Possessão escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Um pequeno aviso. Sem querer, eu acabei postando esse capítulo primeiro e pulando o anterior. Quem já leu esse, melhor dar uma conferida no capitulo anterior.



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Que coisas eram aquelas? Ela nunca tinha visto nada assim antes. E como funcionavam? O que ela tinha que fazer? Bianca tentava examinar aquela coisa a sua frente procurando por alguma indicação de como usar aquilo. Era parecido com aquele que Toni tinha em seu quarto, mas havia muitas diferenças que ela não estava conseguindo conciliar.

– Ô Mônica, algum problema?
– Heim?
– Seu computador tá com problema?
– Eu... eu não sei...
– Então liga, ué!
– Ah, sim, claro...

Ela voltou a olhar para a coisa a sua frente, que eles chamavam de computador. Como se fazia para ligar aquilo? Outros alunos já tinham ligados seus computadores e ela não pode ver como fizeram. Até que Magali perdeu a paciência e ligou o computador da amiga ela mesma, apertando um pequeno botão redondo.

– Credo, por acaso você esqueceu de como se liga o computador?
– Hã... esse botão é tão pequeno...

Quando o computador terminou de iniciar, uma espécie de retângulo apareceu no meio da tela e nada mais aconteceu.

“‘Lojin’ e senha... o que é isso?” senha ela sabia mais ou menos o que era, mas “lojin era novidade.”

– Hã... Magali, o que eu faço agora? Aqui só aparece “lojin” e senha...
– Agora você digita seu “LOGIN” e senha, ué! Vai me dizer que esqueceu?

A cara de confusão dela não deixou nenhuma duvida e Magali resolveu mais uma vez fazer o serviço, já que a amizade delas permitia que uma soubesse os dados da outra.

– Pronto. Que coisa, Mô! O que deu em você?
– Nada não...

O computador fez o login e entrou na área de trabalho, cujo papel de parede tinha o nome e a foto do colégio. Magali já tinha começado seu trabalho no computador e Bianca percebeu que ela mexia muito em uma coisinha redonda que eles chamavam de mouse e imitou seus movimentos. Quando ela mexia o mouse, uma espécie de seta mexia na tela, acompanhando seus movimentos. Que engraçado!

– O que você está fazendo? – ela perguntou ao ver Mônica mexendo o mouse a esmo e rindo para a tela.
– É tão engraçado! Eu mexo isso aqui e a seta se move também!
– É claro, ué! Você usa o mouse para mexer no computador. Agora abre logo o Word antes que a professora venha te dar uma bronca.
– Abrir o quê?

Oficial. Realmente havia algo de muito estranho em sua amiga. A Mônica podia não ser nenhum gênio da informática, mas pelo menos conhecia o básico e sabia usar um computador.

A aula tinha sido bem difícil, porque Bianca não fazia a menor idéia de como se usava um computador e mesmo Magali tendo tentado lhe ensinar, ela não conseguiu assimilar nada. Alguns alunos acessavam a internet vendo sites de noticias, comunidades no Orkut e outras coisas que a deixavam sem palavras. Mesmo sabendo que a sociedade havia mudado, ela não tinha imaginado que as mudanças foram tão grandes. Como as coisas foram mudar tanto em pouco mais de cem anos? Que loucura!

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Todas as aulas deixaram-na confusa. Geografia, matemática, física... por que ela tinha que aprender física? Quando ela estudava, lhe ensinaram somente coisas adequadas a uma dama como prendas domesticas, bordado, costura, tricô, crochê, culinária e tudo o que uma moça precisava saber para ser boa esposa e dona de casa. Bianca também tinha aprendido pintura, piano, francês e latim. Seus pais se preocupavam muito com sua educação.

Até a aula de português a deixou confusa. O que tinha acontecido com a ortografia? Que mudanças eram aquelas?

– Ué, quem escreveu no seu caderno?
– Ninguém.
– E essa letra aqui? – aquela caligrafia era perfeita, com letras caprichosamente escritas. Parecia até o trabalho de um profissional! Mônica nunca teve uma letra como aquela. – E o que é isso? “A floresta amazônica é considerada uma pharmácia natural...” Mô, farmácia não se escreve mais com ph!
– Não? Escreve como?
– Com “f”, criatura! E o que é isso aqui? “Gotta”? “Prompto”?
– Ora, por acaso você não conhece essas palavras?
– ...

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Foi com grande alivio que ela viu chegar a hora de ir embora. Que coisa desagradável! Será que ela ia ter que freqüentar aquela escola todos os dias? Só lhe consolou um pouco ter recebido atenção de Toni. Era só por ele que ela agüentava tudo aquilo.

Seu corpo parecia muito cansado à medida que ela caminhava para casa. Teria sido bom se seu “pai” a tivesse buscado da escola também. Não era bom uma moça ficar andando por aí sozinha. Pelo menos ela sabia como chegar à residência da antiga dona daquele corpo.

