Possessão escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 16
Capítulo 16




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“Finalmente em casa. Que saudade!” ela pensou entrando em sua antiga casa, sentindo-se muito melhor e mais a vontade. E ali não tinha mudado em nada, para sua alegria. Continuava sendo seu refúgio de paz e tranqüilidade no meio daquele mundo insano. Para ficar melhor ainda, faltava apenas seu amado, seu Toni. Tudo bem. Naquele mesmo dia ela pretendia resolver isso. Só era preciso fazê-lo entrar na casa e o resto se resolveria por si só.

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– Então Bianca resolveu voltar pra casa dela? Por quê?
– Porque deve se sentir segura lá. – DC respondeu coçando o queixo. – sei lá, a impressão que me deu é a de que ela não está se adaptando muito bem a nossa época.
– Faz sentido. Foi um salto muito grande pra ela...
– Não seria melhor a gente ir até lá? Não podemos deixar o Cascão sozinho!
– Bem lembrado, vamos agora!

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Bianca andava pelos cômodos da casa, lembrando de como ali era no tempo em que estava viva. Tudo tão bem decorado, limpo, repleto de coisas bonitas. Sua mãe importava tudo da Europa, claro. Tapetes, cortinas, castiçais... alguns vasos eram da China. Ela adorava a porcelana chinesa. Os criados iam e vinham deixando tudo limpo e em ordem e atendendo aos seus desejos. Ela nunca precisou se preocupar em fazer nada.

Na casa da Mônica ela não só tinha que arrumar o próprio quarto como também ajudar em algumas tarefas da casa, coisa que ela odiava com todas as forças. Sua antiga vida era perfeita e no entanto tudo fora tirado. Claro, culpa daquela maldita Morte. Por que todo mundo sempre se esforçava para deixá-la infeliz?

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Cascão ia tentando olhar pelas janelas para ver se enxergava alguma coisa, o que estava difícil. As janelas estavam sujas e com os vidros embaçados. O que aquela criatura bizarra estaria aprontando? E por que seus amigos estavam demorando? Ele não queria ficar ali sozinho com aquela coisa!

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– Não e não! Vocês não vão sair daqui enquanto não almoçarem direito. Sentem-se todos. AGORA! – a mãe do Cebola ordenou com a voz enérgica e eles não tiveram outra opção senão obedecer.

Até que Magali não se importou em ficar para almoçar, mas Cebola e DC estavam preocupados com o Cascão sozinho com Bianca.

– Vamos terminar rápido isso aqui e encontrar com o cascão. – Cebola falou baixinho para que sua mãe não escutasse.
– Por que vocês querem correr tanto?
– Nada não, baixinha.
– Me conta senão eu falo pra mamãe!
– Coisa de gente grande. Pirralhinhas não podem meter o bedelho!

A menina fez beicinho e acabou chamando pela mãe, o que piorou as coisas. Dona Cebola ficou vigiando os jovens para que comessem direito.

– Vocês estão em fase de crescimento e não podem se alimentar só dessas bobagens. Tem que comer comida de verdade. E não vão sair daqui enquanto não provarem a sobremesa. Hoje tem pudim de coco!
– Obaaa! – Maria Cebola bateu palmas, empolgada.

Os outros se resignaram e tentaram comer o mais rápido que puderam.

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Bianca estava de pé diante do seu quadro, admirando a beleza do seu antigo corpo. Ela sempre gostara de usar o cabelo preso no alto, com um coque elegante e um gracioso chapéu para complementar. E os rapazes da cidade sempre ficavam de queixo caído quando ela passava, sempre vestindo as melhores roupas.

Era o sonho dos seus pais que ela arrumasse um bom marido que cuidasse bem dela. Esse sonho nunca chegou a se realizar porque o destino lhe dera uma rasteira cruel.

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Do lado de fora, Cascão podia ver a moça pela janela, admirando um quadro na parede. Será que ela ia ficar ali a tarde inteira? Que coisa chata!

“Ai, droga!” ele tinha pisado em um galho seco, que se quebrou fazendo um pequeno estalo. Aparentemente ela não tinha ouvido nada, para seu alivio. “Ih, para onde ela está indo agora? Que coisa!”

A moça tinha saído do quarto, caminhado lentamente e ele ficou ali tentando ver para onde ela teria ido. Só ficou a sala vazia, que ele contemplava distraidamente pensando no que ia fazer em seguida.

Argh!

Um rosto tinha surgido na janela, de repente, fazendo com que o rapaz desse um salto para trás. E a cara dela não era das melhores.

