Fairy Tales - Fairy Love escrita por Jereffer


Capítulo 107
Capítulo 107: A Verdadeira Felicidade


Notas iniciais do capítulo

Bem, chegamos ao final. Eu não sei se me sinto exultante por final concluir algo que excedeu qualquer expectativa minha ou me sinto triste por ter chegado ao fim,
Bem, primeiramente eu gostaria de agradecer de forma tão imensa a todos vocês que leram essa fic, acompanharam por tanto tempo algo tão absurdamente grande que eu não posso colocar essa sensação em palavras.
Então, sem os atrasar mais, boa leitura, e até mais.



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Natsu estava surpreso, mas de alguma maneira em meio a uma confusão de pessoas colidindo de costas enquanto trocavam de par de forma aleatória, porém coordenada, ele acabou por ficar frente a frente com Levy Mcgarden.

A maga escritora da Fairy Tail estava muito elegante em um vestido que parecia tentar ocultar ao máximo o fato de ter saído do setor infantil. Uma peça laranja que tinha um corte que obviamente seria pouco atrativo para o público que normalmente usava coisas daquele tamanho, coberta de arabescos dourados que obviamente só podiam ser corretamente interpretados por pessoas com bons hábitos de leitura.

Ela tinha as bochechas rosadas e o brilho nos olhos de um general que contemplava o campo de batalha por cima de uma montanha de cadáveres.

– Ahn, Olá, Natsu-kun - disse ela, parecendo meio alheia a presença dele ali. Natsu acenou com a cabeça, e o silencio se estendeu pelo começo da próxima música. Natsu estava tentando entender tudo que estava acontecendo, enquanto Levy também tinha seus próprios dilemas internos.

Depois de um tempo, uma idéia foi crescendo na mente pouco sóbria de Levy... Certamente aquela era uma tentativa válida, afinal, apenas um idiota podia realmente entender a mente de um idiota.

– Hey, Natsu-kun... O que você chama de ser direto? - arriscou ela depois de um tempo. Natsu piscou confuso com tema.

– Ahn... Falar o que você quer dizer? - perguntou ele sem saber ao certo que tipo de resposta era a certa para uma pergunta tão estranha.

– Sim... mas e se uma pessoa falar o que quer dizer... só que de outra forma...também é algo direto né?

–Ahn... - disse Natsu tentando entender pelo menos alguma frase, enquanto coçava a cabeça. Dentro de sua cabeça, seus poucos neurônios já estavam redigindo suas cartas de demissão.

Levy suspirou.

– Provavelmente não - disse ela, enquanto tentava organizar seus pensamentos - Vejamos, como explicar... é como a Lu-chan e a Lisanna-san, que em vez de falar explicitamente com você, ficam dando dicas enquanto tentam não matar uma a outra.

Flutuando sobre a cabeça de Natsu, podia-se ver engrenagens imaginárias girando, e neurônios trabalhando freneticamente jogando carvão nas fornalhas de abastecimento de seu cérebro. E então, em estopim, vapor saiu de suas orelhas e a realidade óbvia explodiu na mente.

– Que... quer dizer... que... elas... - disse Natsu, tentando colocar sua idéia em palavras, mas aquilo se aprecia estranho demais.

– Quer dizer que você não sabia? - disse ela surpresa - Então... merda, eu não deveria ter dito isso mas... escapou - disse ela alegremente. Nada tornava o arrependimento algo tão insignificante quando uma razão alcoolizada.


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Jereffer não pode evitar um sorriso zombeteiro quando encontrou sua antiga aprendiz atrás do palco. Sua aparência estava mais que cômica, então aquilo era quase perdoável.

– Bem, eu fico feliz de saber que você aprendeu a projetar sua imagem ilusória com habilidade o suficiente para aparecer que ainda está cantando - disse ele tentando conter o riso - O que pelo sétimo inferno aconteceu?

– Ahnm ESmhntaa tenmph - começou ela a tentar a falar, porém estava com a língua absurdamente inchada, e tudo que saía eram sons desconexos e gengivosos.

– Ahn, péssima idéia, vamos tentar de outra maneira - disse ele colocando as mãos em volta da cabeça dela - “Agora diga com calma” - disse ele com sua mente.

– “Bem, eu estava tomando uma bebida entre um solo instrumental da música quando uma abelha, que provavelmente estava apreciando a minha bebida por mim, e...”

– Eu posso imaginar o resto - disse ele reprimindo mais uma vez o riso e tirando as mãos da cabeça dela - Você já cumpriu sua parte do acordo, então, pode ir, se quiser. Você ganhou uma indulgencia minha, gaste-a sabiamente.

Ela começou a gaguejar mais alguma coisa. Jereffer colocou um dedo nos lábios dela e a outra mão em sua testa. Ela entendeu que só precisava pensar.

– “Eu posso usar ela para tentar te matar e me safar?”

– Você pode tentar, quantas tentativas somariam, cem? - perguntou ele dando os ombros - Eu nunca contei.

– “Noventa e sete” - disse ela, a contragosto, se virando subitamente e saindo com toda dignidade que uma pessoa com a língua tão inchada que mal consegue a manter na boca pode ter.

O local ficou em silencio por alguns instantes, ou tão silencioso quanto as costas de um palco ser, antes de Jereffer ouvir uma voz dizer:

“Você parece bastante tranqüilo perante as ameaças de vida...”

– Ela era uma aprendiz problemática - suspirou Jereffer de forma cansada - E no dia em que eu precisar temer ela, trocarei minha espada por agulhas de tricô. E saía da minha cabeça, Watashi.

