Wheres Sean Privacy? escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 1
Wheres Sean Privacy?




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Where’s Sean Privacy?

Sean não agüentava mais o som da risada do melhor amigo. Isso porque ele estava contando como havia sido desastroso seu último encontro amoroso. Que havia trocado o nome da menina pelo nome da ex-esposa que supostamente ainda amava. Morgan, o melhor amigo de Sean, não conseguia parar de rir, estava prestes a cair da cadeira que estava sentado de tanto que sua barriga doía. Eram sete da noite, embora Morgan estivesse ali com o melhor amigo, ele começava a ter fome.

“Cala a boca.” Sean tacou uma almofada em direção ao amigo que sem fazer muito esforço, desviou.

“Cada dia pior na pontaria.” Morgan debochou. “Você tá cada dia pior nessa história de encontros, sabia? E olha que o meu irmão te apresenta só mulher gostosa.”

“Falou o que acorda cada dia com uma mulher diferente...”

Sean disse, tentando esconder os ciúmes do amigo, ao mesmo tempo sabia que logo viria mais uma daquelas risadas escandalosas de Sean dizendo que ele havia percebido seu sentimento. Sean, embora não devesse, sentia algo mais por Morgan. Ele realmente não devia. Ele conhecia toda a história de trás para frente e, principalmente, ele sabia que no futuro – se todas aquelas profecias se cumprirem – era Morgan o homem que destruiria sua vida.

Morgan não acordava de fato todos os dias com uma garota diferente, mas ele tinha u dom nato para seduzir pessoas. Era quase como se qualquer um estivesse predestinado a satisfazer qualquer desejo de Morgan e disso que ele se aproveitava aos montes.  Ao menos de noite. Ao menos quando conseguia fugir de casa e da vigilância do melhor amigo.

Sean Drake era um homem muito bem apanhado, que tinha pouco mais de vinte anos. Tinha cabelos curtos e castanhos e de estatura mediana. Morgan costumava descrevê-lo como misterioso e intrigante. Intrigante o suficiente para que Morgan o chamasse de louco. Completamente louco.  Sean era muito divertido, tinha senso de humor, mas melhores amigos sabiam irritar quando ele queria.

Morgan por sua vez, também tinha uma boa aparência. A pele branca como a neve e os olhos profundos eram os pontos que mais chamavam atenção no menino que ainda dava aquela gargalhada alta. No momento, Morgan somente estava empenhado em fazer o outro ficar irritado. Morgan tinha apenas um pouco mais de quinze anos, mas já tinha a personalidade completamente forte.

“Tem certeza que você a chamou de Rox?” Morgan arrastou a cadeira até o amigo que estava sentado na cama e segurou o rosto do homem pelo queixo. “Será que não a chamou de Morgan?”

“Seu egoísmo me assusta, Morgs.” Sean forçou a risada enquanto o outro mantinha os olhos dentro dos dele.

“Meu egoísmo te apaixona, Sean. Não pense que eu não sei.” E o soltou, mas logo depois, Sean e Morgan caíram na risada.  Pra Sean, foi mais um jeito de tentar disfarçar o amigo do que realmente estar achando alguma coisa engraçada.

Dois dias depois, aquele dia não saía da cabeça. O som da risada de Morgan, apesar de irritantemente debochada, carregada de um descaso - pelo menos era assim durante a noite – que não era normal.  Sean, apesar de tudo o que vivera, considerava a amizade de Morgan a melhor parte até então. Morgan o tirava do estado de inércia com total facilidade e estava sempre inundando seus pensamentos. Morgan, durante o dia, correra pra dar um abraço no amigo e lhe contar que havia conseguido chamar, finalmente, Lannah pra sair.

Como Sean odiava Lannah, o platônico de Morgan. Odiava cada uma das roupas que ela usava, a cor do cabelo que vez ou outra mudava radicalmente. Odiava o tom da pele branca e a voz suave. Drake sabia que Morgan gostava daquela menina durante anos a fio. Não se via no direito de sentir nenhum tipo de sentimento pelo novo casal que se formava.

