Adeus Leslie. escrita por Pedro Fukae


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Descobri hoje o que era um Oneshot, sim sou lerdo. Achei interessante e resolvi escrever essa daqui. Espero que gostem. =]



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/190844/chapter/1

Passaram-se alguns meses e Jess ainda se torturava por Leslie ter morrido, pois acreditava que ele fora o causador de sua morte. Sempre cabisbaixo, nem ao menos reparava quando Gary vinha o importunar na escola, na verdade nem percebia. Chegara ao ponto de nem mesmo conversar com Miss Bessie, por enquanto que tirava seu leite. Seus pais não estavam mais prestando atenção, como prestavam ainda alguns dias após a morte da amiga, somente May Belle que percebia, e não podia fazer nada.

Mesmo depois de meses, ele não tocou no estojo de pintura que Bill lhe dera em nome de Leslie. Ele só dava uma olhada, todas as noites, e deixava de lado. Não chorava mais, a ultima vez que isso acontecera fora nos braços de seu pai, no riacho, onde hoje se encontra a ponte que fez para sua Irma. Sabia que ela não ia querer que ele chorasse, pois sabia que estava em um lugar melhor. Pelo menos ele conseguiu aceitar a idéia de que Deus “não teria coragem” de mandá-la para o inferno, já era alguma coisa.

Chegara a um ponto em que começou a esquecer Terabítia. Nesse momento May Belle, que já se encontrava preocupada, agora estava mais. Depois de comentar com seu irmão sobre o país, a qual era princesa, ele fez perguntas como se não conhecesse o lugar e isso a deixou abalada. Ela teve um pressentimento muito ruim depois da conversa e decidira ir a Terabítia sozinha.

Ao atravessar a ponte vira que o país já não era o mesmo, faltava alguma coisa, mas não sabia exatamente o que era. Deu um volta no bosque, ao redor do castelo-fortaleza, e não conseguia ver mais ninguém, nenhum habitante de Terabítia. Seus olhos encheram de lagrimas, o país estava sendo esquecido por Jess, logo estava desaparecendo.

– May Belle... – Uma voz doce e suave chamara por seu nome e ela a reconhecia, só não queria admitir. – May Belle, preciso falar com seu irmão. – Agora ela tinha certeza, Leslie Burke. Com certeza aquela voz era de Leslie Burke. Passou as costas das mãos nos olhos, tirando o excesso de lagrimas, e olhou com mais atenção pra frente. Uma imagem transparente reluzia em sua frente, dando forma a uma garota com cabelos curtos, castanho, usando uma camiseta azul, estilo roupa de baixo, e um Jeans mais que desbotado. Com certeza aquela era a pequena Leslie. – Ele não pode fazer isso com você, não pode fazer isso com Terabítia.

– Leslie. Como... – Ela ficou sem voz, não conseguia mais falar, estava impressionada e surpresa com aquilo tudo.

– Não precisa falar nada May Belle, só chame o Jess, preciso falar com ele, ou nada mais disso existirá.

~~*~~

May Belle chegou em casa, elétrica, e foi logo procurar seu irmão, que estava dormindo. Não pensou duas vezes em acordá-lo. Ela o sacudiu de todas as maneiras possíveis, mas o garoto não fazia questão de expressar nem um gemido de repulsa. Ela não aguentou esperar mais tempo e foi logo na cozinha, pegou um copo com água gelada e jogou no rosto do irmão.

– May Belle! – Jess levantou da cama em pulo e olhou sua blusa encharcada com o líquido. – Olha o que você fez! Você me paga.

Ele tentou pegar May Belle, mas ela foi mais rápida e saiu correndo, com seu irmão atrás dela. Aproveitando a situação, ela correu em direção a Terabítia e Jess nem chegou a perceber que estava distante de casa, apenas ligava para a vontade de esganar sua irmã. Ela atravessou a ponte e correu direto para o castelo-fortaleza e Jess parou no bosque e olhou em volta. Fazia algum tempo desde sua ultima ida àquele lugar, trazia varias lembranças a ele.

