A claridade do sol me despertou pela manhã, eu pretendia levantar, mas uma dor na cabeça me impediu. Resolvi fazer companhia para minha cama por mais um tempo. Mas logo vieram me chamar.

—Vamos criança - Disse Maria puxando o cobertor de cima de mim - Deus ajuda quem cedo madruga! - ela me sacudiu.

Eu gemi em protesto.

—Não geme, não, que isso aqui não é motel - ela disse rindo.

Hã?

—Pronto levantei! - eu disse me sentando na cama, de cara emburrada.

—É bom mesmo - Maria riu e saiu pela porta.

Fui para o banheiro, tomei um banho, vesti um jeans e uma regata preta e desci para tomar café.

Tomei café, e fui com Kevin ao super mercado. Ângela iria lá para casa e tínhamos que comprar comida.

Como sempre, Kevin cantava enquanto eu manobrava no estacionamento do super mercado.

Era incrível como ele virava normal assim que saia do carro.

—As vezes eu tenho medo de você – confidenciei para ele.

Ele riu.

—Nem vem, você gosta - ele piscou para mim.

Eu dei de ombros.

—Apenas me divirto.

Ele pegou um carrinho e começamos a comprar o necessário. Eu fui pegar biscoitos e ele foi pegar umas pizzas para mais tarde.

O biscoito que eu queria estava na última prateleira, então tive que me esticar toda, fazendo minha regata subir.

—Ô lá em casa - disse alguém, me fazendo corar.

—Tira o olho, moleque - disse Kevin, que apareceu do nada e me abraçou pela cintura.

O garoto - que realmente era um moleque - saiu de mansinho ao comparar seu tamanho com o de Kevin.

Kevin jogou as pizzas no carrinho e me largou assim que o moleque saiu correndo.

—Coitado.- eu disse.

—Abusado - disse Kevin.

Eu ri.

Vinte minutos depois, eu e Kevin estávamos guardando as compras no carro.

—Eu vou ali e já volto- disse Kevin olhando uma garota que andava pelo estacionamento.

Ele se afastou.

—Tarado - eu disse rindo.

Entrei no carro, não iria esperar ele voltar em pé. Já nem deveria esperar.

Olhei no retrovisor a procura dele, mas não foi ele que encontrei.

Meu coração quase parou quando vi um Volvo prata estacionado, e encostado nele, o dono.

Tentei me encolher no carro, mas me xinguei por ter vindo no conversível de Kevin. A ideia de Edward está me seguindo me fez estreitar os olhos em sua direção. Assim que olhei, ele me viu.

Ah, droga!

Mas, ele estaria quebrando sua promessa.

E você ainda acredita no que ele diz, idiota. Pensei.

Suspirei, sabendo que não me restavam escolhas, resolvi esperar Kevin. Dez minutos depois e nada.

Argh! O que esse garoto tá fazendo, para que até agora ele não tenha voltado?

Estremeci ao pensar em algumas possibilidades. Dei uma espiada pelo retrovisor e vi que o volvo continuava na vaga, mas Edward não estava mais lá.

Suspirei, aliviada, menos uma preocupação. Uma sombra se fez por cima de minha cabeça. Me virei e encontrei Edward apoiado no carro.

Olhei-o por cima do meu Ray Ban.

—Sim? - eu disse.

Ele sorriu.

—Só vim ver se você estava bem, está aí parada a um bom tempo - ele disse, como quem não quer nada.

—Estou ótima, só estou esperando um amigo

—Kevin?

—Estou surpresa, ainda se lembra dele?

Edward e Kevin eram super amigos, antes das coisas acabarem mal. Pelo menos, pra mim.

—Kevin era meu melhor amigo, acho lembro dele - ele disse, e eu vi o ressentimento e a saudade passar por seus olhos quando ele disse o nome de Kevin. Silêncio.

—Edward? - a voz de Kevin veio de trás de Edward, e o mesmo se virou para olhá-lo.

—Kevin - respondeu Edward educadamente.

—O que faz aqui? - Kevin olhou para mim, como se quisesse confirmar que eu estava bem, eu assenti com a cabeça.

—Vim acompanhar Katherine, ela veio comprar algumas coisa - respondeu Edward - por falar nela, ela voltou.

Todos olhamos na direção em que Edward olhou. Ketherine viu Edward e veio sorrindo na nossa direção, com uma sacola de compras na mão. Presumi que seríamos apresentadas então saí do carro.

—Bella, Kevin, essa é minha amiga Katherine - apresentou Edward.

—Prazer - eu apertei a mão de Katherine.

—Então, finalmente conheci Isabella Swan? - disse Katherine animada.