Apesar de seu ódio por aquela garota, admitia, ela era fascinante! Sem falar que, eles estudavam na mesma escola e ela não era das mais populares. Não só pelo cabelo de cor indefinida, mas porque usava roupas diferentes das demais. Era isso que atraía Morgan. Sean pensava todos os dias em como ser diferente o bastante para atrair a atenção do seu amigo. Na verdade, Sean não queria muito. Um beijo talvez lhe fosse suficiente.

Com os pais adotivos de Morgan viajando, o responsável por cuidar dos dois filhos da família Dale era Sean. Dois filhos, Lottiz e Morgan. Durante o período de um mês, Morgan seria dependente de Sean pra algumas coisas e isso não estava sendo de grande ajuda para os sentimentos de Sean.

Sean morava em uma casa grande pra quem morava sozinho. Não tinha mulher e nem mesmo filhos, mas tinha uma casa com três quartos, sala, cozinha e um banheiro social (claro que o seu quarto era especial e tinha suíte, e claro que um dos três quartos era decorado e usado por Morgan vez ou outra). Nada muito sofisticado, mas também não muito simples. O bom gosto de Drake era incontestável! Um arqueólogo em plena ascensão só podia ter um gosto extremamente refinado.

Mas enquanto Sean esperava os meninos na porta da escola, ele começou a imaginar se o encontro não desse certo. Começou a tocar os cabelos para pensar e decidiu que ascender um cigarro ia ser de grande ajuda. Antes que retomasse seus pensamentos em Morgan e no quanto ele conseguia ser adorável, mesmo sendo rude, Sean escutara a risada do homem que mexia consigo. Lembrava-se bem de quando estava se divertindo com a menina e trocara o nome dela pelo de Morgan. Lembrava de um dia em especial que eram três da tarde quando Morgan chegara correndo em sua casa, molhado e cansado. Sean envolveu os braços do amigo em sua toalha – que por sinal ainda tinha o cheiro gostoso de Morgan – e cuidou para que ele não gripasse.

Naquele mesmo dia, Morgan e ele tomaram café e assaram marshmallows na lareira de sua casa. Eles se divertiram bastante, a pesar de que Morgan ria mais que tudo, porque conseguia perceber cada um de seus pensamentos. Sorte de Sean que ele não rebatia muita coisa aquele dia, porque estava sempre com a boca cheia. Lembrou também que nesse mesmo dia, Morgs precisou de abrigo e insistiu que deveria ficar na mesma cama. Embora Morgan não dormisse muito de noite e no meio daquela noite, Morgan conheceu seu sonho sujo. Seu sonho que eles estavam fazendo amor da forma mais selvagem possível. E novamente o que o acordou foi a risada de Morgan.

“Oh, meu Deus, Sean Drake como você é flexível!” Falou rindo, debochado, enquanto Sean lutava com todas as forças pra continuar naquele sonho onde ele estava sendo feliz. “Sean, nunca soube que você gostava dessa posição!”

“Cala a boca.” Resmungou, jogando um travesseiro na cara do melhor amigo. “Ao contrário de você, desgraçado, eu durmo.”

“Pra que dormir, hein? Eu estou aqui, eu posso transar com você.” Morgan disse com um falso ar sedutor. “Eu vi tudo o que estava na sua cabeça, como se fosse um cinema pornô.”

“Morgan, por favor...” Sean jogou outro travesseiro nele. “Volta pro vídeo-game que eu sei que você estava jogando e me deixa em paz de uma vez por todas.”

“Não foge do assunto.” Morgan continuava rindo descontroladamente, mesmo que esses assuntos o constrangessem um bocado. Morgan era bom demais em mentir ao contrário de Sean que estava completamente corado e sem jeito. Seus pensamentos o constrangiam de novo. “Você quer transar comigo. Eu consigo sentir a sua vontade, como sinto o ar que respiro.”

“Você andou bebendo minhas cervejas enquanto eu dormia outra vez, Morgs?” Falou paternal, mas ao mesmo tempo bastante debochado, mas ainda corado. A risada de Morgan apenas aumentou, porque ele sabia como constranger o maior e sabia principalmente sabia que Sean era um bocado formal. “Essa história de ler meus pensamentos está começando a ir longe demais.”

Sean virou de lado, afundou a cabeça no travesseiro e apagou.

