—Bom dia - disse Rita quando entrei na cozinha, sorri em resposta.

Tomei um gole de café, me sentindo cansado pela noite de ontem. Vi Katherine desabar na cadeira ao meu lado, com o cabelo desgranhado, a cara inchada.

—Ah, acordaram! - reconheci a voz de Caroline. Ela entrara na cozinha logo depois de Katherine - olá, Edward.

—Olá - respondi, por educação, querendo na verdade perguntar o que ela ainda fazia aqui. O lugar ficou em silêncio, só se ouvia o barulho de água, uma vez que Rita lavava a louça.

—Hum, isso está muito bom - eu elogiei o café de Rita para quebrar o silêncio.

—Obrigada - respondeu Rita. - se eu fosse você me apressava, pois já são quase oito horas.

—Que ótimo - resmunguei, sabendo que iria me atrasar.

Me levanto e vou para meu quarto, e tento me arrumar o mais rápido possível. Ao sair do banho, enrolado em uma toalha, encontro Caroline em minha cama, de pernas cruzadas e lendo - ou fingindo ler - uns de meus livros de medicina.

—O que diabos você faz aqui? - perguntei, pensando se teria que arrastá-la para fora, ou ela sairia de boa vontade.

—Ei, calma! - ela colocou as mãos para o alto, como se eu fosse um ladrão - só vim pedir um favor.

Estreito os olhos, desconfiado.

—Só vim pedir uma carona até a faculdade. Ah, esqueci de dizer, é meu primeiro dia de aula lá - ela sorriu, presunçosa.

—Sinto muito, mas estou atrasado, não vou poder esperar.

Seu rosto ficou sério, mas logo ela voltou a sorrir.

—Tudo bem, acho que vou com Katherine e a tal de... Bella, não é? Bom, vou indo.

Ela foi andando na direção da porta.

—Aliás, ela sabe de sua visitinha a casa dela ontem?- Ela se encostou no batente da porta, sorrindo para mim.

Ela esperava a resposta, mas minha mente estava em outro lugar. Como ela sabia sobre a noite passada?

— Como...?

— Ouvi você conversar com Katherine, e vi vocês saindo depois que Rita foi dormir – respondeu ela, o olhar fixo em mim.- Ora, Edward, invadir casas é muito feio! Como pretende recuperar a confiança de alguém invadindo sua casa enquanto ela dorme?

Seu olhar era intenso, e ela andava na minha direção agora.

Foi então que tudo ficou claro. Aquilo virara um jogo, e Caroline controlava as peças. Chantagem: esse era o nome de sua estrategia. Seu plano era me chantagear até conseguir o que ela queria – e eu não fazia ideia do que era. Ou eu a obedecia, ou ela correria para Isabella na primeira oportunidade e contaria tudo sobre a noite em que invadi sua casa.

— E então? - peguntou ela, agora tão perto que sussurrava em meu ouvido.

— Me espere lá embaixo – digo, cedendo.

Ela sorriu, vitoriosa, depois saiu do quarto, me deixando sozinho.

[...]

Eu já estava ficando irritado com as pessoas que nos encaravam quando Caroline saia do carro junto comigo.

Ela deu a volta no carro e veio para o meu lado.

—É aqui parece ser legal- disse ela, trocando olhares com um estudante loiro.

Eu revirei os olhos e continuei a andar, parando apenas para ver o Miata de Bella entra no estacionamento, seguido pelo Camaro de Kevin. Katherine dirigia o Miata, então ela estacionou o carro ao lado do meu – do dela. As duas saíram do carro juntas, mas enquanto Bella vinha na minha direção, Kathe correu para os braços de Kevin.

—Hoje, você vai responder minhas perguntas- disse Isabella quando chegou perto de onde eu estava. Eu sorri ao ver seu bom humor.

—Bom dia pra você também- respondi, rindo baixo.

—Oi, Edward- disse Katherine, animada. Depois seus olhos pararam em Caroline ao meu lado e sua animação se foi- O que você faz aqui?

—Oi pra você também, Katherine- respondeu Katherine com acidez- Eu esperava mais de você, digo, é assim que você trata os alunos novos?

