Tormenta De Máquinas escrita por davifmayer


Capítulo 8
Capítulo 7 Preparação


Notas iniciais do capítulo

Enfim aparece o homem de ferro.



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"A sorte favorece só à mente preparada." Isaac Asimov

            Antônio abriu os olhos e viu as vigas de aço que sustentavam o hangar. Desde que chegara ali, sentia seu coração pesado e compungido pelo medo. Não tinha chorado, não tinha ficado triste. Apenas o medo. O medo em sua forma bruta e enraizada no coração.

            Virou de lado na cama improvisada com lona e viu Melissandra ao seu lado, aconchegada perto dele.

            De sono leve, ela acordou e deu um sorriso. Parecia ser o sorriso mais belo que tinha visto. Ele tentou sorrir de volta, mas ela percebeu que tinha algo errado.

            - O que houve?

            Ele ergueu o tronco e olhou em volta. Fazia uma semana que tinham chegado no hangar do Tridente. Algumas sucatas de aeronaves e três Ghost-Hunter’s estavam estacionadas no pátio principal. Mas não existiam três pilotos. Um tinha morrido no desmoronamento. Apenas Melissandra e Jabez sabiam pilotar e continuavam na ativa.

            - Tem medo? – ela perguntou, levantando-se e depositando o lado do rosto nas costas do amado. – eu também tenho muito medo, mas não devemos nos entregar. Se morrer lá no alto, na guerra, pelo menos terei vivido aqui com você e é o que importa.

            Tony fez um carinho na mão dela que passava pelo seu pescoço. Ficou em silêncio. Não queria ficar parado, não queria entregar sua esperança nas mãos de outros. Deu um profundo suspiro.

            - Eu te amo. – ele disse se virando para encará-la. - E não quero nunca te perder.

            Ela sorriu. Um sorriso triste. Queria acreditar na frase “felizes para sempre”. Mas não podia ocultar a realidade.

            Melissandra deu um beijo úmido na boca dele e o abraçou, sentindo seu corpo quente e o coração dele a bater descompassadamente.

            - Também te amo. Muito.

            - Vamos nos levantar. Não quero ser chamado a atenção de Jabez de novo. Vocês precisam passar o plano, as coordenadas...

            Ela fez que sim com a cabeça e se levantou, colocando sua roupa. Tony observou a nudez da amada, a pele tão branca e linda. Os cabelos castanhos numa mistura de mechas lisas e onduladas. Os olhos também castanhos e puros. Os lábios rosados e finos.

            - O que está olhando? – ela perguntou tímida, arrumando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

            - Você é a mulher mais linda do universo.

            Ele se levantou nu e a abraçou com força.

            Com os lábios de baixo úmido, ela riu tentando conter o desejo.

            - Pare com isso, caso contrário não vou querer sair de perto de você.

            - Está certo. – ele riu e a libertou dos fortes braços.

            Ela saiu do quarto, dando um último olhar apaixonado para ele.

            Tony voltou a sentar na cama e colocou uma calça camuflada do exercito e uma bota preta. Pôs as mãos no rosto e, por um momento, viu a bolsa do seu pai jogada num canto do quarto. Esqueceu que a deixara ali. Pegou a bolsa e despejou o conteúdo em cima da cama.

            Uma caderneta com muitas anotações a lápis. Papéis com planos e projetos. Roupas velhas. Dois anéis de ouro de casamento e a foto de sua mãe, seu pai e irmão. Ficou chateado por não ter contado sua história a Melissandra, mas precisava de tempo com ela para poder lidar com essa coisa toda.

            Olhou mais atentamente as dezenas de anotações feitas por Eddard, seu professor, seu pai. Seus olhos azuis brilharam e uma expectativa tomou conta do seu ser. Tremia, maravilhado com as possibilidades que aqueles papéis lhe apresentavam. Um novo rumo, uma nova esperança. Levantou-se com brusquidão, vestiu uma camisa regata branca, voltou a guardar os papéis na bolsa e correu com entusiasmo para a pequena forjaria situada num andar abaixo do hangar do Tridente.

            Lá, passou o dia todo, remoendo e meditando sobre a herança que seu pai deixara.

***

            O vento frio da noite arrepiara os pêlos de Melissandra. Abraçou seu corpo e olhou para o lado que Tony deveria estar. Quando já estava pegando no sono, ele entrou cheirando a carvão, com a pele vermelha e úmida de suor. Seus olhos estavam injetados e brilhantes. Sua mente ainda trabalhava a mil.