Era sempre o som da risada de Morgan que fazia Sean entrar ou sair de seus devaneios. Naquele momento, em frente a escola, a risada de Morgan o fez sair de seu mundinho seguro, quase que imediatamente. O cigarro, já pequeno e com a ponta acinzentada, foi jogado ao chão e pisado. O sorriso no rosto do mais velho ao ver os dois Dale caminhando em sua direção.

“Você não cansa.” Morgan perguntou ao chegar perto. “Eu sei que me ama, Sean.”

“Não começa com isso, pirralho.” Sean girou os olhos.

“Sabia que você me chama de pirralho quase toda vez que eu estou certo?” Morgan debochou, mantendo um sorriso bobo no canto dos lábios. Lottriz, o irmão de Morgan, olhou a cena em silêncio. Sem rir ou debochar, mas também sem entender. Seu irmão e Sean eram ligados demais para que ele tentasse se intrometer.

Morgan Dale e Sean Drake eram inseparáveis. Desde que tudo acontecera com sua mulher, Drake se apegou ao amigo como se ele fosse a única rocha capaz de segurá-lo. Mesmo que ele estivesse atrás de vingança, Morgan parecia ser a única imagem inabalável diante de seus olhos. Morgan e Sean eram mais que irmãos, mais que amigos. Eram cúmplices de algo que ninguém sabia ao certo.

Por mais que Sean achasse que, nessa idade que ele estava, os poderes de Morgan fossem duvidosos e confessar as coisas para ele de forma constrangida e com total ausência de voluntariado. Quem seria voluntário em confessar suas fantasias sexuais e amorosas com um menor de idade? Os poderes eram autênticos, os poderes tinham sua história, mas Morgan ainda era considerado apenas  um órfão patético e muito sortudo por ter sido adotado por uma família tão maravilhosa quanto os Dale.

-

Morgan olhou para Lottriz que assentiu ao ver a roupa que o irmão havia escolhido para sair com Lannah. Eles iam tomar sorvete numa sorveteria perto da casa de Sean, porque com quinze anos anda não se é possível dirigir. Sean também achou a roupa sexy o suficiente, mas não verbalizou. Morgan mesmo o faria assim que tivesse oportunidade.

“Os meninos da escola falaram que ela gosta de garotos que já ajam feito homens.” Morgan comentou.

“Então por que ela decidiu sair com você?” Lottriz respondeu. “Você não tem nada de homem aí. Recém saiu das fraudas.”

“Sean me acha sexy.” Morgan falou com descaso. “Ao menos foi o que ele pensou quando me viu com essa roupa.”

“Prove que é sexy.” Sean desafiou. “O que você faz se você está no portão da casa da sua garota e você passou o programa que fizeram tentando uma chance pra roubar um beijo dela?”

“E tem técnica pra isso?” Morgan olhou pra Sean e depois para Lottriz que ergueu a sobrancelha. “Ou você só está achando argumentos pra que eu me roce em você, Drake? Sou mais esperto do que você imagina.”

“Prova, bonitinho.” Sean desafiou outra vez. “O que é que você há de perder?”

Morgan apenas encolheu os ombros, pra dizer que ainda não havia pensado na possibilidade de impressionar a garota a esse ponto. Morgan sempre achou que por Lannah ser diferente, as coisas aconteceriam ao seu tempo, mas mulheres em um relacionamento são todas iguais. Até Lannah.

“Então aprenda. Lottriz, pode me ajudar um pouquinho?” Meio desconfiado, Lottriz assentiu, aproximando-se de Drake que lhe sorriu. “Primeiro, Morgs, nunca perca os olhos dela de vista. Mostre auto-confiança – coisa que você não tem. Depois, diga que precisa ir, mas não cite meu nome e logo em seguida segure a mão dela.”

Lottriz sentiu a mão do mais velho segurar a sua com gentileza e seus olhos jamais saíram dos dele. Lottriz percebeu um Sean completamente diferente do que ele estava acostumado a ver. De voz mansa, baixa, quase que em sussurros. De aparência tranqüila e sem perder o mistério envolto entre eles.

