- Ah, então vocês lembram de mim. Que bom. Estava só esperando que vocês conseguissem decifrar esse enigma para poder aparecer.
- Você sabe o que aconteceu com a Mônica? Fala aí, vai! Eu tô muito preocupado!
- Acho que vocês já sabem, pelo menos em parte.
- A Bianca invadiu o corpo dela?
- Sim, foi isso.
- Cara, por que?
- Por causa do amigo de vocês.
- O Tonhão? Ah, sempre o Tonhão!
- Não o culpe. Bianca é um espírito muito sofrido que tem vivido numa ilusão por décadas. Ela nunca conseguiu superar o que lhe aconteceu e se ilude constantemente achando que cada rapaz que cruza seu caminho é ele.
- E a vitima agora é o Toni? – Magali quis saber, sentindo arrepios.
- Sim. Infelizmente, ele se parece bastante com o homem que a abandonou. Foi inevitável ela ter ido atrás dele.
- E precisava tomar o corpo da Mônica? – DC também não se conformava com aquilo.
- Bianca tomou o corpo da Mônica porque seu amigo gosta dela. Ela achou que tomando seu corpo, também teria o afeto dele.
- Caraca... parece até aquele filme o exorcista. E a Mônica? Tá naquele corpo junto com ela?
- Não. Bianca expulsou a sua alma e ocupou o seu lugar.

Cebola deu um salto e DC quase teve um troço.

- O quê???  E o que aconteceu com a alma da Mônica? – eles perguntaram ao mesmo tempo.
- Está aqui. – D. Morte fez um movimento com a foice e uma espécie de portal apareceu no quarto. Olhando através do portal, eles viram uma bola transparente de energia e lá dentro tinha o corpo de uma moça em posição fetal. Era a Mônica.

Cebola e DC não agüentaram e correram até lá, sendo seguido pelos outros.

- Mônica? Sou eu! Mônica!
- Você está bem? Mônica!
- Ela não pode escutar vocês.
- O que é isso saindo do corpo dela?
- É isso que liga a sua alma ao seu corpo. Se esse cordão prateado se romper, ela nunca mais poderá voltar.
- Então leva ela de volta, Cacilda! Por que deixou isso acontecer? – algumas lágrimas começaram a surgir nos olhos dele.

DC teve que virar o rosto para o lado que ninguém visse as suas também.

- Porque eu não posso interferir nas escolhas de ninguém. E Bianca precisa desse aprendizado para encontrar seu caminho.
- Escuta, por acaso não dá para fazer, tipo assim, um exorcismo? – Cascão perguntou lembrando-se dos filmes de terror que tinha assistido.
- Isso só funciona bem quando o espírito da pessoa e a entidade invasora estão no mesmo corpo. Assim não tem problema em expulsar o invasor a força porque o corpo continuará a ser sustentado pelo seu dono. No caso da Mônica, ela não está mais em seu corpo.
- Não dá para fazer ela voltar depressa, logo depois da Bianca sair?
- O exorcismo costuma ser muito agressivo com o corpo da pessoa. Se não tiver um espírito para sustentar o corpo logo depois que o invasor sair, o corpo morrerá. Não dará tempo para fazer o espírito da Mônica voltar. É preciso que Bianca saia voluntariamente, de maneira suave e sem agredir o corpo da Mônica. Assim eu poderei colocar o espírito dela de volta.
- Então por que você não pede pra ela sair?
- Meu caro Cebola, se essa moça me escutasse, não teria sequer invadido o corpo da sua amiga, para começo de conversa. Há anos eu venho tentando fazer com que ela saísse daquele casarão velho e fosse embora para o mundo dos espíritos. Nada do que eu falei adiantou. Ela está obcecada e cega por causa da ilusão.

Cebola não conseguiu mais falar por causa do nó na garganta e raiva daquela Bianca. Que culpa a Mônica tinha se ela não era capaz de superar um fora? Por que aquela neurótica não resolvia seus problemas sozinha?

DC também estava arrasado ao ver a vida da Mônica literalmente por um fio. E se ela morresse? Então ele jamais teria chance de dizer o que sente por ela, de verdade. Não, ele não podia deixar aquilo acontecer! Ela não ia a lugar algum sem, ao menos, saber dos seus sentimentos.

- Escuta, o que aconteceu com o tal sujeito que a enganou? – Cebola quis saber. – você sabe dele?
- Claro. Fui eu quem o levou quando chegou a hora.

D. Morte lhes contou o que tinha acontecido com o rapaz e como tinha sido sua vida e eles não acreditaram que ela passou todo esse tempo chorando e lamentando por alguém como ele. Quanta burrice!

- Legal, só que a gente ainda não sabe como se livrar dela e salvar a Mônica.
- A única forma de ajudar sua amiga será ajudando Bianca.
- Ah, fala sério! Essa doida tomou o corpo da Mônica, machucou nossos amigos e a gente ainda tem que ajudar ela? – Cebola estava inconformado com aquilo tudo.
- Eu sei que vocês estão revoltados com ela e dou razão, mas não será por meio da violência ou força bruta que conseguirão fazê-la enxergar a realidade.
- E o que a gente faz então? Tenta conversar com ela?
- Eu não posso intervir mais do que eu fiz até agora, sinto muito. Terei que deixar isso por conta de vocês.
- Beleza! E até lá ela vai sair por aí machucando todo mundo? Isso não é justo!
- E os pais da Mônica? Agora fiquei preocupada!
- Por enquanto eles não correm perigo. Afinal, ela depende deles para se manter financeiramente. Quanto aos seus amigos, eu sinto dizer que não há outra forma de protegê-los a não ser que convençam Bianca a deixar o corpo da Mônica e vir comigo.
- Fala sério! Você não pode mesmo fazer nada pra ajudar?

D. Morte pensou por um tempo, tentando encontrar uma solução. Realmente não era justo deixar aqueles jovens resolverem aquilo sozinhos. Bianca estava ficando cada vez mais perigosa.

- Tentem pensar em um plano. Então eu irei lhes ajudar, mas só uma única vez. Poderão pedir qualquer tipo de intervenção, exceto exorcismo, é claro. É o que eu posso fazer. agora vocês precisam voltar.

Cebola e DC voltaram a olhar para a Mônica, que estava imóvel dentro da esfera. Na verdade só seu rosto era mais ou menos visível. O restante do seu corpo era apenas uma silhueta em forma de luz. O cordão que ligava sua alma ao seu corpo parecia estar enfraquecendo também e eles viram que era preciso agir logo.