Possessão escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 8
Capítulo 8




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Cebola ia andando na rua, chutando tudo o que aparecia na sua frente. Ver a Mônica indo embora com o Tonhão não tinha sido nada fácil para ele. Apesar de ter adotado uma postura despreocupada, no fundo ele fervia de raiva. O que a Mônica estava pretendendo com aquilo? Seria mesmo para provocar ciúme ou teria outra razão? Ele torcia para que fosse somente para lhe fazer ciúme.

O celular havia tocado, interrompendo seus pensamentos.

- E aí, Cascão?
- Oi. Olha, hoje eu não vou poder ir até sua casa, vou passar um tempo com a Cascuda.
- Beleza. Como ela está?
- Ela torceu o pé e quebrou o braço.
- Credo! O tombo dela foi tão feio assim?
- Pior que foi. Por isso vou ficar aqui dando uma força pra ela. E você com a Mônica, como ficou?
- Humpt! Ela foi embora com o Tonhão e nem olhou pro meu lado, vê se pode?
- Ué, você não está nem aí, esqueceu?
- Claro que não, só que ELA tem que ver isso!
- Parece que não tá vendo...

Ele bufou de raiva. Aquela situação estava ficando muito chata e ele não sabia o que fazer. Magali tinha lhe sugerido ter uma conversa séria e franca com a Mônica, mas ele não queria fazer isso. Nem pensar, isso seria dar o braço a torcer e correr atrás, coisas que ele não queria fazer de jeito nenhum! O melhor era manter o plano e no dia seguinte ele planejava paquerar algumas meninas bem na frente da Mônica. Ela certamente não ia agüentar aquilo por muito tempo e o plano dela acabaria indo por água abaixo.

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- Hum... gostoso!

Bianca provava o refrigerante, fascinada. Estava tão gelado! Ela só havia tomado refrigerante uma única vez porque naquela época era muito difícil de encontrar. E ele ainda era sem gelo. E aquelas batatas estavam deliciosas.

Magali achava muito estranha as atitudes da amiga. Era como se ela nunca tivesse tomado refrigerante em sua vida. E ela parecia muito boba comendo batata frita como se fosse caviar.

- Mô, por que você está ignorando o Cebola?
- Eu não estou ignorando ninguém, apenas prefiro o Toni.
- É isso que eu não entendo! Até uns dias atrás você não tava nem aí pro Toni. Por que mudou de repente?

Ela não teve como responder. Falar a verdade estava fora de questão.

- Olha, eu sei que o Cebola é meio sem noção às vezes, que pisa na bola, é meio avoado... mas ele sempre gostou muito de você!
- Parece que a recíproca não é verdadeira. Paciência.
- Você não está fazendo isso para deixá-lo com ciúme?
- Claro que não! Por que eu faria isso?

A moça ficou sem fala. Aquela não era a Mônica que ela conhecia desde criança. A garota que estava na sua frente parecia outra pessoa. E uma pessoa fria, que não se importou quando o professor se feriu com o celular e nem quando Cascuda levou aquele tombo durante a aula de educação física. Apesar daquele desentendimento, elas eram amigas e mesmo assim Mônica sequer falou em lhe fazer uma visita.

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- Achou ruim, querida? Paciência. Se você não tem capacidade para conquistar o bofe, então se conforma.

Ela saiu dali rindo e sacudindo seus cabelos, deixando Bianca tremendo de ódio. Vanessa era aluna de outra sala e antes do inicio das aulas, ela tinha dado de cima do Toni descaradamente, chegando a dar um beijo na face dele. Toni tentou desviar o rosto, claro, mas ainda assim aquela garota se mostrou muito insistente. E quando ela foi tentar tirar satisfações, Vanessa ainda teve a audácia de lhe afrontar daquele jeito. Mais uma que precisava de punição.

- Oi, Mônica. Por que você estava discutindo com a Vanessa?
- Nada de importante. Agora se me der licença...

DC ficou olhando ela se afastar, bastante desconfiado. Ele também tinha percebido a mudança súbita na Mônica e não estava gostando nem um pouco daquilo. Por que ela tinha ficado tão estranha de repente?

A aula começou e Bianca ficou pensando em uma forma de dar uma lição naquela atrevida. O fato de a moça ser de outra sala atrapalhava um pouco e ela viu que seria preciso esperar a hora do recreio, coisa que ela não queria.

Como aquela aula estava muito chata, Bianca conseguiu permissão para ir ao banheiro. Talvez conseguisse pensar em alguma coisa no meio do caminho.

Ao passar perto da sala de Vanessa, ela se concentrou e pode enxergar através das paredes. Ter um corpo de carne não atrapalhava seus poderes fantasmas. Bem... como fazer para dar uma lição naquela atrevida? Ela não segurava nenhum celular e não havia como fazê-la tropeçar e cair. A moça estava sentada perto da janela, que estava fechada. Talvez aquilo pudesse funcionar, por que não?

- Nossa, ela veio mesmo atrás de você?
- Pois é, dá para acreditar? Aquela dentuça é sem noção mesmo, viu? Que culpa eu tenho se ele me deu bola?
- Hahaha! Ela deve ter ficado “p” da vida!
- E como!
Vanessa deu algumas risadas e de repente escutou um estrondo a sua esquerda. Algo cortante atingiu seu rosto e uma dor aguda fez com que a moça gritasse. O alvoroço na sala foi geral.

