Tormenta De Máquinas escrita por davifmayer


Capítulo 7
Capítulo 6 Céu em Chamas 2° parte




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"Na vida, ao contrário do xadrez, o jogo continua depois do xeque-mate." Isaac Asimov



Melissandra escutava a discussão entre pai e filho. Abraão gritava a plenos pulmões apontando o dedo em riste na direção do seu primogênito, enquanto Jabez rugia de volta com os braços levantados, impotente.


- Você não vai. E isso é uma ordem!


- Não pode fazer isso. Eu sou um Caçador Noturno. O único que pode deter esse ataque.


- Por isso mesmo quero você longe daqui.


- Mas isso é ridículo. Temos chances de vencer esse levante.


- E depois o Usurpador mandará mais. A cidadela de Éden caiu.


- Pois eu a vejo aqui em pé ainda. Resistindo. Não é para isso que fomos treinados?


- Sim. E também foi treinado a obedecer. Não é por ser meu filho que terá privilégios.


- Não é privilégios que procuro. Podemos rechaçar...


- Basta! – seu grito assustou a todos os presentes na sala.


Um grupo de soldados de elite estava numa sala com uma mesa oval no centro, incluindo Melissandra e Eddard. Discutiam a eminente invasão das máquinas do Usurpador, detectadas pelo radar. Era questão de minutos até sentirem o primeiro ataque, eles não poderiam precisar. Não eram poucas as naves. Centenas cortavam o pacífico em direção a eles.


- Isso é uma ordem.


- Ora... – mas Jabez sentiu uma mão forte e incomum sobre o ombro. Os dedos eram feitos de metal e rangiam a cada dobrar de falange.


- Jabez. – disse Eddard se interpondo entre a discussão. – a cidadela não suportará esse ataque, mas o plano do dia D está em prioridade. Você é o nosso melhor piloto, e deverá estar presente nesse decisivo dia.


- Então... – Jabez agora compreendia. Eles fugiriam para retaliar o Usurpador depois. – eu não acredito...


O jovem de pele escura fechou os punhos com forca e socou a mesa. De olhos fechados, suas lágrimas saiam marcando a face. Sentiu um braço sobre os ombros. Seu pai o olhava com firmeza.


- Não esperamos por uma vida fácil. Nunca foi assim e não vai ser agora, filho.


- Pai...


- Depois haverá muito tempo para chorar. Quero que parta imediatamente levando uma escolta de todos os homens e mulheres disponíveis. Irão para o hangar do Tridente. De lá vocês partirão para o ataque quando chegar a hora.


- Está certo eu...


- Vamos homem! Chega de conversa. Vamos pilotar as aeronaves e voar imediatamente. Terão tempo para fugir em segurança. – dito isto Abraão deu um tapa confortante nas costas do filho.


Jabez olhou a todos os presentes na sala, estes a entregar suas vidas para que ele marchasse em direção ao covil do Usurpador.


- Melissandra. – murmurou Abraão. – você irá com Jabez. Acredito no seu potencial e ele será mais útil no dia D do que morta nos céus do pacifico.


Ela estava pronta para protestar, quando viu o único olho azul e profundo de Eddard sobre a sua habitual manta cinza puída cobrindo sua cabeça. Parecia dizer para ela se calar, e assim ela fez e baixou a cabeça. Fechou os punhos com raiva, mas a lembrança de Tony e seus braços a envolvendo suavizaram sua revolta.


- Venha Melissandra. – foi um sussurro saído dos lábios de Jabez. – hora de preparar nossa fuga.


Diante desta palavra, fuga, um grito de protesto ribombou em seu ser. Rangeu os dentes para segurar sua língua e agüentou calada a ordem.


Saíram da sala. Os passos a ecoar pelo corredor. Ele olhou sobre o ombro, os olhos castanhos esverdeados sem brilho:


- Convoque todos da forja e da enfermaria. Irei para o setor de transportes e partiremos o quanto ant...


Uma explosão fez tremer o chão, e partículas de poeira caíram do teto. Eles se desequilibraram. As imagens do pai e do irmão surgiram em pensamento. A montanha tremia e rachaduras surgiam sobre seus pés.


- Vamos correr. Vamos correr. – gritou Jabez se levantando com a mão apoiada na parede.


Eles correram, escutando o estalar das pedras e sons de desmoronamento, como golpes de chicote.


Chegaram ao elevador e um grupo de soldados estava em alvoroço, tumultuando a passagem.


Melissandra viu Tony tentando conter os ânimos de dois soldados.

Uma voz rugiu ante a balbúrdia. O regente atravessou o salão até o grupo, empurrando as pessoas que se avolumavam em torno do elevador com seus potentes ombros.