“Eu não estou exatamente na sua cabeça, e não reclame, você está na minha área de alcance, minha curiosidade não foi feita para ser posta em abstinência. E por acaso eu estou nessa muito confortável base voadora que você usa como casa. Qual é a senha para a porta da adega?”

– Sabe, poucas pessoas tem a audácia de me roubar, mas nunca antes uma fez isso e precisou de ajuda - disse ele mentalmente de forma sarcástica - A senha é “Um espadachim nunca se deixa dominar pela bebida” mas antes disso, seja útil e mande três unidades D.E.N para cá.

“Eu não diria que estou roubando, afinal, o conceito de posse é meio subjetivo... mas, deixando isso para lá... Soldados Ciborgues? Pretende começar uma briga?”

– Na verdade eles são autônomos funcionais de síntese de voz avançada, existe uma grande diferença - explicou ele em um tom profissional - E uma briga? Não... Digamos que eu vou apenas colocar a última carta na mesa.



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A verdade, crua e sem ilusões, é que Jereffer estava enganado quanto o despertar da coragem de Jellal.

Na verdade, tudo que aquele desastrado casal fazia era enrolar, contrariando o senso comum sobre evitar prolongar algo constrangedor.

Eles já haviam falado sobre o tempo, como seria a colheita de morangos daquela estação, sobre o problema com saqueadores na costa que algumas cidades de Fiore... Tudo, menos sobre os sete anos passados, e um cerro evento constrangedor envolvendo uma barraca do beijo e um amigo de intenções duvidosas.

Era sobre esse amigo mal intencionado que eles conversavam, sem saber que uma de suas maquinações estava em andamento naquele momento.

– Realmente curioso - comentou Erza - Então, todas as ações suspeitamente legais, além dessa popularidade da Raven Tail...

– Tudo parte de uma espionagem altamente secreta sobre a qual eu não deveria nem falar que sei - disse ele dando os ombros - E parece que as pessoas realmente são predispostas a gostar de loucos quando não precisam conviver com eles.

– Eu discordo, eu vivo na Fairy Tail, conviver com pessoas louc... ou melhor, diferentes, e é só assim que você aprende a gostar delas - disse ela em um tom profundo.

– Bem, pesando bem, é uma forma de... - ele ia dizendo, quando notou uma agitação no palco - Ahn... isso não parece ser coisa boa.

Por entre as cortinas que escondiam o fundo do palco, alguém havia enfiado a cabeça por ali, e dois olhos desiguais fitaram aquela platéia com uma pacífica diversão, seu sorriso continha toda a arrogância de uma pessoa que assiste criaturas inferiores se divertir.

Ele estralou os dedos, e com uma explosão de luz negra, fez tudo no palco sumir, exceto os instrumentos, que continuaram a tocar, ao que parece sem notar que seus controladores haviam sumido.

Sem nenhum constrangimento, ele passou o resto do corpo pelas cortinas e caminhou até o microfone. Ele havia tirado o paletó de seu smoking e deixado jogando pelos ombros, a camisa branca desabotoada até quase a metade.

“Uma ótima forma de se fingir de bêbado” - pensou Jellal, não podendo deixar de se divertir com a atuação dele.

Sem nenhuma cerimônia, ele se aproximou do microfone, e deu duas batidinhas de teste do microfone, criado um ruído surdo que fez várias mãos taparem os ouvidos. Ele deu uma risadinha que ecoou igualmente gritante através do sistema sonoro.

– Bem, eles eram realmente uma droga, não? - disse ele de forma desprovida de qualquer constrangimento - E está no manual que nenhuma festa saí do controle sem um pouco de empolgação. Algum voluntário?

O que se seguiu foi um silencio tão aterrador que até os grilos que geralmente surgem do nada para efeito humorístico nessas situações se negavam a produzir qualquer som captável por ouvidos humanos.

– Ok, vamos dar um exemplo - disse ele, e uniu as mãos. Por um momento insano pareceu que ele ia puxar um coro de oração, mas foi apenas para unir as mãos e separá-las em mais uma daquelas irritantes explosões de luz que camuflavam sua verdadeira magia.

“Ele quer terminar logo antes de todos nos ficarmos cegos” pensou Jellal esfregando os olhos.

Atrás de Baelfyre, haviam surgido várias formas humanas envoltas, como se ele tivesse criado algum tipo de portal que sugasse adoradores do Satan de suas fogueiras de adoração e os soprasse para aquele palco.

Baelfyre se virou para trás por um leve instante, e sua mão encontrou uma que lhe oferecia uma guitarra. Estava quente.

– Encontrei seus brinquedinhos vindo para cá, e não pude deixar de ver meu babybrother se humilhando publicamente pelo bem do encontro de um amigo - disse ela sorrindo ferinamente.

– Ok, então apenas não foda com minha atuação e observe - disse ele, sem mal mover os lábios. Ao notar que ela continuava á estender a guitarra, ele arqueou as sobrancelhas - E o que eu deveria fazer com isso?

– Eu sou uma cantora profissional, é contra minha filosofia assistir um farsante fajuto, então, se for fazer isso, faça direito - disse ela sorrindo mais largamente - Eu espero que você consiga aprender a tocar instrumentos de corda em... 3 segundos.

– Eu consigo - disse ele com seu sorriso de zombaria. Ele segurou o pulso dela por um leve instante, e ela sentiu um choque elétrico.... Não do tipo poético, mas um literal, percorrer sua cabeça e arrepiar alguns fios de seu cabelo.

– Acabei de aprender - murmurou ele, enquanto fingia afinar a guitarra para ganhar mais alguns instantes. Ela assistiu um elaborado brasão com “J” se desenhava com linhas mágicas em seu olho mais claro - E também aprendi muito sobre as melhores marcas de absorvente... efeito colateral que eu vou tentar esquecer com todas as minhas forças.

