregalando os olhos e permitindo a boca abrir, quase batendo o queixo no chão. Apesar das lágrimas estranhas e incomuns vindo do ser parado a porta, olhos de avelã sedutores o encaravam enquanto aquela boca cor de rosa, grande, balbuciava palavras mudas, tentando achar algo a dizer – ou ela estava embasbacada ou ela estava assustada.

–ÁRTEMIS?! – Wally berrou assustado e ela respirou fundo, contendo as lágrimas e limpando as que escorregaram impiedosamente pelo seu rosto adulto, que era uma face magnífica de se olhar.

POR QUE EU TO PENSANDO ISSO, DEUS?!

–Olá. – ela respondeu receosamente, voz um pouco tonta e mole.

–WOW! – ele respondeu levantando-se da cama com medo de contar a verdade para ela e ela matar o seu eu de vinte e cinco anos depois – Wow! – ele repetiu, engolindo em seco e sentindo sua face arder a mil graus.

Então ele lembrou-se que ela havia sentado em cima dele e vestindo aquele protótipo de roupa, rubor tomando completamente a face sardenta e fazendo o rapaz ter um conflito interno a respeito do que pensar ou não da jovem de vinte e cinco anos.

Eles mudaram meu quarto pro quarto dela e vice-versa?! Ele pensou. Espera aí...

–Você não devia estar na sua festa? – ele perguntou meio bravo, mas, com medo de morrer, decidiu ficar o mais relaxado possível.

–O que houve com você? – ela perguntou assustada, uma feição que Wally nunca havia visto na destemida arqueira substituta.

–Nada... – ele respondeu receoso e ela riu ironicamente ou de má vontade, revirando os olhos e permitindo mais uma lágrima cair.

–Você não notou?! – ela apontou para o jovem de quinze anos e ele olhou para si mesmo, vendo que estava na mesma roupa parecendo seu eu de sempre.

–Não...? – Ártemis passou a mão nos cabelos e caminhou até a cama, sentando-se e respirando fundo – Tudo bem?

–Não! – o grito dela o assustou e ele ficou com medo de se aproximar para ver se ela estava bem – O casamento é amanhã e você tem quinze anos! – ela olhou-o chocada e impressionada – Acha que vão casar você assim?!

–Oras, mas eu... – Wally parou pensando antes de falar (talvez a primeira vez que ele, de fato, fizera isso) e arregalou os olhos, realizando o que a pessoa que ele mais odiava, versão 2.5, estava achando que ele havia voltado há ter quinze anos e não que um outro ele poderia existir.

Pra falar a verdade... Ele pensou por poucos segundos Não seria algo tão impossível de se acontecer...

–Foi o Klarion, né? – ela perguntou fechando os olhos e bufando irada, frustrada e furiosa.

–Er... – Wally ainda não sabia o que dizer.

–Wallace Rudolph West... – Ártemis sabendo seu nome inteiro era muito assustador para uma resposta invicta sair de sua boca aquele momento. Ele ainda estava lamentando por Rudolph ser seu nome do meio – Foi. O. Klarion, né?! – Wally a viu abrir os olhos encarando-o e a chama de irritação podia ser reproduzida por eles.

Ele negou com a cabeça e ela arregalou os orbes chamuscados, apesar de continuar com as sobrancelhas franzidas.

–Na verdade... – o rapaz começou – É uma longa história.

–Como você ta assim?! Com... – regulou-o de cima a baixo e Wally sentiu suas bochechas arderem mais um pouco com isso. Hormônios a flor da pele – Quinze anos?!

–Eu tenho quinze anos. – ele disse lentamente para que ela começasse a associar tudo, mas conhecendo Ártemis Crock como Wally West conhecia, ela provavelmente o chamaria de demente e o mandaria parar de graça. Porém, o velocista adolescente não permitiu que ela começasse a falar, continuando logo a seguir – Eu sou Wally West, Kid Flash, e eu viajei no tempo... – sua cara de explicação era hilária e aquilo tudo era muito cômico, mas Ártemis não achou graça nenhuma, pois ela logo estava em seus dois pés, rugindo e se aproximando do moleque.

–KID FLASH?!

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.

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–E COMO VOCÊ VIAJA NO TEMPO E NÃO PERCEBE, KID BURRO?! – ela deu um tapa em sua cabeça, sentando na cama chocada e irritada em seguida.

–DESCULPA DEUSA DA SIMPATIA! Eu não sabia que era regra saber que está viajando no tempo. Opa... – ele olhou-a cinicamente e ela arfou as narinas – Eu me esqueci que você é leiga em tudo, já que não tem poderes!

–Cala a boca pirralho! – ela rebateu ofendida, encarando-o irritada – Tem noção do estrago temporal que você está causando no mundo?

–Escuta aqui, sua harpia! – Wally apontou o dedo para a ponta do nariz de Ártemis, desdenhando o tratamento que ela dera para ele – Eu não pretendia xeretar como seria minha vida dez anos depois! Aconteceu! E você sabe por quê?! – ele acusou-a estreitando os orbes esmeraldas – Porque você ficou estranha comigo e eu não engoli sua estória pra boi dormir!

