Possessão escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 3
Capítulo 3




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Se ela já não estivesse morta, teria morrido mais uma vez. Por instantes, Bianca teve a impressão de ter sentido seu coração batendo novamente, o que era impossível já que ele tinha sido enterrado junto com seu corpo. Ainda assim, ela podia sentir aquela sensação forte em seu peito, como se alguma coisa palpitasse lá dentro.

Quando aquele rapaz loiro parou em frente a sua casa, ela mal acreditou. Os mesmos olhos, o mesmo rosto perfeito, os mesmos cabelos...

- É ele! tenho certeza de que é ele! – seu corpo tremia e ela mal se agüentava em pé. Depois de tantos anos de espera, finalmente ele tinha aparecido. E mais rápido do que ela pensou! Nem foi preciso sair para procurá-lo! – por que ele foi embora? Por que não entrou? Aposto que tem algo a ver com aquelas garotas!

Ela tinha reparado que ele parecia estar seguindo um grupo de meninas, embora não tivesse prestado atenção nelas. Claro, ela só tinha olhos para ele. Então era culpa daquelas garotas ele não a procurar? Só podia ser. Caso estivesse sozinho, ele teria entrado na casa e sua espera chegaria ao fim.

- Eu tenho que fazer alguma coisa! Ninguém vai tirá-lo de mim!
- Deixe de ser boba, menina! Aquele não é o seu “amado”.

Bianca se enfureceu quando a figura da D. Morte se materializou de novo na sua frente. Quanta insistência!

- Você de novo? Por que não me deixa em paz?
- Só estou tentando te ajudar antes que você cause mais sofrimento a si mesma e aos outros.
- Pare de falar bobagens, eu não faço mal a ninguém!
- E os pobres rapazes que você levou?
- Não foi minha culpa se eles me enganaram!
- Ninguém te enganou. Você é quem vive se iludindo e não aceita a realidade.
- A realidade é que meu amado voltou, mas não pode vir até a mim porque alguém o impede! Se é assim, então eu vou até ele e você não pode me impedir!
- Não, eu não posso. Se você quer fazer isso, então faça. Só que depois, você terá de arcar com as conseqüências dos seus atos.
- Eu aceito qualquer responsabilidade. Agora vai embora e me deixe em paz!

Depois que D. Morte sumiu, Bianca voltou a olhar para a janela. Ele não estava mais ali, para seu desespero, e ela não sabia se devia ir procurá-lo ou esperar que ele passasse novamente. Como ainda tinha certo receio de sair daquela casa, ela acabou escolhendo a segunda opção. Se ele demorasse muito, então ela iria atrás dele.

Após algum tempo, que ela não soube precisar quanto, ele passou novamente em frente a sua casa. O rapaz estava cabisbaixo, com as mãos nos bolsos e ia chutando uma lata enquanto andava. E para sua sorte, daquela vez ele estava sozinho. Assim poderia entrar na casa sem problema nenhum!

- Vem, querido, entre! O que está fazendo? Não! Nossa casa é aqui!

Ele passou direto, parecendo estar distraído com alguma coisa. O que seria?

“Que droga... por que ela fica perdendo tempo com aquele mané do Cebola? Eu sou muito melhor e mais bonito do que ele! Ah, mas eu não vou desistir não! Ainda vou ter aquela garota para mim!”

Bianca não teve outra escolha senão ir atrás dele. Por maior que fosse seu medo de sair de casa, o medo de perdê-lo novamente era muito maior e isso fez com que ela saísse para a rua sem hesitação.

O dia estava bem claro, havia movimentação de pessoas no local e algumas carruagens sem cavalos passaram fazendo barulho, deixando-a assustada. Aquelas coisas eram mais barulhentas do que ela imaginava! E que fumaça era aquela? Apesar de não poder sentir o cheiro daquilo, ela não pode deixar de ter a impressão de que aquelas coisas poderiam estar pegando fogo por dentro. E se explodisse? Ainda assim, ela correu ao seu encalço, disposta a ir para onde quer que ele fosse.

Não demorou muito e eles chegaram ao local onde parecia ser a casa dele. Era uma bela casa, apesar do aspecto moderno demais para o seu gosto.