– Então você conseguiu fazer o projeto A.R.M.A funcionar plenamente? - disse ela sorrindo orgulhosa, por um momento estranho agindo como uma irmã normal - As vezes eu me esqueço que meu irmãozinho é o gênio.

– Sis, por favor - disse ele dando os ombros e colocando um tapa-olho, e se virou para se aproximar mais do microfone. Mas ela ainda o conseguiu ouvir - Eu teria que perder 200 pontos de QI para ser considerado apenas um gênio.


Da área de dança, Jellal ficou surpreso por ver que não era nenhuma projeção que ia cantar. Jereffer podia ter um humor negro que beirava á uma necessidade, mas não era muito fã de fazer sacrifícios em prol de suas troças.

– Bem, essa música se chama “Snow Fairy”, eu não sei exatamente porque, acho que estava bêbado quando ouvi ela - disse ele dando os ombros.


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Gajeel deu um suspiro de alívio. Com o fim das músicas pornográficas e aquela infernal dança em grupo, quem sabe as coisas pudessem voltar a fazer algum sentido.

Em algum momento naquela noite estranha as coisas fugiram de tal forma da normalidade que ele se viu sendo a mente pensante mais racional e com senso de moral e vergonha alheia.

“Seu olhar ao longe, que arde, invadiu meu ser... é o que ilumina o meu amanhecer”

O extravagante mago da Raven Tail havia começado a cantar no palco. Gajeel tinha que admitir que ele levasse o jeito da coisa, apesar de não ter o dom natural de usar onomatopéias adequadas. Aquilo com toda certeza ficaria melhor com uns “shobodobis” ou “doos”.

“Ohh Yeahh, Escute a minha voz quando eu te chamar”

Ele provavelmente se distraiu, pois quando notou, Levy estava ao lado ele, tão inquieta quanto um tigre enjaulado.

– O que foi, Devoradora de livros? - perguntou ele com sua falta de decoro atual, temporariamente esquecido que a ordem natural das coisas não estava em vigor ali.

– Até a Erza e o Azulão estão tendo um momento - disse ela no tom rabugento de uma dona de casa de meia idade que admite que o jardim do vizinho está mais próspero - Isso é incrivelmente frustrante. Eu preciso de livros pra me sentir melhor. Quem sabe um bom clássico...

“Ohh Yeahh, Mesmo sem forças não vou me calar”

– Ahn... O que diabos você está falando? - perguntou Gajeel, enquanto seus neurônios colocavam mais combustível em suas fornalhas pra tentar acompanhar aquele raciocínio.

– Ah, apenas venha - disse ela dando uma tapa na própria testa e o puxando pela gravata.

Do lado de fora, o tempo estava esfriando, e uma neblina densa deixava o mundo totalmente branco, dando a aura de algum sinistro pântano mítico.

– Que tempo ruim - comentou Gajeel, que sentia que o metal no seu corpo começaria a enferrujar em minutos se ele ficasse parado ali.

– Não seja uma garotinha - disse Levy revirando os olhos, e começando a caminhar depressa.

Em algum lugar de sua mente inegavelmente bêbada, ela pensava que conseguiria achar uma biblioteca aberta á aquela hora, e aquele tempo não a incomodava. Na verdade, aquele clima não a incomodava em nada, pois se parecia muito com o cenário de um de seus livros favoritos, que se passava em um mundo mágico. Logo, ela estava saltitando em uma velocidade que se aproximava de uma corrida.

– O que essa nanica está querendo, arrebentar o nariz do chão? - resmungou Gajeel, usando um másculo andar rápido para segui-lá.

De fato, Levy estava mentalmente debatendo se uma cena dessa mesma história, onde o galante mago Take Over tinha contato com a jovem jornalista protagonista. Ela percebia que a cena era bem irreal, pois parecia totalmente estranho beijar alguém em meio a névoa, sem conseguir ver nenhuma detalhe a um palmo do nariz.

Aquilo estava a atormentando quando ela colidiu com algo sólido, que produziu um sonoro “buuum”, como uma bola acertando uma janela de metal.

– Uhg - gemeu a maga, esfregando a cabeça, onde um galo proeminente havia surgido ali - O que...

Acima dela, dois olhos vermelhos brilhavam. Ela pensou ver algumas faíscas e ouvir o som de estática. E depois, o som do aço cortando o ar.


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Gray encontrou o Dragon Slayer de fogo da Fairy Tail em um estado estupidificado no banheiro, mastigando uma das pimentas-ardentes de plástico da planta que adornava o ambiente com a mesma expressão de uma vaca a quem fora apresentada um fast food.

Uma gota de suor escorreu na parte traseira da cabeça de Gray. Ficar ruminando uma idéia era apenas uma expressão para pessoas normais.

– Ei, acorde, cérebro de chamas - disse ele dando uma sacudida nos ombros de Natsu. Ao não conseguir nenhum resultado além de um resmungar desconexo, ele resolveu mudar de estratégia.

– Ice Make: Bionic Hammer! - e assim, dando um golpe certeiro com uma marreta de gelo de um metro e meio, ele finalmente conseguiu tirar o mago de fogo de seu estupor, que coçou a cabeça, em meio ao caos de cacos de gelo que o banheiro se tornara.

– Ei, seu pervertido, isso foi realmente necessário? - perguntou Natsu esfregando o galo colossal que agora apontava entre seus cabelos. Ele acendeu seu punho - Quer brigar?

– Depois, primeiro, o que diabos aconteceu com você? - disse ele em tom de bronca - Eu não luto com retardados de nível terminal!