–E a culpa é minha porque você resolveu que correr até as barrinhas de energia se esgotarem do seu estoque era a melhor idéia?! Será que não tem nenhum cérebro embaixo desse cabelo ruivo, não?! – Ártemis sentia-se com quinze anos, discutindo com um moleque irritante e teimoso, que não prestava atenção as suas palavras.

Isso a estava corroendo por dentro.

–A loira aqui é você, Ártemis. – ele rebateu e a arqueira grunhiu, cruzando os braços sobre os peitos.

–Ótimo! Por que não diz pra burra porque, então, Kid Animal não voltou pra 2011 ainda? – ela ironizou, arqueando uma das sobrancelhas e fazendo o moleque se calar.

–Oras! Eu quero saber quem é a minha noiva! – Wally rebateu, corando intensamente ao ver a reação inesperada de Ártemis.

Ela não riu ou debochou dele. Na verdade, ela olhou-o de uma forma curiosa como se tudo o que ele dizia não fazia sentido algum, contudo num sentido trágico e excêntrico – do ponto de vista de cada um. Ela relaxou o cenho franzido e começou a adotar uma expressão de preocupação ou incerteza, levantando-se da cama e ficando uns dez centímetros mais alta que ele – sabendo que seu eu mais velho deveria ter 1,85 de altura.

Pelo menos eu continuo sendo mais alto que ela. Ele comemorou secretamente.

Entretanto era constrangedor ter a arqueira crescida, bonita, a sua frente, olhando-o com curiosidade e Wally não resistiu à tentação de dar uma checada no corpo dela – afinal, crianças em puberdade não precisam de desculpa melhor que hormônios, certo?

Ele desceu as íris verdes cintilantes pelo pescoço fino dela até a clavícula que aparecia profundamente, duas saboneteiras visíveis e chamativas. Mais embaixo, aquilo foi totalmente sem querer (querendo), ele reparou o tanto, QUANTO, haviam crescido os seios da mulher, reparando o volume no baby-doll e contendo o sangue que poderia vir a fluir de seu nariz inesperadamente.

–Meus olhos estão aqui em cima, West. – sua voz soava brava, mas quando olhou seu rosto a centímetros de seus olhos amendoados estreitados e o nariz dela bem perto do seu, calor tomando-lhe o corpo, Wally tremeu. A mesma feição complicada em seu rosto maduro – Você tem certeza que não sabe quem é a sua noiva?

Wally parou e pensou em zombar dela, de verdade, ou responder algo que a fizesse ficar irritada. Qualquer coisa que tirasse aquela expressão incerta e quase triste daquele rosto que fazia suas mãos se encharcar de suor, seus lábios tremerem, suas bochechas arderem e seus olhos enfeitiçados por tudo acima do pescoço dela – não que a imagem abaixo não fosse prazerosa.

Então ele apenas negou com a cabeça, lentamente e Ártemis afastou-se dele, relaxando os olhos e endireitando suas costas murmurando alguma coisa, mas nada que valesse a pena à atenção dele. Talvez um Nossa. Por isso eu não esperava... Nada que o fizesse brigar com ela por ser algo sarcástico.

–Por que não fazemos assim? – Wally começou a sugerir e Ártemis olhou-o por cima do ombro, estando esquisita com ele. Não indiferente, mas... Constrangida...? – Você me diz quem ela é, me mostra uma foto e eu volto pra 2011 numa boa! – ele mostrou a ela seu melhor sorriso forçado, mas ela não respondeu nada.

Ártemis virou de costas totalmente, mostrando a Wally que seus cabelos, de fato, poderiam ficar maiores e que as costas dela não eram nada piores que a frente para visualizar também.

QUALÉ, WEST?! SE CONTENHA! Ele berrava para si mesmo, mas seus olhos verdes continuavam vagando sobre as curvas acentuadas da heroína vestida num pijama bem chamativo. E foi aí que ele notou que a cor do baby-doll era vermelha com alguns raios amarelos espalhados aqui e ali.

Hã? Ele parou por alguns segundos estranhando aquilo tudo Mas por que ela ta com um pijama do Flash?

–Wally. – Ártemis chamou sua atenção, novamente, virando-se para encará-lo. A face decepcionada em fim, fazendo com que o coração do jovem velocista pulasse uma batida – Você tem certeza que não sabe quem é a sua noiva?

Após arregalar seus olhos, em estado de choque, tudo fez sentido.

–x-

–AH! – Ártemis respirou fundo, sentando-se na cama, esquecendo completamente do sonho terrível que ela tivera.

Uma coisa ela sabia perfeitamente: Wally West estava nele e vestia um smoking, plantado no altar com uma cara de felicidade abobada encarando-a. A outra coisa de que se lembrava era de seu pai aparecendo e pedindo para levá-la até o altar.