Olhei para Edward, me lembrei da nossa não muito agradável conversa, Katherine sabia quem eu era.

—Eu mesma - eu sorri, tímida.

Kevin olhava para Katherine, mas ele parecia desconfortável.

—Olá - disse Kevin - de novo - eu falou para si mesmo, mas eu pude ouvir. E parece que Edward também.

—Já se conhecem?- perguntou Edward.

—Digamos que sim - Katherine disse.

Fiz uma nota mental: Perguntar para Kevin se Katherine era a garota com quem ele foi “falar”. Ficamos em silêncio por um momento.

—Bom, é melhor irmos, Ângela não irá demorar para chegar em casa - eu disse. Pareceu que todo mundo percebeu que o assunto tinha acabado.

—Ok, prazer em conhecê-la, Bella - disse Katherine sorrindo - Até mais.

—Claro, talvez possamos nos encontrar novamente - tentei deixar o mais claro possível que eu me referia a Katherine, e não a Edward.

—Seria ótimo - ela respondeu, capitando minha mensagem.

—Tchau - agora eu falara com ele.

—Adeus - ele respondeu sorrindo, ele se virou para Kevin e acenou com a cabeça, o mesmo retribuiu o gesto. Os dois foram na direção do volvo, e eu e Kevin entramos no carro, e depois partimos.

Uma vez que voltamos para casa, começamos a ajudar Maria a preparar uma lasanha de atum para o almoço. E lá pelas onze horas Ângela chegou, ela nunca fora muito pontual. Foi uma tarde boa, repleta de risadas e com um clima de pura alegria. Quando chegou perto das dez da noite o pai de Ângela veio buscá-la.

—Bom - eu disse no meio de um bocejo - o papo está ótimo, mas eu vou dormir. Boa noite.

—Boa noite - responderam Kevin e Maria sem tirar os olhos da TV, onde Jackie Chan dava uma surra em um outro cara.

O meu celular exigiu comida/bateria com um bip, então subi e fui para o quarto de Kevin, onde eu havia deixado meu carregador.

Vasculhei cada canto daquele quarto atrás do bendito carregador, eu estava procurando em cima do guarda roupa - e já estava quase desistindo - quando uma caixa preta cai na minha cabeça e depois vai ao chão, ela me parecia familiar. Deve ser onde eu enfiei o carregador, pensei. Desci da cadeira que estava, apanhei a caixa e me sentei na cama de Kevin para abri-la.

Mas não foi o carregador que encontrei.

Na caixa havia várias fotos e cartas de Edward, presentes, joias, tudo aquilo que me lembrava ele, estava ali. Lembro-me do dia de minha revolta, quando peguei tudo que me lembrava Edward e coloquei na caixa, depois pedi para Kevin se livrar dela.

Por um momento, quis ver as coisas contidas na caixa, mas desisti quando pensei na possibilidade daquelas lembranças voltassem para minha cabeça, fechei a caixa e a guardei novamente em cima do armário. Logo depois achei o carregador e segui para meu quanto, querendo esquecer de tudo aquilo.

x

—Por que está tão calada?- indagou Kevin.

Estávamos no carro, indo comprar umas coisas que Maria pediu. Eu respondi com outra pergunta:

—Porque você não jogou fora aquela caixa preta?

—Que caixa?

Lhe lancei um olhar que dizia: Não se faça de desentendido

Ele suspirou.

—Sei lá, uma voz me dizia que você precisaria dela no futuro - Tá, isso não fez sentido nenhum para mim, mas querendo acaber com aquela conversa, mudei de assunto.

—Você vai na festa a fantasia na casa de Ângela?- eu disse, me lembrando da nossa tarde de ontem, quando Ângela anunciou a festa.

—Claro – exclamou.

x

Tirei o vestido da sacola da lavanderia e coloquei em cima da cama, enquanto caminhava para o banheiro a fim de tomar um banho relaxante. Terminando o banho, eu estáva enrolada em uma toalha, estava esperando Maria terminar minha maquiagem.

—Está linda - exclamou ela quando terminou, e me olhando no espelho não pude deixar de concordar com ela.

—Adorei, obrigada Maria - eu lhe dei um beijo no rosto.

Logo depois, Maria me deu licença para eu me trocar. Coloquei o vestido com uma certa dificuldade, mas coloquei, e tentei ao máximo não desmontar os cachos moldados com baby-liss. Me fitando no espelho, pensei: Ótima escolha, estou uma Catarina Linton perfeita!

Coloquei meus sapatos e abri a porta para sair, encontrei Kevin ao final da escada me esperando.

—Olá, Sra. Linton!- disse ele fazendo reverencia

Eu ri.