“Nossa, será que eu vou ter que agüentar tudo aquilo de novo amanhã? Ah, não!”

– Oi, Mônica, como foi na escola?
– Foi muito bem, obrigada.
– Que bom. O almoço está pronto, venha comer!
– Mãe, eu queria fazer um pedido.
– Que pedido?
– Um rapaz me convidou para ir ao cinema nesse sábado, às quatro horas. Eu posso ir?

Uma colher caiu da sua mão, espalhando alguns grãos de arroz pelo chão da cozinha.

– Filha, o que está acontecendo com você?
– Nada! O que poderia estar acontecendo?
– Olha, você não precisa ser tão... certinha! Tudo bem querer ser boa filha, mas você sabe que nós a amamos do jeito que você é. Não precisa mudar por nossa causa!
– Eu não mudei, sempre fui assim... eu...

Aquilo começou a ficar complicado, já que a Mônica tinha uma personalidade muito diferente da sua e as pessoas estavam estranhando sua nova maneira de ser. As coisas não estavam sendo tão fáceis quanto ela imaginou.

O resto do dia foi bem estressante para ela por causa de tantas invenções diferentes que tinha naquela casa. Mônica também tinha um computador e por mais que tentasse, Bianca não conseguiu aprender a usá-lo.

Tudo naquela casa era novidade para ela. Então eles tinham energia elétrica? Em sua antiga cidade, ainda não havia eletricidade e ela nunca tinha visto uma lâmpada antes. Nem em sua antiga casa, que era uma das mais luxuosas da cidade, havia água encanada. Ali, naquela casa que parecia ser simples, não só tinha água encanada como ela saia já quente e pronta para o banho graças aquela coisa que chamavam de chuveiro.

Outra coisa que a deixou fascinada foi ver que tinha telefone naquela residência. Então qualquer pessoa podia ter um dentro de casa? Pelo que ela se lembrava, havia telefone apenas no Rio de Janeiro e mesmo assim só nas residências dos mais abastados. Como se sua cabeça já não estivesse confusa com aquele aparelho, ela mal podia acreditar que também existiam telefones pequenos e portáteis que podiam ser levados a qualquer lugar.

Levou algumas horas até que ela pudesse aprender a usar aquele mini-telefone que as pessoas chamavam de celular e quando o aparelho tocou pela primeira vez, ela levou um susto tão grande que quase derrubou várias coisas.

A única invenção que inicialmente não a assustou muito foi a televisão, com tantos programas interessantes e noticias que vinham de outros países em questão de minutos! Na sua época podia levar semanas e até meses para que ela soubesse de algum evento ocorrido na Europa. E mesmo assim ela só via as novidades através das caras revistas que seu pai mandava importar especialmente para ela, que dominava bem o francês.

Agora ela podia ver tudo em tempo real, já que algumas transmissões eram ao vivo. Bianca até tentou assistir a um filme, mas não tinha entendido nada. Então o homem já tinha ido ao espaço? Isso era possível? Como eles faziam para sair da terra e ir para lugares tão longe? Havia mesmo outros mundos habitados?

Os efeitos especiais quase a enlouqueceram. Aquilo era mesmo real ou era só uma simulação? Como eles conseguiam fazer com que uma pessoa levasse um tiro ou uma facada de forma tão realista? Será que eles matavam aquelas pessoas de verdade? E como eram feitas aquelas explosões? Por fim, ela desistiu de assistir a televisão. Era coisa demais para a sua cabeça que doía sem parar. Felizmente ela foi salva pela aspirina, outra invenção que ela também não conhecia, mas que se mostrou milagrosa ao aliviar sua dor.

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– Parece que ela não está se adaptando muito bem.
– Faz sentido. A coitada viveu tanto tempo naquele casarão e não acompanhou as mudanças da sociedade. Ela parou no tempo.
– Bom, esse foi só o primeiro dia. Pode ser que ela acabe se acostumando.
– Eu não acho. Tudo isso é um salto grande demais para alguém como ela. Bianca não vai agüentar por muito tempo.
– D. Morte, será que vai demorar muito para ela devolver o corpo da Mônica?
– Ela vai acabar desistindo pelo cansaço, é só ter paciência.
– Tomara...


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Notas finais do capítulo

Vocês devem estar se perguntando quando é que vai começar o terror de verdade. Calma, crianças! Primeiro eu achei interressante relatar um pouco o choque de Bianca ao se deparar com o mundo moderno.
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Estou partindo do princípio de que ela permaneceu todo esse tempo dentro do casarão e por isso não pode acompanhar de fato a evolução da sociedade, por isso o estranhamento.
.
No mangá não é especificado a época em que ela viveu, apenas falam que foi há mais de 100 anos atrás. Então eu calculo que deve ter sido em 1880-1890. Mais do que isso não fica de acordo com seu vestuário, apesar de haver certa incoerência quando mostram ela andando na rua com um tipo de vestido e dentro de casa usando um mais moderno.



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