– Eu só estava... pensando - disse Natsu de forma defensiva.

– Quem diria que algum ser humano viveria para ouvir isso - disse Gray arqueando as sobrancelhas - As pessoas pensam o tempo todo sem ficarem sonâmbulas.

– Eu estava pensando em algo complicado - disse Natsu. Vapor subia de sua cabeça quando ele tentou articular palavras - É que... eu descobri... você não vai acreditar quanto eu falar... é que...

– TODO MUNDO SEMPRE SOUBE ISSO - gritou Gray em um tom que mostrava que ele não conseguia acreditar no que ouvia, enquanto acertava uma segunda pancada usando uma frigideira - Como você pode nunca ter percebido isso e ainda sim ficar tramando para me colocar em situações constrangedoras coma Juvia?

A resposta de Natsu não passou de um grunhido de agonia sem palavras. Gray suspirou.

– Você não precisa pedir, então eis meu conselho - disse Gray e com um movimento rápido, o agarrou pelos ombros e o jogou quicando porta afora - AJA COMO UM HOMEM!

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“Olho pro céu mas vejo a lua e o sol, no mesmo lugar como se fossem um só”

Jellal ouvia a música apenas vagamente, a maior parte da sua mente ocupava em se manter em movimento sem tropeçar nos próprios pés. Era estranho, mas como a maioria das pessoas que estão em uma situação que os constrange até a raiz do cabelo, ele enxergava tudo com uma lucidez e detalhes anormais.

Ele via alguns pequenos fios desfiados na parte inferior da abertura para os braços do vestido de Erza, provavelmente frutos de alguma agressão da mesma contra os pobres funcionários do baile. Via de relance por cima da cabeça da mesma Natsu Dragneel conversar com a loira maga de espíritos celestiais da Fairy Tail.

Se seu sangue não estivesse circulando tão rapidamente em seu cérebro, ele podia se deixar levar por uma leve curiosidade. Mas aquele não era o caso.

“A sua luz reflete o meu desejo, em meio a neve eu encontro o seu...”

Suas mãos estavam suando, mas ele esperou que suas luvas estivessem ocultando esse constrangedor fato. Ele esperava que estivesse parecendo melhor do que ele se sentia, que era exatamente como um garotinho de 10 anos forçado a discursar para uma multidão.

– Você está se sentindo bem? - perguntou Erza franzindo as sobrancelhas e colocando uma mão em seu rosto, medindo sua temperatura.

– Ah, estou ótimo, não se preocupe - disse ele tentando soar confiante - Talvez... meio desidratado, mas ótimo!

– Bem, você é muito descuidado - disse ela abanando a mão - Vamos pegar um suco de morango para você depois.

“Sorriso tão lindo em meus sonhos, que está presente, a falta que sinto, dos momentos que passamos juntos...”

Se aquilo fosse uma história, Jellal sabia que deveria ter uma frase interessante e divertida para amenizar o constrangimento, mas aquilo não era, e ele, não confiando em seu dom da fala, resolveu ficar em silêncio.

Não funcionou, e como ele já não tinha mais nenhum comentário a fazer sobre o clima, a decoração ou sobre a comida. Ele quase podia ver o lado positivo de sua consciência, surgindo como um anjo chibi e dizendo “tenha calma”, enquanto o lado negativo era um pequeno demônio cutucando sua cara e dizendo para ele agir como adulto.

“Seu olhar ao longe, que arde e invadiu meu ser, é o que ilumina o meu amanhecer!”

O lado ‘negativo’ venceu.

– Erza, eu... eu...

– Ah, pare de gaguejar, faz você parecer idiota - disse ela sorrindo, e o beijou.

Se Jellal ainda estivesse em seu surto de visão ele teria avistado a maga Strauss observar o Dragon Slayer conversar com a maga loira e sair depressa, e talvez ficasse curioso. Mas toda sua visão e mente estavam ocupadas.


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Gajeel ofegou, enquanto seu sangue começava a manchar as pedras alvas que pavimentavam o chão. Um corte se abria na base de seu bastão, onde aquela coisa o tocara.

– Devoradora de Livros, para trás - disse ele sem tirar os olhos de seu oponente. Era humanóide, mas aquele poder destrutivo com toda certeza não era humano.

A criatura avançou, entrando na área de alcance de uma das lâmpadas externas de uma das casas e Gajeel notou que ela se parecia muito humana, exceto no pescoço, onde uma série difusa de fios soltavam faíscas elétricas de forma descontrolada, carbonizando aquela espécie de pele e revelando metal por baixo.

– Mas o que diabos... - praguejou ele, e resolveu que a melhor defesa era o ataque - Tetsuryūken.

Sua espada apenas riscou e soltou faíscas ao atingir o flanco do robô, em um golpe que deveria o ter cortado em dois. Um segundo golpe físico do autônomo tirou o ar dos pulmões do Gajeel e fez pontinhos roxos dançarem em sua visão.

– Solid Iron - Uma bigorna nas formas da palavra Iron voou de trás dele, acertando em cheio a cabeça de seu oponente, e depois rolou pelo chão até Gajeel.

– Gajeel, use a cabeça - gritou-lhe Levy sacudindo o e apontando pra seu inimigo metálico - Aquilo ali é de FERRO!

Uma lâmpada se acendeu sobre sua cabeça. O próximo golpe, aparentemente um pisão, ele evitou rolando para o lado. E com um ímpeto, saltou para os próprios pés e mordeu.

Seus dentes de Dragon Slayer penetraram profundamente no metal, e ele tentou mastigar. Sua boca se encheu de óleo e ele ouviu os motores pararem dentro de seu oponente.