“Espere um pouco de tempo até que ela se manifeste e dê um beijo no rosto dela. Não na boca e nem muito na bochecha.” Lottriz sentiu os lábios dele tremerem quando os de Sean tocaram aquele ponto, mas foi algo muito rápido. “E mantenha esse beijo longo o suficiente pra que ela vire o rosto se quiser te beijar e curto o suficiente para não ser invasivo. Mostre que a quer, claro, mas que a respeita acima de tudo.”

“Wow!” Foi tudo que Lottriz conseguiu dizer ao se soltar de Sean. Não é que eles estavam presos, mas o olhar de Sean o arrebatou. “Esse truque eu vou usar quando eu conseguir uma garota!”

“Só não o passe a diante.” Morgan falou, virando-se pra Morgan. “Isso é ser sexy, Morgan.”

-

Embora Morgan estivesse no encontro dos seus sonhos, com a menina de seus sonhos, seus pensamentos não conseguiam sair da cena em que vira.  Não fora com ele que seu amigo mostrou sua sedução, mas aquilo ficou marcado como se fosse. Lembrava-se de como ficara o seu irmão, após ser solto por seu amigo; quase caindo e completamente constrangido, o irmão talvez quisesse seu melhor amigo em segredo.

Não. Lottriz estava quase indo pra faculdade. Conhecia mulheres maravilhosamente sexys, meninas do último ano do ensino médio; maravilhosas e algumas delas que sempre esperavam algo mais dos encontros. Por isso ele as apresentava para Sean e nunca para Morgs. Lottriz, tendo acesso e facilidade com as garotas, jamais desejaria Sean, certo?

Morgan nunca sentira ciúmes do amigo. Nunca. Nem mesmo quando o alvo dos pensamentos dele era a ex-mulher. Os pensamentos de Sean eram confusos e ele nunca pensava muito na ex-esposa quando estavam juntos, mas Morgan não entendia o motivo. Todos os sonhos e devaneios do amigo que via eram sobre eles dois juntos. Morgan sempre gostou de atenção e por isso que verbalizava todos os pensamentos de Sean; gostava do tom da pele de seu amigo quando o constrangia.

Lannah era mesmo muito divertida e por mais que os pensamentos de Morgan vez ou outra o traíam, ele ria bastante enquanto tomavam a taça grande de sorvete. Como, um casal apaixonado, decidiram que tomariam numa única taça. O menino estava feliz realizando o sonho de sua vida, as lembranças insistiam em lhe atormentar.

Como no dia de inverno. A neve fria caía impiedosa pela região e Morgan estava chegando à casa do amigo. Como estava frio naquele dia; daqueles frios que queimam sua pele se não tiver tanto cuidado com ela. Morgan batera na porta de Sean que o atendeu rapidamente, colocando-o pra dentro. Os pais de Morgan não haviam permitido que ele estivesse na casa de Sean por causa do frio, mas ele fugira de casa pra ter a companhia do amigo. Como as duas residências eram meio distantes (cerca de uns dez ou quinze quarteirões uma da outra, até poderia ser perto, quando não havia uma espessa camada de neve que quase impedia as pessoas de caminharem) os pais do menino haviam ligado e Sean prometera que ligaria assim que ele chegasse.

“Morgan!” Abraçou-o com um tom paternal que quase não o reconheceu. Apoiou sua cabeça na de Morgan e fechou os olhos.  O menino, gelado, abraçou o amigo de volta e fechou também os olhos pra curtir o abraço. “Você nunca mais me deixe preocupado desse jeito, pirralho, ou eu vou te chutar até sua bunda perder a pele.”

“Esse tipo rude não faz seu estilo.” Debochou Morgan. “E nem o meu, certo? Eu gosto de menininhas doces, delicadas e submissas.” Complementou, fazendo Sean rir loucamente.

Era raro. Geralmente quando Morgan insistia em dizer que Sean era a menina, ele ficava bravo, batia o pé  e apelava para sua experiência. Mas naquele dia, no lugar de estar constrangido, Sean estava rindo. Com o cenho franzido, Morgan invadiu os pensamentos do amigo e descobriu o motivo da risada; a preocupação e o medo de perder aquele amigo congelado o fizeram sentir – ainda que de levinho – uma ponta de saudade.