—Ah, desculpe, querida! Você quer um guia turístico- rebateu Katherine, dando um passo para frente.

Temi que as duas começassem uma briga ali no meio do estacionamento.

—Agradeço sua gentileza, mas Edward já vai me mostrar o lugar, não é, Eddie?

—O que?- rebati, perplexo.

Caroline olhou em meus olhos, depois olhou para Isabella, depois voltou a me olhar. A mensagem de seu olhar estava dada.

Eu simplesmente não acreditava no que via. Caroline, uma pessoa, controladora e fútil. Pior; ela me ameaçava! Mas o que eu poderia fazer? Ou eu estava estregue aos seus caprichos, ou ela diria ali mesmo: “Ah, Bella! O Edward já te disse que ele invadiu sua casa ontem enquanto você dormia? Pois é, ele fez isso!”

Eu me xingava por não poder fazer nada, por não ter opição.

Mas Caroline que me aguarde. Esse joguinho sujo dela não iria durar muito tempo. Eu vou dar um jeito, juro que vou.

Eu sustentei seu olhar – esperando transmitir todo a raiva que eu sentia – depois olhei para os demais. Kevine e Isabella estavam sem entender nada do que acontecia.

—É isso mesmo - eu concordei, a voz séria.- Vamos, Caroline.

E e com um gesto de cabeça para os outros, eu saí dali, puxando Caroline pelo braço. Só larguei seu braço quando estávamos a sós no banheiro feminino, no predio principal.

—Hum, quer privacidade, Edward?- ela disse, sorrindo ao se aproximar de mim e colocar as mãos em meu ombro- Eu gosto disso.

Me afastei de seu toque.

—Quem você pensa que é?- rosnei - O que você quer comigo?

Ela revirou os olhos, percebendo que eu não queria nada daquilo que ela queria.

—Eu não quero nada, ok?- disse ela, como se dissesse isso pela milésima vez- Eu só quero ficar perto de você- ela se aproximou.

Desviei de seu toque novamente.

—Qual é, Caroline? Você acha que eu sou idiota? Dá pra ver que você quer algo, você parece a Tânia...

De repente as peças se juntaram, mas eu não sabia ao certo. Teria Tânia alguma coisa a ver com aparecimento de Caroline? Uma vertigem sufocante tomou conta de mim.

Vi Caroline ficar inquieta e tensa quando mencionei o nome Tânia.

Mas... eu não poderia acusa-la de nada. Não poderia jogar a menina na parede e força-la a falar a verdade, porque eu não tinha nada concreto para levantar suspeitas, poderia ser apenas coisas de minha mente idiota.

Permaneci calado, ela também. Até eu me manifestar.

— Preciso ir - eu disse, quase não suportando mais a vertigem que me atingia em cheio. Parei na porta, e me virei para olha-la - Estou de olho em você, Caroline.

Eu deixei o banheiro.



POV Isabella.

— Alguém pode me dizer o que aconteceu hoje mais cedo no estacionamento? - todos levantaram o olhar quando Kevin abortou o assunto.

Katherine suspirou.

— É estranho, ok? Só o que sei é que Caroline apareceu do nada lá em casa. Ela é sobrinha de Rita.

Quase cuspi minha água quando minha mente absorveu as palavras dela.

— Ela é filha de Maria?

— Não! Ela é filha da irmã mais velha das duas, mas a mesma morreu faz um ano, e Rita, sendo a irmã mais velha depois dela, prometeu cuidar de Caroline.

— E então, do nada ela apareceu lá em casa!- Katherine se apoiou no ombro de Kevin, parecendo cansada.- Não vou com a cara dela! Ela parece aquelas vadias que...- ela se interrompeu, corando com seu próprio pensamento.

Caroline não parece ser uma garota com quem eu queira criar alguma amizade, pensei. E se Katherine também sente isso, não vou sentir culpa por julgar uma pessoa que não conheço direito.

Katherine olhou a tela do celular, suspirou, e se levantou da cadeira.

— Está na hora, o professor Cullen vai nos brigar se chegarmos atrasados.- ele fez graça. Eu ri de leve.