Ele recuou, cuspindo pedaços de metal e um espesso óleo verde fosforescentes. O robô “morria” ruidosamente, soltando ‘bips’ e outros sons metálicos, enquanto aparentemente tentava se consertar. Um chute bem dado impediu o processo de continuar.

Ele começou a ofegar. O silêncio caiu sobre o lugar.

– Quem diabos deixa uma coisa dessa solta por aí? - rosnou ele, desabando no chão. Seus braços voltaram ao normal, mas o corte permaneceu.

– Gajeel! - disse Levy se sentando ao lado dele, e puxando sua bandana e tentando estancar o sangramento - Por que diabos você tem que ser tão cabeça dura! Não saía por aí entrando na frente de maquinas no mau!

Gajeel piscou. Era impressão dele ou ele estava levando uma bronca por salvá-la?

– Bem, então não saía por aí correndo de cabeça em direção a elas - resmungou ele. Como ficar vendo ela fazer curativos usando pedaços rasgados de seu vestido era muito constrangedor, ele olhou para a maquina que agora estava inativa no chão. Era possível se ver Mark J VI marcado em seu braço - Qualquer homem que não esteja disposto a proteger as pessoas ao seu redor não é homem nenhum.

Levy piscou. Ela conhecia aquela frase.

– Gajeel, quando você andou lendo? - perguntou ela sorrindo, enquanto uma pequena mudança de cor ocorria em Gajeel. Ela não podia dizer ao certo com aquela luz e aquela neblina, mas talvez podia ser vermelhidão, pensou Levy.

– Bem, err... é que... um homem também tem que ser inteligente - disse ele de forma tensa, como uma pessoa recitando as respostas semi-esquecidas de uma prova difícil

Então, de repente, ela não conseguiu conter o riso. Aquela situação era bizarra demais para suportar calada.

– E não é que as vezes você fala algumas coisas inteligentes? - disse ela, se aproximando apertando a bochecha dele de forma divertida.

E foi então que ele a beijou. Não um toque de lábios mágico como os escritores amam descrever, mas algo feroz, uma tentativa desesperada de expressar algo que nenhum deles conseguiu por em palavras.

Mais tarde, Levy refletiria que as pessoas nunca percebem que estão vivendo situações românticas durante as situações, suas mentes sempre estão ocupadas com outra coisa. Mas só mais tarde.


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Não tendo interesse nenhum em participar da dança bêbada absurda e sem ter ninguém para conversar, em parte por preguiça de inventar detalhes pra sua identidade falsa, Ultear se ocupava em experimentar a quantidade colossal de bolos e beber um pouco. Apenas um pouco, pois ela suspeitava que o fato de todos estarem mais bêbados que alcoólatra comemorando o dia dos alcoólicos anônimos não era uma coincidência do destino.

Ela estava refletindo em como alguém conseguiria esse feito quando uma maga se aproximou como um furacão da mesa, se desvencilhou do garçom que ia lhe perguntar o que ela desejava e foi direto na jarra de drinks, e apanhou um copo. Ela o encheu com uma pressa de um viciado em abstinência, e depois, bebeu a jarra. Depois de terminar em um tempo que Ultear achou ser humanamente impossível, ela pousou a jarra vazia na mesa. E depois o copo.

Ela sacudiu a cabeça, e suspirou. Uma camada mágica em seu rosto se desfez, revelando que a cantora subsituta era na verdade... Akuna!

– Maldito seja - resmungou ela, encostando-se à mesa, fazendo com que a bandeja do qual Ultear reabastecia seu prato voasse rumo ao chão - Merda, foi m... ei, olá de novo! Era... Ulmer? Uler...

– Ultear - corrigiu a maga do tempo com uma veia pulsando na testa - Não pensei que veria você de novo.

– A vida é cheia dessas estranhas surpresas - disse ela dando os ombros, encarava um pequeno aglomerado em frente ao palco, que agora fora ocupado pelos Trimens, que estavam cantando algo de sexualidade bem duvidosa á capela. Jereffer sorria e tentava escapar da massa compacta de magas. Ele não tinha um sorriso amistoso, mas uma mistura de arrogância e diversão que sugeria que o tudo era uma piada que apenas ele era inteligente pra entender. Mas aquilo não parecia as incomodar - Por exemplo, não existe pessoa no mundo que relacionaria meu antigo tutor á esse Baelfyre.

– Ele não falava muito na sua época, então? - comentou Ultear curiosa - E pensar que existiu uma época onde fazer ele calar a boca não era uma luta diária.

– Bem, ele até falava, mas geralmente era com o seu próprio esquadrão, e com a Jane - disse ela torcendo os lábios.

Aquilo despertou a curiosidade de Ultear. De novo, aquela mulher... como seria essa pessoa, capaz de fazer pessoas guardarem ódio por tanto tempo.

– Como ela era? - perguntou Ultear.

– Bem, você quer dizer, a personalidade dela? - ela olhou para Ultear por longos segundos, antes de rir - Não, espera, você quer dizer fisicamente? Ele nunca te contou?

– Me contou o quê?

– Que você é fantasticamente parecida com ela - disse Akuna como se fosse óbvio - Na verdade, eu não sei como podem existir duas pessoas tão parecidas no mesmo mundo!


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(N/J: E agora, chegamos ao momento derradeiro, esperado desde 24/01/2012 às 09:47. Sim, a grande decisão! E depois de diversas idéias, eu resolvi fazer o seguinte: se você acha que o Natsu ama a Lucy, etc, etc, pule essa quebra de página e fique com a observação do Jellal e esse é o seu final. Se você gosta/leva NaLi numa boa, apenas continue a ler normalmente)

Natsu observou Lisanna correr porta á fora. O que será que tinha dado nela.