– Calma! – gritou sobre o vozerio. – aqueles que vão lutar, entram primeiro. Os outros, que vão fugir, por último.


Dito isto, abriu o elevador e permitiu que os “ases” entrassem no elevador. Eles subiram para o hangar.


Novo som de explosões. Objetos caíram no chão e uma onda de desespero se espalhou pelos soldados.


Melissandra segurou o rígido bíceps de Tony.


– Você vem comigo, não vem? – perguntou ela nervosa.


– Sim. Mas antes preciso pegar minhas coisas. – deu as costas e correu para seu quarto. Ela foi atrás.


Pararam com um novo estremecimento de terra. Ele jogou suas costas contra a parede e olhou para trás, vendo a mulher que amava correndo até ele.


– O que está fazendo aqui? – perguntou.


– Não quero te deixar.


– Ora...


– Enquanto discutimos, perdemos tempo precioso. Vamos pegar o que tem de pegar e darmos o fora daqui!


Avançaram pelo corredor. Chegaram a uma parte em que um vidro espesso os separava do precipício de paredão de rochas, onde a cidadela situava. Uma queda de cem metros até o chão. De lá, viam o horizonte do pacifico, suas montanhas e elevações. O sol estava a pino, nuvens brancas rareavam sobre o céu azul claro. E cobrindo em centenas de pontos negros, as vespas mecânicas voavam em direção a eles. Viram uma bateria de mísseis serem lançados dos animais mecânicos do Usurpador, expelindo fumaça cinza a deixar rastros no céu. O som de zumbidos foi aumentando.


Melissandra segurou a mão de Tony. Se fosse morrer, que fosse ao seu lado. Contudo, não estava nos planos dele morrer ali. Como se despertado do devaneio, correu no corredor de vidro, agarrado a mão dela, enquanto os mísseis se aproximavam mais, rugindo como mil gritos de morte.


Então, outros sons sobrepujaram os mísseis. Disparos de centenas de metralhadoras a furar os céus como agulhas em chamas, destruindo boa parte dos mísseis do Usurpador. Logo, caças de cor verde decolaram da cidadela e entraram na linha de fogo. Pareciam aves a voar velozmente empinando o bico pontiagudo, a disparar rajadas de balas perfurantes de grosso calibre.


Tony e Melissandra pararam momentaneamente, logo viram sair da cidadela três caças negros. Diferente dos demais, pareciam morcegos, longas asas com mísseis brancos de pontas vermelhas enfileirados. Ele ainda visualizou um dos pilotos. Eddard. Seu pai, seu professor, seu amigo.


A batalha do ar teve inicio. Mísseis e explosões. O calor das chamas chegou até eles como se estivessem no centro daquele combate. Naves explodiam no ar e caiam como mariposas atingidas pelas chamas. Logo, uma cobertura de fogo se fez no céu, e o clarão laranja e vermelho lançou suas luzes no paredão de rocha.


– Vamos. – murmurou Tony.


Chegaram até seu quarto. Apanhou sua mochila parda e saiu, mas ao chegar no limiar viu a bolsa velha de Eddard em cima da cama. Será minha herança. Pensou ele e apanhou a bolsa do seu pai.


Continuaram a correr atravessando o espaço que os separavam do elevador. Pelo canto dos olhos, Tony vislumbrou as chamas e fumaças saindo dos veículos aéreos. E outros a cortarem os céus numa caçada alucinante a trezentos quilômetros por hora.


O elevador estava aberto, parecia que todos já tinham descido.


Entraram e o elevador descia lentamente. Outras explosões fizeram-no balançar e chocar-se contra o duto de rocha. Pedras caiam, deslizavam sobre as paredes. Mas enfim chegaram até a última parada.


Os dois desceram e se depararam com uma garagem imensa, num longo túnel a se estender. Toras de madeira sustentavam o teto. O chão estava coberto de cascalho cinza. Lâmpadas pálidas estavam acesas e iluminavam quatro mini-vans construídas para a guerra, com chapas de metal cobrindo as janelas e outra placa de espinhos na frente e nas laterais.


Jabez estava coordenando as entradas dos soldados nos veículos. Ao olhar para eles, gritou:


– Onde vocês estavam? Iríamos partir...


– Chegamos. Vamos embora logo. – resmungou Melissandra.


Um novo tremor, e as toras de madeira que sustentavam o teto rangeram.


Os veículos corriam a oitenta por hora. Espalhavam os cascalhos por onde passavam, cuspindo pedra para todo lado. Viram um retângulo de luz deitado logo à frente e saíram da muralha.


Logo, a cidadela de Éden ficou para trás.




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