—Olá... Drácula? - eu disse olhando para sua fantasia. Ele me mostrou seus dentes de vampiro falsos.

Caminhamos para a garagem e entramos no carro. Em vinte minutos estávamos na frente da casa de Ângela. Estava tudo muito bem decorado e iluminado. Entramos na casa, cumprimentamos todos, e nos sentamos em uma mesa, em um lugar com pouca luz. Kevin foi encontrar Stefan e eu fiquei observando as pessoas dançarem. Até que uma voz disse.

—Olá, Catarina - me virei e encontrei Edward sorrindo torto para mim.

E adivinha? Edward estava vestido de Heathcliff, no qual, segundo O Morro dos Ventos Uivantes, era minha alma gêmea.

Eu fitava a fantasia de Edward, tentando colocar na cabeça que aquilo não passava de uma coincidência, pois ninguém sabia qual era minha fantasia. Só eu.

Mas, não iria me aborrecer, queria passar uma borracha no passado e começar do zero.

—Olá, Heatcliff - eu disse num tom amigável - por favor, sente-se – eu indiquei a cadeira ao meu lado, Edward se sentou mas não disse nada.

—Então - eu quebrei o silêncio entre nós - Katherine está aqui também?

Ele pareceu gostar por eu ter puxado assunto.

—Sim - respondeu, a voz animada- deve estar dançando por aí com Kevin - ele riu.

—Com Kevin? - eu perguntei, rindo também.

—É, assim que chegamos ela disse que iria procurar por ele.

—Acho que sei por que Kevin me apresava, para chegarmos aqui o mais rápido possível.

Nós rimos, mas depois paramos, era estranho depois de anos estarmos aqui, rindo. Juntos.

A música ficou mais lenta, e eu sabia o que se passava na cabeça de Edward, o mesmo me olhou com um olhar convidativo. Ele se levantou e parou na minha frente com a mão estendida.

—Me consede esta dança?- ele pegou minha mão e a beijou. Eu sorri, e pus-me de pé, levantando a barra do vestido para andar melhor, e aconpanhei Edward para pistar de dança.

Ficamos de frente um para o outro, Edward pegou minha mão esquerda e a colocou em seu ombro, e minha outra mão estava junto da sua, e sua outra mão foi para minha cintura.

Nossos pés começavam a se mexer no ritmo lento da música. Eu podia sentir meu rosto corado, uma vez que Edward me olhava atentamente, seus olhos lindos e verdes fitando qualquer reação minha.

Levemente levantei o rosto e o vi sorrir de leve para mim, se eu não estivesse atenta a ele, também não teria notado que seu rosto estava mais próximo do meu. Era incrível que mesmo depois de tudo, a presença dele ainda tinha efeito sobre mim, - meu coração acelerava, eu corava com frequência, minhas pernas banbeavam- como eu ainda não havia me acustumado com seu rosto angelical e perfeito.

Ou: eu ainda me perdia em seu olhar.

A música chegava ao seu final e Edward finalizou ela me fazendo girar lentamente, o giro terminou e meu rosto ficou a centímetros do seu, meus lábios muito perto dos seus...

Meus olhos se fecharam e eu estava quase para me render ao momento, mas algo falou em minha cabeça que aquilo era errado. Mas não me disse o por quê. Abri os olhos, porém sem me afastar, disse:

— Edward – sussurrei – É melhor não.

Ele viu o que estávamos prestes a fazer e se afastou um pouco, o olhar repleto de culpa.

—Me desculpe, Bella, eu não pretendia...- eu balancei a cabeça e coloquei o dedo em sua boca, para interrompe-lo.

—Tudo bem - o traquilizei - vamos apenas esquecer, ok?- eu senti meu rosto corar ao lembrar do quase ocorrido.

Edward assentiu, e fez sinal para que voltássemos para a mesa, eu concordei. Em nossa mesa, Katherine e Kevin estávam aos beijos.

—Ok, voltamos depois! - eu disse dando meia volta, nem um pouco a fim de ficar de vela.

Eles, percebendo nossa presença, pararam de se beijar.

—Desculpem - disse Kathrine corando.

Dei de ombros, aceitando as desculpas. Ficamos em um silêncio terrível.

—Enfim, que tal irmos?- disse Katherine para Edward, que deu de ombros- Até mais, Bells - trocamos beijos no rosto, nos despedindo.

—Kevin.- disse Edward educadamente, também se despedindo, eles trocaram um aperto de mão.

—Adeus, Bella- disse Edward, estremeci ao lembrar dessas mesmas palavras, porém a dois anos atrás.

—Adeus- respondi sorrindo, minha lembrança esquecida.

Kevin se despediu de Katherine com um selinho, e depois voltamos para casa.