– Você viu aquilo? O que será que aconteceu? - disse ele coçando o queixo - Será que ela está com dor de barriga.

Lucy riu. A decepção ainda borbulhava amarga em seu estomago, mas era justamente aquela inocência que ela achava tão atraente nele. Então ela resolveu ser sincera, da mesma maneira atrapalhada que ele fora ao tentar falar sobre como ela era uma preciosa nakama. Apenas uma preciosa nakama.

– Natsu - disse ela com suspiro - Ela deve ter interpretado o fato de você ter vindo falar comigo, se presumindo que ela soube da língua solta da Levy, de forma errada.

– Ahn?

– Apenas vá falar com ela - disse Lucy revirando os olhos. Ao notar a demora dele para reagir, ela resolveu o incentivar com mais vigor - Vá logo!

Ela o deu um empurrãozinho, que serviu de pontapé inicial para ele começar a se mover.

– Ah, é mesmo, obrigado Lucy - disse ele sorrindo largamente. Ela tentou sorrir de volta, mas ainda era recente demais. Ela se limitou a dar um a mais leve torção de lábios possível.

Sua visão estava levemente embaçada enquanto ela observava ele correr em direção a porta, empurrando algumas pessoas no caminho e se desculpando atrapalhadamente ao mesmo tempo. Talvez ela estivesse precisando de óculos.


Natsu quase caiu quando esbarrou na porta com força. Do lado de fora, não era possível ver um palmo na frente do nariz devido a neblina, e haviam diversos degraus até o começo da rua.

Usando o impreciso meio de distinção natural dos Dragon Slayers, o faro, ele saiu a procura dela. Ela não podia estar muito longe.

Seguindo seu nariz, ele fechou os olhos, que estavam sendo uteis apenas para confundi-lo, ele começou a correr o mais rápido que os sapatos de couro ridiculamente caros que Erza lhe impusera para que ele não ficasse parecendo um sem-teto.

Palavras duras, mas não tão dura quanto a barreira que ele encontrou em seu caminho. Uma árvore. Das grandes. Grande o suficiente pra o jogar no chão na direção contrária sem nenhum efeito colateral.

Na sua frente, estava um imenso carvalho, ou assim pareceria a qualquer leigo de botânica. Alguém com o conhecimento iniciante se perguntaria porquê ela tinha imensas flores brancas. Era uma espécime rara de Crocus, a planta que nomeava a atual capital de Fiore. Mas isso era apenas uma coincidência sem nenhuma importância.

– Você se machucou, Natsu-kun? - ele ainda estava tentando entender quando o mundo havia começado a girar tão depressa quando ele viu Lisanna se levantar do banco no qual estava sentada e se agachar na grama úmida em que ele caíra. Ela amparou sua cabeça durante uma tentativa falha de se erguer.

– O quê, isso não foi nada - disse ele envergonhado, enquanto tentava ocultar o sangramento em seu nariz causado pelo impacto.

Ela percebeu antes, e sem cerimônias rasgou a barra de seu vestido para improvisar uma gase.

– Não precis... - o resto de sua frase foi abafada pelo tecido, que foi pressionado com força contra seu rosto. Seus pulmões já ardiam quando ela afastou o tecido sujo de sangue, e Natsu ofegou sofregamente, mas o sangue havia parado de escorrer.

– Obrigado - disse ele sem jeito, sem notar que ele ainda estava jogado sem dignidade alguma na grama, com a cabeça apoiada no colo dela.

– Você não precisa agradecer, Natsu-kun - disse ela sorrindo - Amigos são para esse tipo de coisa.

A palavra amigos, por algum motivo, pareceu pairar no ar por tempo demais. Natsu sabia que devia dizer algo.

– Lisanna... - começou ele, mas ela o interrompeu.

– Está tudo bem, Natsu-kun, eu sou madura o suficiente pra aceitar sua decisão - disse ela, de maneira solene. Solene demais, como algo ensaiado no espelho - É claro que eu preferia que isso tivesse acontecido em outras circunstancias...

– Mas... - tentou ele, mas ela não lhe deu atenção.

– E é claro que você não precisa se justificar...

– EU ESTOU TENTANDO DIZER QUE EU ESCOLHI VOCÊ - gritou ele agoniado. O sangue subiu ao seu rosto - Err... quer dizer, mesmo que vocês duas sejam minhas nakamas, eu não posso d...

Ela pousou um dedo um em seus lábios. Seu sorriso era tão grande que alguns podiam achar quase assustador.

– Natsu-kun, eu disse que você não precisa se explicar - e ela o beijou.

Acima deles, aquelas enormes flores começaram a se abrir, como as daquela espécie faziam durante a noite. No Continente Norte, elas são consagradas aos amantes.

Mas é claro, isso era apenas uma coincidência sem importância.


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(Se você pulou a última parte, pode voltar a ler de boas)


Ultear abriu os olhos lentamente. Uma pressão que causava a sensação de que eu crânio ia se partir a qualquer momento. Ela tentou novamente.

Dessa vez sua visão estava mais normal, o que a permitiu notar que ela estava em movimento. E seu campo de visão apenas um pedaço de tecido branco. Ela estava sendo carregada jogada sobre o ombro de alguém. Ela só conhecia uma criatura com tamanha audácia.

– Pirralho... - rosnou ela. Mas náuseas súbitas a fizeram fechar a boca.

– Vejo que você está acordada - ela o ouviu dizer - E eu creio que caso você esteja tentando me pedir pra te deixar andar com suas pernas, você deveria reavaliar em que estado está o seu senso de equilíbrio.

