-Pai!- Gritei enquanto abria a porta, que por sinal não estava trancada- Tá ai?

Ninguém respondeu.

Entrei em seu quarto do hotel e tomei a precaução de fechar a porta, afinal não queria que ninguém passasse por ali e visse que havia um desconhecido em um aposento que não era dele.

Dei uma rápida examinada no quarto. Achei o cartão de acesso ao quarto, estava jogava em cima de uma mesinha. Olhei o último registro do cartão e ele não era usado há quatro dias.

Um objeto me chamou a atenção: Era um retângulo de vidro com o que parecia com chips em ambos os lados. Eu conhecia aquilo, era uma mensagem gravada. Isso substituía cartas. Quando o toquei ele ligou e um homem apareceu.

-Olá, Spencer Holbes. Você foi convidado para O Jogo. Eu sou Victor Bennert, seu anfitrião. O Jogo é uma espécie de torneio realizado nas principais cidades do mundo e contará com a participação de pessoas de todo o globo. A primeira etapa será realizada aí em New York, ás 19h00min, na Praça Washington. Mostre seu cartão branco se precisar para entrar – havia um cartão completamente branco com um chip de leitura perto de onde estava a mensagem gravada- Darei instruções detalhadas sobre as regras e quem sair vivo será encaminhado para a segunda etapa, ainda sem destino específico. Em hipótese alguma poderá haver desistência de um jogador. Boa sorte. - E a tela se apagou.

Isso era muito estranho. Esse tipo de mensagem só podia ser reproduzido uma vez por questões de segurança, depois disso se tornava completamente inutilizável. O que quer que tenha acontecido com meu pai aconteceu a pelo menos quatro dias.

Alguma coisa me dizia que esse tal de Victor sabia o que acontecera com meu pai. Olhei no relógio, eram 18h47min. Corri o mais rápido que consegui. New York era uma cidade segura, muito diferente da maioria, que havia vários assaltos e assassinatos à noite. Isso devia ao fato de New York ser muito bem vigiada pelas câmeras do governo.

Cheguei a Praça Washington. Havia sentinelas por toda a parte, cercando uma pequena multidão ao centro da praça. Tentei me aproximar. Um sentinela impediu minha passagem.

-    Seu cartão de acesso- pediu.

Tirei-o do bolso e o entreguei. Ele inseriu o cartão em um pequeno aparelho, muito similar àqueles que eram usados para efetuar pagamentos via cartão de crédito e logo em seguida me devolveu.

Finalmente entrei. Percebi um grande telão montado em uma estrutura metálica, porém não estava ligado. Dei uma rápida examinada nas pessoas, algumas pareciam bem dispostas, outras muito mal humoradas. Realmente vinham de toda a parte do mundo, dava pra notar pelas roupas que usavam.

Uma discussão me chamou a atenção. Um homem e uma mulher estavam atraindo a multidão para perto deles. A mulher tinha a pele branca, longos cabelos pretos e lindos olhos azuis. Estava usando um sobretudo preto, calça jeans azul escuro e um all-star branco. O homem também era branco e tinha cabelos pretos, usava jaqueta, calça e all-star, todos pretos. Os dois aparentavam possui 20 anos mais ou menos.
Me aproximei para ouvir.

-    Não sei o que está fazendo aqui, eu vou ganhar- disse ela.

-    Acho que uma mulher não vai se sair muito bem nesta competição, pode quebra uma unha - provocou ele.

-    Acabo com você sem quebrar nenhuma- devolveu.

-    Não deviam guardar toda essa energia para O Jogo?- perguntei.

-    Essa maluca que começou.

-    Maluca? Foi ele que veio pra cima de mim.

-    Eu não te vi parada ai, estava distraído.

-    Além de convencido é cego.

Percebi que as pessoas ficaram mais agitadas. Aquela pequena discussão poderia ser um estopim para tantas outras.

-    Por que não colocamos uma pedra em cima desse assunto?- sugeri.

-    Concordo. Meu nome é Robert Hank- disse ele, estendendo a mão para me cumprimentar- Sou hacker.

-    Nerd!- disse a mulher, mas Robert a ignorou.

-    Kate O’Connel. Ladra e assassina profissional.

-    Muito bom, minha primeira briga aqui foi com uma assassina. E você? Como se chama e o que faz?

-    Hmm, meu nome é Spencer Holbes – achei melhor não falar meu nome verdadeiro, afinal eu estava me passando pelo meu pai- Detetive.

-    Não é muito nova pra ser um detetive?

-    É um negócio de família, sabe como é né? Venho aprendendo desde pequeno.

-    Entendo.

Ouvimos uma voz alta vinda da direção do telão. Agora ele estava ligado e o mesmo rosto da mensagem gravada aparecera. O rosto de Victor Bennert.

-    Nem começamos ainda e vejo que as coisas já esquentaram- ele soltou uma gargalhada, mas nenhum de nós três achamos graça nisso- Bom, sem mais delongas, vou explicar a primeira etapa. Vocês formaram grupos de três pessoas, escolhidas aleatoriamente por um computador. Cada grupo receberá uma medalha como esta - ele mostrou um objeto redondo, do tamanho de um CD, dourado e com um grande V em alto revelo- Para passar para a próxima fase é necessário trazer duas dessas moedas para cá até a meia noite. Vale qualquer coisa para tirar a moeda do outro grupo.

-    Armas de fogo também são permitidas?- perguntou um homem com sotaque estranho, parecia ser francês.

-    Mas é claro que sim. Do contrário não teria graça. Agora vamos aos grupos.- Ele sumiu e deu lugar para um texto, que não era bem um texto, era o número do grupo e o nome dos três participantes.

Fiquei esperando ao lado de Kate e Robert. Ainda não acreditava que eles tivessem aceitado o “acordo de paz” que propus, e eles eram as primeiras pessoas que eu havia feito “amizade” ali, brigando ou não era melhor ficar por perto até achar meu grupo.

Grupo 276 apareceu no telão. Nomes dos integrantes: Kate O’Connel, Robert Hank e Spencer Holbes.

-    Eu não acredito- ouvi Kate dizer, ela não parecia nada contente.