– Jess... – Ele escutou uma voz, atrás dele, mas não acreditou. Pensou ser coisa de sua cabeça, então nem procurou se virar. – Jess, olha pra mim... – Ele estava sem reação. Queria virar, mas ao mesmo tempo tinha medo, não sabia do que, mas tinha medo. Ele olhou para May Belle, que estava dentro do castelo-fortaleza, e ela balançou a cabeça positivamente. Ele começou a se virar lentamente, com bastante nervosismo, o que talvez explicasse sua taquicardia.

Jess ficou frente a frente com Leslie. Parecia algo impossível, mas ali estava ele olhando para aquela menina que, quando a conheceu, tinha suas duvidas se era um menino ou menina. Não conseguia acreditar nos seus olhos, no que eles estavam vendo. Não tinha como isso acontecer... Ela estava morta... E ainda tinha sido cremada... Mas ali era Terabítia, onde tudo podia acontecer, ele só não tinha se dado conta ainda.

– Le... Leslie? – Ele estava pasmo, quase não conseguia mover sua boca. Faltavam-lhe palavras ou ele simplesmente tinha esquecido como falar. – Co... Como isso...

– Jess, você está em Terabítia. – Ela sorria pra ele. Um sorriso lindo e marcante. – Você já se esqueceu que aqui tudo é possível, qualquer coisa. – Ele, por impulso, foi em direção a Leslie e a abraçou. Foi quando sentiu seu corpo ficar totalmente gelado. Agora Leslie tinha virado uma fumaça branca que se movia para trás, desencostando dele. – Jess, você não pode me tocar... Não tenho mais um corpo físico, agora eu sou a protetora-guardiã de Terabítia, uma forma espectral.

– Me desculpa Leslie. Eu tinha que ter te chamado pra ir a Washington comigo e com a Miss Edmunds, mas eu fui muito egoísta. Agora, por minha culpa, você está morta... – Ele ia continuar falando, mais foi cortado pela sua amiga.

– Jess! Você não tem culpa alguma da minha morte. Era pra acontecer... E aconteceu. Você não é, e nunca foi, culpado de coisa alguma.

– Mas se eu te chamasse pra ir com a gente, você não teria tentado vir pra cá e... – Sua voz falhou.

– Teria sim. Eu não ia querer ficar segurando vela entre você e a Miss Edmunds, eu sei que você gosta dela... Eu ia ficar e, de um jeito ou de outro, iria acontecer o que aconteceu. – Jess não sabia mais o que dizer. – Eu só apareci pra dizer que quero que tire isso de sua cabeça, esta de afetando muito. Você até mesmo começou a esquecer Terabítia, seu país, nosso país. – Ele concordou com todas as palavras ditas por ela, mas ainda não tinha o que dizer. – Agora quero que continue vivendo normalmente sua vida, eu sei que você consegue. Quero que se torne o mais rápido da Escola primária de Córrego da Cotovia. E, lembre-se, eu sempre estarei com você. – Ela se aproximou dele e encostou sua mão reluzente no peito do garoto e ele sentiu aquela sensação gelada novamente. – Bem aqui.

– Leslie... – Seus olhos estavam cheios de lágrimas, quase escorrendo pelo seu rosto. – Eu não queria que nada disso acontecesse. Me desculpe por ter esquecido o que nós construímos juntos, isso não vai voltar a acontecer. Nunca, eu nunca vou te esquecer. Jamais. Você será, para todo o sempre, minha melhor amiga. Sempre foi.

Ela então passara a mão no rosto dele uma ultima vez, seus pelos do corpo agora se encontravam arrepiados, ele lhe deu um sorriso de lado. Leslie olhou para May Belle, que estava chorando, e mandou um beijo. Olhou mais uma vez para Jess e foi sumindo diante de seus olhos.

– Adeus Leslie. Até algum dia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!