Possessão escrita por Mallagueta Pepper
DC e Cebola estavam se esforçando para convencerem Mauricio a ir com eles a fim de convencer Bianca de que ela estava cometendo um engano, mas ele se recusava a vê-la. Em sua cabeça, nada do que ela fazia era culpa sua. Se ele não se esforçava para consertar seus erros, por que diabos faria algum esforço para consertar o erro dos outros?
– Cara, você não passa de um desgraçado filho da...
– Calma, Cebola, apelar não vai resolver nada. Escuta, Mauricio, nossos amigos estão correndo perigo e precisamos da sua ajuda. Se você não vier com a gente, a Bianca vai matá-los!
– A morte não é tão ruim quando se acostuma.
– Cara, se eles morrerem, outras pessoas irão sofrer! Amigos, família, um monte de gente! – Cebola tentou apelar para algum vestígio de nobreza que pudesse ter dentro dele, mas foi inútil.
– E daí? A vida é mesmo um mar de sofrimento, então eles que se acostumem com isso.
– Eu avisei a vocês dois. Ele se recusa terminantemente e não podemos forçá-lo a nada.
Cebola tentou avançar contra o sujeito, mas como era apenas um fantasma, ele atravessou seu corpo e caiu no chão.
– Seu boboca! Viu porque não tenho medo? Você pode fazer o que quiser que eu não me importo!
Com aquilo, DC resolveu dar sua última cartada.
– Escuta, por acaso você conhece o rapaz que Bianca tá querendo levar?
– Por que deveria? Não me interessa.
– Pode mostrar pra ele, D. Morte?
Apesar de não ter entendido nada, ela cortou o ar com a foice e uma imagem do Toni apareceu, fazendo Mauricio arregalar os olhos.
– Nossa! Ele é mesmo parecido comigo! Como pode?
– Sei lá. Só sei que ele é a sua cara. Escuta, por acaso você não andou tendo nenhum filho quando era vivo?
– Filhos? Eu? Nunca pensei nisso...
– Mas pode ter acontecido, não?
– A-acho que sim... quer dizer, eu não sei... geralmente eu sempre fugia depois de... você sabe o quê... com as mulheres. Nunca parei para pensar que alguma pudesse ter engravidado.
– Pois é. Isso pode ter acontecido, você não acha?
– Você está falando que esse rapaz pode ser um descendente meu?
– Certeza eu não tenho nenhuma, mas a semelhança entre vocês dois é muito grande, você não acha?
Mauricio voltou a olhar para o rapaz a quem eles chamavam de Toni. Apesar de algumas pequenas diferenças, a semelhança entre os dois era enorme. O formato do rosto, o cabelo, os olhos... Ele parecia uma versão mais jovem sua. Jovem, cheia de sonhos, de esperanças...
– Hum... Esse rapaz tem cara de ser galanteador.
– E é mesmo! Adora paquerar as meninas do colégio. Ah, ele também é bom nos esportes, ótimo aluno, bom ator, interpreta bem...
– E sempre se achando o príncipe encantado! – Cebola completou de cara feia.
O fantasma deu uma risada alegre. Aquele rapaz não só se parecia fisicamente com ele como também tinha as mesmas atitudes com as garotas? Se ele teve algum filho, nunca o conheceu e não pode deixar de ficar feliz ao ver que tinha alguém na terra que se parecia muito com ele. Ele voltou a olhar para o Toni e teve mesmo a impressão de estar olhando para um descendente. Seria justo deixar um rapaz tão jovem, bonito e com tantas qualidades ter a vida sugada por aquela maluca? Ele não precisou pensar muito para saber que não.
– Está bem, eu vou só porque fui com a cara desse rapaz e não quero que aquela desequilibrada faça mal a ele. Mas só com uma única condição!
– Qual? – os dois perguntaram ao mesmo tempo.
– Não me peçam para casar com ela! Isso eu não vou fazer por nada e nem por ninguém!
– Combinado. Certo, D. Morte?
– Isso nem me passou pela cabeça. Jamais te pediria isso. Agora vamos que o tempo está se esgotando.
Cebola deu uma boa olhada em Mauricio e acabou tendo uma idéia.
– D. Morte, por acaso não daria para arrumar uma roupinha melhor para ele?
– Está certo...
Ela deu a ele roupas novas, deixando-o parecido com o que era quando estava vivo e também muito satisfeito. Vagar por aí com aqueles trapos estava ficando cansativo.
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Cascão se debatia enquanto Bianca tentava apertar seu pescoço. Toni continuava paralisado num canto, sem poder fazer nada e Magali tentava ajudar o amigo. Sem pensar duas vezes, ela pegou uma cadeira e usou para golpear Bianca com todas as suas forças.
– Larga ele agora!
Aquilo sequer lhe fez cócegas. Claro, ela estava usando o corpo da Mônica. Irritada com aquilo, Bianca ergueu Magali no ar e jogou-a contra a parede, fazendo-a cair semi-desacordada no chão. Com o mesmo gesto, ela também arremessou Cascão com força. Ambos ficaram caídos no chão e não conseguiram se levantar.
– Eu não quero perder tempo com vocês agora. Meu amado me espera! Quando tudo estiver acabado, darei um jeito em vocês dois.
Ela voltou suas atenções para Toni, que tentava recuperar o movimento das pernas desesperadamente.
– Agora, querido, venha ficar comigo pela eternidade.
– Eu não quero! Me deixa em paz agora!
– Você não sabe o que diz. Esse corpo não te deixa pensar claramente. Não se preocupe, quando eu terminar, você se sentirá muito melhor!
A forma dela foi mudando a medida em que Bianca sugava a vida do rapaz. Cascão e Magali, desesperados, pediam para que ela parasse com aquilo.
– Bianca, você está cometendo um erro grave! Por favor!
O apelo dos dois foi inútil. O corpo de Toni começou a murchar à medida que sua vida estava sendo sugada. Ele sentia-se tonto, seu corpo ficava cada vez mais dormente e tinha a sensação de que o ar estava sendo tirado dos seus pulmões. A respiração foi ficando cada vez mais difícil e sua visão estava escurecendo.
– Isso, meu amor, venha para mim! Falta só um pouquinho!
Um grande clarão iluminou a sala.
– Bianca! Pare agora mesmo! – uma voz enérgica ordenou. Era D. Morte.
– Não ouse interferir! Ele é meu e eu vou levá-lo agora mesmo!
– Tem alguém aqui que veio falar com você. Veja!
Bianca viu Cebola e DC saírem do portal aberto pela D. Morte. Em seguida, outro homem também apareceu usando roupas típicas da sua época.
Aquilo fez com que sua forma humana retornasse na hora e imediatamente ela parou o que estava fazendo.
– Mauricio? É você mesmo? Eu não acredito! É você! – ela gritava louca de felicidade olhando o belo homem a sua frente. E ele estava exatamente igual ao que ela se lembrava.
Ela voltou a olhar para Toni, com um olhar zangado.
– Seu impostor! Vai embora! – Bianca gritou jogando Toni para longe. – Querido, você voltou para mim! Agora podemos ficar juntos para sempre!
Sem pensar em mais nada, Bianca correu para o rapaz e o abraçou forte, com algumas lagrimas de felicidade surgindo em seus olhos. Aquilo não durou muito. Mauricio a empurrou com força para longe de si e falou de forma grosseira.
– Pare com isso! Eu não voltei para você coisa nenhuma!
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