Toni entrou em seu quarto, jogando sua mochila para o lado e Bianca sentou-se em sua cama, observando o rapaz enquanto ele trocava de roupa. Que beleza! Mesmo sabendo que boas moças não espiavam rapazes, ela não resistiu. Que mal havia em olhar? Eles estavam destinados um ao outro de qualquer forma. E ela mal podia esperar para passar a eternidade junto com aquele rapaz maravilhoso.

Ele se jogou na cama e ela observou que ele ainda continuava com aquele mesmo olhar perdido, como se alguma coisa o preocupasse. Talvez estivesse pensando nela e como reencontrá-la!

- Querido, eu estou aqui! Não precisa se preocupar mais.

“Deixa eu ver... e se eu mandar flores? Garotas adoram flores.”

- Não quero flores, quero que você volte para mim!

“Hum... mas ela não é como as outras garotas...”

- E não sou mesmo! Eu sou especial! Bom que você vê isso!

“Chocolates talvez?”

- Tolinho, eu não como mais nada!

“Talvez algumas poesias bem românticas...”

- Você já é minha poesia!

“Que meleca, não consigo pensar em nada!”

- Você não precisa pensar em como conquistar meu coração. Ele já é seu!

Ignorando a presença de Bianca, ele começou a andar pelo quarto tentando pensar em alguma coisa. Se o Cebola não marcasse tanto, seria mais fácil. Que sujeito irritante! Ele não ficava com a menina, mas também não dava espaço para que outro pudesse ficar com ela!

- Do que você está falando? Não tem ninguém atrás de mim e mesmo que tivesse, eu só tenho olhos para você!

Ele sentou-se em frente ao seu computador e Bianca ficou ao seu lado, olhando fascinada para aquele aparelho que ela desconhecia totalmente. O que ele estaria fazendo? Quando o vídeo acendeu, ela levou um susto ao ver imagens coloridas. No seu tempo fotografias eram preto e branco e também muito caras. Como aquela coisa quadrada conseguia exibir várias imagens diferentes?

“É... ela não respondeu ao meu e-mail... Vou ver se ela andou falando de mim no Yogurt.”

Alguma coisa ali estava errada. Por acaso ele estaria mesmo pensando nela ou em outra pessoa? Após alguns segundos, uma imagem apareceu naquela tela estranha e tirou suas duvidas.

- Como ousa? Então era nela que você estava pensando esse tempo inteiro? Nessa garota e não em mim? Seu traidor!

Toni sentiu um arrepio desagradável pelo corpo e alguns móveis pareceram tremer. Cruzes!

“Eu heim! Devo ter ficado impressionado com aquela casa velha e feia. Ah, deixa pra lá! Acho que vou deixar um recado para a Mônica.”

- Mônica? Então é esse o nome dessa cretina que tenta nos separar?

Aquele nome não lhe era estranho, e nem aquela garota na foto. E aqueles dentes não deixavam nenhuma duvida. Era a mesma garota de quem o Cebola gostava!

Quando Bianca estava quase conseguindo o coração dele, ela descobriu que ele amava outra pessoa, aquela garota dentuça que se achava linda, quanta arrogância!

Aquilo só podia ser uma afronta. Todas as vezes que aquela garota cruzava seu caminho, roubava alguém dela! Era preciso fazer alguma coisa. Talvez acabar com a vida dela? Seria fácil, bastava fazer o mesmo que ela vinha fazendo com os impostores que cruzavam seu caminho, com a diferença de que ela não ia querer o coração daquela cretina. Para que? Assim o caminho estaria livre e ninguém mais ficaria entre ela e seu amado.

Não... mesmo que ela morresse, ele continuaria gostando dela e ela não queria levar um coração contaminado com sentimentos por outra pessoa. O coração dele tinha que ser só dela e de mais ninguém! Fora por isso que ela não quis levar o Cebola e preferiu deixá-lo ir, já que no fim ela viu que ele não era seu amado. Mas com Toni era diferente. Ele era o seu amado de verdade, sem sombra de duvidas. O coitado só estava iludido por outra pessoa e cabia a ela fazê-lo enxergar a realidade. Só faltava pensar em uma forma de fazer isso.

Bianca voltou a olhar o a foto da Mônica que ainda estava naquela coisa quadrada. A moça aparecia sorridente, exibindo aqueles dentes horrorosos como se estivesse zombando do seu sofrimento, e aquilo só aumentou sua raiva ainda mais.

- Sua desgraçada! Como ousa entrar no meu caminho de novo? Dessa vez eu não vou te perdoar!


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