Ela tentou chutá-lo, mas não estava com total controle sob suas pernas. De repente, ele parou, e ela o ouviu digitar algo em um dos reconhecedores das portas. Então eles já estavam na nave?

Ele a colocou em cima de uma poltrona com a delicadeza que colocaria um saco de batatas. Apesar da dor aguda que impedia o livre fluxo de pensamentos em sua cabeça, ela reconheceu aquele lugar.

– Por que estamos no seu quarto?

– Eu não sei a senha da sua porta, e não me pareceu adequado ir acordar a Meldy para perguntar se ela sabia sua senha, visto que você estava no começo de coma alcoólico - disse ele com seu tom sarcástico, enquanto tirava as luvas - E como esse coma alcoólico era em parte culpa de uma inocente brincadeira minha, achei correto te tirar de lá antes que alguma merda em nível colossal.

– Que cavalheiro - disse ela entre os dentes, enquanto o via digitar algo em um lacrima móbile - O que você está fazendo?

– Apenas dando um jeito naquela bagunça - disse ele dando os ombros - Quando as coisas realmente saíram do controle, eu tive que ativar a Limpeza Zero, agora...

– Limpeza Zero? - perguntou ela.

– Você já ouviu falar dos Raivosos Suricates Paraquedistas Devoradores de Roupas do Leste? - perguntou ele sorrindo - Digamos que eles são a forma perfeita de finalizar uma festa que saiu do controle.

– Você é maligno - disse ela, fazendo ele rir, enquanto se sentava em sua escrivaninha, de costas pra ela.

– Apenas nas quintas-feiras - brincou ele. O silêncio se instalou no quarto, e logo o único som que se ouviu era a caneta dele riscando papel. Rápido demais para uma pessoa escrevendo a punho, mas ela resolveu nem perguntar.

O silencio se prolongou.

– Assim que você começar a sentir-se melhor, pode ir pro seu quarto, se quiser - disse ele, ainda escrevendo - Mas antes, pergunte o que está te incomodando.

Ela se eriçou, pronta pra gritar que ele não lesse a mente alheia sem permissão, mas ele aparentemente previu isso, pois levantou a mão esquerda pedindo silêncio.

– Quando eu comecei a te carregar depois do baile, você disse que queria me falar algo, mas depois apagou - disse ele calmamente - Se eu quisesse ler sua mente, eu já descobriria a pergunta e falaria a resposta.

Ela corou. Ela odiava quando ele era tão lógico.

– É que... sabe, eu estive conversando com aquela garota amiga sua, Akuna...

– Taí algo que sempre é uma má idéia - disse ele suspirando - Que tipo de pensamento envenenado ela andou colocando na sua cabeça?

– Bem, ela me contou, de uma coincidência estranha, ela disse...

– Que você se parece com a Jane?- perguntou ele, virando a cadeira. Ele tinha uma expressão cansada no rosto - É verdade. E agora, você quer saber se esse é o motivo de eu sempre pego no seu pé?

Ela assentiu, apesar de desconfiar que ele estava lendo sua mente, e não apenas deduzindo.

– No começo, sim - disse ele dando os ombros e voltando a escrever - Você poderia me julgar, mas não achar inacreditável, que eu não fiquei feliz quando Rusty me chamou pela primeira vez na antiga nave da Grimoire Heart e eu vi uma sósia da pessoa que eu mais odiava andando por aí.

Ele parou uns instantes pra trocar de caneta, e logo prosseguiu.

– Mas irritar pessoas é minha natureza, e não pense que cada vez que eu te ajudei com algo tenha a ver com ela - disse ele, pronunciando ela com um misto de ódio... E talvez saudades - Você conquistou isso sozinha, por sempre ter feito a coisa que eu nunca tive coragem.

Ela o olhou confusa. Ele era o pirralho mais inconseqüente e desprovido de senso de segurança própria, o que ele estava dizendo?

– É a coragem de deixar que pessoas dependam de você, Ul - disse ele. Ela achou que ele provavelmente estava com um sorriso irônico, mas não dava para saber com ele de costas - Por isso eu sempre gostei de máquinas, pois elas nunca se apegam aos seus criadores. Me apegar a coisas biológicas e não irracionais é algo que eu reaprendi com você.

Ela ficou em silêncio por um longo período. Era muita coisa para se pensar.

– Posso passar a noite aqui? - perguntou ela, sem pensar. O sangue subiu para o seu rosto quando ela notou uma forma como aquilo podia ser interpretado.

– Fique a vontade - disse ele dando os ombros - Sabe uma coisa curiosa? Eu sempre tentei aproximar as máquinas o máximo possível de algo humano. Acho que eu sou igual aquela lenda que contamos para as crianças, do macaco que tenta alcançar a lua. Mesmo odiando algo por ser inalcançável, ele resolve tentar pular e alcançá-la.

– Isso é algo contraditório - disse ela balançando a cabeça - Acho que a moral da história é aceitar que certas coisas não estão ao nosso alcance.

– Bem, esse ao ponto. Seres humanos sempre vão fazer o que tentam dizer que não é necessário, geralmente por ser difícil demais, pois é sua natureza - disse ele. Havia algo que causava uma sensação de sono naquele som da caneta riscando o papel - Tipo baboseiras como se apaixonar.

– Você é um pirralho confuso e pervertido - disse ela em um tom conclusivo.

– Não ser conclusivo sobre tudo é uma forma de inteligência, Ul - disse ele em um tom divertido - E sobre ser pervertido... Eu sou honesto com os meus desejos. Se você tentasse ser também, não precisaria sofrer tanto.

– Eu? Sofrer?