O som de chuva e vento batendo em sua janela não significava coisa boa, mas o despertador continuava a badalar meio-dia e ela havia perdido o sono após acordar tão assustada.

Bom, com aquele grito, se Paula estivesse em casa daria um jeito de sair correndo da cadeira para ver se Ártemis estava bem, carregando seu canivete suíço com ela e preparando-se para encontrar o pior ou alguém terrível no quarto de sua filha amada. Ou seja, a arqueira estava sozinha e não sabia o que fazer para acalmar aqueles sentimentos estranhos e os pesadelos inoportunos que não permitiram seu sono aquela noite (ou manhã).

Foi tomar seu banho para tirar aquela sensação e aquele cheiro horrível de ontem e de vilões derrotados de seu corpo, relaxando os músculos e esfriando a cabeça.

Se ela pudesse lembrar só mais um pouco daquele sonho...

–x-

Finalmente. A face que se encaixava na noiva do véu grosso era a de Ártemis e Wally quase teve um filho, se fosse possível, naquele exato momento.

–COMO É QUE É?! – ele esperneou sem saber se ficava revoltado por ser ela ou feliz por saber com quem se casaria (e que não era uma noiva invisível).

–Ssh! – ela mandou, gesticulando silêncio e apontando para a porta – M’Gann, Zatanna e Babs estão dormindo!

–A festa que deu hoje não era pra fazer com que as mulheres da Liga não fossem a despedida de solteira da minha noiva?! – ele queria lavar a roupa suja logo e essa foi à primeira pergunta que lhe veio à mente.

–Primeiro que a sua noiva sou eu...

–AH! – ele gritou chocado e Ártemis deu um passo para trás preocupada com o que ele viria a fazer em seguida.

–E à minha festa de solteira foram às mulheres da Liga e algumas outras amigas, Wally. Então, não se preocupe. Não estraguei festa de ninguém! – ela revirou os olhos para a confusão do garoto – Se é com isso que está mais preocupado... – murmurou ironicamente.

–E... E... Er... Gr! – ele apontou corando extremamente ao olhar pra ela – Você me ama?!

Ela parou para pensar o que ele queria dizer com aquilo.

–Isso foi uma pergunta retórica né? – Wally resmungou novamente.

–EU PAREÇO ESTAR QUERENDO PERGUNTAS COMO RESPOSTAS, ARTEMIS?!

–Calma, Deus! – ela resmungou abaixando o tom e olhando de uma forma sincera, preparando-se para o próximo berro histérico dele – Se eu não te amasse, Surfista, eu não me casaria contigo amanhã!

–Ah! – choramingou, escondendo a face nas mãos.

–Deixa de ser um bebê!

–EU VOU CASAR COM A PIOR PESSOA DO MUNDO! EU NÃO TENHO OUTRO TIPO DE REAÇÃO EM MENTE, SINTO MUITO!

–Nossa! Me ofendeu!

–É. Ta legal! A incrível e destemida Ártemis ofendida vai mudar muito a minha opinião...

–Eu estou falando sério, Kid Ironia!

–Mentira!

–Mentira nada! Eu sou assim tão péssima pra você, moleque?! Sou tão ruim que você não consegue nem enxergar o fato de que eu amo você e você me ama e que vai casar comigo amanhã?!

Dessa vez ela o encurralou. Wally estava tremendo tanto que não sabia se olhava para Ártemis ou se saía correndo dali para um passado não tão distante e mudá-lo antes de acabar daquela forma.

Entretanto, quando ele levantou os olhos esmeralda ansiosos e notou a tristeza nas íris avelã, teve vontade de retirar tudo o que disse até agora. Aos poucos foi lembrando-se do que ela fizera quando o achou e como ela chorou, ficando preocupada quando achou que o menino bruxo havia transformado-o em adolescente novamente na véspera de seu casamento e o olhar de agora só não era deprimente porque não havia lágrimas saindo dos olhos amendoados.

–Eu... Caham... – ela limpou a garganta, a voz tremula e Wally começou a prestar atenção à mulher que parecia com receio pela primeira vez a sua frente – Eu quero saber o que você realmente sente Wally.

–Não deu pra notar? – ele respondeu um pouco chocado ou magoado, começando a se acostumar com a idéia. Ela desviou os olhos de avelã das esmeraldas em opaco.

–Mais do que o possível. – Ártemis respondeu e engoliu em seco, juntando as mãos no peito e apertando-as em cima de seu coração. Tremendo que só – Então... Já que é assim, - ela voltou a olhá-lo, segurando as emoções inesperadas para o velocista, que pareciam prestes a explodir – Eu vou conversar com o Wally amanhã a respeito do casamento.

–E vai dizer o que?!

–Que eu não quero transformar a vida dele num estorvo. – respondeu olhando-o secamente – Então, Kid Flash, não se preocupe. – ela respirou fundo e pegou um travesseiro na cama, preparando-se para sair – Você não vai se casar comigo no futuro.

Após a porta bater e o quarto pertencer só a ele, novamente, Wally sentiu-se vazio.