“Eu não estive tão longe assim.” Morgan falou baixinho, erguendo melhor os olhos pra encarar os do amigo, sem desfazer o abraço. “Não precisa ter saudade de mim ainda.”

“Quem te disse que eu tava com saudades?” Respondeu Sean que sentiu sua mão ser segurada ao coração por Morgan, com uma doçura que nenhum dos dois conseguia compreender. Sean tinha uma imensa queda por Morgan, mas resistia a ela até o ponto máximo e, às vezes, até mais que o máximo. “V-você precisa de um chocolate quente.”

“Você sabe que não.” Falou o Morgan, com um sorriso. “Você tem calor humano pra me aquecer e você sabe que minha pele é fria o ano inteiro. Você costuma reclamar quase toda vez que me abraça, mas ao mesmo tempo, seu coração me diz que mesmo com minha pele fria, ainda é o meu abraço o seu lugar favorito.”

“Não abusa da sorte, pirralho.” Sean falou baixinho. “Eu sou vacinado contra o seu deboche. Não faz mais nenhum efeito em mim.”

“Não é deboche.” Murmurou baixinho, erguendo sutilmente os pés para alcançar um dos ouvidos do melhor amigo. “Pela primeira vez, não é deboche. Eu prefiro que você me aqueça que um chocolate quente que você sabe como eu gosto.”

Morgan conseguia sentir o medo do amigo. Medo porque se alguém o pegasse naquela situação, ele seria preso e tudo o que ele não queria era ser preso. Não queria perder a confiança dos pais de Morgan, porque não queria perder um amigo. Mas acima disso, Morgan sentia o tamanho da vontade que Sean tinha de se entregar completamente ao envolvimento que Morgan lhe causava naquele exato momento.

“Não há o que temer.” Murmurou, quase tocando os lábios de Sean que estava simplesmente paralisado, sem saber o que fazer direito. “Eu não vou contar pra ninguém que fui pra cama com um maior de idade bonitinho.”

Sean quase quebrou a distância mínima entre eles, foi mesmo por muito pouco, mas a o telefone da casa de Sean tocou, trazendo o maior deles à realidade. Morgan era envolvente demais para um pobre mortal como ele fugir dos encantos sozinho. O telefone foi uma excelente ajuda, mas mesmo assim conseguiu se soltar apenas quando o telefone estava quase caindo na secretária. Eram os pais de Morgan.

Tudo estava bem, quando acabava bem.

Voltando ao presente, Morgan não tirava os belos olhos de Lannah, nem mesmo por um segundo. Mostrava-se interessado em sua conversa e vez ou outra tirava o cabelo – que na ocasião era louro com pontas ruivas – do rosto e os colocava atrás da orelha de forma delicada. A menina ficava constrangida e Morgan lembrou-se de algo: mulheres são iguais em relacionamentos. No final das contas, Sean estava certo.

“Gosta de antiguidades?” Perguntou a menina, sem desfazer o sorriso.

“Adoro.” Respondeu de pronto. “Quero ser arqueólogo.”

“Eu percebo que acompanha as expedições do seu amigo bonitinho.” Sorriu a garota. “Digo, ele é seu amigo ou do seu irmão e eu estou confundindo?”

Morgan apenas negou com a cabeça para dizer que ela não havia entendido nada errado. Eles eram amigos de fato, amigos e apenas amigos, embora fossem muito próximos e muito ligados, eram apenas amigos.

“É que... meus pais têm um antiquário. Eu moro lá. Você, que se interessa por história e arqueologia, deve gostar bastante de antiquários, estou certa?”

“Está.” Morgan sorriu. “Antiquários são fascinantes e cheios de vida. História é cheia de vida em qualquer momento. Ela meio que está presente no nosso dia-a-dia. Eu gosto de ir em expedições arqueológicas com o Sean só pra ter certeza da profissão que quero ter, mas ele não gosta muito porque diz que atrapalha minhas notas na escola.”

“Que tal se me contar sobre as expedições?”