Um frio percorreu minha coluna, coloquei a mão no bolso, sentindo o papel que eu pegara ontem. Ele parecia pesar 10 quilos agora. Katherine se despediu de Kevin com um beijo rápido, depois nós duas caminhávamos em direção a sala de aula. Quando chegamos a sala estava abarrotada, os alunos todos em volta do quadro branco pendurado na parede. E quando eu consegui enxerga-lo, eu li:

AULA SUSPENSA, O PROFESSOR NÃO PÔDE COMPARECER. 

Prof. Edward Cullen

Tombei a cabeça para o lado, Edward não era de faltar com seus compromissos. Alguma coisa muito importante deve ter ocorrido, pensei. Eu tremi.

Sendo esta a última aula que eu teria no dia, coloquei a mochila na costa e saí de sala, avisando para Katherine que iria para casa. Dirigi para casa, em silêncio, a cabeça longe. Quando cheguei na entrada da garagem de casa, encostei a cabeça no volante. Talvez, em meu íntimo, eu tenha ficado aliviada por Edward não ter aparecido. Eu não conseguiria ficar a aula toda ao seu lado, simplesmente fazendo perguntas idiotas sobre sua vida, sabendo que, alguma pergunta poderia abordar um assunto indesejado. Nosso passado.

Era contra meus princípios ficar ao seu lado, rir e conversar com ele como se nada tivesse acontecido. Era puro desperdício de dois anos de vida. E havia Caroline, os dois pareciam demonstrar uma relação que era próxima, mas estranha.

Eu devia estar ficando louca, meus pensamentos não tinham mais sentido. Eu só queria ficar em casa, e tentar relaxar.

Levantei a cabeça, e limpei uma lágrima fujona de meu rosto, imagens indesejadas passando por minha mente. Por que diabos tudo na minha vida parecia ser indesejado?

— Argh! - murmurei, frustrada.

Tomei um susto quando ouvi um roncar de motor atrás de mim, o volvo prata reluziu no retrovisor do carro. Passou lentamente ao meu lado, depois arrancou pela rua, os pneus protestando.

Balancei a cabeça, tonta. Depois saí do carro, fui marchando para a porta e entrei em casa.

— Oi - eu disse para Maria - Vou subir, qualquer coisa me chame.

— Sim, senhora - respondeu, eu ri.

Chegando em meu quarto, tratei logo de tirar a roupa para tomar um banho. Vesti um moletom e me joguei em minha cama, foi então que percebi o quanto estava cansada. Aos poucos meus olhos foram se fechando, o sono vencendo, e então eu adormeci.

xxxx

Pov Edward.

Estacionei o carro e saí dele, a cabeça cheia. Entrei em casa, e ela estava vazia, Rita deve ter ido ao supermercado, e Katherine não havia chegado da faculdade ainda, e Caroline... Eu xinguei baixo, eu me esquecera que Caroline teria que voltar comigo de lá, mas que se dane, ela que volte andando, ela era a última pessoa do mundo que eu iria querer ver agora.

Me joguei no sofá da sala, e respirei fundo três vezes. Só a menção da palavra "Caroline" já me dava nojo.

O medo que Tânia estivesse por trás do surgimento de Caroline, que ela a enviara para me vigiar - ou para se vingar por eu ter partido mandando Caroline patra infernizar minha vida- me dominava. Perguntas inúteis rodeavam minha cabeça.

Por todos o demônios do inferno, por que Caroline e Tânia não me deixavam em paz?

Levantei do sofá com um pulo, decidido em tirar essa história a limpo. Peguei o celular e procurei o número que há muito tempo não usava na lista de contatos - eu me surpreendi por ainda não ter excluído. Eu fitei o nome, hesitante.

Tânia.

No instante em que eu ia apertar o botão "call", três batidas na porta me impediram. Joguei o celular em no sofá e andei até a porta, depois a abri.

A garota tinha a pele clara, cabelos castanhos e cacheados que caíam livremente em seus ombros, os olhos castanhos claro eram gentis.

— Edward? - perguntou.

— Sim, e você é...

— Sou Larissa - ela sorriu, mostrando seus dentes brancos e perfeitos. Ela fitou intensamente meus olhos - Vim aqui porque acho que posso ajudá-lo a respeito de Caroline.

Ela sorriu, e eu também.

— Entre, por favor.