            - Estava na forja de novo?

            Ele sentou e fez que sim com a cabeça. Vez ou outra tinha espasmos musculares e as veias do pescoço se dilatavam.

            - Estou... Trabalhando num projeto que meu pai...

            - Quem...?

            Tony passou os dedos nos olhos. Estava realmente cansado... Mas a mente tinha muitas idéias e muitas coisas a fazer ainda.

            - Você conheceu seu pai? – ela se sentou e o encarou, perplexa.

            Estava exausto demais para resistir. Ainda enxergava brilhos vermelhos dançando pelas extremidades da visão. Vira por um tempo muito longo as labaredas e o metal vermelho no repique do martelo e da bigorna.

            - Sim... Conheci... – sussurrou Tony com um suspiro profundo. – é o Eddard.

            - Eddard? O homem robô?

            - Esse mesmo.

            - E por que não me contou?

            - É complicado demais...

            - O que é complicado demais?

            Tony parecia se afundar mais na cama. Melissandra o encarava, chocada e com um nó no estômago. Passaram um minuto em silêncio, ela escutando a respiração acelerada dele.

            Por fim, o homem de olhos azuis entregou a ela uma foto. Estava marcada de tanto dobrar. Viu um casal com um filho. A mulher estava grávida.

            - Eddard, minha mãe e meu irmão. – Tony a fitou nos olhos. E ela nunca tinha visto tanta tristeza naqueles olhos azuis marejados e brilhantes. – meu irmão, que também é conhecido como o Usurpador.

            Ela abriu levemente a boca, num sussurro silencioso. Olhou novamente para a foto. Um garoto de cabelos pretos, paletó e gravata, a dar um sorriso tímido para a câmera. Olhos escuros e inocentes...

            - O que disse? – ela falou atônita. – o Usurpador?

            Ele fez que sim com a cabeça e contou toda a história que Eddard tinha falado. Ela apenas escutava, encarando o infinito, o ar parecendo rarefeito ao seu redor. Os olhos castanhos também marejados. Olhou para suas mãos rosadas, as linhas da palma. Um pingo de lágrima pousou nela.

            - Sinto muito... – ela disse por fim e o abraçou com força, tentando ao máximo dividir a dor que seu amado sentia. O beijou no pescoço, acariciou com volúpia suas costas, seus cabelos molhados de suor, seu rosto queimando de desejo.

            Ele a deitou na cama com firmeza e fizeram amor. Um amor intenso e forte, descarregando todas as mágoas, tristezas, perdas...

            Ofegante, ele ainda estava dentro dela, sentindo a respiração da amada na nuca.

            - Vamos destruí-lo, Tony. Vamos matar o seu maldito irmão... – ela murmurou.

            Ele ergueu-se com a ajuda dos braços musculosos e a encarou.

            - Eu te amo, Mel... Eu te amo...

            Tony deu um beijo prolongado na sua mulher guerreira. E dormiram abraçados.

            ***

            Tony martelava o metal, colocava o mesmo na água, e voltava a martelá-lo.

            Pain, pain, pain...

            Respirou a fumaça da forja, sentiu o hálito quente do fogo e o peso do martelo.

            Pain, pain, pain...

            Forjou uma máscara de titânio, vermelha e brilhosa como sangue, e a colocou novamente na água.

            Pain, pain, pain...

            Observou os desenhos do seu falecido pai, com anotações. Rabiscava sobre o metal, polia o metal... Um reator brilhante sobre a sua mão em forma de um diamante lapidado, a emitir uma luz pálida como a lua, mas forte como o sol.

            Pain, pain, pain, pain...


            Fez uma luva de metal, que retraia com um simples apertar de botões, soando metalicamente enquanto abria e fechava os dedos. Deu um soco na parede, e esta abriu uma pequena cratera. Satisfeito, retirou o punho da destruição que causara e contemplou a luva. Abriu e fechou os dedos, testando a velocidade de comando e as dobras de metal.

            Pain, pain, pain...

            Tony ergueu os olhos e sobre a luz vermelha do fogo, das sombras da forja, viu o retrato do pai e da mãe. Encarou o irmão, como se encarasse ele ali, em carne e ossos. Seus olhos cintilaram de ira ao observar o sorriso leve que parecia zombar da humanidade.

            Pain, pain, pain...

            O martelar era constante. O martelar continuava nos seus tímpanos. Continuava a ressoar no seu coração.


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