- Gente, calma! Sem pânico.

Vanessa chorava e gritava com o rosto ensangüentado. Não somente seu rosto tinha sido ferido como também seu pescoço, ombro, colo e um pouco das costas. Era como se o vidro tivesse se partido em várias facas bem afiadas e avançado contra seu corpo, fazendo cortes profundos. Alguns cacos de vidro ficaram enterrados em sua pele.

- Mônica? O que aconteceu? – Magali perguntou ao ver a amiga parada no corredor e vários gritos vindo da outra sala. 
- Eu não sei. Estava passando e ouvi uma gritaria.

Outros alunos também queriam ver o que tinha acontecido e todos levaram um susto quando viram Vanessa saindo da sala coberta de sangue.

“Estranho... não era essa a moça que estava discutindo com a Mônica?” DC pensou, coçando o queixo enquanto assistia toda aquela cena. O mais curioso foi aquilo ter acontecido justo na hora em que a Mônica estava no corredor. “Coincidência? Eu acho que não!” e aquele sorrisinho na cara da Mônica não lhe deixava nenhuma duvida.

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- Querido, o que foi? Por que aquele sujeito estava discutindo com você?
- O Titi não presta mesmo, que coisa! Você acredita que ele me colocou no banco da reserva?
- Sério? Que horror! – embora ela não tivesse entendido aquilo direito, sabia que era algo ruim pela expressão do rapaz. – não há nada que você possa fazer?
- Não. O Titi e o professor Átila organizam o time de futebol. O professor aceitou a decisão dele e aí não tem jeito. Que droga!
- Não fique assim. As coisas podem mudar, quem sabe?
- Sei lá... por que não pega algo para a gente comer? Eu vou lavar o rosto e não demoro.
- Claro, pode deixar.

Bianca foi pegar o lanche para os dois e sentou-se a uma mesa, esperando por Toni. Que romântico! Ela já estava até “preparando” a comida para ele! Pensando bem, talvez fosse bom ela trazer algo gostoso de casa para ele comer e assim ela poderia mostrar seus dotes culinários.

- Ô Mônica, desde quando você virou garçonete do Tonhão?
- Tonhão? Que coisa vulgar! O nome dele é Toni!
- Toni, Tonhão, Tonico... tanto faz. Não sei o que você vê naquele cara!
- Muitas coisas que eu não vejo em você!

Para Cebola, aquilo foi pior do que levar dez coelhadas de uma vez só.

- Agora vai ficar me esnobando?
- Eu não estou te esnobando, apenas falando a verdade. Se não quer ouvir, então não venha atrás de mim, ora essa!

Isso fez com que ele saísse dali pisando duro. Numa coisa ela tinha razão, ele não ia ficar correndo atrás de ninguém para ouvir desaforos, de jeito nenhum!

Quando cebola se foi, Bianca ficou pensando em uma forma de se vingar daquele Titi que teve a audácia de insultar Toni. Quem aquele idiota pensava que era? Ela procurou o rapaz com os olhos e o viu dando de cima de uma garota e aquilo lhe deu uma boa idéia. Claro que seria preciso esperar depois da aula, mas não tinha problema. Era por uma boa causa. Com aquele paspalho fora do caminho, Toni ia ter o destaque e atenção que ele merecia.

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Aquele era dia de treinamento do time de futebol do colégio, então os integrantes tiveram que ficar depois da aula, inclusive Titi, que ia apressado para não perder a hora. Seu almoço tinha sido corrido e ele sabia que não podia chegar atrasado para não dar mau exemplo.

- Hã... com licença... – uma linda moça de cabelos pretos apareceu no seu caminho, fazendo-o parar na hora. Pensando bem... não havia problemas em se atrasar um pouco.
- Pois não? – ele falou dando o seu melhor sorriso. De onde aquela gata maravilhosa tinha saído? Ele não a conhecia de nenhum lugar.
- É que a minha bicicleta ficou presa, sabe... e eu não tenho força para soltar. Você poderia me dar uma ajudinha? É rapidinho!
- Claro! Pode deixar!

Ele a seguiu de boa vontade, pensando que aquele era seu dia de sorte. Com uma gata como aquela, quem iria precisar da Aninha?

- Minha bicicleta está atrás daquele carro vermelho.
- Vamos dar uma olhada... – ele foi até o local indicado e não viu nenhuma bicicleta por ali. – hã... você tem certeza de que a bicicleta está aqui? Oi?

A moça tinha sumido sem deixar nenhum rastro. Que brincadeira era aquela? Seria algum trote dos seus amigos? Ele começou a procurá-la entre os carros e não viu ninguém, para seu espanto. Como uma pessoa consegue sumir daquele jeito?

Ao passar por uma área livre, o barulho de um carro lhe chamou a atenção. Era um carro acinzentado, que parecia estar dando a partida. Não haveria nada de mais naquilo se não fosse o fato de não ter ninguém no banco do motorista. Quem estava dando partida naquele carro? Ele não agüentou a curiosidade e resolveu chegar mais perto para ver se o motorista não estaria abaixado atrás do volante ou coisa parecida.

Foi um grande erro. De repente, o carro avançou para cima dele com toda força. Como não teve tempo para desviar, Titi rolou por cima do carro e caiu desacordado no chão, com um filete de sangue saindo da sua boca. O carro continuou avançando e só parou quando bateu em outro carro mais a frente. E tudo ficou escuro.


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