– Eu vivo com vocês já alguns anos, e eu nunca, em nenhum momento, vi você dar qualquer escapadinha - disse ele dando risada - Se já tivesse aceitado que sua habilidade de sedução enferrujou, já terei pedido para mim o telefone de Disk...

A última palavra da frase dele foi interrompida por uma almofada que ela atirou nele.

– Pare de falar coisas nojentas - disse ela irritada.

– Nojentas? Nenhum ser humano gosta de viver sozinho, Ul - disse ele se virando mais uma vez - Algumas pessoas podem suportar, mas nunca chegam realmente a gostar. E é claro, se seus elevados padrões de moral te levam a achar que companhia agradável a soldo seja errado, sempre á... opções.

O sangue subiu para o rosto dela devido aquela insinuação.

– Não fale esse tipo de coisa estranha, eu sou dez anos mais velha que você! - disse ela, e ficou surpresa ao notar que aquele era o único argumento que lhe vinha em mente.

– Quando eu vivi com a Guilda de Assassinatos Homens sem Rosto, minha jurisdição eram outros mundos, pois eu sempre fui muito bom com portais - disse ele, voltando a escrever - Eu vivi dezenas de anos em dezenas de mundos, apenas pra levar certos locais ao equilibro. Caso você já tenha ouvido falar de lugares com Edolas, você irá saber que o tempo passa alheio a linha do tempo de sua terra natal. Mesmo que depois de voltar, todas as memórias se tornassem com um sonho... ou o sonho de um sonho, se fossemos contar por anos vívidos, eu seria mais velho que qualquer um dessa nave.

Aquilo a deixou sem palavras. As vezes ele realmente parecia ter feito coisas demais para a sua vida relativamente curta, mas ela nunca pensou...

– Você conheceu outros ‘você’ nesses lugares? - perguntou ela, sentindo uma súbita curiosidade.

– Eu conheci dezenas de Jereffers, homens fortes e fracos, corajosos e covardes, espertos ou honrosos, mas nunca encontrei um tolo - disse ele dando os ombros - E sabe, todos eles, não importa em que extremos vivessem, todos tinham um detalhe em comum, algo que eu sempre achei... Perturbador.

– E o que é? - uma sensação começou a crescer em seu estomago, seria o que ela estava pensando.

– Se você adivinhar,entenderá o motivo de eu continuar a me esforçar em te irritar o ponto de você não suportar muito a minha presença, mesmo depois de nos tornarmos companheiros de guilda.

– Todos eles... - começou ela, e ele concluiu a frase para ela.

– Acabavam por ficar juntos de uma Ultear - disse ele assentindo, e voltando a escrever - Eu sempre quis provar para mim mesmo que não existia algo como destino. Mas eu descobri que não é como se fossemos obrigados, as circunstâncias apenas... te levam a desejar isso. E agora eu admiti isso, quando você está bêbada demais para se lembrar quando acordar. Eu realmente sou uma droga como adulto, não é?

Ultear não sabia o que sentir. Ela se ouviu falando uma frase que a fez se chutar por dentro.

– Mas... eu gosto de odiar você.

– Se quiser, você pode continuar, durante o dia, digamos que isso seria uma... troca de favores - sugeriu ele - Você saí ganhando imensamente, e eu, bem, não perco tempo tendo que decorar nomes de novas garotas.

Ela sentiu vontade de bater nele, e essa era a prova de que aquilo ia funcionar. Ela se sentou na cama, enquanto ele fechava o livro em que escrevera. Ele se sentou ao lado dela, mas ainda segurava o livro.

– O que é isso? - perguntou ela curiosa, os dedos indo em direção aos botões da camisa dele.

– Eu senti vontade de escrever uma história - disse ele. Ela o viu riscar na capa FTFL.

– E sobre o que ela é? - os botões pareciam ser complexos demais para se remover, então ela começou os puxar até arrancar.

– Sobre... tudo isso - disse ele, gesticulando para tudo ao seu redor. Ela viu ele desenhar um portal no ar á sua frente. Ela o ouviu murmurar “aquele que encontrar esse relato, que seja digno da minha habilidade de escrita”.

– E para onde você o mandou? - o último botão voou pelo chão. O linho finíssimo da camisa soltou um som de rasgo enquanto ela a removia com pressa. As mãos dele começaram a soltar o vestido dela com uma habilidade um tanto perturbadora.

– Para algum lugar aleatório - disse ele dando os ombros. Estava escuro no quarto, mas ele não precisava de luz para saber o que fazer. O vestido começou a deslizar dos ombros dela.

– Tem um final feliz? - perguntou ela, enquanto tentava entender a lógica do cinto dele.

– Depende da interpretação - disse ele, enquanto se divertia com a inabilidade dela e lhe mostrava como se abria o pino.

– Estranho, isso não se parece com você - comentou ela, finalmente conseguindo se livrar daquele pedaço irritante de couro - Não é como se o mundo fosse acabar agora, e todos fossemos viver felizes para sempre.

– Eu sei - disse ele, enquanto outras peças de roupas voavam para o chão - Mas sabe, as vezes, a plena verdade não basta...

Ela se inclinou sobre ele. As molas do colchão rangeram.

– As vezes, as pessoas merecem mais, algo que recompense suas expectativas - disse ele, enquanto aproximava os lábios do pescoço dela. Quando ele os afastou, uma pequena mancha ficando ali - Por que, a verdade mais profunda que você pode descobrir é que...

As unhas dela deslizaram por suas costas. Ela inclinou a cabeça curiosa.

– Todo mundo....quer ser enganado - terminou ele - Pois enganar a si mesmo, achando que tudo sempre irá dar certo, que tudo sempre acaba bem, é o que chamamos de...felicidade.



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Notas finais do capítulo

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