Morgan contou o quanto era divertido, mas ao mesmo tempo omitiu alguns detalhes da viagem. As partes que Morgan constrangia Sean porque ele não prestava atenção no que estava fazendo ele deixaria apenas para si mesmo. Gostava de pensar que aqueles momentos de desconforto do amigo eram pequenos e preciosos troféus para serem guardados por ele para sempre. Enquanto isso, Morgan contava pra menina as trapalhadas que Sean e os integrantes da expedição faziam, da vez que eles se perderam no meio dos territórios dos antigos astecas.

Lannah jamais se arrependeria de ter saído com Morgan, porque além de divertido e inteligente, em momento nenhum ele invadira seu espaço, não tentou lhe roubar um beijo, mesmo quando a levou pra casa. Quando no portão de casa, Morgan fez exatamente como Sean havia ensinado. Lannah não virou o rosto, mas ficou bastante impressionada com a gentileza do garoto.

-

Uma vez na casa de Sean, encontrou o irmão dormindo e Sean com uma porção de garrafas de cerveja vazias jogadas em suas mãos, mas essa já pela metade. Morgan girou os olhos, não gostava em nada de quando  Sean bebia tudo o que via pela frente. Então, ao invés de se anunciar, Morgan procurou na mente do amigo um motivo para que ele bebesse daquela forma e achou; achou seu encontro com Lannah.

“Sean.” Chamou, cutucando-o com força. “Cadê meu irmão?”

“Deitou, eu acho.” Encolheu os ombros, bebendo um gole a mais da cerveja. “Quer?”

“Não.” Negou com a cabeça. “Você nunca gostou que eu bebesse, por que tá me oferecendo agora? Eu não preciso beber pra saber que você está se mordendo de ciúmes Sean Alexander.”

“Você é paranóico sabia?” Sean falou, encolhendo os ombros de forma simples. “Paranóico e egocêntrico.”

“Mas mesmo assim você é ciumento e bebe porque acha que não pode ficar comigo.” Morgan debochou, sentando-se ao lado de seu melhor amigo. “Mesmo eu sendo um pirralho egocêntrico e paranóico, você está morrendo de amores por mim. Sua incoerência me assusta.”

Sean preferiu o silêncio ao terminar mais uma garrafa de bebida que foi solta pelo chão. Ele parou os olhos na televisão e decidiu ignorar completamente o outro. Era o que ele deveria ter feito desde o começo, desde quando Morgan começara a invadir sua privacidade e fazer parte dos seus instintos. Bêbado – e apenas nesse estado – ele admitiria que estava completamente apaixonado pelo melhor amigo. Do contrário, ele não teria coragem. Muito estava em jogo.

Sean Alexander Drake era um misterioso e jovem arqueólogo, cheio de sonhos e pronto para o que viesse. Sean Alexander Drake havia feito várias importantes descobertas e por isso era muito visado e muitas pessoas o conheciam. Sean só não queria – e nem poderia – perder tudo isso com um jovem estudante de quinze anos. Amizade sim, romance nunca.

Então ele se perguntava o que um adolescente poderia ter que tanto lhe atraísse.  Morgan era sincero acima de qualquer coisa! Não aceitava falsidade e era por isso que ele verbalizava cada pensamento de Sean, desde os mais inúteis como quando ele queria um copo d’água e estava com preguiça de ir buscar até quando ele se pegava com os pensamentos longe sobre como deveria ser Morgan na cama. Independente de qual fosse o pensamento, Sean falhava em se esconder. Isso deveria ser, definitivamente, constrangedor, mas Sean até gostava da forma com que Morgan o constrangia, porque gostava do som da risada dele, mesmo quando Morgan era escandaloso, quando o quarteirão inteiro poderia ouvir o som da risada dele.

Sean também gostava do tom da pele de Morgan quando está muito frio. Como se finalmente algum sinal de sangue desse vida e a deixasse um pouco menos pálida. Gostava de ser incomodado no meio da noite, com Morgan invadindo seu sonho com um deboche que o tirava do sério. O tirava do sério no sentido de estar com raiva, de sentir sua privacidade atingida, mas também porque ele gostava do som da risada, da cor da pele, da expressão divertida de Morgan. O tirava do sério, porque, ele gostava de Morgan por inteiro.