– Er... oi Mônica... o que você tá fazendo aí? – ele tentou disfarçar, gaguejando muito e tremendo como geléia.

Sem falar nada, o braço dela atravessou o vidro, quebrando-o em pedaços e quase alcançou o rosto dele. Cascão não pensou duas vezes antes de sair dali correndo, usando o parkour como nunca. Ele se desviava de latas, pedaços de pau, pedras e amontoados de lixo. Havia muitas tábuas cheias de prego por ali, que acabaram rasgando sua roupa e arranhando sua pele. Nada disso o deteve e quando ele preparou-se para saltar o muro, algo pareceu ter segurado sua perna jogando-o no chão e fazendo-o cair em uma pequena poça de lama feita com a água das chuvas. Quando ele foi olhar, Bianca estava atrás dele já na sua forma original.

– Ai, peraí, vamos com calma, sem violência! – ele tentava falar, se contorcendo de dor por causa dos arranhões causados elos pregos e do braço que havia se cortado em algum caco de vidro.
– Então você quer tirar meu amado de mim?
– Eu heim! Não tô querendo tirar ninguém de você não, cruzes!
– Talvez porque você queira que eu te leve também. Não se preocupe... sempre tem espaço para mais um.

“Tô fodido!” ele pensou imaginando que ela ia lhe fazer o mesmo que tentara fazer com o Cebola. Aquilo não ia ser nada bom!

Ela estendeu o braço, tentando alcançar seu coração e sua forma foi mudando aos poucos. Felizmente, ele pensou rápido. Ela podia ser um fantasma, mas ainda usava um corpo humano. Foi pensando nisso que ele pegou um monte de terra e atirou no rosto dela, fazendo-a levar as mãos ao rosto e gritar de raiva. Não foi bem um grito e sim um rosnado grave, monstruoso. Cascão aproveitou-se daquela pequena distração, reuniu todas as suas forças e saiu dali pulando o muro e correndo o mais rápido que suas pernas permitiam. Ele nunca tinha corrido tão rápido assim, nem mesmo das piores coelhadas da Mônica.

Assim que ganhou a rua, ele continuou correndo e por pouco não foi atropelado por um carro que vinha em sua direção.

Bianca ficou parada na calçada, vendo o rapaz correr. Assim que ele sumiu de vista, ela voltou para dentro. Aquele com certeza não ia voltar mais.

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Cebola, Magali e DC corriam apressados em direção a casa de Bianca, preocupados com o Cascão. E suas preocupações se justificaram quando eles viram o rapaz correndo na direção oposta. Ele estava com os olhos esbugalhados, as roupas sujas e rasgadas, cheio de cortes e arranhões pelo corpo e mais branco que uma folha de papel.


– Cascão? O que aconteceu?
– Vocês nem imaginam! Quase que aquela coisa me pega!
– A Bianca te viu? Que horror!
– Então é melhor a gente não ir até lá agora. – DC ponderou. – vamos esperar a poeira abaixar um pouco. Se for o caso, podemos olhar só de longe.
– Certo. Se ela sair, a gente vê. Magali, talvez fosse melhor você ligar lá pra casa da Mônica e falar pra mãe dela que ela está com a gente.
– Pode deixar.

Eles foram em direção a casa de Bianca enquanto Cascão foi para sua casa trocar de roupa e fazer alguns curativos em seus ferimentos. Ele nunca tinha ficado com tanto medo em sua vida.

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“Droga, ele não atende!” ela pensou frustrada após tentar ligar para ele pela décima vez. Claro, ele a estava evitando, então era de se esperar que ele não atendesse ao telefone. Aquela coisa chamada identificador de chamadas tinha seu lado ruim.

Ela lembrou-se da conversa que ouvira entre Toni e aquela moça, que tinha prometido ligar para ele mais tarde. Ele com certeza atenderia o telefone se ela chamasse. Mas como fazer com que o numero dela aparecesse no visor do celular dele? A única coisa que ela conseguia fazer com celulares além de ligações era explodi-los. Talvez ela tivesse mais chances de usasse o celular da sirigaita.

“É isso! Se eu usar o celular dela para fazer a ligação, ele irá atender com certeza!” encontrar a casa dela não ia ser difícil. Talvez demorasse um pouco, mas ela ia acabar encontrando.

Bianca foi arquitetando o plano em sua cabeça, planejando em como atraí-lo para aquela casa. Tudo planejado, ela correu para a casa daquela moça. Se fosse preciso, ela estava disposta a usar força bruta e até matar quem estivesse no seu caminho. Nada mais importava para ela.


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