“Você descobriu um modo de me bloquear?” Morgan quebrou o silêncio, torcendo os lábios.  Sean desviou os olhos para o amigo e negou com a cabeça. A verdade era que Sean apenas limpara a sua mente enquanto focava seus olhos na televisão. Não pensava em absolutamente nada, nem em Morgan, nem em si mesmo.

“Eu só me distraí.” Explicou. “Então, essa é a fórmula de ter minha privacidade de volta?”

“Você não vai conseguir ficar sem pensar em nada a vida inteira.” Advertiu Morgan.

“E você devia ser mais discreto.” Sean se pronunciou, magoado. “Eu não ligo tanto quando estamos sozinhos, tenho vontade de rir, na verdade, mas quando tem mais gente... como nas expedições que você vai, você me constrange na frente de meus subordinados.”

“Você fica engraçado quando eu falo o que ouço da sua mente.” Encolheu os ombros, sem realmente dar a importância devida ao incômodo do melhor amigo. “Se você parar de ser engraçado, eu paro de verbalizar e você fica feliz.”

“Acha engraçado os meus sentimentos, Morgs?” Sean forçou um sorriso e Morgan franziu o cenho ao olhar o amigo que, de repente, tomou um tom de tristeza maior que os demais. “Isso dói, sabia?”

“Sentimentos? Não, espera, eu nunca falei de sentimentos.”

“Mesmo você fuçando em minha mente todos os dias, horas, minutos, me constrangendo, eu ainda gosto de você. Mesmo quando você me colocando nas piores saias justas da minha vida, Morgs, eu ainda continuo sendo seu melhor amigo e dando todo o suporte a você.” Sean manifestou-se, mantendo olhar pra frente, na televisão. “Mesmo lendo meus pensamentos todo o tempo, você não percebeu que se eu não tirei você da cabeça, foi porque eu gosto de você.”

“Não seja dramático, Sean!” Morgan girou os olhos.

“Eu só estou sendo sincero, Morgan.” Falou por fim. “Se eu estive ao seu lado até agora foi por sentimentos...”

“Mas eu nunca te coloquei em saias tão justas assim.” Morgan debochou mais uma vez e Sean riu sem humor, apenas como o deboche que era tão típico do adolescente ao seu lado.

“Você falou quando estávamos nas pirâmides do Egito que eu precisava urinar quando eu estava comandando a expedição. Você falou na frente do pessoal da expedição, naquele mesmo dia, que eu queria transar com você por causa da roupa que estava usando. Você riu de mim com outras pessoas enquanto eu bebia e tentava paquerar uma garota, mas foi dançar com uma outra pessoa, naquela bar na China, só pra falar pra menina que eu estava pensando em te fazer ciúmes.” Sean enumerou algumas das situações, suspirando. “A pior delas foi quando você me acompanhou ao banheiro de um restaurante e ficou descrevendo meus pensamentos enquanto eu estava com um garoto.” E suspirou de forma pesada. “E depois me dizia que eu precisava transar pra aliviar minha tensão, mas qual foi a última porcaria de vez que eu tive privacidade, Morgan?”

“Eu não sabia que você ficava sentimental depois da bebida, Sean.” Abaixou a cabeça.

“Deixe-me te avisar. Vou me mudar assim que seus pais chegarem de viagem. Eu vou sumir da sua vida, Morgan. Eu to cansado do pirralho egoísta que você se tornou depois de tudo! Eu devia odiar você, mas eu não consigo.” Confessou, desligando a televisão. “Eu to cansado de esperar você crescer e virar um homem, estou cansado de ficar perto e não ser reconhecido. Amigos servem pra tudo, menos para serem debochados dos sentimentos alheios.”

“Você prometeu a mim proteção, Sean, a qualquer custo!” Morgan lembrou-se, obrigando o amigo a olhar pra ele. “Você prometeu que abriria mão de seu futuro misterioso por mim e agora está fugindo. Que tipo de pessoa é você?”

“Do tipo que se cansa de amar e não ser reconhecida.”

De repente, Morgan se viu meio sem chão. Claro que ele sabia que Sean era sensível , que ele se machucava com facilidade, mas jamais pesou que ele, Morgan Arthur Dale, fosse capaz de machucar seu melhor amigo daquela maneira. Jamais imaginou que o constrangimento viesse proveniente de um sentimento. De um amor. De repente, tudo perdeu o sentido diante dos olhos de Morgan. Com um filme, tudo o que eles viveram juntos fizesse um pouco mais de sentido.

Morgan pensava que o que Sean sentia era atração. Sexo e depois simplesmente tudo desaparecia. Não flagrara nenhum pensamento romântico, apenas batidas do coração mais forte quando se abraçavam.  Nesse momento, o adolescente estava sentindo medo. Um medo e um vazio grande ao mesmo tempo, porque nunca havia passado por sua cabeça de que o constrangimento de Sean fosse um pouco além de constrangimento. Fosse amor.

Morgan Dale sempre achou que esse negócio de amor fosse coisa de menina – e do seu irmão – que não tinha o que fazer. Ele sempre achou que não valia a pena ter expectativas em pessoas que pudessem, de uma hora pra outra, abandoná-lo e fazê-lo perder o mínimo de identidade que tinha. E naquele momento ele percebera:  Sean não era só parte de sua identidade; ele era a sua identidade. Estava presente em todos os seus momentos.

Todos.

Aqueles momentos em que Sean se sentia sozinho porque todos os que deviam apará-lo não o amavam; claro, ele era grato aos Dale, mas às vezes ele pensava que poderia ser diferente se ele não fosse adotado. Ou das vezes que ele ria inocentemente de seriados como F.R.I.E.N.D.S., ou mesmo quando ele simplesmente sorria por se sentir sortudo em conseguir uma garota como Lannah. Tudo em as volta o lembrava de Sean.

“Se... Se eu parar de debochar de você, de verbalizar os seus pensamentos, você... você fica?” Morgan perguntou num muxoxo tão baixo que o amigo não conseguiu ouvir. “Por favor, eu não suporto outro abandono.”

O nó na garganta de Morgan não era típico dele. Morgan sempre foi muito bem articulado par um menino de sua idade. Morgan sabia sempre o que falar, tinha sempre a resposta na ponta da língua, mas seu único medo era ser abandonado. Tinha aquele trauma grudado em sua alma como se fosse uma tatuagem dolorosa. Morgan aproximou-se de Sean, segurou-lhe o rosto com uma doçura atípica e voltou a pedir baixinho:

“Por favor, é de você que eu to falando. Eu tenho mais medo de perder você do que de perder o Lottriz. Compreenda isso, Sean. Eu não sei quem sou, o que eu sou, mas sei que sem você eu não sou nada.”

“Não faz isso comigo.” Respondeu apenas. “Não me manipula, por favor. Não faz isso, poxa. Ninguém nesse mundo quer estar mais perto de você do que eu, mas, por favor, não finja que sou mais que um deboche pra você.”

“Você é, Sean.” Afirmou baixinho, categórico. “Você é meu melhor amigo, o irmão que eu escolhi. Você é o arqueólogo que eu quero ser e eu nunca falei tão sério. Te ferir nunca esteve nas minhas intenções enquanto verbalizei seus pensamentos. Eu queria que você pudesse ler os meus por um momento, nesse momento, só pra você ter a certeza da minha sinceridade.”

De repente, Morgan sentiu os lábios de Sean sobre os seus. Ficou surpreso com a pressão exercida pelos lábios de seu melhor amigo sobre os seus, mas antes que ele pudesse responder da maneira correta, ouviu o amigo murmurar entre seus lábios:

“Me dá um motivo pra ficar, bonitinho?”

Morgan segurou o rosto do amigo, começou um beijo calmo que foi correspondido sem a menor pressa, como se um curtisse o outro, como se finalmente um entendesse porque o outro fosse tão especial. Um beijo bêbado, um beijo com gosto de... desespero. Morgan não sabia ao certo o que estava fazendo, mas Sean sabia. Estava realizando um sonho e apenas isso.

“Você vai se arrepender se eu te beijar mais e mais?” Morgan perguntou. “Você tá bêbado, Sean. Eu tentei outras vezes, mas você simplesmente resistiu.”

“Eu nunca vou me arrepender de você.” Sean rebateu. “E nunca vou abandonar você, onde quer que eu esteja.”

FIM.


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